Vindicta: 003
— Já estas satisfeita, fedelha? Estou lhe dando a chance de entregar Gungnir para mim e morrer da maneira menos dolorosa. Se continuar insistindo neste combate, irá sofrer as consequências como nunca sofreu em sua vida.
Boiando nas águas do mar, com seus olhos azul-escuros apontados para o deus nórdico da vingança, agora em sua forma divina, Yuna fez surgir uma pequena plataforma gélida às suas costas que a terminou de empurrar para a superfície.
Com salto, após dobrar suas pernas para se impulsionar, a guria se colocou de pé no solo de gelo, logo depois estralando seu pescoço do lado esquerdo e direito.
— Que coisa, você acertou logo abaixo da minha nuca, seu pamonha. Isso dói pra caramba.
— Hmm. Hmph, você ainda quer lutar mesmo sabendo a diferença de nossos poderes neste momento? Por acaso você é insana?
— Essa é uma questão delicada. Mas a verdade é que eu só estou agindo em legítima defesa. Você é o único que insiste nesse combate, se pararmos para pensar. A única coisa que pedi foi, que se realmente fossemos lutar, que pelo menos eu pudesse ser colocada ao limite pela última vez com a lança Gungnir. E, aparentemente, você irá realizar o meu desejo, agora.
Levitando de volta para o chão, Vidar pousou em um dos novos fragmentos da plataforma de gelo, cruzando os braços sem tirar os olhos da guria.
— Tudo bem, meu próximo ataque será para colocar um final nisto.
— Faça o seu pior.
E de fato, aquela divindade em sua forma potencializada de poder estava disposta a fazer o seu pior. Mais uma vez esbanjando sua grande velocidade, somada a sua já de antes enorme força física, o deus nórdico da vingança apareceu ao lado de Yuna e com o antebraço atacou a guria com um movimento como se abrisse uma porta com violência. E apesar de, diferente da primeira ofensiva de Vidar naquela forma, Yuna ter projetado seu braço para tentar se proteger do golpe voraz do deus, seu corpo foi lançado para fora da plataforma gélida e voou contra a parede do Monte Rebun, cravando-se na rocha que amassou e trincou sob as costas da guria.
No segundo seguinte, antes mesmo que Yuna abrisse seus olhos para se recompor, o deus nórdico da vingança estava mais uma vez diante de nossa querida Assassina de Youkais, pairando no ar a centímetros à sua frente.
Era o momento derradeiro para que Vidar acabasse com a guria. Ele não parecia que iria fraquejar.
E naquelas circunstancias, eu precisaria agir. Como lobo, líder de alcateia, e também como inugami, e consequentemente um shikigami, eu não poderia simplesmente assistir a guria ser pulverizada pela divindade sem tentar pelo menos ganhar algum tempo.
Era suicídio confrontar um deus com aquele poder sendo somente um familiar, mesmo que da mais alta classe. Todavia, estava cravado em meus circuitos mágicos um dos meus deveres como shikigami.
Proteger Yuna, por mais incrível que pareça, era uma de minhas obrigações. Além do mais, se ela morresse ali, a última lei que me vincula e este mundo se encerraria, e eu também acabaria perecendo no final.
Assim, ciente de meus deveres e direitos, minhas quatro patas caninas me moveram em alta velocidade na estrada ao pé da montanha, me colocando bem próximo do ponto onde a guria e o deus estavam.
Ele não havia notado minha aproximação. Ou talvez tivesse notado, mas não se importasse.
De todo modo, não era importante naquele momento fatídico.
O deus nórdico da vingança cerrou um punho a frente de seu tórax e uma energia chamejante envolveu seu punho, que logo foi armado para estourar o corpo de daquela que detém o título de Assassina de Youkais.
Era ali, uma brecha nas defesas divinas.
Sem pensar duas vezes, eu lancei um disparo sônico contra Vidar com um latido, o atingindo em cheio pela lateral de seu corpo.
