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Locus: 003

— Hmm... eu tenho que admitir, isto está um pouco esquisito, guria. Meus instintos caninos estão querendo me dizer alguma coisa.

— O que quer dizer, Ulim-senpai? Eu não vejo nada de errado. Está simulando demência, é?

— É claro que não estou simulando nada. Mas, se ainda não notou, devo dizer que estou desapontado com você. Não se lembra que Yuna disse que a barreira envolvia tudo ao redor do Monte Kurama, e que a estação também estava incluída nisso? Bem, Ieda, atualmente, nós estamos dentro da Estação Kurama. E, por consequência, dentro do perímetro controlado.

Sem sombra de dúvidas, meu faro não falharia quanto àquilo. Nós, involuntariamente, adentramos a barreira que nos foi incumbida a missão de destruir.

Mas quando disse que estávamos dentro da Estação Kurama, eu quis dizer que cruzamos a linha que demarca os limites de seu terreno. Nós havíamos acabado de colocar os pés, e as patas, no estacionamento que faz margem com a estação de fato.

Haviam somente dois veículos parados no local, mas sem ninguém dentro. E as lâmpadas da estação, já acessas, banhavam com luz amarelada o pavimento cinza e a grande máscara de Tengu vermelha que ficava na lateral do estacionamento, quase se unindo à vegetação.

— Então, quer dizer que estamos dentro da barreira, Ulim-senpai? Mas quando nós entramos e, o mais intrigante, como nós entramos? Segundo Yuna-senpai, a barreira não permitiria nada de entrar ou sair, mas se já estamos dentro dela...

— Significa que seja lá quem a ergueu, quer que nós dois estejamos na parte de dentro. Isso é bastante esquisito.

— Bem, talvez o fato dessa barreira ter sido erguida perto de casa já nos dê alguma ideia de que esta situação foi criada como uma espécie de isca ou algo do tipo. Um plano bem arquitetado.

— Não, aquele ex-agente governamental não teria uma mente tão brilhante.

— Está simulando demência, é? Não estou me referindo ao 3k1.

— Ah, não está? Hmm, peço perdão pelo equívoco.

— A pessoa que ergueu essa barreira não necessariamente poderia estar esperando por nós ou pela Yuna-senpai. A barreira pode ter algumas condições em sua estrutura mágica, como permitir que não humanos passem, ou impedir a travessia até um horário específico.

— Mesmo assim, meus instintos caninos me dizem para ficar alerta. Se estamos aqui dentro, realmente só nos resta quebrar a barreira por meio de um feitiço. Consegue fazer isso, guria?

— Hmm... Hmm. É complicado responder com exatidão. Destruir uma barreira por dentro, mesmo que ela seja simples, é bem mais complicado por meio de um feitiço. Pela parte interna o recomendado é encontrar o núcleo e quebrá-lo ou, claro, encontrar aquele que a ergueu e, de preferência, matá-lo. Não acha melhor tentarmos uma dessas duas opções primeiro, senpai?

— Certamente que não, guria. Esta barreira cobre todo o Monte Kurama, e por conta disso, encontrar o núcleo seria mais demorado do que esperar o feitiço fazer efeito. E encontrar a pessoa que ergueu a barreira está tão fora de questão quanto a opção anterior. Talvez o responsável por este perímetro controlado nem esteja mais por aqui. Mesmo com essa mudança inesperada de situação, vamos seguir com o plano principal.

— Phew, mas que coisa. Eu não queria ter esse trabalho todo, Ulim-senpai. Um feitiço para quebrar uma barreira desse tamanho e ainda por cima pela parte interna é extremamente chato. Se não estivesse simulando demência, você teria notado os limites da barreira sem que entrássemos nela sem querer.

— Tsc, eu estava prestando muitíssima atenção, guria. Você era a única que estava distraída tomando seu milkshake. É estranho porque eu já havia avistado o limite antes de sairmos da loja de conveniência. Mas, conforme nos aproximamos, o limite foi ficando indetectável para todos os meus sentidos. Levando isso em consideração, é difícil dizer que esta barreira não seja uma espécie de armadilha.

