Noctis: 004
— Peço perdão, brilhante pardal, por ter de esperar por esta transformação. Mas como foi você quem pediu por isso, acho que não viu problema algum em aguardar. Como imagino que saiba, se tratando de um corpo de encarnação, minha forma divina não poderá ser útil por muito tempo.
— De fato. Sei bem das limitações de uma encarnação, seu pamonha, e é muito perspicaz que tenha notado. E agora, não vai poder dizer a ninguém no outro mundo que só foi derrotado porque não usou seu verdadeiro poder. Para mim, às vezes, uma vitória precisa ser incontestável para que eu consiga dormir tranquilamente. E mesmo não sendo um problema para mim, já estava se tornando um tanto quanto tedioso ter de enfrentar dois deuses depois de ter minha querida residência destruída.
— Ora, eu ainda não me desculpei sobre isso. Bem, me perdoe, Yuna Nate. Eu não tinha pretensão de destruí-la no primeiro momento. No entanto, achei que não atenderia a porta se eu batesse palmas ou só tocasse a...
Não havia mais tempo para o bate-papo.
Eu não sei dizer se a decisão foi consentida por Cratos, mas da parte de nossa querida Assassina de Youkais, foi. Já que, enquanto o deus do poder ditava seu pedido de desculpas, ele cometeu a gafe de baixar suas pálpebras por um breve momento. E nessa brecha criada por um instante, Yuna avançou em um piscar de olhos, lançando seu punho em um impiedoso soco, perfeito em sua forma e aplicação, e harmonioso em velocidade e solidez, como era de praxe, claro.
É provável que, ao que os olhos da divindade se abriram, ela visualizou em câmera lenta o punho cerrado da hanyou voando em direção ao seu rosto cinzento. E pego de surpresa daquela forma, o que o deus poderia fazer? Mesmo usando sua forma divina, que era limitada por conta de seu corpo de encarnação, Yuna também estava usufruindo de um pouco da magia divina de Gungnir, o que, talvez, os deixassem em pé de igualdade.
O soco alvejou os lábios do deus do poder, sem possibilidades de defesa, e seu corpo foi empurrado com a pressão do impacto, um pouco depois da poeira ao redor dos dois saltar em uma auréola até a altura de seus joelhos.
Os pés de Cratos deslizaram no asfalto para freá-lo, ao que seu corpo deslizava para trás com sua cabeça apontando seu nariz para o céu. Assim que conseguiu estacionar, a alguns metros da Assassina de Youkais, o deus se recompôs, baixando sua cabeça para que voltasse a apontar seu nariz para sua adversária. De sua boca, sangue dourado escorria por um canto.
— Achei que teríamos uma partida limpa, brilhante pardal.
— "Partida limpa" meu ovo. Seu idiota, acha que não sei o que fez, é? Achou que eu não perceberia? Mas o meu verdadeiro intuito com aqueles disparos de vento gélido não era só fazê-lo se transformar.
— Como é?
— Não me venha com essa de "como é", seu pamonha. Eu sei que não usou sua própria magia para ativar essa sua transformação. Naqueles projéteis de ar congelante, eu usei da magia de Gungnir para criá-los, e essa mesma energia divina que congelou seus circuitos mágicos, e você sabia disso. Estava ciente que, por estarem no zero absoluto, não conseguiria usar sua própria mana para derreter o gelo e se transformar, sem prejudicar seu corpo de encarnação no processo. Assim, com seus poderes naturais como deus do poder, usufruiu de seus dotes para extrair a magia divina do gelo em seu corpo e assim foi capaz de se transformar.
— Hmph. Tudo bem, isso é verdade, eu admito. Mas, exatamente no que isso interfere em nosso duelo? Estamos quites, nós dois fomos desonestos.
— Não, não. Eu sou mais esperta do que você e seus irmãos.
— Hmm?
— Exatamente o que ouviu. Porque, a partir do momento que usou da energia divina que eu implantei em você, além de saber exatamente a quantidade de tempo que seu corpo suportará essa transformação, isso também me permite usar meus poderes contra você. E isso é até que bastante simples. Você e a oxigenada são o mesmo tipo de deus, então, suas habilidades divinas devem funcionar de forma parecida. A cada vez que você toma para si o poder de alguém, você precisa descarregá-lo para que possa se apossar de outro. E agora que está usando a magia de Gungnir para manter sua transformação, não pode abrir mão disso para absorver outro poder. Pelo menos, não é o mais recomendado.
