Após um banho muito bem tomado em seu novo quarto do hotel, fornecido de muito bom grado, Yuna trajou seu mais recente uniforme e voltou a se cobrir com o sobretudo vermelho que tomou de seu mais novo melhor amigo, o gerente. Com seus tênis de basquete nós pés e seu famigerado gorro cinza sobre a cabeça, a garota observou a tela de seu iPad para reafirmar a localização de onde seu alvo se encontrava.

Assim, ela partiu, definitivamente.

Indo para uma das sinuosas ruas ao norte da cidade de Roma, não muito distante do local onde ela descansava, um grupo de homens saía de uma boate em pleno início de tarde. Quatro do quinteto eram donos de uma aparência genérica de italianos másculos, e um homem mais baixo ao centro deles, careca e ligeiramente fora de uma boa forma física, porém, muito bem vestido. E dos cinco, ambos estavam com um chapéu risca-giz sobre as cabeças.

Era ele, o homem que a hanyou precisava.

Um careca gordinho.

E caminhando atrás de algumas pessoas que passeavam em sua tranquilidade europeia construída sobre muito sangue inocente, aquela que detém o título de Assassina de Youkais dava passos meticulosos para não chamar mais atenção do que uma pessoa que apenas está fazendo Cosplay de Alucard... com peitos e um gorro.

Contudo, ao que os homens estavam se preparando para entrar em uma limusine que encostou ao meio-fio, Yuna precisou agir. Ela acelerou os passos, e esticou suas passadas, trombando com duas jovens à sua frente ao que passou por entre elas, fazendo com que o soluçar de uma delas chamasse a atenção de seu alvo e daqueles que o cercavam.

— Ei, não se aproxime...!

Certamente, foi uma advertência inútil. Depois de ultrapassar as meninas romanas, a Assassina abriu seu sobretudo, o retirando de uma vez, e exibindo para aqueles que estavam nas redondezas seu extasiante corpo em seu traje tão revelador quanto um maiô. Uma pena que os dois homens mais próximos dela mal conseguiram correr seus olhos por todo aquele invólucro de beleza genuína. Eles avançaram contra Yuna, ao mesmo tempo que ela avançava contra eles; e tão ligeiro quanto um estalar dedos, a meio-youkai saltou diante da dupla, esticando a perna direita em um chute, e em seguida a perna esquerda, os acertando respectivamente com a sola de seus pés, os nocauteando antes mesmo que seus tênis voltassem a tocar o chão.

— Merda...!

O terceiro e quarto homem partiram em ataque logo na sequência da derrota de seus companheiros. Na intenção de apanhar a hanyou de guarda-baixa após finalizar seu movimento acrobático, investiram sem pensar duas vezes. Mas, tão claro quanto a pele da própria Assassina, aquela foi uma idéia no mínimo imbecil.

Para o homem que se aproximou mais rápido, o punho de Yuna foi lançado em um soco que arrebentou sua mandíbula e o fez colapsar; isso, antes mesmo de seu parceiro, que estava logo atrás, tentar agarrá-la com apenas uma mão, mas ter o antebraço estapeado, e, no segundo que se sucedeu, ser alvejado na traqueia pela palma da mão da garota.

Com quatro corpos estatelados na calçada, a Assassina de Youkais chegou centímetros ante ao homem careca, o agarrou pelo colarinho com uma mão e abriu a porta da limusine com a outra, o jogando para dentro do veículo e o adentrando na sequência.

A porta foi fechada.

— Senhor Barzini...!

Ia começar o motorista, já com um revólver apontado para a cara de Yuna. Mas ela o interrompeu bruscamente.

— Relaxa a vagina aí, seu pamonha. Se atirar, o projétil vai apenas ricochetear e acertar seu chefe ou você. Pode seguir para o mesmo local que já estava indo, e sem fazer perguntas.

O motorista pensou em retrucar, mas, com aqueles olhos azul-escuros que emanavam tamanha intenção assassina, o condutor da viagem apenas baixou a arma e se voltou para o volante, dando marcha no veículo.

— O-o que você quer comigo? — Enfim questionou o líder careca. — Você é da Tríade Chinesa, por acaso? Fique sabendo que irá iniciar uma...

— Eu não sou chinesa, sou japonesa... nipo-canadense, na verdade. Mas isso não vem ao caso. Eu estou agindo por conta própria, seu pamonha, e a única coisa que quero de você é uma informação valiosa.

— Hmph, acha que vou sair abrindo a boca só porque abateu alguns de meus homens...

— O que preciso saber é sobre a família Lamborghini. Mais especificamente sobre o cara que é conhecido como o Homem Mais Próximo de Deus. Quero saber onde ele se encontra.

— Os Lamborghini... quer saber sobre essa parte da família, justo essa?

— Sim. Justo essa.

— E o que vai fazer quando encontrá-lo? Você tem noção de quem é essa pessoa, ou o que ela faz?

— Não o conheço, mas já tive uma amostra do que ele é capaz de fazer.

— Se sabe, você só pode ser maluca de querer ir até ele. E também, esse tipo de informação envolve coisas que estão acima do que a máfia costuma lidar. Eu não estaria seguro lhe contando qualquer coisa sobre.

— Ótimo que você tem algo a me dizer, então. Mas vou poupar seu tempo e lhe fazer uma oferta. O que você quer em troca do que sabe? Eu posso fazer qualquer coisa.

— Q-qualquer coisa...? — E o homem a olhou de cima para baixo, com seus neurônios sendo ativados pela imagem física da garota. — Eu... não sou o tipo de homem que foge de uma boa negociação, mas creio que para essa informação que me pede... só o seu corpo não serve como pagamento.

— E o que mais você quer?

— Bem... Se você é tão habilidosa como se mostra ser, tem um pessoal da máfia russa aqui em Roma, e parece que hoje à noite irão dar uma festa na área nobre da cidade. Uma cabeça importante dessa organização estará lá, é esse cara aqui... — o careca puxou seu celular do bolso e com alguns movimentos de seu polegar chegou na imagem do homem russo a quem ele se referia. — Se matá-lo, eu lhe contarei tudo o que sei sobre essa parte sombria da família Lamborghini. Meu motorista mesmo pode levá-la e ser cúmplice de que você terminou sua tarefa, o que acha?

— Feito. Isso aí é mais fácil do que tirar doce de criança.