Especia de natal.
ALERTA DE GATILHOS!!!
Tempo…
Espaço…
Realidade…
São mais do que caminhos lineares.
São um prisma, de possibilidades sem fim.
Onde uma escolha, pode ramificar-se em realidades infinitas. Criando mundos alternativos daquele que você conhece.
Eu sou o vigia.
E sou seu guia através dessa ramificação da realidade.
Siga-me, e descubra, o que aconteceria se…
Terra, ano de 2.005. Cuba, país conhecido por suas praias e cenários que atraiam turistas do mundo todo.
Naquela cidade, bem no meio da noite, em uma casa cinzenta e sem graça, em comparação a todas as outras, gritos desesperados de dor e medo, eram ouvidos por toda a vizinhança.
Todos sabiam o que acontecia naquela casa, mas ninguém ousava falar sobre o que o casal de idosos fazia com a neta que morava com eles.
Mas um turista perdido, que nunca esteve na cidade antes, estava alheio a esse pacto de silêncio que a vizinhança fez. Com isso, assim que passou de frente a casa, e ouviu aqueles gritos desesperados, ele ligou urgentemente para a polícia, seu sotaque russo era forte quando ele explicava desesperadamente para a polícia que alguém estava sendo torturado na casa cinzenta da rua mais colorida da cidade.
Os dois idosos eram membros temidos da sua comunidade e igreja local, eles eram conhecidos tanto por seu conservadorismo, quanto pelo fato do homem ser um soldado que passou anos lutando na guerra, voltando com uma personalidade violenta, e com uma espingarda, que não tinha medo de usar.
E era por conta dessa violência que todos tinham medo de delatá-los. E então, quase todas as noites, a vizinha era obrigada a aguentar os gritos e pedidos de ajuda de uma garotinha que não sabia nem o que era viver ainda.
De fato, ela não sabia o que era vida. Sua rotina era inteiramente de casa para a escola e da escola para casa.
Os abusos e maus tratos que sofria dentro de casa, fez a garota se tornar uma pessoa muito reclusa, e aos sete anos de idade, ela só tinha uma amiga na escola, que não fazia nem ideia do que acontecia com ela.
A pouca idade da criança, não a poupou de descobrir o quanto as pessoas podiam ser cruéis sem nenhum motivo. Sua inocência foi substituída por medo, medo de tudo.
Porém, ela ainda era uma criança como as outras, ela era mais inteligente do que a maioria, sim, ela já entendia muita coisa. Mas as coisas que não entendia, ela queria descobrir, e a sua infantilidade queria o que todas as crianças outras também queriam.
Um presente de natal.
Seu avô nunca tinha lhe dado nada, e sabia que se pedisse para a avó, ela não daria sem a permissão do marido, então, com medo da reação dele, ela foi pedir um presente para seu avô.
Ela desejou ainda acreditar em Papai Noel, até que se deu conta de que nunca acreditou, mesmo assim ela preferia escrever uma carta para um velho imaginário, do que pedir algo para seu avô.
Mas, faltando poucos dias para o natal, ela imaginou que o coração de seu avô tinha amolecido. E pedir um único presente não era motivo para apanhar tanto, ainda mais o seu presente sendo tão comum, barato e simples. Ela achou que só receberia um não.
Mas ela não sentiu o cheiro da bebida que tanto estava acostumada, ela não viu as garrafas de cerveja jogadas dentro de um saco de lixo, recolhidas pela sua avó. Ela não viu o quanto seu avô estava bêbado, ela só achou que ele estava sonolento.
E então, ela apanhou. Ela foi agredida como nunca foi em toda a sua vida. Seus gritos eram altos e roucos de tanto chorar. Seu corpo balançava e se contorcia à medida que um cinto de couro atingia suas costas com a força que só um ex soldado podia ter.
Ela nunca se esqueceria de quando sua avó veio correndo até o marido, sua voz preocupada dizendo em bom som. “Pare, os vizinhos vão falar.”
Não foi, “pare, você está machucando ela.”
Também não foi, “pare, ela está sangrando.”
Muito menos, “pare, você vai matar ela.”
Kelly achava que “odiar” era uma palavra muito forte para qualquer coisa. Mas sim, se você perguntasse, ela diria que odiava apanhar.
Mas palavras… ah… essas doíam menos do que espancamento, fato, mas faziam um estrago bem, bem maior.
Mariana estava do outro lado de Cuba quando recebeu a ligação de um hospital.
A mulher morava longe, muito longe dos pais, e com razão. Seus pais sempre foram severos com ela. Ela tinha dez anos quando seu pai foi para guerra, e quando voltou, quando ela tinha doze, ele estava bem pior, sua mãe, sendo a mulher submissa que era, nunca fez nada para ajudar, sequer questionava o marido.
A gota d' água foi quando seu pai a estuprou, quando ela tinha doze anos de idade. Ele fez isso após beber, e durante a agressão, ele dizia que ele fazia aquilo porque ela merecia.
Aquilo não aconteceu só uma vez, sua mãe sabia, mas nunca fez nada a respeito.
Isso só passou quando, aos quinze anos, finalmente conseguiu sair de casa.
Mariana teve sorte de ser notada por uma agência de modelos, e teve que trabalhar escondida por um tempo, pois seus pais não a apoiavam. No fim deu tudo certo, e ela conseguiu sair de casa.
Durante anos, ela não visitou os pais fazendo questão nem mesmo de falar com eles, e durante esse tempo, teve que ficar escutando as desculpas falsas de seus pais, onde ambos diziam que tinham mudado.
Até que ela conheceu o Stark em um evento de moda em Cuba. Mariana nunca se iludiu, ela sabia que tipo de homem o Stark era, e nunca quis nada dele, nada além do sexo maravilhoso e dos luxos incríveis que ele podia proporcionar.
Ela conseguiu o amarrar por uma semana inteira. E dado ao histórico do Stark, isso é algo para se gabar.
Até que, dois meses depois, ela se descobriu grávida.
Mariana nunca quis ser mãe, ela não servia para isso, e não queria se tornar responsável por outro ser humano, nem naquela época, nem nunca.
O aborto, obviamente, foi a primeira coisa que se passou pela sua cabeça, e era isso que ela faria.
Ela achou graça quando comunicou a Tony que estava grávida. Ela riu quando ele disse que não queria a criança e sugeriu pagar o aborto.
Ela não queria a ajuda dele, e sinceramente, ela só o comunicou, porque era algo que seu dever social parecia exigir.
Infelizmente, seus pais também descobriram isso, ela não sabia como, talvez eles estivessem a espionando. Ela só sabia que teve que passar dias e dias ouvindo como sua alma seria condenada ao inferno se ela abortasse, e ouvindo pedidos de desculpas de sua mãe, querendo ter uma chance com a neta.
