Noctis: 003
— Muito bem, muito bem, brilhante pardal. Pelos rumores que já ouvi sobre você, não sei se dizer que estou surpreso é justo comigo mesmo. Na boca dos deuses, você é conhecida como Cavaleira de Cristal, mas acredito que já esteja ciente disso, não?
Sendo breve por aqui, Yuna havia vencido a batalha, mas não a guerra.
O corpo de Bia perdeu todo sangue necessário para que, até mesmo um receptáculo de um deus, consiga sobreviver no plano terreno. Perdendo toda cor de sua pele e o brilho de seus olhos, a mulher loira teve seu corpo estatelado no asfalto, dando para a hanyou a certeza de sua vitória. E não somente isso. O corpo de encarnação da deusa da força, após perder todas as suas funções cerebrais, começou a se desfazer em partículas de luz dourada, criando uma cena semelhante à de vagalumes alçando voo.
Eu questionei Yuna sobre aquele fenômeno, e ela disse algo como:
— A maioria dos deuses têm um corpo humano para encarnar no plano terreno se necessário, principalmente deuses de classe guerreira. E esses corpos, quando recebem a alma de seus deuses, têm suas estruturas modificadas para mana, como os dos shinigamis, por exemplo. Assim, quando eles morrem, a energia mágica se dissipa e o corpo se desfaz em luz. E isso é muito bom, porque é uma grande economia com as questões fúnebres.
Redução de custos, é só isso que importa. Pelas barbas do profeta, até os deuses foram consumidos pelos ideais capitalistas?
Hmph, enfim.
Acredito que queiram saber a identidade do responsável pelas palavras de consagração que foram lançadas aos quatro ventos sobre nossa querida Assassina de Youkais.
E confesso que eu também.
No alto do telhado da residência que fazia esquina à frente da Agência de Combate Sobrenatural e Inteligência, um homem de físico atlético se equilibrava na extremidade daquele conjunto de telhas orientais, e nos olhava do alto como uma criança esnobe olha para um formigueiro indefeso. Ele trajava um casaco púrpura, no mesmo tom que o vestido de Bia, mas com seu tronco nu, exibindo seu peitoral invejável e seu abdômen estonteante. Nas pernas, calças, também escuras, e nos pés, sapatos sem cadarço na cor preta. E além do corpo bonito, como o de um famoso jogador de futebol que não é muito chegado em refrigerante, seu rosto tinha traços imponentes, com olhos verdes como as águas de um pântano, cujo o brilho estava coberto pela sombra que a boina em sua cabeça de cabelo raspado fazia.
Ele era um partidão, como minha tia diria, mas os ombros de Yuna caíram ao ouvir sua voz e se voltar na direção de sua origem.
— Phew. Vocês só podem estar de brincadeira com a minha cara, não é? Primeiro, a oxigenada, agora, um garoto de programa, e eu tenho certeza que não liguei para nenhum, hoje.
— Yuna, eu acho que ele não é um garoto de programa.
— Tsc, isso eu já entendi, seu pamonha. Só estou tentando intimidá-lo, está bem?
— Me intimidar com apenas palavras mal calculadas não será possível, brilhante pardal. Você pode ter vencido meu irmão, Zelo, e matado a encarnação de minha irmã, Bia, mas prometo que contra mim, Cratos, a personificação grega do poder, e antigo membro das Forças Aladas de Zeus, as coisas não serão tão fáceis.
— Hmph, então, é só mais um deus encarnado que veio me atormentar. Mas é claro, não podiam ser mais originais. E eu nem ao menos sei o porquê de estarem atrás de mim. Vocês não têm algo melhor para fazer, tipo, proteger um perímetro controlado ao redor de uma montanha?
— É exatamente por isso que estou aqui, Yuna Nate. No momento, você é o brilhante pardal mais ameaçador para o meu mestre, e também, é o que está mais perto de atrapalhá-lo.
— Diga a ele que não é nada pessoal, seu pamonha, são só negócios. Creio que ele irá entender.
— Hmph, você é extremamente segura de si, o que é admirável, e aceitável, já que derrotou duas divindades, mesmo que com os poderes limitados, em um período curto de dias. Contudo, diferente de meus dois irmãos que caíram em combate, eu sei o que você esconde dentro desse corpinho maravilhoso. É, eu consigo ver, mesmo daqui, um imenso poder, digno de um verdadeiro deus, está selado aí dentro e a abençoando com sua interminável energia mágica. Hmm. É uma lança. Sim, é ela mesma, a lendária lança Gungnir. É esse o seu segredo, não é?
