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Locus: 001

— Isso, isso mesmo, seu pamonha, deixe esse tapete bem ali. Logo conseguirei um lugar para estendê-lo. Agora, precisamos decidir o que fazer com esse armário.

— Hmph...

Eu discretamente bufei com minhas narinas, já que minha boca estava ocupada demais carregando um tapete persa levemente empoeirado.

Não.

Ele estava consideravelmente empoeirado, para ser sincero. Minhas papilas gustativas eram capazes de discernir o gosto da poeira de meses no sótão, do gosto do valoroso tecido de onde hoje se encontra o Oriente Médio. Pelo menos, eu acho. Não é minha função como lobo, líder de alcateia, saber a localização geográfica de terras estrangeiras.

Claro, se querem entender em que tipo de situação eu me encontrava para que um rolo de carpete estivesse sendo transportado pela firmeza de meus dentes caninos, eu não me prorrogarei em explicar.

Até porque, pode ser resumido em uma única palavra.

Mudança.

Não que Yuna, Ieda e eu estivéssemos mudando de residência ou algo do tipo.

Quando disse mudança, estava me referindo a mudança de mobília e decoração. Algo que humanos gostam de fazer como forma de renovação espiritual. Como se fossem personagens de mangá e precisassem afirmar com alguma alteração visual de que se tornaram mais maduros e fortes.

Desde as onze horas da manhã daquele dia memorável, mesmo não sendo de forma muito positiva, a guria me acordou com o barulho dos moveis sendo arrastados de um lado para o outro. Assim, ela me pediu para acordar Ieda, que tem um sono bastante pesado para uma híbrida de humano e youkai, e nos colocou para trabalhar em prol de suas vontades.

Seria bastante simples, se a guria quisesse apenas trocar a posição da mobília e da decoração, mas ela estava pensando muito além do que a guria-aranha e eu tínhamos em mente. Depois dos Jogos Olímpicos de Tóquio que foram adiados por conta da pandemia que assolou o mundo todo no final da década passada, Yuna começou a comprar móveis e peças decorativas compulsoriamente e, sem lugar para colocá-las, foi guardando tudo no sótão até não sobrar espaço algum. E meses depois, em um delírio inexplicável, simplesmente decide testar todas as combinações possíveis com tudo o que acumulou durante o último ano.

Assim foi iniciado um tortuoso trabalho que já se estendia por pelo menos cinco horas, com somente algumas pausas para alimentação e necessidades fisiológicas.

Bem, sendo honesto com vocês, meu papel em toda aquela reforma visual da ACSI não era tão ruim se comparado ao de Ieda, que às vezes precisava se pendurar no teto para atender a certos desejos de nossa querida Assassina de Youkais.

Enfim.

Dia 2 de novembro de 2022, mais ou menos às cinco horas da tarde.

Um dia incrivelmente cansativo.

E, exaustivamente, eu levei o tapete persa enrolado para o canto da sala/escritório de Yuna Nate, onde também se encontravam um sofá e uma mesa de bilhar apoiada na parede. Meus dentes soltaram o rolo de tecido empoeirado sobre o estofado do sofá e meu cérebro exigiu movimentos estranhos de minha mandíbula como se quisesse colocá-la de volta no lugar.

— Francamente, guria. Você ainda não se decidiu sobre como posicionar os móveis ou pelo menos quais irá usar em definitivo? Mesmo sendo um inugami, e consequentemente um shikigami, o estresse tem o mesmo efeito em mim do que em meus primos mais próximos.

— Você quis dizer os cachorros, Ulim-senpai? Ou só está simulando demência, hein?

Quem fez aquele comentário dúbio sobre uma suposta encenação de minha saúde mental foi ninguém menos do que Ieda Arakune, a aprendiz, assistente, e mais algumas coisas de Yuna. Ela estava literalmente de pé na parede, segurando um armário inteiro com uma mão como se segurasse uma mera mala de viagem. Era uma espécie de guindaste humano que caminhava pela parede para posicionar mais facilmente os objetos maiores. E por incrível que pareça, essa ideia foi dela mesma.