Mariana estava de saco cheio, e resolveu ter a criança para dar para os pais após fazer um acordo com eles. Eles ficariam com a criança se a deixassem em paz para sempre.
E assim foi.
Às vezes, ela se sentia mal por ter entregado uma criança tão inocente para seus abusadores. Ela era uma filha da puta, e sabia disso.
E mesmo sob as juras de seus pais, dizendo que estavam mudados. Ela ia ver a criança de vez em quando, só para checar se ainda estava viva.
Kelly era uma garotinha esperta, parecia saber o que acontecia, ela sabia que era desprezada pela mãe, e Mariana também nunca fez questão de esconder que nunca a amou e nunca a amaria.
Mesmo assim, ela tinha que checar a criança. Quer dizer, ela amava a paz que seus pais tinham lhe dado desde que a Kelly chegou. Mas ela tinha que saber que a criança ainda estava bem, na medida do possível, porque ela sabia que seus pais nunca mudariam.
Ela sempre esteve ciente dos maus tratos, e sabia que isso nunca acabaria, mas esperava que pelo menos, isso a fizesse forte, como tinha feito dela a mulher que é hoje.
Mas quando recebeu a ligação de um hospital, com uma enfermeira pesarosa, perguntando se ela era mãe da garota chamada Kelly, ela temeu que seu pai finalmente tinha conseguido tirar a vida daquela criança inocente.
Quando chegou no hospital, após se identificar, ela foi guiada até o quinto andar, sendo recebida por uma médica com uma cara nada boa.
-Você é a mãe da Kelly?- a médica pergunta, com seu tom profissional.
Mariana tinha passado o caminho todo divagando sobre suas escolhas de vida. Mas essa pergunta a fez divagar novamente. “Mãe”, ela não era, e nunca seria.
-Ela está bem?- perguntou, com um suspiro, já sabendo que a resposta era não.
Seus pais é quem estavam com a guarda da neta, então eles não chamariam a mãe biológica se a garota estivesse bem.
A médica suspirou, e com um aceno, chamou a polícia que estava próxima. E após uma breve apresentação, a policial relata o que tinha acontecido.
Como receberam a denúncia anônima, e como chegaram arrombando a porta por terem escutado gritos de socorro, encontrando a garota quase desacordada.
A médica começou a falar dos ferimentos que a garota tinha, várias marcas de açoitamento, velhas e recentes nas costas da criança.
Mariana não era inocente, ela sabia o que os pais eram capazes de fazer, mas aquilo a deixou brava, óbvio que deixou, mesmo não sentindo vínculo nenhum com a vítima, aquilo deixaria qualquer um indignado.
Mas o que veio a seguir… isso a deixou enjoada.
-Fizemos… fizemos exames mais a fundo…- A médica começou, em um tom pesaroso.- ela… - a mulher fechou os olhos, aparentemente aquilo mexia muito com ela, e se mexia com uma médica, que já tinha visto de tudo, Mariana não queria nem saber o que era.
-Ela foi estuprada, várias vezes pelo que consta.- a polícia diz, diante da falta de coragem da médica.
Mariana não sabe dizer o que aconteceu nos momentos a seguir. Ela já estava nervosa de ter que estar lá, de ter se prestar a aquilo. Mas aquela notícia a fez vagar sobre o vale da memória.
Se lembrando de quando ela estava naquele lugar, seus pais eram monstros, ela sabia que Kelly também sofria os maus tratos e a negligência, assim como ela sofreu.
Mas ela imaginou aquilo, aquilo não. Seu pai fazia aquilo com ela, dizendo que ela merecia aquilo, vivendo a vida toda com abusadores, Mariana não sabia se realmente merecia ou não. Mas ela tinha certeza que Kelly não merecia, ela não merecia, e por isso achou que ela nunca sofreria isso, mas sofreu, e aquilo era tudo sua culpa.
Mariana não sabe quanto tempo ficou fora do ar, mas só voltou a si quando um copo de água foi parar na sua mão, e então ela percebeu que estava sentada, sendo abanada pelo chapéu da polícial que a encarava fixamente.
-Quer um calmante?- a médica perguntou, em um tom preocupado, olhando para a modelo com pesar.
-Eu quero ver a Kelly… e quero que os culpados passem a vida na cadeia.- ela responde, quase podia ouvir sua mãe julgando por desejar o mal a seus pais.
Mas aquilo não era desejar mal, era desejar justiça.
Mariana foi autorizada a ver a garota, depois de dar um depoimento sobre o que sabia sobre seu pai, e chamar um advogado para tirar a guarda da menina dos pais.
O quarto onde Kelly estava era silencioso, e pequeno. Tendo apenas a maca onde a garota estava, aparelhos médicos, e uma grande poltrona ao lado da maca.
Com um suspiro, Mariana se senta ali ao lado da criança, se sentindo uma péssima pessoa.
Kelly estava deitada de bruços, suas costas estavam descobertas, revelando a pele macia e gordinha que a garota tinha. Suas costas descobertas estavam besuntadas por algum medicamento que parecia aliviar as marcas de cinto, ou seja lá o que tenha a atingido, algumas bastante vermelhas e outras tão profundas a ponto de parecerem cortes.
Mariana encara aquilo tudo com pesar, em meio ao sono, a garota vira seu rosto em direção a ela, e a modelo abserva aquilo com a garganta seca.
Kelly era tão, mas tão parecida com ela.
Muitas mulheres reclamam de carregarem seus filhos a gestação inteira para no fim parecerem com o pai.
A modelo achava que o fato de ter uma filha que não queria, se parecendo mais com ela, do que ela mesma, uma piada do universo. Ela duvidava que se quisesse a filha, ela teria nascido a sua cara.
Mas ela não quis, e nunca vai querer, e o fato dela ter o seu rosto, só a deixa ainda mais enjoada com a ideia de ter dado a luz para um ser humano que não merecia estar vivo, não para passar as coisas na qual passou.
Seria tão mais fácil se ela se parecesse com o progenitor, talvez, com isso, ela não iria sentir a ligação que sente com uma criança que não queria.
Com um suspiro, ela leva a mão até seu ventre, onde Kelly foi gerada por nove meses. Em momento nenhum da gestação, a mãe amou a filha, tudo o que a modelo conseguia sentir, era um enorme peso que ela precisava se livrar. Mas não adiantava mentir. Ela tentou amar, mas simplesmente, não tinha nascido para ser mãe, ela sabia disso.
-Deus… eu queria tanto, mais tanto, ter abortado você.- Mariana sussurrou, pesarosa, com um tom choroso. Não estava ciente de que a garotinha tinha ouvido, levando aquelas palavras para seus pesadelos.
Kelly não merecia passar pelo que tinha passado, e Mariana se arrependeu amargamente de ter sido a causa de tudo o que aconteceu. Se tivesse abortado quando teve a chance, aquele ser inocente nunca teria imaginado o que era sofrimento.
