003
Com a chegada do horário noturno, como combinado, o chofer do Senhor Barzini levou Yuna para a dita área nobre de Roma, estacionando a alguns casarões de distância e a deixando sair livre para sua missão, apenas apontando com o queixo para a mansão onde a festa acontecia.
Sem pestanejar, nossa querida Assassina de Youkais caminhou até o portão de entrada do local, onde dois homens de aparência genérica de seguranças remunerados se encontravam inertes em cada ala da portada.
Eles moveram apenas os olhos ao que a garota chegou mais junto, indiscretamente focando em seus dotes físicos sob aquele uniforme apertado, antes de decidirem procurar por algum tipo de arma de fogo... não que houvesse algum lugar para esconder alguma.
E centralizando-se entre a dupla, a hanyou levou as mãos ao quadril, fazendo com que ambos os homens olhassem para o meio de suas coxas fortes por um breve momento, recompondo suas posturas logo depois.
— Eu vim a pedido do... do... — Yuna mordeu o lábio inferior e estreitou os olhos para acelerar seu poder de processamento e buscar na memória o nome de seu alvo. — Vim a pedido do Senhor Ivan. Sou uma convidada... especial, eu acho.
— Hmm. — Um segurança coçou o queixo com seu indicador e polegar, olhando da ponta do gorro da garota até a sola de seus tênis. — É, você parece mesmo alguém que o chefe iria conhecer. Pode entrar.
Simples assim, o portão foi aberto, dando passagem para o vasto jardim de entrada.
E com um pequeno sorriso de satisfação, a meio-youkai mexeu suas pernas rumo ao interior da propriedade particular, dando passos confiantes. E claro, a dupla de seguranças não pôde evitar olhar para os glúteos brancos, redondos e esculpidos da garota, ao que ela adentrava o terreno.
No que Yuna já estava praticamente na metade do jardim, escutou ruídos atrás de uma moita, onde, poucos passos depois, conseguiu ver do que se tratava. Ao que parecia, haviam três seguranças na entrada daquela confraternização. Contudo, o terceiro estava de calças arriadas, sentado no gramado em relaxamento, enquanto uma jovem moça de vestido se engasgava com sua genitália.
— Eita... — murmurou a Assassina. — Parece que tenho muito a aprender.
Ela, enfim, subiu os degraus que levavam à grande porta para dentro da mansão de fato. Bateu na madeira refinada e lustrosa três vezes, fechando seu punho como a pata de uma gatinha.
A porta logo foi aberta, como se o pessoal já a aguardasse.
E a visão... ou melhor, não só a visão. A audição, visão, e olfato da hanyou foram preenchidos, em suas respectivas funções, com a contemplação de uma enorme, expressiva, e tentadora, suruba. Russos e russas se comendo de todas as formas e maneiras ocupavam o salão de entrada do casarão, com alguns casais também se lambendo na escadaria que levava para o andar superior.
Eis que Yuna entrou, evitando tocar em qualquer objeto para não se sujar. Não que ela tivesse algum problema com isso, como visto na primeira parte desta narrativa, mas, convenhamos que ela já se lambuzara bastante naquele dia. E então, seguiu para a escada como se ignorasse completamente o que acontecia por todos os cantos daquele recinto, subindo para o andar acima e virando para a esquerda como quem não quer nada.
— Tetsu iria adorar estar aqui — comentou ela para si mesma.
E caminhando pelo corredor, começou a abrir porta por porta, espiando por cada fresta à procura de seu novo alvo. Até que...
— Te encontrei, seu pamonha.
A meio-youkai escancarou a penúltima porta daquele corredor, tendo vista total para duas jovens loiras nórdicas de quatro sobre uma grande e aparentemente confortável cama, enquanto o homem, Ivan, enfiava seu membro reprodutório em uma, ao mesmo tempo que cavoucava três de seus dedos em sua parceira ao lado. Ele olhou para Yuna invadindo sua privacidade, mas pareceu não se importar, como se estivesse concentrado demais no que estava fazendo.