— É, isso, cachorros. Eu sempre esqueço a palavra. Não costumo manter em mente nomes que não têm significado relevante para mim. Por isso acabo trocando as palavras.

— Hmm, não deveria pensar assim sobre seus descendentes genéticos, você é o nosso cachorro, também.

— Já conversamos sobre isso, guria dois. E eu sou um lobo, líder de alcateia, não um cãozinho. Quantas vezes será necessário que eu reafirme isto, aqui nesta casa?

— Ei, ei, ei, você dois, não pensem em começar uma discussão no meio de minha importantíssima nova decoração de temporada. É imprescindível que a Agência de Combate Sobrenatural e Inteligência esteja de cara renovada neste final de ano. Na verdade, penso em dar uma alterada nas coisas a cada seis ou quatro meses. O que acham?

Como é?

Por acaso ela me odeia?

— Eu penso ser inviável e desnecessário, guria. Veja bem, você mal recebe clientes de maneira presencial. Quando não lhe pedem serviços por telefone ou mensagem, o guri-carteiro aparece com alguma novidade que geralmente desperta seu interesse. A menos que vá transformar esta agência em uma espécie de ponto turístico, não há motivos para todo esse trabalho que estamos tendo.

— Ponto turístico? Hmm, vou considerar seriamente a sua ideia, Império das Pulgas. Acho que é possível fazer uma renda extra com isso.

— Vou ignorar a forma como me chamou para não elevar meu nível de estresse.

Hmph, ela só absorveu a ideia do turismo de tudo o que disse, afinal.

— Eu não tenho nenhum problema com a ideia, Yuna-senpai. Acho até que é um bom exercício de equipe e ótimo para instigar a criatividade, principalmente em tempos que não temos nada melhor para fazer.

— Tsc, o que está dizendo, guria-aranha? Onde, nesta situação em que nos encontramos desde de manhã, você viu algum tipo de trabalho em equipe? Você não enxerga que ela está nos usando e só realizando os serviços leves ou não fazendo nada além de dar ordens? Esta mudança toda não tem significado nenhum além do estético.

— Mas, Ulim-senpai, ela nos dá horário para comer e pausas para necessidades fisiológicas. Como vamos nos sustentar sem ela, que é detentora dos alimentos desta residência?

Realmente, Ieda não estava errada. Yuna tem controle natural sobre nós enquanto estivermos habitando sua residência. Porém...

— Nós podemos nos unir, guria dois. Podemos nos unir, derrubar Yuna e transformar esta agência um lugar igualitário para todos.

— Eu já pensei nisso, Ulim-senpai, mas em um cenário como esse, eu precisaria cozinhar minha própria comida e também teria de dividir meus instrumentos químicos e livros, algo que não gostaria de fazer. E também... eu não sei cozinhar nada de bom. Prefiro manter as coisas do jeito que estão.

— O que?! Guria dois, me escute...!

— De nada adianta, seu pamonha. O sistema está ao meu favor. Graças aos meus truques culinários que aprendi na internet, eu tenho tudo sob controle... ei, espera, como assim "eu já pensei nisso", Ieda?

— Hmm, está simulando demência, senpai? Eu não sei do que você está falando. Aliás, onde vai querer mesmo que eu coloque este armário?

— Ah, verdade. Pode deixar aí mesmo, alinhado com a porta da frente e minha poltrona. Mas, ei... por que você mudou de assunto?

Ieda ignorou sua senpai. E aquilo aliviou um pouco meu estresse diário gerado com aquela mudança toda. Desde que comecei a morar na ACSI, aquela guria-aranha fez algumas piadas com Yuna que me faziam ir dormir como um lobo e shikigami mais feliz do que o habitual. Ver a guria conviver com alguém que tem um quociente de inteligência bem próximo ao dela estava sendo algo deleitoso. E como Ieda tem um coração batendo dentro do peito, algo que em Yuna é um mistério, a guria-aranha nunca fazia brincadeiras de mau-gosto comigo.