Mas agora ela sabe, e a modelo queria mais do que tudo que a garota tivesse uma chance de verdade, com uma família de verdade, com pessoas que realmente a quisesse, com quem a amasse, cuidasse e a protegesse de tudo.
E ela sabia que poderia dar isso a garota, em um lugar bem, mas bem distante dela e de qualquer outra pessoa da sua família. Ela iria dar um fim àquele sofrimento que se arrependia amargamente por dar.
Mariana era uma filha da puta.
Mas não era um monstro.
Kelly foi liberada três dias depois daquele acontecimento, nesse meio tempo, Mariana deixou seu advogado cuidando de toda a documentação da guarda da criança, enquanto isso, ela procurou um orfanato no qual fosse capaz de cuidar bem da garota.
A pesquisa foi intensa e ela achou um orfanato na Califórnia que era perfeito em questão de estrutura e educação, o orfanato era só para garotas, e devido ao seu cuidado e zelo, era lotado. Mariana estava praticamente pagando para que Kelly entrasse lá. Mas não se preocupou com isso, devia pelo menos isso para a garota.
E estava tudo bem, até aquele momento, Mariana tinha todo um plano traçado na sua cabeça, e estava confiante de que tudo daria certo, ela estava bem.
Bem, até chegar no hospital para buscar Kelly, e encontrar sua mãe na recepção do hospital, andando de um lado para o outro nervosamente.
Aquela mulher era a última que queria ver naquele momento. Mas como sempre, o universo parecia gostar de brincar com a vida da Torres.
A mulher já idosa, percebe a filha encarando, e com uma expressão aliviada, ela caminha até a outra rapidamente.
-Ainda em que você chegou!- diz com um tom sofredor.
Mariana tem que respirar fundo para não enlouquecer de raiva.
-Não me deixaram ver a Kelly, seu pai foi preso, e tem um advogado tirando a guarda dela da gente.- a mulher citou tudo, ofegante e preocupada.- você tem que fazer alguma coisa!
-Ah! Mais eu estou fazendo!- respondeu em um tom rude, encarando a mãe com raiva.- Estou levando a Kelly para bem longe desse inferno, estou garantindo que aquele abusador de merda passe a vida preso até ir para o inferno de onde saiu, e estou fazendo o possível para que vocês nunca mais tenham nem mesmo a chance de ver ela!
Seu tom rude de escárnio, arranca uma expressão horrorizada da mãe, que franze as sobrancelhas em confusão e indignação.
-O… o que?!- seu tom exasperado sai em um fôlego trêmulo.- como… como você ousa falar assim?! Como pôde fazer isso?!
-Eu é que te pergunto, porra!- Mariana diz, deixando sua mágoa de anos sair de seus poros.- como você pode ficar parada esse tempo todo enquanto seu marido agredia uma criança até ela DESMAIAR de dor, como você pode sentar e assistir ele ABUSANDO de uma criança?!!
-Eu… eu… não assistia…
Mariana bufou com o único comentário de sua mãe. Como se o fato dela não assistir, a isentasse de tudo. Todo aquele cinismo já estava enjoando, a muito tempo.
-Nós só estávamos educando ela, não queríamos que ela se tornasse como você! Uma perdida!- a mulher pareceu se recuperar do choque, tomando a palavra.- Você não foi capaz de cuidar da própria filha, então você não tem direito de nos julgar pelo o que estamos fazendo! Nós somos os pais dela, você não!
Mariana, como pessoa, se julgava ser calma e consciente, sempre preferindo filtrar seus pensamentos e ações durante uma discussão.
Mas naquele momento, não quis controlar, ela nem mesmo pensou em filtrar o pensamento daquela ação, ela simplesmente fez o que queria ter feito a muito tempo.
Em um movimento rápido, ela ergueu sua mão destra, e desferiu um tapa forte que estalou em sua progenitora, que virou o pescoço, cambaleando com o impacto.
-Vocês não são pais de ninguém, vocês são monstros!- Mariana começa, em um tom de voz baixo e ameaçador, como se estivesse louca.
Todo mundo em volta delas, as olhavam como qualquer pessoa olharia uma briga. Mas a modelo não se importava.
-Vocês machucam tudo que tocam, vocês não criam, vocês destroem.- ela continua, encarando a mãe que a olhava em choque, com a mão em seu rosto dolorido.- Sabe porque eu não quis aquela criança? Que eu quis abortar ela? E sabe porque eu sou melhor do que você por isso?
Diante do choque, a mulher não responde, então a modelo continua, com seu tom venenoso.
-Porque, diferente de você, eu reconheço que não nasci para ser mãe, eu reconheço o quanto essa é uma posição em que tudo que você faz vai afetar diretamente uma pessoa, e sei que não sirvo para essa responsabilidade.- diz, apontando o dedo em um tom de ameaça.- por isso, preferia que uma criança não nascesse do que dar uma vida a ela onde ela só conhecesse desprezo e dor!
Mariana não estava falando baixo, agora, todos os olhares estavam voltados para ela e sua mãe, mas ela não se importava, estava guardando isso a muito tempo. E a expressão de choque de sua mãe a alegrava.
-Mas você e seu egocentrismo, essa submissão cega que você tem por um mero homem, esse seu psicopatismo de merda, preferiu fazer uma criança, UMA CRIANÇA, sofrer como sofreu.- ela respira fundo, vendo que estava a um paço de agredir a mulher que, surpreendentemente, ouvia tudo calada.- Você não é mãe, você é um monstro! Você e seu marido são dois monstros! E perceber isso, me fez perceber que meu maior arrependimento na vida não foi ter a Kelly, e sim, dar ela para vocês “criarem”.
A modelo não economizou no escárnio na última palavra, fazendo questão de fazer aspas fortes com o dedo. Ela viu que sua mãe estava prestes a rebater, mas antes disso tomou a palavra novamente.
-Eu não sou um monstro como você, mas acredita que eu estava tão desesperada para me livrar de vocês, que dei minha prole nas mãos de bichos papões?- ela olhou para a mulher que lhe criou, sentindo ódio acima de todos os outros sentimentos, nenhum deles sendo o amor.- eu podia ter feito de uma maneira totalmente diferente… mas eu vou fazer certo agora, e isso quer dizer, você e seu marido trancafiados na cadeia para o resto de sua vida.
Disse por fim, lançando um último olhar para aquela mulher, que derramava lágrimas silenciosas. A modelo se perguntou, antes de se virar para sair, se em algum universo, ela conseguiu sentir outra coisa a não ser desprezo por seus pais. E esperava que não, porque o desprezo, era tudo o que eles mereciam.
Dentro do elevador vazio e silencioso, Mariana se permitiu chorar, derramando lágrimas de exaustão mental, arrependimento, mágoa e ódio. Ela se permitiu derramar essas lágrimas até que o elevador subisse em direção ao andar em que Kelly estava.