— ......
— O único jeito para sobreviver, seu pamonha, é arrancando Gungnir selada em meu corpo antes que o tempo de sua transformação acabe e seu corpo de encarnação morra, ou simplesmente me matar dentro do tempo. E aí, o que é que vai ser?
Uau.
Yuna foi além do que eu imaginava nessa.
De maneira engenhosa, ela colocou os poderes do próprio deus do poder contra ele mesmo.
— Hmph, não tenho palavras para descrever, brilhante pardal. Há tempos não encarava um adversário tão formidável. Contudo, ter entendido a funcionalidade de minha habilidade, ou ter me colocado em uma situação desfavorável, não interfere em nada em nosso duelo. Porque, independentemente das circunstâncias, eu ainda estou em minha forma divina, e só preciso explodir a sua cabeça para conquistar minha vitória!
Assim como Yuna, em questão de agilidade, Cratos moveu-se no fragmento de um segundo, aparecendo diante da hanyou com os braços abertos, se agigantando perante a ela. E com ambas as mãos, o deus do poder golpeou horizontalmente contra a cabeça de nossa querida Assassina de Youkais, no intuito de destruir seu crânio como se estourasse um balão de água. Porém, embora a destreza da divindade tenha sido assustadora, Yuna não teve dificuldade em acompanhar seus movimentos, erguendo sua guarda para se proteger das palmas esmagadoras das mãos do deus, as bloqueando com ambos os antebraços.
Todavia, com a intenção lógica de proteger sua cabeça, suas costelas ficaram em aberto para Cratos, que agora, tinha um par extra de braços para atacá-la.
E como o esperado, foi o que ele fez, de costelas para costelas, seus braços extras dispararam com veemência contra o tronco de Yuna que, em um pensamento de amortecer a força daqueles socos gêmeos, batendo rapidamente nos braços com seus cotovelos, teve seus pulsos agarrados pelas mesmas mãos que havia se defendido.
Sem meios para se safar desse segundo ataque, os punhos extras da divindade acertaram as costelas da hanyou em cheio, trincando-as com o impacto, como se um martelo houvesse golpeado um pedaço de madeira.
Hmph, não importa o quão "durão" ou "durona" você seja, ter as costelas trincadas com uma única batida é de uma dor agoniante para quem quer que seja.
Mesmo nossa querida Assassina de Youkais, que já passou por inúmeros combates corpo a corpo, tinha se acostumado com o choque de ter as costelas danificadas tão facilmente. Contudo, a regeneração de Yuna era incrivelmente rápida para esse nível de dano, o que a permitiu resistir à dor com apenas um estalo de língua e um cerrar de dentes.
Sua recuperação foi tão veloz, que o deus do poder não conseguiria cogitar o contra-ataque que estava chegando.
Como as mãos do deus estavam segurando seus pulsos, Yuna usou isso ao seu favor, saltando à média-altura, dobrando suas pernas e desferindo uma voadora de pés juntos contra a caixa torácica da divindade, a fazendo a soltar e dar um passo desconcertado para trás.
— ...Tsc!
Ao mesmo tempo em que a hanyou tocou seus pés no solo, Cratos se recompôs do chute que levou. E refazendo o passo para trás, como se rebobinasse as imagens de um filme, o deus do poder partiu para o ataque novamente. E dessa vez, ele libertou todo o condicionamento físico de seus quatro braços contra a obra-prima de corpo que era o de Yuna Nate.
Com um grunhido de voracidade, os quatro punhos do deus do poder começaram com seus golpes consecutivos que, de tão rápidos e potentes, formavam uma espécie de furadeira de ar aos seus redores.
Nossa querida Assassina de Youkais apenas foi capaz de se proteger com seus antebraços em X, ajeitando a postura de suas pernas para melhor se equilibrar. No entanto, dado o fato de que a divindade continha quatro braços, os inferiores, com grande agilidade, focaram em atacar o abdômen de Yuna, a colocando em um teste de resistência extraordinário. O ar chicoteava ao redor dos dois com todos aqueles movimentos braçais.