No geral, Ieda era bem... amorosa.

— Hmm, certo. Acho que podemos colocar a mesa de bilhar onde estava o armário, então.

— Guria, eu sei que já perguntei da vez que comprou isso, mas você ao menos sabe as regras do bilhar?

— E por acaso você sabe, seu pamonha? Não é um problema, afinal, podemos aprender a jogar juntos quando tivermos tempo. E para não responder sua pergunta com outra pergunta, Ulim, meu personagem favorito de Guilty Gear é o cara do taco de sinuca, está bem?

— Você quis dizer o Venom, senpai? É o nome do personagem.

— Isso, esse aí mesmo.

Certo. Tenho certeza que ela não sabe jogar.

— Agora, vamos, Ieda, a mesa de bilhar ficará ótima ali no canto. Dá um toque de rebeldia para esta agência e ainda posso cobrar para os garotos da vizinhança se divertirem aqui.

Obedecendo cegamente às ordens de Yuna, a guria-aranha caminhou na parede com a maior naturalidade para se aproximar da mesa recostada mais ao lado. Ela a apanhou com uma mão, também como se fosse uma maleta, e então caminhou para o canto oposto da sala, tendo que posicionar o móvel sobre sua cabeça para driblar o armário que havia acabado de colocar no meio de seu caminho.

— Guria, por que não deixa de abusar de mim e da boa vontade de Ieda e usa magia negra para finalizar toda essa mudança? Acredito que seria satisfatório para todos nós se acabasse logo com tudo isso. Não tem algum feitiço de levitação naquele livro que meu mestre lhe entregou?

— Não é um livro de feitiços desse tipo, seu pamonha, já te expliquei isso. O livro é sobre a mana e seus estados, e sobre artes místicas e das trevas. Não é o intuito daquelas páginas ensinar o seu leitor a levitar coisas com a mente. E mesmo se fosse, acho que isso não tornaria as coisas mais fáceis, já que teria de dividir meu cérebro entre decidir a melhor decoração e move-las para os locais que acho mais agradável. Afinal, o trabalho em equipe é sempre o mais importante, não concorda? Não é isso que este país preza com tanta veemência? Pois é o que estamos fazendo.

— Não, guria, não estamos trabalhando em equipe. Ieda e eu só estamos seguindo suas ordens desde de manhã à troco de nada. Se nós somos uma equipe como você insiste em dizer, qual é o seu papel nesta trindade que formamos? Você não fez muito além de falar e falar.

— Hmph, meu papel é o mais importante de todos, seu pamonha. Eu sou, claramente, a mente brilhante por trás de toda esta ideia de mudança. Como pode ver, sou eu quem dá as ideias sobre onde colocar os moveis e como ajeitar a decoração. E não sei se é de seu conhecimento, Ulim, mas o cérebro é o órgão que mais consome energia de todo o corpo. Ou seja, eu certamente sou a mais exausta por aqui.

— Engraçado, guria, por que você não me parece nem um pouco cansada. O oposto de mim, para ser sincero.

— Você também não me parece nem um pouco cansado. Só um resmungão mesmo.

— Tsc, eu suportei quase cinco horas de sobe e desce nesta residência sem reclamar nenhuma vez. Mas você sabe melhor do ninguém que minha paciência canina tem seus limites.

— Está reclamando de boca cheia, seu pamonha. Todo esse trabalho braçal que realizamos hoje não é o mínimo para nos fazer suar, e você sabe bem disso. A verdade é que você se tornou um pouco preguiçoso desde que começou a morar conosco. Não se lembra como Mena lhe dava trabalhos bem mais intensos e severos do que levar um tapete de um cômodo ao outro?

— Hmph, de fato, não consigo discordar. No entanto, ele era meu mestre. Foi ele quem me deu esta vida como shikigami.