— Ótimo, meus parabéns, seu pamonha, significa que não precisa de um oftalmologista. Realmente, Gungnir está selada em meu corpo, mas, em nenhuma das duas batalhas que tive com seus irmãos, eu precisei usar seu verdadeiro poder. Eu somente usufruí de um pouco de sua energia mágica em dois momentos específicos. Se preciso ser honesta com você, atualmente estou sem barreiras em meus poderes naturais, e isso já é o suficiente para derrotar um deus encarnado.
— Parece que não ouviu o que disse antes, brilhante pardal. Eu não sou como meus dois irmãos. Primeiramente, a força espiritual de uma divindade, ou seja, sua fonte de mana, ganha poder pela quantidade de pessoas que clamam seu nome. E ultimamente, por conta de algo que vocês chamam de videogame, meu nome ganhou uma força tremenda, podendo ser comparada a que tinha nos tempos mitológicos.
Bem, se o que o deus do poder estava falando era verídico, Vosso Humilde Narrador era, em partes, culpado por qualquer aumento de poder que Cratos tivesse ganho. E não duvido que Yuna também tinha sua parcela de culpa nesse processo.
Após terminar sua sentença, o deus do poder saltou do telhado para a rua, pousando suavemente no pavimento empoeirado por conta das ruínas da ACSI.
— Antes de começarmos, brilhante pardal, eu preciso esclarecer uma coisa.
— E o que é?
— Sua residência. Não foi, tecnicamente, Bia quem a destruiu. Se realmente compreendeu os poderes dela, sabe que ela não seria capaz sem acumular a força equivalente com seu corpo. E logo, como sou o único além dela que está atrás de você, vou assumir totalmente a culpa.
— Hmph, vocês só podem ser masoquistas, não é possível. Tanto você quanto sua irmã gostam tanto de apanhar que encarnaram na primeira oportunidade que apareceu. Mas, nesse quesito, temos algo em comum. Até porque, sem sangue não há falta.
— Eu só queria deixar claro, brilhante pardal, pois não quero que pegue leve comigo. Sabe como nós, deuses, somos orgulhosos.
— Se é o que deseja, está bem. Pretendo ser mais breve com você do que fui com seus irmãos.
Cerrando seu punho como se ele fosse controlado pelo tom decidido de sua voz, Yuna socou o ar na direção do deus do poder, lançando contra ele uma fria ventania que criou um rastro de gelo no chão conforme avançava feroz.
Cratos, por sua vez, não moveu nenhum músculo para se esquivar ou se defender do ataque gélido de nossa querida Assassina de Youkais. O sopro congelante passou assoviando com sua velocidade, e o corpo da divindade foi logo tomado pelo estado sólido da água, o colocando em uma espécie de sarcófago de gelo.
Em poucos segundos, a batalha contra o deus do poder já estava decidida.
Foi o que pensei, claro.
Porque em fato, oficialmente, mal havia começado.
Yuna baixou seu braço e relaxou seus ombros, ajeitando sua postura, convicta de que a batalha já estava terminada.
— Esse vento congelando que liberei com meu punho estava a uma temperatura fixa de vinte e três graus kelvin, sendo o golpe de ar mais próximo do zero absoluto que sou capaz de gerar só com a extensão de meus próprios poderes, atualmente. Antes, a temperatura mais baixa que conseguia em um golpe de ar era de quarenta e cinco graus kelvin. Com meus poderes despertados por completo, estou, em matéria de criogenia, no mesmo nível que minha mãe, Yuki-onna. Mesmo sendo a encarnação de um deus, e tendo um grande aprimoramento místico, o corpo de um humano ainda é um corpo humano, e nenhum corpo humano resistiria a vinte três graus kelvin. No entanto, talvez o deus do poder tenha alguma forma de sair vivo disso.
E a hanyou não poderia estar mais correta sobre o assunto.
Cratos não estava encurralado naquela situação, mesmo congelado a poucos graus do zero absoluto.
De maneira repentina, um curioso fenômeno começou a acontecer com o gelo criado pela ventania de Yuna. Primeiro, o rasto congelado no solo, que ia da ponta dos pés da Assassina de Youkais até a divindade, iniciou um processo de desintegração, desaparecendo com fagulhas azuladas, como se todo aquele gelo fosse feito de luz. Então, a massa no estado sólido da água que o envolvia, após o rastro de gelo se desfazer, seguiu o mesmo processo, se esfarelando de uma forma brilhante, e entregando a liberdade de volta para o deus do poder.