Com aquele latido, eu seria capaz de derrubar um helicóptero, mas para o deus nórdico em pleno ar, foi apenas como se acertassem uma pedra em seu rosto. Não chegou a desestabilizá-lo, porém, deu para a guria mais alguns segundos de vida, desviando sua atenção dela para mim.
— Como ousa, seu familiar sarnento!
— Deveria estar preocupado com o lado oposto, seu pamonha.
— Hã?
Igualmente a Vidar, eu não havia entendido aquela sua fala da guria em um momento como aquele. Para ser sincero, eu até cheguei a pensar que ela reagiria de alguma forma, ao que consegui desviar a atenção de seu adversário. No entanto, aquela fala não era sobre ela mesma.
Era sobre outra pessoa.
Um trovão ribombou, mas o deus nórdico da vingança já tinha sido alvejado por uma rajada de energia elétrica que o fez cair na estrada e continuou o arrastando pelo asfalto, me obrigando a saltar para o lado para não ser pego na corrente elétrica junto a ele.
Os raios de energia cessaram, e a divindade parou estatelada no pavimento, com o corpo ainda tremendo pela corrente elétrica que o dominou.
E ao que direcionei meus olhos caninos na direção de onde se originou aquele ataque, flutuando com uma mão estendida contra o deus, se encontrava a filha de Raijin, Nuwa Lei Feng.
Não haveria momento melhor para ela aparecer, e meu coração se acalmou com sua presença por ali.
Baixando seu braço, mas sem afastar seu olhar da divindade, a guria-elétrica flutuou para mais perto de Yuna, ainda cravada na parede do Monte Rebun.
— Tá. Você me mandou aquelas mensagens por conta disso, ovelha negra? Um daqueles homens daquele comercial da Tim, é? Eu esperava algo mais excitante, para ser honesta.
— Não foi especificamente por conta dele, ele apareceu logo depois. Isso foi só uma coincidência, chiquitita. Mas devo agradecer por salvar minha vida, agora.
— Pois não fiquei animadinha, ovelha negra. Tenha certeza de que será cobrada por esse resgate. Aliás, você mentiu. Disse que era para proteger o shikigami, não você. E por que tá apanhando tanto dessa ovelha azulada ali?
— Acredite, ele não é tão fraco quanto parece.
— Hmm, interessante, então. Como está nessa sua forma de exibicionista, até me surpreendi de estar sendo surrada. Mas eu cuidarei dele, por ora.
— Bem, preciso que você o segure por mais ou menos uma hora, está bem?
— Por que por uma hora?
— Eu irei dar um fim nessa coisa de Transgressora, mas preciso de uma hora porque quero manter parte dos poderes da lança em mim.
— Tá, entendi. Por isso tem um holograma esquisito e uma porta misteriosa no alto do monte, então.
— Exatamente.
Nossa querida Assassina de Youkais se desprendeu da rocha e flutuou para a estrada ao lado de Nuwa, cessando com o Modo Odin assim que seus tênis de basquete firmaram suas solas no chão.
— Só para avisá-la, ele é muito forte fisicamente e também bastante rápido, apesar do tamanho. Sei que em velocidade isso não será um problema, mas no corpo a corpo...
— Deixa disso, ovelha negra. Em algum momento eu te pedi instruções? Seja lá quem ele for, meus métodos de violência são infalíveis. Pode ir lá fazer o que vai fazer. Só espero não matá-lo muito rapidamente e ficar entediada.
— Creio que irá se entreter bastante, chiquitita. Sendo assim, deixo tudo em suas mãos.
De volta com suas roupas normais e sem aquele brilho dourado contornando seu corpo, a guria lançou-me um olhar como se quisesse dizer que tudo ficaria bem e depois girou seus calcanhares, se afastando com três ou quatro passos de Nuwa e saltando de uma vez para o topo do Monte Rebun.
O inimigo agora era outro, pelo menos para Vidar, que com o corpo ainda tremendo pelo choque, iniciou o processo para se colocar de pé.
Nuwa, conhecida carinhosamente como a Abelha Trovejante, deu alguns passos tranquilos, embora decididos, para diminuir a distância entre deus e semideusa.