Realmente, não poderia refutar o que a guria disse sobre os trabalhos que meu mestre me passava. Eram árduas missões de procura e caça. Vistoria de terreno, investigações, e até assassinato seco algumas vezes. Com os trabalhos de meu mestre, eu, definitivamente, ficava exausto.

Exausto a ponto de não conseguir mais correr a todo vapor mesmo tendo meus próprios circuitos mágicos.

Mas, foi justamente para isso que fui invocado neste mundo. Para servir ao meu mestre, Mena Kitsune. Faz parte das condições para que eu permaneça vivo como familiar.

Agora, dois anos depois de sua morte, a única clausula que mantém meu contrato ativo é a de proteger a guria.

Yuna me disse uma vez que poderia reescrever o pacto e me vincular totalmente a ela, mas sei que isso só passou por sua cabeça para que eu ficasse cem por cento à mercê de suas vontades e ideias imbecis, como aquela mudança, por exemplo.

Eu recusei.

Talvez, aceitar seria desrespeitoso com a alma de meu verdadeiro mestre.

— Hmm, tem razão.

— Como?

— Eu disse que tem razão, Ulim. Sei que é inacreditável para você me ouvir falando isso, mas estou sendo sincera.

— É... mas é claro que tenho razão. Hmph.

É só uma possibilidade, mas Yuna deve ter sentimentos reprimidos quanto ao falecimento de meu mestre. Em teoria, o emocional da guria foi treinado para ser um pilar firme que não abalaria sua concentração mental com coisas como tristeza ou ansiedade. Contudo, diferente de mim, que sou um inugami, e consequentemente um shikigami, e que fui desprovido de tais emoções enfraquecedoras, parte de nossa querida Assassina de Youkais é humana, então seu emocional pode ser um pouco tendencioso para esse seu lado algumas vezes.

É diferente da raiva ou medo, que são emoções fortalecedoras ou motivadoras, embora também mexam com sua concentração em grande parte dos casos. Mas esses sentimentos são facilmente filtrados por assassinos sobrenaturais do nível da guria.

— Ei, Yuna-senpai, quer que eu só deixe a mesa recostada aqui no canto?

— Ah, sim, Ieda, mais tarde eu a montarei. Para falar a verdade, essa mesa nem é tão importante assim para o visual em geral, mas essa parte da sala é espaçosa demais para ficar vazia.

— Hmm, é verdade, senpai.

— Bem, acho que no futuro próximo vou fazer uma espécie de bar ali embaixo da escada.

— Phew. Inacreditável como você não sabe onde gastar seu dinheiro, guria. Sempre foi assim, desde sua adolescência. Não existe o menor sentido em você querer montar um bar no meio do seu escritório. Você nem ao menos é consumidora de álcool.

— Mas não é para mim, é para os clientes. Os garotos que virão jogar sinuca, por exemplo, podem ser adeptos do alcoolismo amador.

— Não irá aliciar menores, guria! Tsc. Ieda, me escute, sua senpai está certamente delirando. Talvez haja um Stand inimigo por aqui, precisamos encontrá-lo.

— Está simulando demência, é, Ulim-senpai? Você não costuma fazer referências à JoJo, e isso é o que realmente me preocupa.

Qual é a dessa aranha de cabelo cor-de-rosa? Não posso fazer nenhuma referência que ela me julga como anormal.

— De todo modo, senpai, Ulim está certo. Acho que não é correto oferecermos álcool para garotos inocentes como nossos vizinhos.

— Kouhai, você ainda continua um poço de brandura, não é?

Sim, em absoluto. Ieda sempre teve uma visão ingênua sobre homens no geral, então nunca deve ter notado o que havia verdadeiramente dentro dos corações de nossa vizinhança.

Naquele dia mesmo, os garotos se reuniram nas janelas da frente da ACSI para ficarem espionando Yuna e Ieda durante a mudança já que suas vestimentas eram, mesmo que confortáveis, reveladoras.