— E então, brilhante pardal, o que irá fazer agora?! Sob esta estrondosa pressão que meus braços jogam em cima de você, até quando será capaz de resistir?! Acredito que que irá ceder bem antes da energia de Gungnir deteriorar minha encarnação!
— ......
De fato, a pressão exercida pelos golpes devastadores do deus do poder era algo que eu temia ser irresistível até mesmo para Yuna. Com dois punhos martelando seus antebraços e outros dois marretando seu abdômen, os músculos da Assassina de Youkais em algum momento iriam fraquejar e sua guarda iria se desmanchar. E diante de todo aquele poder destrutivo...
— Urgh...
Eu sabia.
Nem mesmo ela poderia se manter como um iceberg ante aquela cólera divina.
Por conta dos socos em sequência que estava levando no abdômen, Yuna deu uma primeira tossida de sangue. Instantes depois, uma segunda tossida de pura hemoglobina. E não demorou para que, finalmente, seus braços fraquejassem por um breve momento, sendo tempo suficiente para Cratos arrebentar a guarda dela, socando as laterais de seus braços.
— Agora pereça!
Com a guarda aberta, a continuidade dos socos quádruplos acertou, sem gentiliza, o torso e o rosto de nossa querida Assassina de Youkais, dando a impressão de que estava tendo um ataque epilético, por conta da velocidade que os punhos cinzentos do deus do poder a atingiam.
E esse espancamento ligeiro durou até o ponto em que a divindade, ou cansou de socá-la tanto, ou decidiu que a hanyou já estava acabada. Contudo, mesmo levando todos aqueles incontáveis golpes, Yuna mantinha seus pés executando um ótimo trabalho em fazê-la continuar de pé.
Após os socos cessarem, agora, foi a Assassina de Youkais quem cambaleou para trás, dando dois, quatro, seis, passos cambaleantes, como um homem bebum desafiando a si mesmo a caminhar de costas sem perder a compostura.
— Arf... você me pegou de jeito, seu pamonha. Me pegou de jeito, mesmo. Mas, se achou que um enxame de socos era o bastante para acabar comigo, veja com seus próprios olhos que se enganou. Os ferimentos que me causou já estão se curando, e os danos internos já se recuperaram. Minha regeneração não é capaz de gerar membros novos, mas contanto que os ossos ou músculos estejam ligados ao resto meu corpo, eles se consertarão muito rápido, e isso independe da magia de Gungnir, é algo natural meu como filha da Mulher da Neve.
Realmente, antes mesmo de concluir toda sua fala, o corpo de Yuna já estava novo em folha, com ela só tendo o trabalho de limpar o sangue que havia manchado seus lábios rosados, com as costas de seu punho.
E além de sua genética híbrida de youkai e humano, havia outra coisa que era tão sobrenatural quanto.
Afinal, do que era feito aquela camisola para ser tão resistente assim?!
— Está bem, Cratos. Coloque mais esforço nisso se quiser realmente me matar. Somente me causar dor não será o suficiente, e como deus de classe guerreira, você deveria saber disso. A propósito, seu tempo deve estar acabando.
— Hmm, sua regeneração natural é tão boa quanto seus poderes de gelo, e como deus, eu não tenho vergonha de admitir que será complicado vencê-la na base da força bruta. Para ser sincero, eu já imaginava algo como isso. É por esse motivo que meus golpes não foram só para lhe causar dor, brilhante pardal. Meus golpes também foram para absorver ainda mais energia da lança lendária selada em seu corpo.
— Hmm?
— É como ouviu, Yuna Nate. Embora você esteja certa sobre eu precisar descarregar um poder para absorver o outro, minha habilidade não me impede de absorver mais do mesmo poder. E isso se deve aos meus braços extras, que são canalizadores sensíveis ao toque. Significa que o combate corpo a corpo não é a opção mais viável para você.
— É, eu sei o que significa, seu pamonha. E agradeço por ter compartilhado uma informação que poderia realmente te levar à vitória. Deveria guardar seus pensamentos para si, não acha?
— Hmph, na verdade, não é um problema compartilhá-los com você. Já que não pode fazer nada para impedir esse processo.
— Eu não teria tanta certeza disso, Cratos. Assim como com a sua irmã oxigenada, no final, minha técnica especial pode cuidar disso muito bem. Observe.