— Vocês duas! — A garota chamou a dupla na cama e, indicando com a cabeça para que saíssem dali, fez surgir duas lanças de gelo em suas mãos. — Saiam logo!
Assustadas com o truque de mágica da Assassina de Youkais, as jovens se desplugaram do mafioso russo e se moveram apressadas para fora do quarto. E resfriando o ar do cômodo, Yuna fez com que a porta do local se fechasse com um sopro frio.
— Incrível — começou Ivan. — É a primeira vez que vejo uma japonesa com um corpo tão apetitoso. E esses olhos azuis... que curioso. Hmph, veio me satisfazer com esses pedaços de gelo. Você não parece ser humana, não é?
O mafioso russo tinha os olhos tão azuis quanto os da garota, assim como o tom de pele. A diferença estava em seu cabelo, cortado um pouco quadrado, amarelos como os raios de sol. Ele era forte e alto, mas nada fora do comum se comparado a um atleta em atividade do mesmo sexo.
— É, eu não sou humana. Não completamente.
— Hmm, deve ter uma buce...
A verdade era que, aquela que detém o título de Assassina de Youkais, esperava que, pelo menos, o chefe mafioso entrasse em pânico ou esboçasse uma reação assustada. No entanto, Ivan parecia apenas admirado com a própria existência da meio-youkai, como se estivesse sonhando acordado. Claro que, dos diversos cheiros naquele quarto, o aroma de algumas drogas sintéticas pairavam por ali.
O homem estava chapado.
Estava fora de si.
Em seu intuito de prosseguir com a conversação, Yuna cessou com suas intenções. Movendo o antebraço esquerdo de baixo para cima, como se fosse uma alavanca, a lança na respectiva mão voou como uma fecha na direção do russo, se cravando até a metade em um ponto um pouco abaixo de seu tórax. Em seguida, o antebraço direito realizou o mesmo movimento, esse um pouco melhor direcionado, fazendo com que a lança gélida atravessasse seu rosto na altura do terceiro olho.
O corpo de Ivan, assim, foi congelado aos poucos, como se banhado por nitrogênio líquido, mantendo-se estático quase da mesma forma de quando a hanyou invadiu o cômodo; só que agora, sem nenhum resquício de vida.
Missão dada é missão cumprida. Dava para contar nos dedos as vezes que nossa querida Assassina de Youkais fez diferente disso.
Desse modo, ela girou sobre os calcanhares, abriu a porta por qual entrara e...
Onde estava o resto dos figurantes daquele cenário erótico e muito adulto?
Yuna estranhou o silêncio e a repentina debandada. O mais natural seria que as duas jovens loiras avisassem o que aconteceu em suas privacidades, e inúmeros capangas estariam na sala de entrada esperando a garota, armados até os dentes. Todavia, ao que ela chegou na escadaria pela qual subiu, o lugar estava inabitado; com o caminho livre para a saída daquela mansão.
Fim.
Um final satisfatório, eu diria.
Só que, não exatamente.
Ao que Yuna botou os pés de volta no piso da sala, a porta metros à sua frente foi arrombada, se soltando da parede e se estatelando no chão. E o responsável pelo vandalismo estava logo atrás dela, é claro.
Um homem nu, cuja pele era pálida, mas parecia ser feita de mármore. Sem cabelos, quase como um manequim, porém, com um rosto expressivo de olhos cinzentos, com o material de sua face mal lapidado, como se mergulhado brevemente em ácido. Ele também não tinha genital, como uma censura da vida real. E outro ponto intrigante, nos pés, nas alas dos tornozelos, dois pares de pequenas asas brancas.
Não havia dúvidas, era mais um dos Anjos Lamborghini.
A garota foi avisada que isso aconteceria.
— Tsc, que saco — resmungou ela. — Já não é a primeira vez na vida que sou perseguida por algum grupinho querendo minha cabeça, mas confesso que ainda não me acostumei. E aí, seu pamonha, vamos pular logo as formalidades e...
— Nicolas Nate, você teve a chance de ficar fora de Roma, como requisitamos, mas preferiu quebrar nosso acordo e retornar depois de tanto tempo. E não bastando essa petulância, de alguma forma, matou Starface. Por que retornou?