— Bem, Ulim-senpai, de nada adianta reclamarmos agora. Nós já estamos aqui dentro e só conseguiremos sair derrubando esta barreira. É questão de paciência. Embora seja uma barreira, este lugar ainda é o pé do Monte Kurama e suas energias são bastante positivas.

— Não estou vendo nada de positivo nisso tudo, guria. Pense comigo em outra teoria. E se nós estávamos sendo observados durante nossa aproximação até a barreira por aquele que a ergueu e, por algum motivo especial, ele decidiu nos deixar entrar?

— Você está sendo um pouco egocêntrico, Ulim-senpai. Nesse cenário que está me propondo, por que justamente nós dois fomos os escolhidos para passar pela barreira?

— Hmm.

— Se está simulando demência para se livrar do sentimento de culpa por não ter se atentado aos limites da barreira, fique sabendo que não estou brava com você ou algo do tipo. Só não acho agradável a ideia de ter de conjurar um feitiço para quebrar a barreira por dentro.

— Hmph, você e esse seu "bordão". Francamente, guria. Concentre-se em fazer o feitiço e acabar com nossa missão.

Não como se acatasse minha ordem, Ieda estava dando início aos preparativos para a magia que iria nos tirar dali e dar um fim em nossa curta aventura. Alguns ingredientes para realizar o encantamento a guria-aranha tirou dos bolsos de seu short e de sua camisa cropped que também era de baseball. Já outros ingredientes, os líquidos, ela disparou de uma de suas patas de aranha que brotou rapidamente da base de sua coluna para liberar os devidos resíduos.

Eu não tinha nenhum problema quanto a ficar ali e aguardar Ieda preparar seu feitiço, mas confesso que seria um sonho derrubar aquela barreira somente usando a boa e velha força bruta.

Nós não estaríamos com metade dos imprevistos se essa opção fosse acessível naquele caso em específico.

Era algo que poderia me irritar se eu pensasse muito sobre.

Pelo menos, ainda assim, estar ali, preso com Ieda, à espera de um feitiço que demoraria três ou quatro vezes mais para surtir efeito, era melhor do que ser explorado por Yuna em seu projeto de nova decoração para a ACSI.

Era o que eu pensava...

— Hmm?

— Também sentiu, Ulim-senpai? Não estamos mais sozinhos.

— Hmph, notei, guria. Estava mais demorado do que o normal, para ser sincero.

Nem mesmo um minuto depois que Ieda deu início aos seus preparativos, agachando-se para ajeitar tudo à sua frente no solo, uma presença, quase sufocante de tão pesada, surgiu na Estação Kurama.

Um adversário.

Certamente era alguém com intenções hostis.

Ainda que oculto, sua existência próxima a nós era o bastante para deixar clara a sua aura assassina.

Qualquer um no planeta ficaria em alerta diante daquela presença. Porém, não necessariamente na defensiva.

— Seja lá quem for! — Lati. — Mostre-se agora!

— ......

— Se não o fizer, eu vou demolir essa estação com um único latido. Então, não me teste.

— Hmph. Que coragem adocicada você tem, lobo-cinzento. Mesmo sentindo minha presença esmagadora, não virou as costas e fugiu como um cão assustado normalmente faria.

Com essas palavras, surgindo como se viesse da plataforma de embarque da Estação Kurama, aquele que era o dono da sufocante presença se revelou das sombras para nós, tornando o ambiente mais hostil do que já estava, e obrigando Ieda a se erguer e esquecer por completo os preparativos do feitiço que era essencial para que voltássemos para casa.

Diante de nossas vistas se apresentava um homem jovial, com a pele lisa e os traços dignos de uma estátua de mármore. O cabelo loiro, sem uma gota de artificialidade, tinha seus fios brilhando sob a iluminação da estação, e como contraste, seus olhos verde-escuros se destacavam mesmo escondidos da luz. Suas vestimentas não eram tão chamativas quanto sua aparência física, mas estavam quase lá. Uma camisa púrpura, bastante escura, quase chegando a ser preta, cobria seu torso com todos os botões abertos, deixando à mostra seu abdômen definido. Suas calças eram justas e tinham a mesma tonalidade de cor da camisa mais acima. E nos pés, o homem calçava sapatos negros, sem meias.