E quando as portas se abriram, ela limpou seu rosto, retocando seu batom, ajeitando seu cabelo, saindo do elevador com sua fachada de arrogância.
Ela preferia que Kelly se lembrasse dela assim, ela preferia sentir o ódio da menina futuramente, do que fazê-la sentir esperança de um amor no qual nunca existiu.
Ao chegar no quarto da menina, ela deu de cara com uma enfermeira acabando de vestir a garota chorosa, colocando os sapatos da menina enquanto conversava com ela.
Com o barulho da porta se abrindo, as duas olharam para a porta, a enfermeira sorriu quando viu a modelo ali.
-Viu? Eu disse que a sua mamãe viria.- ela disse para a menina, terminando de amarrar o tênis da garota que acenou chorosa.
Mariana revirou os olhos com isso, ela odiava ser chamada daquilo. Só a palavra “mãe” a arrepiava.
-Desculpe o atraso, tive problemas.- disse por fim, se aproximando da menina.- Vamos?
Kelly assentiu silenciosamente. A garota não esperava acordar com a notícia de que sua mãe viria lhe buscar, pois sabia que a mesma não gostava dela. Mesmo assim, ela estava aliviada por não ser seu avô ali.
A garota se levantou de onde estava sentada, esperando a mãe em silêncio, que conversava com a enfermeira sobre seus remédios.
Perdida em pensamentos, Kelly foi surpreendida por ter sua mão pega de repente por sua mãe, sendo puxada logo em seguida para fora dali.
Kelly tentava acompanhar os passos da mãe, quase correndo no processo. A mulher andava rápido demais para as pernas curtas da menina acompanharem normalmente, e juntava isso ao fato de que suas costas ainda doíam, então era difícil andar sem sentir desconforto.
A menina ficou em silêncio até saírem do hospital, sendo guiada pela mulher, até um carro desconhecido, que a fez ficar nervosa.
Mariana fez a garota sentar no banco de trás, enquanto ia para o lado do motorista, não demorando muito em dar partida no carro. Sim, ele tinha vergonha de admitir que estava louca para se livrar da criança.
-Cadê o vovô e a vovó?- Kelly perguntou, tímida e hesitante.
A modelo suspirou, sem tirar os olhos da estrada. Era pedir demais que Kelly ficasse em silêncio o caminho todo?
-Eles enjoaram de você.- falou por fim, não economizando na dureza de seu tom.
Ela não estava olhando, mas podia sentir Kelly ficando triste, até ouviu um choro baixo. Mas não se arrependeu.
Aquilo era melhor do que a verdade. Kelly era uma garota abusada de várias formas diferentes, embora não pareça ter ideia do abuso sexual, era nojento e enjoante pensar no porque a garota não se lembrava, pensar na garota dormindo e vulnerável a fazia querer vomitar. Mas ela preferia acreditar que era a parte infantil do cérebro da garota a poupando do trauma, casos como esses eram comuns.
De qualquer modo, ela preferia manter essas memórias longe da garota. Fazê-la pensar que os avós enjoaram dela, podia não ser a forma certa, mas era melhor do que dizer o porquê eles estavam sendo presos e processados.
-Você vai para um lugar melhor agora, onde pessoas boas vão cuidar de você.- Mariana diz, em uma tentativa de tranquilizar.
Kelly não respondeu, e a mulher aproveitou o silêncio, deixando a garota sozinha com os pensamentos dela.
A garota sabia que não iria ficar com a mãe, ela não sabia o que aconteceria com ela, e estava triste que não teria mais os avós, ela não tinha esperança de melhorar.
Mas o que uma garota de apenas sete anos pode saber sobre o futuro?
Mariana estava quase chegando ao aeroporto, ela estava se sentindo bem apesar de toda a onda de emoções, ela estava fazendo algo certo na sua vida.
Foi naquele momento, parada em um sinal vermelho, que o celular de Mariana apita, era o agente dela mandando uma mensagem. Uma proposta de um desfile na praia mais popular de Cuba, surgiu para ela.
E foi nesse momento em que nossa linha temporal se fragmentou, dando a Mariana apenas duas escolhas: aceitar, e não aceitar.
No universo que conhecemos, Mariana negou a proposta sem pensar, desligando o celular em seguida, levando a garota ao destino em que conhecemos bem.
Nessa ramificação, Mariana hesita, e olha através do retrovisor, vendo a garota olhar para a janela, seus olhos tristes e distantes. A mulher estava louca para se livrar da criança.
Entretanto, o que são apenas alguns dias?
E foi assim, que a realidade da Kelly que conhecemos mudou drasticamente.
-Vamos precisar fazer uma coisa hoje, você vai ter que ficar comigo por uns dias.- Mariana diz para a garota, que tirou os olhos da janela, para encará-la com seu semblante triste e cansado.
A modelo suspirou, aquela expressão era como um soco. Esses dias seriam uma tortura.
A modelo mudou sua rota do aeroporto para a praia, seu agente já tinha arranjado um quarto no melhor hotel que existia perto da praia, famoso por eventos chiques e receber celebridades.
A uns anos atrás, Kelly com certeza teria ficado animada e contente por ficar com a mãe, mas agora ela já estava grande o suficiente para saber que era bastante desprezada por ela, então, não ficou empolgada com a notícia.
Ao chegarem próximo a praia, Kelly ficou admirada com o mar, tendo em vista que seus avós nunca a levaram para a praia.
Sabendo que a garota não tinha nenhuma roupa de banho, Mariana fez questão de comprar dois maiôs, coloridos, como Kelly gostava. Imaginando que a garota pudesse realmente usá-los no futuro.
Os preparativos do desfile aconteceriam naquele mesmo dia, então, ao chegarem no hotel, a modelo colocou uma roupa casual e confortável o suficiente para conseguir ensaiar o desfile com ela. E pediu para Kelly vestir um dos maiôs que comprou, seu plano era deixar alguém de olho nela na piscina do hotel enquanto trabalhava.
Kelly, pôr outro lado, era nova demais para saber o que era se sentir desconfortável com o próprio corpo, mas ela não gostou de usar um maiô que apertava todo seu corpo, salientando sua barriguinha adoravelmente redonda e infantil, ela queria ser como as outras garotas da sua idade, que ficavam perfeitamente bem com roupas como aquela.
Vendo o desconforto da garota, Mariana sentiu necessidade de confortá-la, pois quando era criança, as saliências de seu corpo realmente a incomodavam. Mas no fim, decidiu que aquele não era seu trabalho, e decidiu que era melhor dar para a criança um roupão leve e refrescante que combinava com seu maiô colorido.
A caminho de onde aconteceria o evento, Mariana andava de mãos dadas com a garota, quem vai de fora, e notava a enorme semelhança entre as duas, viam apenas uma mãe e filha andando juntas. Mas aquilo era apenas o modelo puxando a criança para que ela andasse mais rápido.