Mais uma vez, em ambas as suas mãos, esferas de gelo surgiram ao que as pernas, braços e tronco de Yuna, mexeram-se para alterar sua postura para uma pose de flamenco, reapresentando a técnica Ice Ball Run novamente ao campo de batalha.
— Essas bolas de neve? Você acha mesmo que isso vai funcionar como funcionou com minha irmã? É patético. Só vai se decepcionar com isso.
— Olé, olé, seu pamonha. A única coisa patética aqui é o seu corte de cabelo. Mas o melhor nessas horas é não usar um jogo de palavras, e sim, demonstrar com ações. Então, aí vai!
Desse modo, Yuna lançou suas esferas gélidas, mirando com precisão as costelas da personificação do poder. As duas bolas no estado sólido da água foram em uma linha reta contra seus objetivos. Porém, como já era de se esperar, Cratos apanhou as esferas com seu par de mãos dos braços inferiores, as parando como se as bolas de gelo tivessem encontrado uma parede no caminho.
— Tsc, é com isso que espera me derrotar, brilhante pardal? É como eu disse, é patético. Essas esferas de gelo não são páreas para mim em minha forma divina.
— Acho que deve reconsiderar suas palavras, seu pamonha. Vai me dizer que não notou o que há correndo por esses artefatos de gelo? Você é quem me desaponta por aqui, Cratos.
E como se ativadas por comando de voz, as esferas no estado sólido da água explodiram com o brilho de chamas douradas.
— Vai usar o mesmo truque que usou com minha irmã?! Esqueceu que estou em minha forma divina?!
Entretanto, agora sem parte dos antebraços de seus braços extras.
A explosão das Ice Ball Run desintegrou as mãos e um pouco mais daqueles membros adicionais que o corpo em modo divino de Cratos continha. No entanto, perder um membro ou parte dele, não era um problema para uma divindade em sua forma natural. Em um mísero segundo, as mãos do deus do poder cresceram de volta, como se nada tivesse acontecido.
— Quer dizer que eles crescem rápido, é? Sendo assim, vamos tentar de novo, seu pamonha!
Novamente, como se em um passe de mágica, mais duas esferas gélidas surgiram nas mãos de nossa querida Assassina de Youkais. E outra vez, a hanyou arremessou as bolas de gelo contra as costelas do deus. E com os atos imitando os do ataque anterior, Cratos se defendeu agarrando as esferas frias pela segunda vez.
E também pela segunda vez, elas explodiram, destruindo parte dos antebraços da divindade como antes.
— Hmm, será que em uma terceira tentativa...!
— Não adianta, brilhante pardal.
Mas ela não estava a fim de dar ouvidos a ele. E por uma terceira vez, as esferas no estado sólido da água se fizeram em suas mãos, e todo o processo foi, como da primeira tentativa e da tentativa anterior, reencenado como se eu estivesse assistindo a um replay.
— Até quando vai tentar esse truque idiota, Yuna? Não me diga que deixou de levar à sério este nosso duelo.
— Não se preocupe, seu pamonha. Essa terceira vez já foi o bastante. Vai entender em pouco tempo.
— Do que você está... hã? Meu corpo?
Era esquisito o proprietário do corpo estranhar o que estava havendo, mas, aparentemente, Cratos estava ficando mais poderoso de um momento para o outro. Dos pés até a cabeça, cada músculo de seu corpo inflou bastante, dando a impressão de que fosse explodir, e então voltou à espessura normal.
A divindade olhou para os próprios membros, deixando claro que não estava entendendo o que estava acontecendo.
— Mas eu posso explicar, se me permitem — disse Yuna. — A habilidade de Cratos é absorver poder, não importando sua forma ou circunstância, e, assim como a oxigenada, ele precisa descarregar o poder que absorveu para conseguir absorver um poder diferente. Contudo, segundo ele, existe uma exceção de que o mesmo poder pode ser acumulado até antes de ser descarregado, e provavelmente, também não precisa ser descarregado de uma só vez. Com isso em mente, eu executei três ataques de Ice Ball Run contra seus canalizadores naturais que são seus braços extras, justamente para que seu poder acumulasse ainda mais. Não só na explosão, mas ao redor das esferas de gelo, eu impregnei com a energia de Gungnir. E como ele absorveu tudo, seu corpo chegou ao ponto de precisar lacear músculo por músculo para conter seu enorme poder. Em resumo, a quantidade de magia de Gungnir que ele tomou de mim é mais do que sua forma divina pode aguentar.