Se não fosse pela barreira naquela região, eu poderia considerar que aquele jovial homem fosse apenas alguém que foi bastante abençoado geneticamente em relação à sua aparência e que estava apenas retornando com muito calor de seu cansativo trabalho. Todavia, nós todos sabíamos que não era disso que se tratava ali.

Era óbvio que ele era nosso inimigo.

— Ei, o que está fazendo, senhor-abdômen? Por acaso está simulando demência, é? Você não estava por aqui há um minuto e agora aparecesse e se aproxima como se nós fossemos íntimos. Você não é daqui, é? De onde você veio?

— Daqui? Com "daqui' você está querendo dizer do Japão? Que questão mais adocicada, jovem de cabelo diferente. Mas a respondendo, não. Eu não sou do Japão. Eu vim diretamente da Grécia... ou melhor, eu viria diretamente da Grécia. Isso, se eu estivesse vivo, com o meu corpo original. Este aqui, atualmente, é o corpo para minha encarnação mortal. Um ótimo corpo, diga-se de passagem. Mas enfim. Falando abertamente, eu vim das profundezas do submundo, do Reino dos Mortos, de Hades.

— De Hades? Quer dizer que você... é um zumbi?

— Tsc, não. Claramente eu não sou um zumbi. Você não enxerga? O meu nome é Zelo, um dos antigos integrantes das Forças Aladas de Zeus, e também um deus menor. Atualmente, recebi a oportunidade de caminhar novamente pelo mundo dos vivos e deixar aquele tédio que era o Elísios. A propósito, para que esta minha oportunidade não seja jogada fora, eu vou precisar dar um jeito em vocês dois, que estão planejando desfazer a barreira de meu mestre.

— Guria, cuidado!

— Já entendi!

Não é como se eu subestimasse a aprendiz da Assassina de Youkais, mas se eu deixasse de avisá-la, e algo acontecesse devido a isso, eu não sei se seria capaz de encarar Yuna novamente, mesmo que a única coisa que ainda me mantinha no plano terreno fosse estar ao seu lado. No entanto, a guria-aranha tinha os reflexos mais apurados do que os meus para movimentos surpresas, e assim como eu, Ieda saltou para o lado ao que o homem, Zelo, simplesmente mexeu seu braço.

Ele movimentou seu braço de baixo para cima, com os dedos juntos e esticados como se simulasse uma espada. E, de certa forma, era o que aquele gesto era, uma imitação de lâmina. Até por conta dos efeitos que aquele movimento teve. O traço vertical que ele rabiscou com sua mão no vácuo à sua frente, fez com que uma força invisível rasgasse o ar em nossa direção.

E não somente o ar, mas como também o chão, cujo pavimento foi facilmente dividido na região onde nos encontrávamos antes de saltarmos para nos esquivar do ataque.

— Ei, senhor-abdômen, este aqui é um ponto turístico, então, não saia estragando o chão. Ou está simulando demência?

— Guria, não compreende a situação? Não é hora de proteger o patrimônio nacional.

— Mas que pensamento mais adocicado, jovem de cabelo colorido. Como um deus, respeito de imediato aqueles que zelam pelo patrimônio de seu país. E ainda por cima, você parece ser um talento incomum em suas capacidades físicas. Claro que, o lobo-cinzento também está de parabéns.

— Tsc, não fique aí se achando, guri. Se precisarmos lutar para pôr abaixo esta barreira, nós iremos até o fim.

— Não precisa se aquecer, Ulim-senpai, eu tomarei a dianteira neste duelo. Não sei se ele estava simulando demência, mas seu ataque destruiu os preparativos do meu feitiço. Agora, não há outra forma de acabar com o perímetro controlado sem derrotar quem o determinou ou destruir o núcleo mágico.

— Tsc, era justamente o que ele queria, guria, agora estamos presos aqui. E com isso, obrigatoriamente, precisamos derrotá-lo para, pelo menos, encontrarmos o núcleo.

— Hmph, que mentes adocicadas vocês têm. Parece que são muito bons em analisar a situação. Só seria uma tristeza se, na análise de vocês, houvesse a possibilidade de me derrotarem. Saibam que isso é só uma ilusão.

— Ilusão, é? Você só pode estar simulando demência.