E ele ajeitou sua boina sobre sua cabeça.
— Decepcionante, brilhante pardal. Achei que tivesse me escutado quando disse que não queria que pegasse leve comigo. Esse vento gelado poderia até ser eficaz com meus irmãos, Bia e Zelo, mas contra mim, que sou a personificação do poder, não funcionará. E agora, receba de volta o que lançou contra mim.
O deus mal nos deixou processar suas palavras, antes de disparar seu contra-ataque em nossa direção. Ele simplesmente estendeu uma mão, apontando para nós, e um sopro congelante, idêntico ao que Yuna havia gerado com seu soco, veio voraz em nosso caminho, deixando um rastro de gelo pelo asfalto sujo.
— Droga!
Eu estava impotente. O vento gélido vinha não só com a mesma temperatura congelante, como também com a mesma velocidade avassaladora. E para Vosso Humilde Narrador, que é não dotado de genética sobrenatural ou de habilidades místicas, aquele golpe de ar seria a última brisa que eu sentiria na minha vida de fatos duvidosos. Contudo, eu não esperava que seria salvo de um destino congelante por aquela que diversas vezes salvara minha pele.
Com sua agilidade fora de série, Yuna avançou em minha pessoa e me abraçou com firmeza, fazendo nossos corpos se estatelarem agarrados naquilo que restou do piso de madeira da ACSI.
O sopro gélido nos golpeou, sem gentileza alguma. Porém, nada demais aconteceu com meu humilde corpo. Eu só senti uma brisa agradável esbarrar em mim, mas, ao mesmo tempo, vi pelo canto de meu campo de visão os escombros mais próximos se transformarem em pedaços de gelo.
Era estranho. Meu corpo, certamente, não teria suportado aquela friagem.
Todavia, eu ainda não tinha notado o porquê de ter sobrevivido tão facilmente, até observar Yuna agarrada em cima de mim. Um brilho dourado e hipnotizante, contornava sua silhueta até mesmo em seu gorro e no seu longo cabelo negro.
— Ei, seu pamonha, tente não ficar excitado agora, está bem?
— E-Eu nem havia pensado em cogitar isso, Yuna. Minha mente só estava preocupada em como sairia vivo daquele sopro frio.
— É sorte sua ter a mim, não é? Eu sempre acabo tirando o seu da reta.
— Bem, considerando que só fico em perigo real quando estou com você...
— Ótimo, conversamos sobre isso depois. Agora, preciso que me faça um favor. Olhe por cima de meu corpo e veja o que Cratos está fazendo. Ah, tente ignorar minha bunda. Como estou de bruços, ela deve estar empinada, no momento.
Certo. É um fato que iria acabar olhando para a bunda de Yuna ao realizar seu pedido, mas, se ela não tivesse comentado sobre, eu não iria começar aquela breve e simplória missão de reconhecimento indo direto com meu olhar para seus glúteos calejados.
Hmm.
Aquela visão era como a imagem de um distante vale entre formosas montanhas cobertas totalmente por neve da mais branca.
Mas enfim.
Não era essa a minha missão ali.
Eu desviei, mesmo que com muita dificuldade, meu olhar daquela imagem vislumbrante, e observei o deus do poder mais ao longe no meio da rua, olhando para suas unhas como se tivesse acabado de lixá-las.
Minha cabeça baixou de volta.
— E aí, seu pamonha?
— Ele... estava olhando para as unhas. Parecia bem tranquilo.
— Hmm, isso é ruim.
— Por que é ruim?
— Eu pensei em me fingir de morta e pegá-lo de surpresa, mas acho que ele sabe que estou viva. Até porque, precisei usar de um pouco da energia de Gungnir para impedir que você congelasse.
— Não é um de seus melhores planos, para ser sincero. Por que você só não cria uma nova técnica com gelo e acaba com ele como fez com Bia, hein?
— É porque ele não é como a oxigenada. Mas, acredito que eles sejam divindades do mesmo "tipo", entende? Eu acho que Cratos tem a habilidade de absorver poderes e repeli-los, o que ele tecnicamente acabou de fazer com meu vento frio. Então, mesmo se eu usar minha técnica Ice Ball Run ou improvisar outra, ele pode absorver e lançar de volta contra mim. Não seria um problema, mas ficaríamos em um loop, e seria como enfrentar um espelho. Só que, é claro, que preciso testar os limites de seu poder divino.