— É... hmm... — Yuna arqueou as sobrancelhas àquelas palavras. — Eu não sou o meu pai. Não está vendo meus peitos? E essas pernas aqui, não está acompanhando?
— O seu cheiro não nos deixa enganar, assim como seus genes. Se não for Nicolas Nate, é alguma parte dele, e será aniquilada do mesmo jeito.
— Phew, é claro. Todo mundo já entendeu onde o roteiro quer chegar.
Os olhos do homem de mármore acenderam com um brilho avermelhado, dando início ao inevitável duelo com um disparo de raios laser na direção da garota, que facilmente se safou, movendo-se para o lado com assombrosa destreza. E no momento seguinte, criou um clone que se projetou à sua frente como se saísse de dentro dela, e que logo avançou contra o falso anjo, saltando na altura de sua cabeça e desferindo um chute de peito de pé na orelha da criatura.
Não foi tão efetivo quanto a garota imaginava que seria. A cabeça do homem mexeu com o impacto do golpe, mas praticamente no mesmo instante que foi alvejado, ele agarrou o clone pelas pernas em pleno ar, abrindo-o ao meio na força bruta, o desfazendo em neve. Contudo, aqueles flocos esbranquiçados não caíram ao chão como pedem as leis da gravidade. Eles flutuaram magicamente ao redor da careca do anjo, a cobrindo como um capacete na altura dos olhos e se firmando ali ao se transformar em gelo eterno.
Era um truque travesso da Assassina de Youkais, e parecia ter funcionado muito bem.
Com os olhos cobertos, a visão de calor poderia ser barrada por algum tempo, assim como a visão em si de seu adversário.
E Yuna não tinha porque esperar. Ela se lançou contra o falso anjo, agarrando as laterais de seu torso e indo parar com ele no gramado do jardim de entrada, caindo sobre o homem de mármore. Ela abriu as pernas, colocando os joelhos no solo, e enquanto a criatura aquecia o gelo eterno com seu poder ocular para liberar seus olhos, tentou apanhar a garota com suas mãos firmes, mas ela bateu com seus antebraços nos dele e começou a socar com violência sua mandíbula, atrapalhando seu processo de libertação.
No entanto, após alguns socos, estudando o ritmo dos punhos da hanyou, o anjo falso abriu sua boca emanando um grunhido de fúria, e com um incandescer escarlate, os raios laser arrebentaram o estado sólido da água que cobria seus olhos, e a meio-youkai precisou reclinar seu tronco para não ter sua testa ferida pelo calor. E com esse gesto defensivo da garota, o homem aproveitou para agarra-lá pela cintura e arremessá-la para o lado, fazendo-a capotar no gramado.
Ela não demorou para se colocar de pé, erguendo-se ao mesmo tempo que seu inimigo.
O falso anjo, bufando em irritação, levou os dedos ao resto do capacete em sua cabeça e pressionando-o o trincou, e logo o estilhaçou em pedaços gélidos que se desfizeram no ar.
— Eu, Burnface, vou acabar...
Não tendo mais paciência para aquela situação, Yuna se moveu de repente, sumindo do local onde havia se levantado, e aparecendo diante do grande homem com o punho já em trajetória ofensiva, acertando o maxilar da criatura com um cruzado de direita, antes dele ser capaz de proferir a próxima palavra de sua frase clichê.
Decerto que, o falso anjo, Burnface, sentiu o golpe seco da Assassina de Youkais, com seu rosto virando-se com o impacto para clarear isso. Porém, parece que o resto de seu corpo não foi afetado de nenhuma maneira pelo choque. Desaparecendo instantaneamente tal como Yuna fizera, o homem ressurgiu às costas da garota como se nada tivesse acontecido. E antes mesmo que ela percebesse sua movimentação, um soco firme e vingativo a acertou um pouco acima da base de sua coluna, a lançando no ar como uma bala de canhão.
O corpo da hanyou voou pelo jardim, destruindo o muro lateral da mansão, e quicando na calçada, até que rolou e parou de barriga para cima, ao lado da limusine que a levara até lá.