Não dando a mínima para as palavras proferidas pelo dito deus, Zelo, a guria-aranha deu três passos à frente, se realinhando com nosso adversário que, aparentemente, estava intrigado vendo o posicionamento de Ieda.

A híbrida de humano e youkai, filha de Jorogumo, não fraquejou nem por uma fração de momento diante daquele homem.

Latindo de maneira sincera, ela até que estava tranquila demais para quem estava presa e despreparada dentro da barreira inimiga.

— Geralmente, senhor-abdômen, em situações como esta, eu não costumo priorizar a morte de meus oponentes, mas, se você não vê problema em nos matar, como deixou claro com seu primeiro movimento, segundo o que Yuna-senpai me ensinou, eu terei de matá-lo para poder sobreviver. E, a menos que esteja simulando demência, entenda que não é nada pessoal.

Enquanto lançava seu argumento contra o homem que dizia ser um deus, Ieda alterou sua postura ante ao seu adversário. Arrastando os pés com seus tênis de basquete no solo, ao mesmo tempo em que reposicionava seus braços e ajeitava seu tronco, a guria-aranha tomou como sua base o karatê, estilo shotokan, para realizar o combate.

— E-Ei, guria, tome cuidado. Não sei dizer o porquê, mas seu cheiro é uma incógnita para mim.

Sem verbalização, ela somente assentiu, sem tirar os olhos de Zelo.

E ele sorriu, com o canto de seus lábios.

O duelo, oficialmente, havia acabado de começar.

E Ieda foi a primeira a se mover. Disparando em um veloz ziguezague, a guria-aranha pareceu converter os poucos metros entre eles para poucos centímetros, chegando perto de nosso adversário em menos de um mísero segundo. Seu punho direito já estava armado para um soco, e antes que seu cérebro se lembrasse de piscar seus olhos, Ieda desferiu seu golpe com muita precisão e pouca gentileza.

Reto, criando uma tubulação no ar entre os dois, o soco da guria-aranha estava endereçado para a boca do estomago do dito homem-deus. No entanto, Zelo decidiu reagir à investida da hanyou. Em uma decisão tomada em uma fração de segundo, o homem deu um passo para trás e virou seu corpo em noventa graus, mexendo-se como se fosse uma porta se abrindo, no momento exato em que seria alvejado pelo punho da filha de Jorogumo.

Isso não só o fez com que esquivasse do golpe de Ieda como também o colocou em uma posição vantajosa em relação à guarda da guria-aranha.

E, não é como se a aprendiz da Assassina de Youkais tivesse sido lenta em sua ofensiva. Ela foi bem ágil e decidida em cada um de seus movimentos. Contudo, ao que parece, e isso é somente uma interpretação minha, o homem que dizia ser uma divindade estava enxergando os movimentos de Ieda em câmera lenta, como quando eu estou com minha existência acima da velocidade do som.

Agora, com a guria-aranha desprotegida, Zelo poderia até mesmo finaliza-la com aquele golpe que realizou contra nós momentos antes, possivelmente a cortando em dois devido a curta distância que separava seus corpos.

Não haveria tempo de avisar Ieda com um latido ou algo do tipo.

A única que poderia salvá-la naquela circunstância seria ela mesma.

E por sorte, ou por habilidade, a guria-aranha era bem capaz disso.

Como se previamente calculado pela hanyou, seu soco desferido e a brecha de sua guarda que se criou com isso, aparentemente, só faziam parte de uma incisiva corrente de movimentos.

Ao que o braço de Zelo começou a se mexer para repetir o golpe que lançara contra nós, Ieda subitamente saltou, com a desenvoltura de uma verdadeira aranha, passando por sobre a cabeça de nosso adversário como uma atleta de salto com vara passa por cima da barra nas Olimpíadas, mas, no caso da guria, ela estava em um ponto bem mais alto do que qualquer atleta viva conseguiria ficar da barra.

E o homem não pôde fazer nada além de apontar o nariz para o céu e olhar Ieda em pleno ar acima dele.

Logo em seguida, a mão da guria-aranha apontou seus dedos para baixo, como se quisesse apanhar o rosto de Zelo, que parecia tão distante. Mas, não é como se ela não tivesse conseguido agarrá-lo daquela altura. A aprendiz da Assassina de Youkais tinha seus métodos alternativos para tal, já que, da ponta de cada um de seus dedos, fios da espessura de um barbante foram disparados contra a cabeça do homem mais abaixo, e como se tivessem vida própria, envolveram o pescoço do dito deus antes que a gravidade fizesse seu trabalho sujo e sugasse Ieda de volta para o chão.