Começando pela guria que trajava um conjunto de lingerie esportiva branco com detalhes laranjas e que destacava cada traço cirúrgico de seu corpo assombrosamente simétrico e definido. E ainda que seu famigerado gorro cinza estivesse, como de praxe, sobre seu longo cabelo negro, os jovens degenerados não se incomodavam com aquele detalhe peculiar. Latindo de maneira sincera, acho que eles nem chegaram a notar seu acessório de inverno.

Já a guria-aranha, que também se mantinha de lingerie, usava algo mais casual, e logo, um pouco mais revelador. Sua calcinha era fina, e especialmente seus glúteos eram notavelmente grandes se comparados ao de Yuna, que mantêm um equilíbrio perfeito com o restante de seu corpo. Ieda tinha as pernas mais magras, apesar de seus glúteos serem maiores, e não tinha peito como sua senpai. Mesmo assim, a camisola cropped que ela usava era um pouco transparente, o que já era considerado um prato cheio para os stalker. E ainda que seu cabelo fosse de um cor-de-rosa chamativo, acho que os garotos também não chegaram a notar sua coloração capilar.

Só não me perguntem como aprendi tanto sobre lingerie, sendo eu somente um lobo, líder de alcateia.

E também não me perguntem sobre como compreendi os gostos de nossos vizinhos pervertidos.

— Eu não entendo, Yuna-senpai, qual é o problema neles? Sei que parecem simular demência, mas são boas crianças. E além disso, eles gostam de nós. Por isso passaram a manhã toda nos assistindo trabalhar duro.

— Pois é, querida kouhai, e no final nosso trabalho estava longe de ser a coisa mais dura nesta manhã. Mas, que seja, você está certa, eles gostam de nós. E é em cima disso que construirei uma fonte de renda, junto dessa mesa de bilhar, e futuramente um bar.

— Não haverá bar, guria. Você será presa em poucas semanas. Está achando que estamos onde? Brasil?

— Hmph, a legislação não surte efeito em mim, está bem? Eu sou uma meio-youkai. Significa que as regras valem pela metade para mim.

— Responda isso a um juiz quando estiver no tribunal, guria, e veja o que acontece. Você pode ser híbrida de youkai, mas ainda é uma cidadã japonesa. Vai acabar sendo encarcerada em umas das instalações fétidas da Mythpool por anos.

— Tsc, às vezes você é muito pé no chão, seu pamonha. Vai bancar o tio chato nesta altura do campeonato? Aliás, você está há alguns minutos sem fazer nada, hein. Vamos, suba para o quarto e me traga aquela cortina que está em cima da cama. Já chega de moleza, parece que só eu estou me esforçando por aqui.

Hmph, francamente.

Naquele momento, eu não estava a fim de iniciar uma nova discussão com aquela que detém o título de Assassina de Youkais, e assim, estiquei minhas patas dianteiras antes de me mover em direção à escadaria que me levava aos aposentos de Yuna.

Após subir os degraus e chegar ao primeiro andar, eu usei minha cabeça para empurrar a porta entreaberta que selava o recanto do samurai e adentrei no quarto conforme ela se abria.

Meus olhos caninos logo apontaram na direção da cama, onde se encontrava a cortina que fui incumbido de apanhar, porém, o que me chamou a atenção de verdade naquele cômodo foi quem estava também sobre os lençóis da Assassina de Youkais.

E quando disse "sobre os lençóis", quis dizer exatamente por cima deles.

Quem estava ali, diante de mim, também estava lá embaixo com a guria-aranha. Mas, acredito que a que estava ali era a original.

Yuna Nate, concentrada, em posição de lótus, lendo as palavras de um livro grosso à sua frente, pairava em levitação acima de sua cama, sem mesmo mover um músculo para virar as páginas que estudava, já que conseguia passá-las com um gesto simples de seus olhos azul-escuros.