— Hmph, você diz tudo isso com tanta propriedade, mas o que lhe garante que minha forma divina tenha alguma limitação?
— Qual é, você não é onipotente, é? A resposta é simples, e você sabe disso. Você é só uma encarnação, e a resistência de um corpo de encarnação é estritamente limitada à sua qualidade física e à quantidade de magia que a divindade em comando pode fornecer para melhorá-la. Só que, em sua forma divina agora, você está usando a energia roubada de Gungnir, e a energia que a lança lendária pode oferecer é maior do que a que você pode oferecer. Sua encarnação não é capaz de suportar mais do que uma pequena quantidade da magia da lança. Meu corpo consegue suportar toda magia de Gungnir, mas só por um período de tempo limitado. A questão é que, atualmente, eu só estou usando oito por cento da energia total, e você, está com os mesmo oito por cento gerenciando sua forma divina. E pelos meus cálculos, sua encarnação será desintegrada com apenas dez por cento da magia da lança.
— Então, esse é o seu grande plano, brilhante pardal? Vai me entufar de poder até minha encarnação explodir? Não posso dizer que a ideia é ruim, mas nesse processo, você me entregou oito por cento de uma energia capaz de abrir fendas entre dimensões. É um poder que deixa até mesmo o Senhor do Olimpo cauteloso.
— É bom que ele mantenha cautela, mesmo. Porque eu estou longe de ser considerada uma fã dele.
— Eu garanto que enviarei esse recado quando eu estiver ao lado de meu mestre, prestes a arrancar a cabeça dele!
Definitivamente, o deus do poder deixou o poder subir à cabeça. Com uma passada firme, ele se lançou contra nossa querida Assassina de Youkais em uma nova ofensiva brutal, e iniciou com sua cadeia de socos em alta velocidade. E ele parecia estar mais ágil e preciso em seus movimentos do que da vez anterior, provavelmente por conta da energia tomada da lendária lança Gungnir.
No entanto, esse aumento de poder não aparentou ser um problema para Yuna Nate. A quadra de punhos da divindade se movia feroz e agitava o ar ao redor, chacoalhando vento para todos os lados, sim. Todavia, aquela tempestade de socos que já deviam ter quebrado a barreira do som, não conseguia sequer esbarrar na hanyou, que estava parada bem na frente dele. Sua imagem estava tremulando, como uma televisão antiga com sinal ruim, e os punhos esmagadores do deus simplesmente atravessavam aquela imagem como se fosse um fantasma.
— D-Desde de quando você se tornou tão rápida? Estava escondendo jogo?
— Oh, que cabeça a minha, eu esqueci de te atualizar, seu pamonha. Quando eu disse que estava usando de oito por cento da energia de Gungnir, eu quis dizer que era oito por cento naquele momento, já que, na fala seguinte eu já tinha elevado para vinte por cento.
— O-O quê?!
— Acabou ficando surdo, foi? É exatamente como escutou. E estando à vinte por cento da magia da lança, eu sou capaz de realizar um pequeno truque que aprendi com meu cachorro, só que um pouco melhor. Significa que não estou fisicamente mais veloz. Eu só coloquei a mim mesma a quatro vezes acima da velocidade do som, acelerando as moléculas de tudo dentro de minha aura dourada, mas os movimentos que estou realizando são normais para mim, o que é ótimo para evitar a fadiga.
— Ora, sua... você é uma trapaceira!
— Eu não colocaria desse jeito.
E assim, subitamente, a horda de socos vorazes de Cratos cessou, e ao mesmo tempo, o ar em volta deles se dispersou em um círculo.
A cena, em suma, era de Yuna com um punho fundo no plexo solar do deus do poder, e com a aura contornando seu corpo mais dourada e brilhante, parecendo que flocos de neve luminosa caíam ao redor de si e sumiam antes de chegar ao chão. Já a divindade, estava travada, com seus quatro braços congelados no que seria o início de um movimento ofensivo, ou a continuidade dele. Sangue dourado é o que manchava sua boca.