Seu visual, assim como o da guria, era sempre algo a se destacar. Além de também ser uma adepta aos tênis de basquete, que eram preto e branco em seus pés, a filha do nipônico do trovão não era muito de usar calças, mas vestia meias listradas em amarelo e preto que cobriam até a metade de suas canelas. Já em seu torso, uma camiseta de futebol americano preta que a acobertava dos ombros até metade de suas coxas lisas. No tecido, escrito em amarelo, se lia Pequim sobre o numeral 91. Já no rosto, piercings; dois abaixo do olho esquerdo, como se fossem lágrimas, e uma pequena argola no lábio inferior, além de um alargador na orelha direita. Mais chamativo do que seis piercings era o seu cabelo, que preso em um rabo de cavalo à esquerda de sua cabeça era loiro, com três listras pretas o demarcando, enquanto o restante do cabelo era negro.
— Eu realmente estava bastante entediada com o dia de hoje para aceitar esse tipo de pedido daquela ovelha negra. Mas, que seja. Você parece ser duro na queda, ovelha azulada. Espero que me excite, pelo menos um pouco.
Com faíscas elétricas saltando de suas bochechas, Nuwa estreitou os olhos para o deus nórdico da vingança, o convidando para um novo desafio.
— Você... quem é você, fedelha? Não é uma Embaixadora, é?
— Eu não sei do que você está falando, mas não sou embaixadora de nada. Estou aqui só para matar o tempo livre, e pelo o que me parece, você é quem irá me entreter por mais ou menos uma hora.
— Onde está a Transgressora? Não sinto mais sua presença. Para onde ela foi?
— Tá. Você pergunta muito e esse não é o foco por aqui. Esqueça-a por algum tempo, ovelha azulada, sou eu quem irá enfrentá-lo, agora. Será que ainda não se tocou, hein?
— Hmm. Quer dizer que ela está se escondendo atrás de você, entendi. Se o que você quer é protegê-la, acabarei com você e depois com o cachorro que me atacou. Uma morte ou outra desnecessária não será um problema ignorar se eu conseguir a cabeça da Transgressora da Obra dos Deuses.
— Esse é o espírito, ovelha azulada. Vejo que estamos começando a nos entender.
Bem, se o que a guria-elétrica queria era incitar um combate feroz e violento, então, de fato, os dois estavam começando a se entender melhor do que ninguém. E para deixar claro esse entendimento, Vidar bufou e com um urro moveu suas pernas para partir para cima daquela que é conhecida como Abelha Trovejante.
Ao mesmo momento, Nuwa também agiu, mas diferente da divindade, a guria-elétrica se lançou em voo contra o deus em ataque, como se tivesse sido disparada por um canhão, indo com os dois braços esticados contra Vidar e o acertando com seus punhos em sua caixa torácica.
A semideusa arrastou o deus por alguns instantes com os pés fora do asfalto, até que Nuwa desacelerou, fazendo a divindade ser jogada para trás, capotando e rolando no pavimento. Contudo, Vidar logo se recompôs, estabilizando os pés no chão e deslizando no asfalto momentaneamente para frear seu corpo.
— Parece que você é só força bruta, ovelha azulada. — Nuwa ajeitou seu corpo em pleno ar e retornou seus pés ao solo. — Se o que você é capaz de fazer é somente baseado em força bruta, não sei se será tão divertido.
Em contra-ataque, e também como resposta ao comentário da Abelha Trovejante, Vidar se moveu em um piscar de olhos, surgindo fantasmagórico ao lado de Nuwa, da mesma forma que fez contra Yuna, e golpeando o rosto pela lateral da semideusa com o antebraço, lançando-a para fora da estrada e para longe da base da montanha, onde ela caiu como um saco de lixo em um dos fragmentos da plataforma gélida criada pela guria.
— Ai, ai. — Nuwa logo começou a se colocar de pé, esfregando o lado do rosto que foi golpeado, mas não parecendo estar de fato machucada devido ao ataque. — Tá, entendi. Você consegue ser bastante veloz, interessante. Mesmo assim, depois de ver com meus próprios olhos, já dá para acompanhar seu ritmo.