— Tsc, inacreditável. Há quanto tempo, guria, você deixou de trabalhar na mudança e começou a meditar aqui?

— Inacreditável digo eu, seu pamonha. Fiz aquele clone justamente para assegurar que ninguém me perturbasse enquanto estudo, mas ela decidiu pegar uma das únicas coisas que não estavam guardadas no sótão. Phew, sabe o que isso significa?

— Não faço ideia, guria.

— Significa que meus clones ainda não estão perfeitamente sincronizados comigo, como eram os de Mena com ele. E respondendo sua pergunta, faz mais ou menos uma hora que estou aqui.

— Então, faz mais ou menos uma hora que estou recebendo ordens de um clone ditador, é isso?

— Bem... basicamente.

— ......

— M-Mas não me leve a mal, está bem? Não é como se tivesse abandonado você e Ieda porque não suporto mais a companhia dos dois ou algo do tipo. É que estou empenhada em estudar pelo menos quatro horas por dia até terminar metade deste livro.

— Hmm, claro. Não posso dizer que não entendo seus motivos, e até admiro sua dedicação, mas poderia ter simplesmente nos avisado que queria ficar sozinha, guria, e não nos colocar para continuar com uma troca de móveis desnecessária.

— Mas a troca de móveis e decoração é estritamente necessária. Posso até ter errado no quesito raciocínio, mas tenho certeza de que meu clone estava ciente da importância da mudança geral.

— É, nisso ele foi impecável. Conseguiu reproduzir sua chatice na melhor qualidade possível.

— Hmm...

Para falar a verdade, o clone que a guria criou para nos supervisionar era tão próximo da perfeição que nem mesmo pelo cheiro eu conseguiria diferenciá-la da original que meditava à minha frente. Seria até difícil saber se aquela diante de mim era real, não fosse pela lógica de que um clone não seria capaz de absorver as informações por ela, já que sósias de magia não compartilham o que sentem ou aprendem com seu original ao se desfazerem. Latido isso, aquela só poderia ser a verdadeira.

De qualquer forma, o avanço nas artes místicas e nas artes das trevas de Yuna era mais do que notável, mesmo ela estando em trinta por cento do livro que meu mestre lhe entregou antes de falecer.

Um avanço até exagerado, eu diria.

Mesmo meu mestre não conseguiu dominar o livro por completo, lendo não muito mais do que a metade de seu conteúdo.

— Está bem, seu pamonha. Acho que posso tirar um dia de folga disso tudo. Seu olhar de cachorro pidão conseguiu me amolecer.

Completando sua frase e retirando seu olhar das páginas que estudava concentrada, o livro se fechou sozinho e caiu no colchão abaixo, diferente da guria que pousou agradavelmente com suas pernas alvas cruzadas.

Ela expirou ar bela boca, quase como se quisesse assoviar, ao que seu corpo se acomodou sobre sua cama. Depois desfez sua postura de lótus, levando suas pernas para fora do colchão e logo se colocando de pé.

— Quer dizer que não preciso levar essa cortina lá para baixo, guria?

— Ah, não. Pode deixar aí, é indiferente. Na verdade, eu a trouxe para cá justamente para me livrar dela. Essas cores não têm graça nenhuma.

— Ei, Yuna-senpai! Era um clone seu aqui?!

— Bem, parece que ela já descobriu também, guria.

— É, eu desfiz meu clone quando saí da posição de lótus. É que um clone quase perfeito exige uma imensa concentração, e como precisava dividir meu foco no sósia e nos estudos, a posição de lótus auxiliou o fluxo de magia em meu corpo.

— Hmm, entendi. Aprendeu isso no livro também?

— Sim, mas não nesse. Foi em um ebook sobre chakra na Amazon. Mas isso não é importante agora. Acho que eu tinha luminárias de neon por aqui em algum lugar...

— Não está pensando em colocá-las na sala, está?

— Ora, e onde mais eu as colocaria, Ulim? Vai dar um toque cyberpunk para a agência antes de chegarmos em 2047.