Yuna tossiu uma pequena quantidade de sangue, e o par de safiras em seu rosto cruzou com os olhos genéricos do motorista confuso.
— Vai embora — disse ela. — Avisa pro seu chefe que matei o idiota. Eu passo por lá depois.
— Mas o que...?
Houve hesitação da parte do chofer em seu questionamento, já que, no meio de sua frase, Burnface se apresentou glorioso passando pelo buraco no muro criado pelo corpo da Assassina. Assim sendo, o motorista engoliu em seco, deu partida no veículo, manobrando para a contramão e acelerando o máximo que pôde.
Eis que Yuna se ergueu com um salto.
Ela bateu a poeira de seus ombros, peitos, e glúteos; também arrumou os seios sob seu uniforme apertado.
— Francamente, seu pamonha, não esperava que estivesse escondendo o jogo sobre sua velocidade. Isso torna as coisas mais interessantes, mas não é o bastante para me machucar.
— Entendo, Nicolas. Mas mesmo que seja difícil lhe machucar, posso fazê-lo sentir dor até colapsar.
— Hmph, em outro contexto isso até me deixaria excitada.
— Não diga besteiras!
Então, o anjo se moveu. Yuna também.
Ambos tiveram a imagem apagada devido a altíssima velocidade com que percorriam o espaço, e uma série de estrondos sônicos aconteceu em pontos aleatórios das redondezas do bairro nobre, tendo fim ao que os dois combatentes se encontraram em um ponto central.
Burnface, disparando um cruzado firme com seu braço, mas não acertando, visto que, nossa querida Assassina de Youkais, antecipou-se àquele golpe, dando um passo para o lado antes de desferir o seu. E algo que surpreendeu o homem de mármore no que colocou seus olhos na garota, é que sua aparência havia mudado. Os olhos se tornaram cor-de-rosa, e os cabelos se esbranquiçaram.
Era o Modo Morgana, apesar de suas roupas estarem em suas cores originais.
E claro, o soco de Yuna acertou o plexo solar do falso anjo em cheio, o fazendo se curvar com o impacto e cuspir sangue fresco. Não somente isso. A pressão daquele ataque foi tamanha, que o solo em volta deles trincou sob seus pés.
— Como é possível... é apenas um humano...
— Sério? Agora? Eu criei a droga de um clone, seu pamonha, qual o sentido disso agora?
— ......
Pelo visto ele estava sentindo uma enorme quantidade de dor, não sendo capaz de se explicar.
Com um salto de suas sobrancelhas em aceitação, a hanyou ergueu um de seus joelhos e alinhou a sola de seu tênis com a face do homem de mármore; e assim, mais a empurrou do que a chutou, jogando Burnface como um saco de lixo para perto do muro avariado do casarão da máfia russa.
Os cabelos e olhos da garota, então, voltaram para suas cores naturais; e ela se aproximou de seu adversário, que se colocou de joelhos na tentativa de se reerguer.
— Argh... nunca fui superado em agilidade... como...?
— Pra tudo há um primeiro dia, não concorda?
— É... deve ser. No entanto... não vou deixar que saia vivo, Nicolas!
Rosnando essas palavras imersas em ira, todo o corpo do falso anjo começou a incandescer em carmesim, com o brilho emergindo de dentro de seu peito, espalhando-se pelo resto de suas partes de modo que aquela pele de mármore se tornasse translúcida.
Yuna não precisou parar para estudar o que estava para acontecer.
Burnface iria se autodestruir.
E pela onda de calor que o homem de mármore emanou só com o prelúdio de sua explosão, a garota não botava fé de que seu uniforme especial iria conter toda aquela quantidade exuberante de fogo divino.
Ela bateu em retirada.
Virou em cento e oitenta graus e começou a correr. Entretanto, de seu quinto para o sexto passo, a explosão aconteceu. E uma redoma de calor e luz avermelhada engoliu toda a área nobre de Roma em apenas um segundo, transformando tudo no caminho em poeira e cinzas.
Fim do dia 13 de julho de 2025 no calendário de Yuna Nate.
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