— Hmph.
— Tá, tá. Acho que um duelo corpo a corpo com você não será o mais apropriado, embora seja um desafio excitante, eu acabaria apanhando demais. E essa sua pele também é bastante resistente. Preciso testá-lo.
— Me testar? Por acaso pensa que isso é alguma brincadeira?
— O que foi, o que foi, hein? Espero não ter ofendido, para ser sincera. Eu não deixei claro que isso aqui é somente um passatempo para mim. Eu estava entediada.
— Então sentirá a minha ira.
— Olha só, frases de efeito. Quem diria.
Diferente da guria-elétrica que via aquele confronto somente como uma forma de entretenimento, o deus nórdico da vingança estava ali a trabalho. E mesmo que Nuwa Lei Feng não fosse o seu alvo ali, Vidar precisava lutar para defender a sua própria honra. Ele investiu mais uma vez contra a Abelha Trovejante, desaparecendo da estrada e reaparecendo sobre o mesmo pedaço da plataforma de gelo, novamente ao seu lado, na intenção de repetir o mesmo movimento que o anterior. No entanto, a tentativa agora foi ineficaz. Tão veloz quanto o deus nórdico, a semideusa desapareceu com faíscas do ponto onde estava, fazendo com que a divindade hesitasse em atacar o vácuo. E em um fragmento de plataforma mais próxima, Nuwa ressurgiu com o mesmo efeito de faíscas elétricas.
— Eu acho que você precisa acertar o tempo, ovelha azulada. Suas ofensivas são velozes, e admiro isso, até pelo seu tamanho. Porém, já está claro para mim que sua agilidade não é tão funcional como parece.
— ......
— O que foi? Um gato comeu a sua língua, é? Ou tá com medo de eu ter descoberto seu segredinho, hein?
— Achas que pode me...
— Tudo bem, tudo bem, eu vou falar. O segredo de sua altíssima velocidade, ovelha azulada, é que você só pode se mover em linha reta. Um simples disparo, de um momento a outro, um único pico de velocidade em uma única direção. É uma técnica bastante eficaz de aproximação, a velocidade é realmente muito alta. Mas, se é somente uma técnica e não um atributo real de seu corpo, você não terá chances de me derrotar. Diferente de você, eu sou naturalmente muito rápida.
— Hmm. Hmph. Você está correta, é assim que funciona minha técnica. Mas e daí que você entendeu seu funcionamento? O máximo que poderá fazer é se esquivar.
— Ora, vamos tirar isso à prova, então.
Novamente, incitando o combate entre os dois, faíscas como relâmpagos minúsculos pularam das bochechas de Nuwa, e relâmpagos maiores saltaram da pele de seus braços e pernas como se fosse uma Bobina de Tesla.
Bufando em fúria, aceitando o desafio da filha de Raijin, Vidar avançou mais uma vez, com sua imagem desaparecendo por conta da alta velocidade que ele alcançava. E ao que o deus da vingança surgiu ao lado da semideusa, seu corpo foi lançado para fora do pedaço da plataforma de gelo e voou de volta para a estrada na base do Monte Rebun.
A causa disso?
Um punho, claro.
Um braço esticado no momento certo por aquela que é conhecida como Abelha Trovejante.
Na fração de segundo antes da divindade aparecer ao lado de Nuwa para golpeá-la, a guria-elétrica moveu seu braço com o punho cerrado como se soubesse exatamente o local em que ele reapareceria. Ou melhor, ela de fato sabia o momento e o lugar.
Vidar apareceu somente para bater com seu rosto no punho da semideusa, sendo jogado para longe.
— Foi como eu disse, afinal. Sua alta velocidade é inútil, porque eu sou naturalmente veloz. Se eu me concentrar, ovelha azulada, posso literalmente ver você se aproximando em câmera lenta. E isso porque meus reflexos conseguem chegar bem próximos da velocidade da luz.