Como era costumeiro, foi tudo impetuosamente rápido, só que, quatro vezes mais rápido. A imagem do deus do poder golpeando descontroladamente e a imagem de nossa querida Assassina de Youkais socando seu plexo solar se alternaram como se não existissem as leis de causa e efeito. Simplesmente aconteceu. Tão repentino que seria duvidoso até mesmo chamar de mágica.
— Seu tempo acabou, seu pamonha. É o seu limite como encarnação.
— Hmph, impressionante. Mesmo eu sendo um deus... não fui um problema para você.
O punho de Yuna se afastou daquela pele cinzenta como concreto, e ela virou as costas para Cratos, girando sobre seus calcanhares após ajeitar sua postura, e logo iniciando seus passos serenos que declaravam sua vitória.
E declarando sua derrota, o deus caiu pesadamente de joelhos.
— Vocês, Bia, Zelo, você, são apenas encarnações. Só a alma e a consciência de uma divindade não é o suficiente, se seus corpos e mentes forem fracos. E também, força, poder, ou pura rivalidade, não podem bater uma inteligência afiada. Vocês são arcaicos demais.
— É... deve haver algum fundo de verdade nisso, brilhante pardal. Contudo... não pense que as coisas serão fáceis lá em cima, no Monte Kurama.
— Hmm?
Em seus últimos momentos encarnado, o deus do poder ainda conseguia ser bastante intrigante. Suas palavras fizeram com que a hanyou cessasse seu caminhar triunfal e o observasse por cima do ombro, o que Cratos entendeu como um pedido para que continuasse a falar.
— Lá no alto, meu mestre... aquele homem, ele consegue controlar almas, qualquer alma. Não é como controle mental... é muito além. Você acha que eu e meus irmãos, que descansávamos eternamente no Elísio, encarnaríamos nesta era para... isso? Para ajudar um transgressor?
— O que está querendo me dizer, seu pamonha? Vá direto ao ponto.
— Hmph... aquele homem, brilhante pardal, você não pode com ele. O destino dele é acabar com tudo. Ele é o nosso crepúsculo, o final de uma era. Você pode até sair viva, mas poucas coisas o impedirão de alcançar seu objetivo... um genocídio completo de deuses.
— Bem, eu venho ouvindo coisas como essa um pouco mais do que eu gostaria nos últimos quatro anos, e só tenho a dizer que converti todas dúvidas sobre mim desse mesmo período de tempo, então...
— Não... esqueça tudo o que sabe sobre vencer. Lá em cima... não está somente o homem... ele está acompanhado... pela minha irmã. Nice, a deusa da vitória. Só que ela não é uma encarnação. E... se quiser ter uma chance de derrotar o Transgressor da Obra dos Deuses, vai precisar vencer alguém que é virtualmente invencível... boa sorte, Yuna Nate.
Certo.
Aquele deus disse coisas bem preocupantes, pelo menos para Vosso Humilde Narrador. Se Nice, a deusa da vitória, estava lá, com Alighieri... digo, seria impossível ela estar lá com ele, já que, se o que Cratos disse sobre o controle de almas é verdade, o filho de Hades precisaria ter vencido a personificação da vitória para ter seu controle. E como raios é que se faz isso?
Obviamente, nenhuma resposta passa, passou ou passará, para essa sediciosa incógnita em minha cabeça.
De todo modo, o corpo do deus do poder começou a se desfazer em luz, como o de sua irmã, o que não me ajudaria a pensar em nada naquele momento de tensão.
E deixando seu adversário desintegrar-se em luminosidade, despedaçando-se como se fosse feito de vagalumes, Yuna voltou a caminhar em direção as ruínas da ACSI, sem olhar para trás novamente.
— Quer saber, seu pamonha? Eu não me importo com quem esteja no alto daquela montanha. Eles têm parte da responsabilidade com o que foi feito com minha casa, e isso não tem perdão.
— Y-Yuna?
— Isso não tem mais a ver só com o dinheiro, agora é pessoal. Você sabe por que dois deuses foram esmurrados hoje, 3k1? Foi só porque eles me tiraram do sério, e nada além disso.
Bạn đang đọc truyện trên: Truyen247.Pro