Ao chegarem no enorme salão do hotel, ela viu a enorme correria que era para montar um palco redondo e grande a tempo do ensaio do desfile de natal. Ao longe, ela consegue ver seu agente.
Ele era um homem de idade avançada. E embora não aparentasse tanto, ele tinha seus cinquenta e sete anos, viúvo, três filhos e dois netos, uma garotinha de seis e um menino de quatro anos.
Carl, tinha a maioria de seus cabelos grisalho, era parrudo e tinha a voz grossa, lembrava bastante o avô de Kelly, talvez a garota sentisse medo dele por lembrar o seu avô.
Mas o agente estava com roupas casuais e de banho, era meio caminho andado, e Mariana precisava trabalhar.
-Carl!- a modelo chamou o agente, puxando Kelly mais forte, visto que a garota tinha travado ao ver em que direção estava indo.
Ela só esperava que a garota não chorasse e fizesse uma birra ali mesmo.
-Estava te esperando. Juan está chamando todas as modelos para o camarim, seu salto já está te esperando e…- o agente parou de falar, notando a criança a qual a modelo praticamente arrastava com ela.- quem é essa?
Kelly suspirou, querendo se esconder atrás da mãe ao ser citada indiretamente.
-Minha filha.- a modelo respondeu, sentindo um gosto amargo e desgostoso na sua boca após a palavra “filha” sair.
-Não sabia que tinha filha…- Carl olhou da Mariana para a garota, seu olhar atento rapidamente percebeu a semelhança genética entre as duas.
-Bom, agora sabe. Cuide dela para mim, sim?- diz rapidamente, soltando a mão da garota a deixando de frente para o agente, que a olhava espantado.
-O… o que… não pode deixar ela comigo assim!- tentou argumentar com a modelo, mas ela já estava partindo.
-É só ficar com ela na piscina um pouco, é rápido.- a modelo diz, ao longe e sem olhar para trás.
Carl olha estupefato para a mulher que saia sem olhar para trás. É verdade que Mariana não era conhecida por seu emocional, mas largar uma criança daquele jeito…
Sem outra alternativa, ele se vira para a garota, olhando como a menina parecia tímida e com medo.
Ele tinha experiências em lidar com crianças, e sabia que ele podia ser muito assustador à primeira vista, então ele se ajoelhou sobre uma perna, para ficar no mesmo tamanho da criança. O que o deixava mais zangado, foi que não houve ao menos uma apresentação da parte da mãe da garota.
-Qual é o seu nome, querida?- ele perguntou, usando o mesmo tom que usava para seus netos.
-Kelly…- a voz da garota era baixa, ele quase não ouviu enquanto ela ainda se recusava a olhar nos olhos dele.
-O meu nome é Carl…- diz calmamente, olhando para a menina, sem saber o que fazer.
A garota parecia mais medrosa do que tímida, provavelmente não acostumada a estar sob cuidados de homens estranhos. Então ele imaginou que a garota se sentiria mais confortável se eles se conhecessem um pouco.
-Quando anos você tem, Kelly?- seu tom ainda era calmo e baixo, tentando fazer sua voz grossa parecer menos intimidante.
-Tenho sete, senhor.- Kelly volta a murmurar, usando a educação que lhe foi dada.
-Sete? ah… tenho uma neta quase da sua idade, sabia?- sorriu, acolhedor.
-Neta?- a garota parecia curiosa, olhando para ele pela primeira vez, com seus grandes olhos.- você é legal com ela?
Carl engasga, surpreso com aquele tipo de pergunta. Mas não questiona, crianças tinham mania de fazer perguntas estranhas.
-Claro que eu sou legal com ela.- sorriu.- tenho que manter meu título de melhor avó.
A garota sorriu com aquilo, um sorriso pequeno e tímido, mas ainda era um sorriso.
-Você… você vai ser legal comigo também?- ela perguntou, seus olhos o encarando em expectativa.
Ele fica surpreso com essa pergunta também, vendo que ela não estava perguntando por perguntar. Ali tinha coisa, mas ele não encheria uma criança que acabou de conhecer com isso.
-Claro que sim, Kelly.- sorriu novamente, bagunçando os cabelos da garota, que soltou uma risadinha.
-Obrigada.- a garota agradeceu timidamente, embora não parecesse mais amedrontada.
O agente ficou curioso para saber o porquê ela tinha que agradecer por alguém ser legal com ela, visto que era o mínimo. Mas em vez de perguntar, ele se levantou, estendendo a mão para ela, que a segurou lentamente.
-Agora, porque não vamos para a piscina, tenho certeza que vai gostar.
Kelly acenou positivamente, seguindo de mãos dadas o homem que andava calmamente, acompanhando seu ritmo lento.
-Eu não sei nadar.- Kelly confidenciou, começando a se sentir à vontade com o homem.
-Tudo bem, ensinei meu neto ano passado, ele aprendeu rapidinho.- diz erguendo as sobrancelhas para a garota.- você aprende rápido.
Rapidamente, Kelly acena com a cabeça.
-Eu sou muito inteligente.- ela diz, com tanta certeza como diria que o céu era azul e a grama era verde.
Carl sorriu com aquilo, achando adorável.
-Rapidinho vai estar nadando como uma sereia.- diz para a garota, que sorri animada.
Carl não precisava se esforçar para se dar bem com crianças, e aquela ali, era uma criança ótima, ele imaginava como Kelly se daria bem com Hannah, sua neta que tinha quase a mesma idade da garota, as duas pareciam ter uma pouco em comum.
Ela de fato era esperta, aprendeu a como boiar rapidamente, e logo, estava dando mergulhadas longas e profundas.
Kelly aproveitou bastante a piscina, nunca tinha se divertido tanto com alguém.
Mas todo momento bom passa como um sopro.
Logo, a multidão de modelos saiu do hotel para o hall próximo a piscina, o local era privado, bloqueado do restante dos hóspedes do hotel, próprio para participantes do evento de moda que aconteceria no dia seguinte.
Vendo que a mãe da garota já estava livre, Carl tenta tirar a garota da piscina, só para ser recebido com protestos, ele já estava acostumado com esse tipo de birra, então não viu problema em ficar mais um pouco com ela ali. Se ele tivesse uma mãe como Mariana, também não desejaria voltar.
Ao longe, assim que saiu do ensaio para o hall de eventos, conseguiu ver Carl e Kelly em uma piscina, eles pareciam estar se divertindo, então ela não se importou de deixá-los sozinhos mais um pouco.
Ela aproveitaria seu tempo sozinha, já sentindo falta de não ter que se preocupar com a garota.
Mariana estava com um biquíni preto básico, que vestiu depois do ensaio, ela gostava de como aquele biquíni se acomodava entre as curvas que tinha de sobra. E naquele dia quente, à beira da praia, ela decidiu que andar somente daquela forma era o melhor a se fazer, todas as outras modelos pareciam pensar da mesma forma.