— Explique como se eu fosse uma criança de cinco anos.
— Bem, eu acredito que ele não só absorve poderes, como também os aprende da essência. E também, preciso entender como a cabeça dele vê este confronto. Esse golpe que ele copiou de mim, por exemplo, não foi para me afetar diretamente, mas, sim, para me forçar a usar a energia da lança lendária, o disparando de forma que também o afetasse, 3k1. Diferente de Bia e Zelo, esse aí pode ser um verdadeiro pé no saco.
Apesar de que ainda estávamos deitados e agarrados, do mesmo jeito de quando caímos, nós tivemos uma boa troca de ideias ali. Pelo menos, da parte de nossa querida Assassina de Youkais, ela me esclareceu bastante coisa.
Mas com isso, infelizmente, ela se mexeu para começar a se erguer e sair de cima de mim, se colocando de pé ao lado de meu corpo ainda estatelado na madeira.
Seus olhos azul-escuros focaram no deus do poder como a mira de um rifle, e a divindade não foi capaz de ignorar aquele olhar desafiador de Yuna Nate.
— Hmm, parece que está começando a levar isto à sério, não é, brilhante pardal? Eu vejo que a magia divina de Gungnir está banhando as células de seu corpo, agora. Significa que as coisas ficarão interessantes, não acha? Pelo o que sei, você também usou um pouco dessa energia dourada para vencer meu irmão Zelo. Quero saber o quão poderosa você realmente é.
— Hmph. Eu também tenho essa mesma curiosidade sobre você, seu pamonha. Mas sei que, sendo somente uma encarnação, jamais conseguirá mostrar sua verdadeira força. No final, sei que não precisarei de muito para acabar com você e colocá-lo ao lado de seus irmãos em minha mais recente lista de vitórias. Já estou até pensando em criar uma categoria para os deuses.
Como uma forma de resposta, as mãos de Cratos foram para os bolsos de seu casaco.
— Parece que está realmente confiante sobre suas habilidades, então. Ótimo. Não irei me conter quando chegar a hora certa, Assassina de Youkais.
— Tsc, não só de youkais, atualmente.
E Yuna saltou do que restou de seu piso da cozinha para o asfalto à frente das ruínas de sua residência, alterando sua postura assim que seus pés de bailarina tocaram o chão. Ela levou seus cotovelos para trás, cerrando seus dois punhos, e afastou suas pernas alvas, fazendo-a parecer que estava tentando imitar uma galinha. Mas, antes que eu, ou a divindade de boina, pudéssemos questionar o que aquela pose significava, ela foi repentinamente desmanchada pelo início abrupto de seus movimentos braçais.
Com uma velocidade abissal, nossa querida Assassina de Youkais iniciou uma de suas famosas sequências de socos rápidos, que de tão lépidos, pareciam faiscar com o atrito do ar. Ou melhor, eles realmente estavam faiscando, mas não por conta do atrito, e sim, por conta da energia dourada que estava contornando a hanyou. E também, por causa do glorioso propósito que aquela horda de golpes no vácuo servia.
A cada batida de punho no ar, um projétil de vento gélido voava contra o deus do poder e o alvejava em algum ponto diferente de seu corpo, como se cada disparo frio que os socos de Yuna lançavam fosse incumbido de uma diferente missão. O que a hanyou estava projetando contra Cratos, agitando o ar daquela forma com os movimentos consecutivos de seus braços, era como um enxame de libélulas assassinas a fim de devorar o corpo sarado da personificação do poder.
Os projéteis de ar, de início, pareciam ineficazes, se chocando contra a pele do deus e se desfazendo. Mas, conforme o ritmo dos socos de Yuna se manteve, os disparos de vento congelante aumentaram sua força, ou melhor dizendo, se tornaram mais pesados e densos, começando a atravessar a pele da divindade em alguns pontos.
— Hmm?
Quando ele notou, seu invejável abdômen já estava com um furo em cada um de seus gomos musculares, com seu sangue azul escapando como água suja na saída de um esgoto. E não só naquela região se encontravam os pequenos ferimentos. Em seus braços e pernas, se prestasse bastante atenção, era possível ver o sangue molhando suas vestimentas agora com rasgos.
E com um último soco firme contra o ar, nossa querida Assassina de Youkais cessou sua legião de golpes, consequentemente encerrando com os projéteis de vento gélido, e levando suas mãos para sua cintura após isso.