— ...sua, fedelha maldita.
— Tsc, chega até ser uma vergonha a ovelha negra não ter notado o quão ridículo você é. Ou talvez ela estivesse só brincando com você, também.
— Eu sou um deus. — Disse Vidar se colocando de pé no pavimento. — Eu sou um deus e não serei derrotado por uma criança como você!
— Só para constar, eu tenho vinte e um. Tenho até piercings nos mamilos, quer dar uma olhada?
Oferecer a imagem de seus seios redondos não era algo que distrairia o deus nórdico da vingança. Ele tornou a usar sua técnica de velocidade contra Nuwa, só que, como da vez antecedente, Vidar não foi capaz de alvejar a semideusa. Ele apareceu às costas dela, mas a guria-elétrica já estava prevendo sua movimentação, no que ela só teve o trabalho de virar o corpo em noventa graus e esticar o braço em um novo soco no momento certo.
Dessa vez o deus da vingança só foi golpeado no peito e logo foi jogado como um saco de lixo para um outro fragmento da plataforma de gelo vizinho.
— Até quando vai insistir, ovelha azulada? Não entende que sua velocidade não é capaz de se opor a mim? Seu único atributo válido é sua força, mas como não consegue se aproximar devidamente, vai ficar apanhando como um imbecil até que o tempo dessa sua transformação acabe e seu corpo de encarnação pereça.
— Tsc.
— Pois é, eu sei que está usando sua forma divina e também sei que está em um corpo de encarnação. Eu sou uma semideusa e consigo ver essas coisas com naturalidade. Até porque, você está azul, e acho difícil essa ser realmente a cor da sua pele.
O deus nórdico da vingança voltou a se reerguer, agora sobre o gelo, e estralou o ombro sem mover sua atenção de cima da Abelha Trovejante.
Sua feição não era nada agradável, até mesmo para um lobo, líder de alcateia, como eu.
— Escuta só, ovelha azulada, não adianta fazer cara feia. Você precisa aceitar o fato de que sua época já passou. Você tem o quê? Uns três mil anos de idade?
— Hmph, você consegue ser mais irritante do que a Transgressora conseguia ser.
— Tá, vou levar isso como um elogio. A propósito, aquele martelo ali é seu?
Mudando o assunto por completo e de um segundo a outro, Nuwa apontou para o lendário martelo Mjolnir caído sobre um dos pedaços da plataforma no estado sólido água, ainda que seus olhos se mantivessem na divindade mais ao lado.
— Sim, o martelo está sob minha responsabilidade. Por quê?
— Sua responsabilidade, é? Pois me parece bem irresponsável deixá-lo jogado à deriva no mar. Quer que eu o pegue para você? Aliás, eu sou bem mais rápida.
— Não seja tão presunçosa, fedelha. Aquele martelo não é um martelo qualquer. E além disso, ele está sob um feitiço irritante que impede que ele seja retirado do solo.
— Ah, é uma pena, então. Aposto que você gostaria de usá-lo para ter alguma vantagem. Não vai demorar muito para que sua transformação acabe, e aí você irá desaparecer. Quero dizer, é capaz que dure mais do que uma hora, já que o aumento de poder em você não deve ter sido tanto. Mas, mesmo assim, eu posso ficar fugindo de você durante esse período até que sua transformação acabe, o que acha? Será menos doloroso do que ficar apanhando toda vez que tentar se aproximar.
— Você acha que dependo de minha velocidade para derrotá-la, é isso? Hmph. Tanto você quanto a Transgressora são ingênuas e arrogantes, por isso sempre são surpreendidas nos confrontos.
— Tá falando o que aí? Você nem sabe quem eu sou.
— Mas vocês são todas iguais. Mortais com uma grande quantidade de poder, mas ainda assim mortais. Você não é uma deusa.
— É, pode até estar certo sobre isso. Posso não ser uma deusa completa, mas sou pelo menos pela metade.