Quando a guria-aranha tocou seus pés novamente no pavimento daquele estacionamento, o homem que se dizia um deus começou a sufocar com os fios de teia enrolados em seu pescoço.

Hmph, acho que me preocupei à toa.

Aprendiz de assassina, pequena assassina é.

— Foi um erro achar que a vitória era certa só por conta de sua vantagem física, senhor-abdômen. Estava simulando demência, é? Você se moveu como alguém experiente em batalhas, como se já houvesse passado por inúmeras. Se não quisesse fazer charme, já poderia ter me matado.

— Hmm... Urgh.

Ieda apertou ainda mais seus fios de teia, fazendo com que sangue começasse a ser liberado da garganta de Zelo e, para surpreender tanto a mim quanto a guria-aranha, a coloração do sangue que se apresentou sutilmente de dentro de seu pescoço... era azul.

Exatamente, senhoras e senhores, azul.

O mesmo sangue azul que pode se encontrar em deuses menores como os shinigamis, escorria timidamente pela garganta daquele homem.

Ele não estava mentindo, por mais bizarro que parecesse, ele era realmente um deus.

— Então, ele não estava simulando demência.

E Ieda fez com que seus fios apertassem mais e mais o pescoço de Zelo, iniciando uma invasão em sua garganta e se preparando para a decapitação.

— Muito bem, guria, acabe logo com ele e vamos voltar para o feitiço.

— E-Eu estou tentando, mas... de repente, seu corpo ficou bem mais resistente. Droga.

Com um breve ruído parecido com o dedilhar em uma corda de violão, os fios de teia de Ieda arrebentaram de uma só vez, deixando o homem, ou melhor, o deus, liberto das presas de uma aranha assassina.

— Hmm. Que sensação adocicada é essa? Sangue, meu sangue, escorrendo por sobre minha pele limpa como as águas do Rio Lete. Há quantos milênios eu não sentia algo parecido? Dois? Talvez quatro? Incrível.

O ataque sufocante de Ieda parecia não ter tido o mínimo de efeito pela forma como Zelo estava agindo. Ou melhor, pode ser que os fios de teia da guria-aranha realmente fossem capazes de decapita-lo, mas aquela divindade não tivesse temor algum sobre a morte. Pensamento que é plausível para um deus, de fato.

Todavia, não é só por ter o sangue azul que a divindade é consequentemente imortal. Deuses da morte, por exemplo, podem ser mortos e terem suas almas apagadas da existência ou coletadas, já que, assim como os mortais, sua vida está ligada as condições de seu corpo físico, que no caso de shinigamis são feitos totalmente de mana.

É diferente dos deuses maiores, como Zeus, Odin, Amaterasu, que são imortais em sua essência, e mesmo que seus corpos sejam destruídos, continuarão existindo e podendo até adquirir corpos mortais para encarnarem. No caso deles, a única forma de matá-los é a aniquilação completa de suas almas.

Latido isso, a questão ali era saber em que tipo de divindade aquele homem se enquadrava. E, embora possa estar completamente equivocado, creio que ele esteja na mesma categoria que os vassalos das leis da morte.

De todo modo, o pescoço ferido de Zelo começou a se regenerar rapidamente, e em poucos instantes era como se os fios de teia de Ieda nunca houvessem sequer tocado sua pele.

Assim, ele se virou para a guria-aranha às suas costas, que desfez o resto de seus fios ainda pendurados em seus dedos.

— Você é uma jovem verdadeiramente adocicada. Você não é uma humana comum, é? Me diga, qual é o seu nome?

— Ieda. Ieda Arakune. E não sou humana. Sou uma hanyou. Se acha que um humano pode produzir teia da ponta dos dedos, só pode estar simulando demência.

— Hanyou? Hmm, quer dizer que é uma espécie de híbrida? Ora, entendi, entendi. Isso faz bastante sentido. Você quase acabou comigo e nem ao menos está suando ou ofegante. E nem mesmo abalada ficou quando arrebentei suas cordinhas. Que equilíbrio invejável você tem. Que natureza selvagem a de vocês, hanyous. Depois de acabar com você, vou procurar mais pessoas como você por aí.