— Certo, está feito, seu pamonha. Sua derrota está aqui.
— "Derrota"? O que quer dizer com isso, brilhante pardal? Acha que esses arranhões circulares irão me fazer algum mal? Devo dizer que estou decepcionado, e esperava mais de alguém que é conhecida como Cavaleira de Cristal pelo panteão dos deuses. Alguém como você, não será capaz de... hã? M-Meus músculos? Não! Meus circuitos mágicos?!
— Isso mesmo, Cratos, foi rápido em perceber. Meus parabéns.
— Você os congelou?! Mas como isso...?
— É o poder do zero absoluto, seu pamonha. A ausência total de calor e energia. Originalmente, eu só posso alcançar essa temperatura por meio de contato físico, me limitando aos vinte e três graus kelvin quando se trata de congelamento à distância. No entanto, como você mesmo pediu, eu não preciso me conter neste combate, então, usei a magia divina de Gungnir para amplificar meus poderes e disparar projéteis à zero graus kelvin. Nessa temperatura, é possível congelar seu fluxo de magia, impedindo que sua mana chegue as células de seu corpo. E com isso, esses ferimentos que parecem superficiais, logo começarão a cobrar seu preço, já que sem magia, não poderá se regenerar.
Bem, Yuna tinha um plano, afinal de contas. E um plano bastante agradável, diga-se de passagem. A princípio, eu pensei que ela estaria improvisando ou agindo desesperadamente, mas eu a subestimei, e não demorou para que ela me lembrasse quem realmente era.
Eu até tentaria perder esse costume, mas, por questões instintivas, não consigo.
— E aí, o que é que vai ser? O que fará, seu pamonha, para conseguir se livrar dessa emboscada e salvar sua vida como encarnação? Acho que nós dois sabemos a resposta, não acha? O único meio para que sua derrota não seja a mais humilhante comparada à de seus irmãos que você falou tão mal.
— Hmph, então, é isso que você quer? Você realmente quer que eu lhe mostre meu verdadeiro poder, brilhante pardal? Está me forçando a isso, como forcei você a usufruir da energia da lança lendária, é isso?
— Exatamente. Está na hora de colocar o pau na mesa, Cratos. — Foi o que ela disse. — Porque se não fizer isso, agora que não pode absorver meus poderes, o que mais você poderá fazer?
— Pois bem, Yuna Nate. Eu concederei esse seu desejo tão solene. Só quero deixar claro que será o último desejo que fará em sua vida.
Assim, com um brilho de ouro contornando o corpo do deus do poder e expandindo para uma aura calorosa que, mesmo à distância, passava a sensação de aconchegante, as vestimentas de Cratos começaram a queimar em chamas douradas, se desintegrando de pouco em pouco. Logo, aquela divindade estava completamente nua no meio da rua, e como se quisesse impedir um deus de cometer o atentado ao pudor, sua aura cor de champagne impregnou sua luminosidade sobre sua pele, o transformando em um boneco de luz esbranquiçada. E desse boneco; mais especificamente de suas costelas, um novo par de braços cresceu de uma única vez, mas com um de seus lados, de cada novo braço, parecendo ter penas... parecendo ser uma asa.
Foram asas que brotaram de suas costelas, não braços, apesar da ponta de cada asa ter uma mão humanoide.
Não. Olhando com maior atenção, pareciam mais braços do que asas.
Era confuso definir algo ainda banhado pela luz, mas, em poucos instantes, aquela mesma luminosidade dourada começou a se dissipar, se desprendendo do corpo de Cratos como se fosse vidro se despedaçando.
E então, sua forma divina nos foi revelada.
A pele cinza como concreto enfatizava o corte de seus músculos, e também destacava sua tanguinha vermelha que cobria sua virilha. De suas costelas, a dúvida nos foi sanada, eram realmente braços, porém, mais magros do que os dois originais, e com o que posso chamar de crina feita de penas correndo pela parte exterior de cada membro, o que também me lembrava as costas de um estegossauro. Em seu peitoral, algo como uma rede dourada trajando a região de seu tórax, só que sendo originalmente parte de sua pele. Já na cabeça, o cabelo curto parecia ter sido banhando à ouro, e mais abaixo, em seu rosto, seus olhos estavam totalmente verdes e foscos.
No geral, aquela forma divina do deus do poder parecia muito com uma estátua cinzenta que acabou ganhando vida, mesmo com seu design bizarro.
E com isso, uma nova rodada estava para começar.
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