Indo para a enorme mesa de comida posta ao ar livre para todos os participantes do evento, ela encontra uma colega, e fica conversando com ela por um tempo, se deliciando com uma deliciosa bebida enquanto dividia uma taça de camarão com a colega de trabalho.
E foi naquele momento que o destino, naquela realidade temporal, tomou seu rumo. Mariana tinha acabado de ser vista, por alguém que nunca teria visto em outra realidade.
Tony Stark não era o maior fã de eventos, todo mundo sabia, mas eventos de moda, em uma praia, era como um bufê, onde várias mulheres, de vários tipos diferentes eram expostas para ele, e ele queria se esbaldar com isso.
Ele tinha acabado de chegar no evento, Happy e Pepper estavam atrás de si, ambos com roupas muito profissionais, diferentes de seu chefe, que trajava uma bermuda de banho e uma camisa florida, combinando perfeitamente com todo o ambiente.
O Stark sustentava um sorriso folgado e postura relaxada quando se voltou para seus funcionários.
-Happy, pelo amor de Deus, vai tirar esse terno.- diz para o segurança, que revira os olhos e se move em direção ao hotel, sabendo que não tinha como discutir com o chefe.
-Quando você disse “evento importante”, achei que seria algo como, militares e governadores querendo saber sobre o novo armamento, Tony!- Pepper diz, extremamente brava para o homem que a encarava inocentemente.- não acredito que você me trouxe para um evento como esse.
-Pepper… Pepper…- ele murmurou, negando com a cabeça, olhando para sua assistente vermelha como uma pimenta.- Pense no lado bom, veja isso como férias pagas! Agora… porque você não tira esses saltos apertados e se veste mais como….
Ele para a fala, seus olhos caindo nos quadris soltos de uma mulher negra e alta, que tinha acabado de passar por ele usando nada mais do que um biquíni minúsculo, verde com estampas florais.
Ele lambe os lábios, quase sentindo a saliva escorrer.
-...Mais como ela.- concluiu, sem tirar os olhos daquela beldade negra, que parecia rebolar a cada passo.
Pepper revira os olhos e bate no Tony com a sua bolsa, o tirando do transe.
-Eu te odeio, sabia.- ela suspira desgostosa, saindo antes que Tony diga algo.
Ela não viu o sorriso que ele tinha lançado para ela. Provavelmente imaginando Pepper usando um biquíni como aquele.
Ele leva seu olhar até a mulher novamente, segundo aqueles quadris com o olhar, até que outra mulher entra em seu quadro de visão.
Ela estava de costas, mas ele reconheceu as curvas que foram capazes de lhe prenderem por mais de uma semana, e ainda deixaram um gosto de saudades.
Mariana tinha sido, para ele, uma daquelas coisas maravilhosas que só acontecem uma vez na vida.
A modelo era… linda… e o sexo com ela era… incrível. Mas era isso, para Tony, a modelo não era cativante, nem apaixonante. A maior parte dos dias que eles passaram juntos foram fodendo, Mariana o usava da mesma forma com que ele usava ela, e foi isso que o traçou com tanta força.
Ele se lembra daqueles dias com um gostinho de saudades. Ele não costumava querer replay de suas fodas, ainda mais das mulheres que vieram até ele grávidas.
A quase oito anos atrás, Mariana veio até ele com a notícia de uma gravidez, aquilo tinha acontecido antes, e o avanço da medicina estava aí para ajudar quando a gravidez é um problema.
Tony sumia das vidas daquelas mulheres na qual ele pediu para abortar.
Entretanto, o acaso fez ele e Mariana estarem no mesmo lugar, no mesmo dia, na mesma hora.
E, caramba, a modelo ainda tinha todas as suas curvas no lugar, Tony só queria deixar suas mãos deslizar por elas novamente. Nada impediria.
A colega de Mariana se despede dela rapidamente após ver um ricaço em potencial.
A modelo sorri com a desculpa da amiga, mas não julga, se não tivesse com uma criança, ela faria o mesmo.
Com um último gole no drink que estava bebendo, ela decide que já era hora de pegar sua filha de seu agente.
Até que uma voz ecoa atrás dela, a puxando de volta para o passado, onde tudo deu errado.
-Mariana, que surpresa te ver aqui!
A modelo parou, rezando para que esse timbre de voz fosse apenas impressão, isso tinha que ser apenas uma pegadinha do universo.
Ela se virou, tendo que ver para acreditar.
-Stark.- concluiu com um suspiro, se sentindo nervosa e culpada de repente.
Seus olhos foram, instintivamente, até a piscina onde tinha visto Kelly pela última vez, à vendo sendo secada por um Carl paciente.
-Surpresa em me ver?- Ele ergueu uma sobrancelha, estendendo os braços como se estivesse se apresentando para um público.
Com um revirar de olhos, a modelo o encarou seriamente.
-O que aconteceu com “melhor nunca mais nos encontrarmos”?- gesticula as aspas, franzindo o cenho para ele.
-Bem…- começa, soltando um de seus sorrisos ladinos.- Eu não te procurei, você não me procurou, mesmo assim nos encontramos, só pode ser um sinal, não?
Mariana bufa com a forma na qual ele diz. Ah, um sinal, um sinal de que o universo odiava ela.
-Foi mal, Stark, estou ocupada, além disso, fiz uma promessa a mim mesma sobre nunca mais sair com assassinos…
-Opa, opa, opa!- ele a cortou rapidamente, bruscamente.- eu não sou um assassino! Quem usa minhas armas da maneira errada é quem é!
-Já ouviu falar que a obra reflete o artista?- ergue as sobrancelhas em desdém, e revira os olhos, sabendo que aquele assunto não levaria a nada.- De qualquer forma, tenho que ir.
Ela se vira para sair, mas para no lugar ao ter seu pulso agarrado pelo Stark. Ela olha para ele, sua sobrancelha franzindo com isso.
-Ei, pra que a pressa?- ele diz, soltando ela com um sorriso ladino, no qual faz a modelo revirar os olhos.- por que não lembramos da última vez que a gente se encontrou?
Mariana bufa e cruza os braços, olhando com desdém.
A última vez que se encontraram, ela teve um filho, então não, obrigada.
-Não, e não se aproxime de novo.- diz, apontando o dedo para o homem que não parecia nem um pouco abalado, com seu sorriso arrogante ainda gritante.
A modelo teve vontade de socar aquele sorriso. Porém antes mesmo que seu cérebro enviasse alguma resposta ao seu corpo. Carl aparece ao seu lado, segurando uma criança sonolenta em seus braços.
-Espero não estar atrapalhando nada.- Carl olhou da modelo para o empresário, franzindo o cenho.
Mariana suspira, se afastando de Tony com os braços cruzados.