— Tsc, não se ache tanto, senhor-abdômen. Está simulando demência ou já se esqueceu que eu estava prestes a arrancar sua cabeça não tem três minutos? Se acha que é capaz de me matar, fique à vontade e tente. Eu já entendi que você não é um deus imortal.

— Hmm, como?

— Suas ações já falaram por você, senhor-abdômen. Mas foi seu sangue que me deu a certeza de seu patamar. Quando um deus imortal sangra e logo depois se cura, o sangue que deixou seu corpo evapora, já que a quantidade perdida foi recriada pela imortalidade. Isso acontece porque, apesar da cura ser física, ela é um atributo mágico e logo é ligado diretamente a condição de sua alma. Uma alma imortal que habita um corpo mortal, pode torná-lo imortal, mas não indestrutível. No seu caso, o sangue permaneceu nos fios de teia que caíram de seu pescoço, o que significa que aqueles glóbulos não renasceram e nem foram curados, eles já não fazem mais parte de você.

— ......

— Isso significa, se não estiver simulando demência, que se eu arrancar um braço ou uma perna sua, ela não irá crescer de volta, e isso serve para sua cabeça também. Por isso você canalizou mana em sua garganta para arrebentar minha teia. Se eu tivesse sido mais rápida e mais violenta, você estaria morto agora.

O deus não respondeu de imediato. Permaneceu observando a guria-aranha como se precisasse de um tempo extra para absorver tudo o que foi dito. Mas em um mero segundo, ele voltou a si.

— Incrível. Você tem o raciocínio adocicado também, ao que aparenta. Você é de uma espécie verdadeiramente intrigante. Porém, Ieda Arakune, mesmo que esteja certa sobre minha mortalidade, eu ainda sou um deus de classe guerreira e você é só uma híbrida. É você quem não deve subestimar o poder da experiência.

Mais uma vez, a divindade moveu seu braço como se fosse uma espada, e cortou o ar à sua frente por duas vezes. Primeiro, traçando um rasgo na diagonal de baixo para cima, e depois, um segundo movimento de cima para baixo, acorrentados por uma pequena pausa bem sutil.

O ataque de Zelo, embora parecesse manipular o ar e criar uma lâmina de vento a cada gesto com seu braço, não fazia exatamente isso, o que tornava difícil detectar a direção e proximidade dos golpes com precisão. Contudo, Ieda tinha os instintos de batalha bastante aguçados, e ao menos do primeiro movimento do deus ela conseguiu se safar, com um breve salto para o lado. Já o segundo golpe...

Acertou o corpo da guria-aranha de raspão.

O que foi suficiente para destruir a lateral de seu abdômen.

— Urgh...

Ela cerrou os dentes para combater a dor, e viu seu sangue esguichar para trás, levado pela força que o ataque da divindade gerou. E sem perder tempo, pousou sua mão sobre a região da ferida, para estancar o sangramento, enquanto dava um passo cambaleante para trás.

— Não faz sentido. Eu saltei no momento certo... a menos que...

— Hmm, está me analisando, é? Você acha que pode dissecar a verdade sobre um deus apenas observando e calculando? É um pensamento adocicado demais, Ieda Arakune.

— Tsc, não simule demência para mim.

As coisas não corriam muito bem para a aprendiz da Assassina de Youkais. De início, ela pareceu colocar uma vantagem sobre o deus com sua jogada com os fios de teia, mas agora, a situação foi contornada por Zelo.

Para ser sincero, era provável que ele nem estivesse lutando à sério contra Ieda, e que, se desejasse, poderia, de fato, acabar conosco em questão de segundos. Por outro lado, conhecendo a guria-aranha nesse período de dois anos que se passaram, posso afirmar com tranquilidade que ela também estava escondendo seu verdadeiro potencial. Ela nem havia libertado suas patas, afinal.

Hmm... mas, espere, o ferimento em seu abdômen... não era para já ter regenerado?

Diferente disso, o sangue escorria discretamente por debaixo da mão de Ieda e tocava a borda de seu short de baseball.