Mais relâmpagos em miniatura circularam o corpo da filha de Raijin, e então se dispersaram em fagulhas luminosas para todos os lados. Aquela onda de energia em forma de partículas cresceu em um raio de metros, chegando até próximo da estrada onde eu me encontrava, e atingindo tudo pelo caminho.
Vidar que estava mais próximo da guria-elétrica foi alvejado pela onda de fagulhas, mas nada ocorreu com seu corpo. Ao que parecia, aquela onda criada pela semideusa não passava de um show de luzes. Porém, alguns instantes depois, os efeitos daquela onda começaram a surtir sobre o deus nórdico da vingança.
Ao tentar se mexer, a divindade se viu incapaz de realizar o movimento. Qualquer movimento, para ser exato.
Paralisia.
Com sua energia elétrica, Nuwa era capaz de causar paralisia em seus adversários.
— Não é bacana, ovelha azulada? Mesmo que tenha poderes de um deus, seu corpo é de um humano, e logo, os efeitos de minhas ondas elétricas ainda surtirão nele. Você pode até ser bastante forte com seu corpo original, e acredito que se estivesse lutando com ele, eu não seria capaz de vencê-lo em nenhuma circunstância. No entanto, como seu corpo só está potencializado por magia divina, a coisa vai ficar feia para você.
— ......
Sem nem mesmo conseguir mover os lábios para proferir uma resposta para Nuwa Lei Feng, Vidar piscou os olhos como forma única de manifestação.
— Eu até entendo Código Morse, mas não sei o que está tentando me dizer.
Tranquila e infalível como Bruce Lee, aquela que é conhecida como Abelha Trovejante se moveu em um relampejo, indo do pedaço de plataforma onde se encontrava para o pedaço onde a divindade se mantinha em paralisia. E diante daquele homem de pele azul, o punho da guria-elétrica se energizou em um turbilhão de raios cintilantes, ao passo que seu braço preparava um poderoso soco.
Todavia.
O deus sorriu.
— Hã?
A filha do deus nipônico do trovão caiu na armadilha da divindade nórdica ao se aproximar tão descuidadamente dela. Mesmo que com um soco preparado para devastar Vidar, a surpresa com que Nuwa se deparou fez com que ela hesitasse por um instante, onde o deus aproveitou a brecha para golpeá-la no abdômen e depois agarrá-la pelo pescoço com uma única mão, a erguendo como uma criança ergue uma pequena boneca de pano.
— Você achou que um truque desse nível funcionaria, fedelha? Mesmo que meu corpo seja um corpo de encarnação, minha força advém de minha energia divina e com ela, sou capaz de sair de um efeito paralítico sem muito esforço.
— Caramba... que efeito roubado.
— Ainda acha isso uma brincadeira? Mesmo estando prestes a morrer com um movimento simples de minha mão? Sua coragem me admira, isso eu devo admitir. Infelizmente para você, foi como eu disse. Sua arrogância lhe colocou nesta posição desfavorável e agora você irá morrer.
A guria-elétrica estava apuros e isso era um fato.
Mas agora, era Vidar quem estava confiante demais em sua jogada, enquanto Nuwa não pareceu se abalar com seu atual cenário.
Afinal, raios rasgaram o céu sem nuvens e trovões ribombaram lá no alto.
Ela já tinha em mente a forma de se livrar da divindade.
Conforme os dedos grossos do deus nórdico da vingança apertavam aquele pescoço que só era delicado em aparência, relâmpagos se encontraram acima dos dois, e então desceram em uma única descarga de energia que caiu na cabeça de Nuwa, não demorando nada para tomar todo seu corpo com eletricidade.
— O quê?
Vidar questionou, mas provavelmente já havia compreendido. Apesar da forte corrente elétrica banhar a semideusa, mas, mesmo assim, não afetá-lo, a divindade deve ter entendido que toda aquela energia estava sendo absorvida por aquela que é conhecida como a Abelha Trovejante.
Os olhos dela se acenderam com uma forte luz branca, como os faróis de um automóvel, e suas mãos, que até o momento estavam largadas sem trabalho, moveram-se e agarraram o antebraço de Vidar.