-Não atrapalhou, obrigada por olhar ela.- diz com um suspiro, estendendo as mãos para tirar a garota dos braços dele.
Kelly era pesada, e grande demais para ficar em seu colo, então Mariana não hesitou em a colocar no chão assim que foi passada para seus braços, mesmo sobre os protestos sonolentos.
Mariana agradece seu agente novamente, deixando a garota se apoiar em sua coxa.
Enquanto isso, Tony observava a menina boquiaberto, a primeira coisa que Tony notou foi a semelhança entre a modelo e a criança, isso era óbvio. Elas eram mãe e filha.
Um rápido desespero passou pelo seu corpo, sua mente vagando até o momento que Mariana veio até ele a tantos anos atrás.
-Espera! Ela é sua? Quantos anos ela tem?- as perguntas saíram de sua boca sem que ele tivesse controle, sendo tomado por uma pequena onda de desespero.
Mariana tinha acabado de se despedir de Carl, que tinha feito ótimos elogios a Kelly, e agora observava Tony com desdém por fora, e nervosismo por dentro. O que Tony faria se soubesse que aquela garota era sua filha?
A possibilidade de deixar a garota com o pai biológico tinha se passado pela cabeça da modelo, óbvio que sim, mas ele era um fabricador de armas, todo mundo sabia do que ele era capaz, do legado que ele carregava, e ela tinha prometido a si mesmo que daria uma vida melhor para Kelly, com alguém que de fato cuidaria dela. E esse alguém não era Tony.
-Sim, ela é minha, e tem cinco anos.- mentiu na cara dura, Kelly era pequena e estava sonolenta demais para desmentir sua idade. A mentira perfeita.
Acreditando naquilo, Tony suspirou aliviado e sorriu grandemente, com o peso fora de suas costas.
-Bem, ela se parece com você.- sorriu grandemente.
O pai da menina era alguém que não era ele, e ao que tudo indicava, a modelo não estava com aquele cara.
-Eu sei.- ela respondeu rispidamente.- com licença…
Ela tinha se virado para sair, agarrando o braço da Kelly quando Tony a parou novamente, entrando na sua frente.
-Ah, mas não vai me apresentar essa gracinha?- ele sorriu, se agachando para ficar do tamanhos da criança.- como se chama, princesa?
Kelly podia estar sonolenta por suas atividades aquáticas, mas notou quando aquele homem estranho falou com ela. E seu corpo inteiro se enrijeceu com aquilo, suas bochechas esquentaram e ela se agarrou na perna de sua progenitora em busca de conforto.
Tony não ficou chateado com a reação da garota, a maioria das crianças naquela idade tendiam a ser tímidas com estranhos. E também tinha acabado de falar em inglês com uma criança que podia nunca ter saído daquele país.
Ele não costumava ser legal com todas as crianças, mas aquela era realmente fofa aos seus olhos, e ele queria levar a mãe dela para a cama, então… ele coçou a garganta, e tentou novamente.
-¿Cómo te llamas, princesita?- perguntou novamente, com um tom mais amigável.
Diante de sua língua nativa, Kelly se sentiu menos nervosa. Com isso ela leva seu olhar até o rosto sério de sua mãe, instintivamente procurando segurança, mas encontrou ali apenas uma rocha inexpressiva.
Sentindo o nervosismo e insegurança, ela esconde seu rosto, extremamente desconfortável com aquele homem desconhecido tão próximo dela, ainda mais com a mãe não demonstrando nenhuma segurança.
-O nome dela é Kelly.- Mariana respondeu pela garota, com um suspiro impaciente.-E ela fala inglês.
Tony revira os olhos para a mulher e olha novamente para a garota que não parecia a fim de fazer amizade naquele momento. Mas ele não era conhecido por desistir fácil.
-Que nome bonito, Kelly, combina com você.- ele sorriu, usando um sotaque espanhol por ter notado que a garota gostou daquilo.- me chamo Tony Stark.
Diante da apresentação, a garota revela seu rosto novamente, o olhando com os olhos arregalados. Provavelmente ela conhecia seu nome, e ele não segurou seu sorriso exibido.
-Bom, apresentações foram feitas.- Mariana o cortou rapidamente.- Agora, com licença.
Tony revira os olhos novamente, e se levanta, voltando a olhar a modelo.
-Mais você é chata em?- ele cruza os braços, e olha novamente para a criança.- se ela estiver te maltratando, é só piscar duas vezes.
Tony brincou, com seu sorriso fácil. Mas as duas pareciam ter levado a sério demais, com Mariana rangendo os dentes, e Kelly fazendo um biquinho triste, escondendo o rosto de volta.
-Vai se ferrar Stark, e deixe ela em paz.- apontou um dedo acusador para ele, antes de sair com a filha em passos rápidos, sem que Tony pudesse impedir.
Ele ficou olhando as duas partirem por um momento, tentando entender o que tinha falado de errado.
Talvez ele tenha enchido a paciência de Mariana, que já não era longa.
-Figurinha repetida, Tony?
A voz de Happy ecoou atrás dele, provavelmente o segurança tinha notado para onde ele estava olhando tanto.
-Sabe como é…- diz deixando seu olhar deslizar pela última vez na modelo antes de se virar para o segurança.- sabia que ela tem uma filha?
Happy bufou e revirou os olhos.
-Azar o dela, crianças são um saco.- murmurou.
-O que? Não! Crianças são ótimas!- Tony o corrigiu, como se estivesse defendendo animais desabrigados.
-Desde quando?- Happy o mediu com os olhos, franzindo o cenho.
-Desde que a mãe dessa criança seja uma modelo super gostosa.- Concluiu, fazendo com que seu segurança revirasse os olhos.
O dia naquela praia em Cuba foi proveitoso para Tony. Não era só porque ele queria uma modelo que ele não aproveitaria as várias e várias mulheres latinas a sua disposição.
No dia seguinte, ele se sentia disposto, e preparado para ter toda a população feminina de cuba ao seus pés, aquele evento de moda duraria mais alguns dias e ele tinha certeza que nesse meio tempo, faria Mariana mudar de ideia.
Na cabeça dele, o melhor jeito de agradar uma mãe, era agradando a filha. Ele planejava propor uma tarde de sorvete, devia funcionar, não era difícil agradar uma criança.
Saindo de sua suíte no hotel, ele procurou informações sobre a modelo que queria para si.
Recebendo a incrível notícia que ela estava em um ensaio fotográfico na praia.
Ele não tinha muito bem um plano, mas ao ver Kelly sentada sozinha em um quiosque na praia, próximo a onde a mãe tirava as fotos. Imediatamente, ele soube o que fazer.
Devagar ele se aproximou da garota percebendo que ela estava tomando sorvete distraída com o desenho que passava no celular que ela tinha consigo.