— Isso está simulando demência? Por que não se cura?

— Está se perguntando o motivo por não se regenerar do ferimento, híbrida? Pelo visto, ainda não descobriu como funcionam os meus poderes? Isso não é nem um pouco adocicado. Eu pensei que você fosse interessante por um momento, mas parece que me enganei.

Ignorando as palavras da divindade, a guria-aranha decidiu dar um jeito em seu ferimento de maneira improvisada. Afastando gentilmente sua mão da ferida e dedilhando sobre a região danificada, fios de teia saíram de seus dedos e ela teceu uma espécie de curativo com sua seda orgânica.

— Entendi. Não é como se eu não estivesse me regenerando, senhor-abdômen. Eu estou, certamente, mas em um processo bem mais lento do que o normal. E também, pelo o que notei, a sua técnica não manipula o ar. Ela manipula o vácuo.

— Hmm, que adocicado ouvir isso. Você quase me decepcionou.

O vácuo? Mas como exatamente isso funciona?

Significa que ele não lança seus golpes, e sim os cria? Ou ele isola o vácuo como se fosse uma lâmina e o empurra?

Apesar de Ieda ter entendido a base da técnica de Zelo, ela não havia descoberto todo o procedimento que gerava seus ataques, e isso ainda a mantinha em uma situação delicada no combate. Ela havia sido ferida com certa gravidade e sem o fator de cura funcionando adequadamente, a guria-aranha poderia ter algum tipo de complicação para realizar algum movimento. E logicamente, contra aquela habilidade de manipular o vácuo, um passo em falso poderia ser letal.

— Mas se entende minha técnica, híbrida, não há porque eu tentar vencê-la com ela, não acha?

— Hã?

— Vou matar você da forma mais adocicada possível!

Proferindo aquela sentença, o deus se lançou com um movimento súbito contra a aprendiz da Assassina de Youkais e cerrou ambos os punhos para desferir sua ofensiva definitiva. Agora, a centímetros da guria-aranha, Zelo disparou uma sequência de socos em uma velocidade assombrosa.

Diante daquele ataque, Ieda, avariada pelo golpe de vácuo da divindade, não pôde fazer nada além de cruzar seus braços em X à frente do corpo e resistir ao máximo que conseguia. Porém, em poucos segundos de fortíssima pressão sobre seus antebraços, seus músculos perderam a firmeza e seus ossos começaram a se quebrar.

Por que ela não libertava suas patas?

— Guria, o que está fazendo?!

Não havia como ela me responder naquela circunstância. Parar de controlar sua respiração ali só traria resultados ainda piores.

Era o momento em que eu, como lobo, líder de alcateia, agiria para impedir que a aprendiz de Yuna Nate fosse morta na base da força bruta. Não era o ideal, considerando o nível do adversário, mas era o que precisava ser feito. Se pelo menos eu conseguisse algum tempo para a guria-aranha se recuperar, talvez ela fosse capaz de acabar com esse deus.

No entanto.

Ao que meu cérebro canino sinalizou meu corpo sobre como agir, a divindade finalizou sua horda de socos, batendo com as costas de seu punho pelo flanco de Ieda e a lançando como um saco de lixo pelo estacionamento.

Com os antebraços devassados pelos golpes em sequência e com seu curativo de teias ganhando um tom avermelhado, a guria-aranha capotou no pavimento antes de se estatelar no chão.

Diferente do ferimento no abdômen, os antebraços de Ieda já estavam se curando, mas até que ela se colocasse de pé, seria tarde demais.

Eu precisava entrar em combate, não havia escolha.

Mas, como se sentisse minha intenção assassina, Zelo ajeitou a gola de sua camisa e se virou para mim, correspondendo as minhas intenções.

E nesse momento, grandes pedaços de vidro caíram do céu entre a divindade e eu. Mas, em vez de se estilhaçarem ainda mais ao chegarem ao solo, eles o atravessavam como se não houvesse nada sob nossos pés.

A salvação havia chegado, como se caísse do meio das nuvens.

No espaço que dividia a mim daquele deus, pousando pesadamente e fazendo o asfalto trincar sob si, aquela que detém o título de Assassina de Youkais, Yuna Nate, invadiu a barreira e nosso combate.

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