— De onde vem essa tremenda força?!
Em resposta à dúvida da divindade, Nuwa cravou seus dedos no antebraço do deus e toda aquela corrente de energia foi infiltrada no corpo de encarnação de Vidar.
— Aaaaah!
Sendo eletrocutado como um detento nos último segundo após passar pelo corredor da morte, a mão que segurava o pescoço de Nuwa perdeu a firmeza, libertando a filha de Raijin, que se manteve flutuando com seus poderes, enquanto a boca do deus da vingança já começava a espumar com o choque.
— Tentou me enganar, ovelha azulada. Agora irei cozinhar você.
Seria a finalização perfeita para todos nós, não acham? Mas todo aquele ataque elétrico antecedido com uma chuva de relâmpagos não foi o suficiente para segurar a força daquela divindade. Mesmo sendo eletrocutado por dentro de seu corpo por, literalmente, relâmpagos, Vidar mexeu seu braço livre de uma só vez, lançando seu respectivo punho em um soco desengonçado que acertou o rosto da guria-elétrica de surpresa.
A cabeça da semideusa chacoalhou com o golpe, o que a fez soltar seus dedos do antebraço do deus e balançar enquanto pairava no ar.
— Mas que mer...
Merda. Era o que ela gostaria de ter dito, não eu. Sempre tento ser um lobo, líder de alcateia, bastante educado, mesmo que convivendo com Yuna Nate. Mas, o motivo de Nuwa não ter sido capaz de finalizar seu praguejo foi um segundo movimento do mesmo braço que a golpeou um instante antes, a acertando agora com as costas de seu punho e a lançando para um dos pedaços da plataforma de gelo, com seus olhos apagando aquela luminosidade como se sua fonte de energia fosse puxada da tomada.
Ela capotou no solo gélido e... suas costas bateram em algo.
Algo firme o bastante para que impedisse que seu corpo continuasse capotando.
Um martelo dourado.
Mjolnir.
— Mas que saco, ovelha azulada. — Resmungou a guria-elétrica ficando sobre um joelho para se levantar. — Você não deveria deixar suas coisas jogadas desse jeito.
Era essa a preocupação dela?!
Não foi ter sido esmurrada e jogada longe por um deus que estava sendo eletrocutado?!
No entanto, ao que pensei que aquele comentário de Nuwa seria o mais surpreendente ato daquela cena, em um movimento emocionado, ao que se recolocava de pé para retornar ao combate, sua mão agarrou o cabo do martelo lendário e, como se não pesasse mais do que um pedaço de madeira, a arma mitológica foi levantada e arremessada na direção de Vidar.
E o deus nórdico da vingança arregalou os olhos para o martelo em sua primeira expressão de verdadeiro espanto desde que o conheci.
Ao Mjolnir voando em sua direção, a divindade agachou em reflexo, deixando que o martelo lendário passasse voando por cima de seu corpo, e indo colidir e cravar com a parede do Monte Rebun mais atrás.
— Tá. Isso parecia bem mais leve do que é preciso para se cravar na rocha de uma montanha.
— S-Sua fedelha! Você tem noção?! O que você... como ousou tocar essas suas mãos no Mjolnir?!
— No... Mjolnir? Onde foi que eu já escutei esse nome antes?
Ela não conhece o martelo?!
É literalmente usado como referência cultural, fora as adaptações para o entretenimento tanto ocidental quanto oriental. Quais as chances da guria-elétrica não fazer ideia do que aquele nome significava?
Hmph, francamente.
Nuwa Lei Feng ter erguido uma das armas mais poderosas da história não teve importância alguma para ela. E a prova disso foi o que ela realizou em seguida. Como se desistisse de tentar descobrir o valor daquele martelo, a semideusa estalou a língua e estendeu uma de suas mãos para o lado, onde uma katana amarela surgiu em sua posse como se viesse de outra dimensão por meio de um relâmpago.
Aquela espada, apesar de não chegar aos pés do Mjolnir, também era uma arma peculiar.
Hachinomaru, a Lâmina da Lua de Mel.
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