— E vai manter por todo esse tempo?!

— Bem, é só uma ideia. É provável que eu enjoe em um ano ou dois. A propósito...

Bzzz. Bzzz!

Bzzz! Bzzz.

Era o celular da guria que estava tocando. E a vibração sonora vinha de sua cama. Mais especificamente de debaixo de seu travesseiro.

— Hmm, então foi aí que eu o deixei.

A guria deu dois passos para se aproximar da localização de seu smartphone e o apanhou colocando um de seus braços sob aquele involucro de penas de ganso.

— Oh, é o ????. Faz tempo que ele não dá notícias. Alô, alô.

— Y-Yuna, ainda bem que atendeu. Sou eu, o 3k1.

— Eu sei que é você, seu pamonha. Andou bastante sumido, hein. O que lhe fez lembrar dos pobres hoje, senhor diretor?

— É... não me chame assim, Yuna, eu fico sem jeito. E você não trabalha aqui, então, não precisa ser tão formal. E também peço desculpas por estar sumido, é que parece que o salário maior não compensa todo trabalho que estou tendo.

O agente 3k1, um velho amigo de Yuna e um dos responsáveis por relatar alguns dos feitos incríveis de nossa querida Assassina de Youkais para o mundo. Ou melhor, ex-agente. Agora, 3k1 é diretor da sede japonesa da Mythpool e não age mais em campo desde o incidente das Olimpíadas há mais de um ano.

— Horas extras não remuneradas, imagino. Mas enfim, por que desta ligação surpresa, seu pamonha. Por acaso ganhei algum prêmio Nobel?

— Acho que você não seria elegível a nenhum prêmio Nobel. Mas, o motivo de minha ligação é para lhe pedir um pequeno favor.

— Ah... claro. Um favor. E o que seria?

— Talvez você já tenha até notado, Yuna, mas se precisa que suas suspeitas sejam confirmadas, uma barreira mágica foi erguida ao redor do Monte Kurama e ninguém que tentou acessar as redondezas da montanha conseguiu adentrá-la.

— Hmm, então, é só isso.

— A barreira, ou perímetro controlado, é aparentemente invisível, mas cobre todo o espaço ao redor do monte como uma esfera, o que significa que o subsolo e a linha de metrô estão totalmente interditados, e é onde se encontra o maior problema, já que civis ficaram presos com o trem que bateu e descarrilhou no meio dos trilhos. Enfim, já estamos resolvendo essa parte. Contudo, Yuna, nenhum de nossos agentes especializados conseguiu encontrar um meio de desfazer ou passar pela barreira e confesso que não pensei duas vezes em lhe pedir para resolver essa questão. Afinal, você mora bem próximo do local.

— Escuta, seu pamonha, você entende que esse tipo de favor que está me pedindo é o meu trabalho, não entende?

— Oh, sim. Eu entendo.

— É que estou no meio de uma mudança de móveis e, sabe, não posso fazer se for de graça. Embora eu possa lhe conceder um desconto agradável.

— Ah... claro. Dinheiro. Bem, e qual seria o valor?

— Hmm. Depende do nível da barreira. Mas considerando a competência de seus subordinados, não deve ser grande coisa. Acho que cento e trinta mil ienes é um bom preço para nós dois.

— Não acha um pouco caro demais para uma simples barreira, Yuna?

— De forma alguma. E saiba que já apliquei um desconto especial.

— Okay, tudo bem. Aceito suas condições, mas gostaria que o fizesse o mais rápido possível.

— Hmph, dinheiro na mão, calça no chão, seu pamonha. Pode deixar comigo.

Fim da ligação.

A guria simplesmente encerrou a chamada após dar ao ex-agente suas palavras de confiabilidade. E, jogando seu smartphone no colchão de sua cama, ela direcionou seus olhos azul-escuros para mim.

Por algum motivo inenarrável, eu inconscientemente engoli em seco.

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