-Oi Kelly? Tudo bem?- ele sorriu, se jogando ao lado da menina.
Ele notou que ela o ouviu, mas ela não respondeu, apenas encolheu seu corpo para longe dele.
Tony fez uma pequena careta com aquilo, ele não estava acostumado com pessoas recuando dele, não quando ele era tão amigável.
Mas ele não está desistindo, não tão fácil.
-O que está assistindo, princesita?- perguntou com sotaque espanhol, e sorriu ao ter o olhar desconfiável e inocente da garota sobre si.
-Cyberchase.- a menina respondeu em um tom baixo, como se estivesse falando apenas para não parecer mal educada.
-Que legal, sobre o que esse desenho fala?- perguntou sorridente se inclinando em direção a garota que tinha aberto um pequeno sorriso.
-Fala sobre crianças inteligentes que usam matemática para combater um vilão e…- começa de forma animada, como qualquer outra criança ficaria contando sobre algo que gosta, mas seu tom animado vai morrendo, até que ela volte a sua postura tímida.
Tony observa a garota se remexendo desconfortável em sua cadeira, enquanto brinca com a colher que ela estava tomando seu sorvete praticamente todo derretido.
-Mama disse que não era para eu falar com você.- a criança revelou em um resmungo.- ela disse que você machuca as pessoas.
-Bom, sua mama estava errada.- diz com certeza, bufando com aquilo.
-Não estava não, você vende armas!- Acusou com implicância.- e isso machuca as pessoas, então não posso falar com você.
A garota estava certa, não podia rebater contra isso, bem, ele rebatia para a maioria das pessoas, mas ele não quis discutir assuntos tão sérios com aquela criança. Então ele implicou de volta.
-Se não pode falar comigo, então porque está falando agora?- seu tom beirava o cínico, e ainda por cima, mostrou a língua no final.
Sua intenção foi parecer o mais infantil possível para arrancar mais interações da garota.
Entretanto, a única coisa que conseguiu da criança foi um bico emburrado e um bufo irritado, enquanto ela desviava seu olhar do homem, voltando a olhar seu desenho.
Tony soltou um revirar de olhos para si mesmo ao perceber sua falha.
-Hora, vámonos…- começou em espanhol, tentando chamar a atenção.- e se eu te der outro sorvete, hum?
Sua proposta era tentadora, ele sabia disso, mesmo assim, a menina parecia firme em sua tarefa de ignorá-lo.
-Ah vamos, eu estava brincando.
Ele tenta chamar a atenção dela novamente, mas ela resolve que não quer ficar mais ao lado dele. E se move para sair do banco do quiosque.
-Espera, que tal um brinquedo?- tentou novamente, sua mão grande cobriu o braço da garota a mantendo no lugar.
-Não!- Ela gritou, puxando seu braço de volta com força, tentando sair desesperadamente.
Ele ficou inicialmente surpreso com o gesto, mas olhou aquilo apenas como uma birra da parte dela, diante disso, sua ação natural foi tentar acalmá-la.
As cenas seguintes foram cenas um tanto confusas para as pessoas que olhavam do lado de fora. Onde um homem claramente americano, tentava segurar uma criança claramente latina, que se debatia e protestava em seus braços.
Percebendo que estava chamando a atenção, Tony olha para a garota firmemente.
-Kelly, calma!- diz em um tom baixo e faz um movimento de abraço, tentando confortá-la.
Porém, assim que suas mãos tocam as costas dela, ela solta um grito tão alto que Tony jurou que o ensurdeceria.
O grito da garota foi alto, e seu espanhol forte e nativo gritou para que ele a soltasse enquanto o empurrava com a força do desespero.
Ele observou estupefato quando ela começou a correr chorando, gritando pela mãe em desespero.
Ele consegue ver como a garota se choca contra as pernas da modelo, que nem mesmo a recebe em seus braços. A modelo só olha para ele, cruzando os braços, o olhando mortalmente.
Ele não precisava daquele olhar dela, nem do olhar julgador de quinhentas outras pessoas na praia.
Ele sabia que tinha ido longe demais.
E ao perceber vários paparazzi com câmeras apontadas para si. Ele soube que estava ferrado, muito ferrado.
Em seu quarto de hotel, olhando para uma Pepper nervosa, andando de um lado para o outro enquanto gritava ao telefone com canais de notícias, enquanto Happy estava estático em frente a porta, como se tivesse esperando um ataque surpresa.
Tony se arrependia de todas as escolhas que o levaram até ali.
Várias manchetes sensacionalistas como “Tony Stark assedia criança.” “Fabricante de armas tenta sequestrar uma garotinha.” E muitas outras, estavam estampadas em várias capas de meios de notícias. Pepper tentava resolver aquilo. E até mesmo pedradas em sua porta e janelas já tinha recebido.
E ele culpava apenas a si mesmo por isso. Sua consciência pesando toneladas em sua cabeça por não ter percebido que estava indo longe demais com a garota. A troco de que? Uma noite com uma modelo que já dormiu com ele. Isso parecia tão ridículo naquele momento.
Ao se lembrar do desespero da criança, ele sentia vontade de chorar. Ele queria se bater enquanto pensava o que ele tinha na cabeça quando tentou agarrar uma criança que tinha recebido uma regra explícita da mãe sobre estar proibida de falar com ele porque ele era perigoso. O pior é que com suas atitudes, ele provou que a mãe dela estava certa.
Ele mordeu os lábios sentindo seu coração parar ao pensar em alguém realmente mal intencionado no lugar dele, tentando agarrá-la como ele estava fazendo, enquanto a garota tentava fugir desesperada. Pensar nisso fazia ele sentir o mesmo desespero que ela sentiu com ele.
Agora, Tony só queria enrolar aquela menina em seus braços, a apertar e pedir desculpas um milhão de vezes, para guardá-la em seu coração em seguida.
Ele sentia sentimentos demais em seu peito, coisas que nunca sentiu antes. E ele queria fazer algo sobre aquilo.
À noite, no mesmo dia, suas malas já estavam prontas para irem embora. Happy achava melhor eles saírem o mais rápido possível, por segurança. Pepper ainda estava zangada com ele, ela quase o bateu quando ele contou que aquela confusão toda era só para transar com uma modelo.
Ele não precisava de ninguém para apontar seu erro, ele sabia o erro que tinha cometido. E estava disposto a consertar isso, ou pelo menos, melhorar aquela situação.
Ele estava determinado a se desculpar, mesmo com os conselhos de Pepper, de que seria melhor não chegar mais perto da criança. Mas era tarde demais para a sua cabeça dura, ele já tinha descido.
Ele soube que naquela noite, Mariana teria um ensaio de fotos em uma área privada do hotel, ele planejou ir até ela e pedir desculpas pelo que fez para a filha dela antes de viajar de volta para Malibu.
Com isso, ele comprou um enorme buquê de rosas brancas e vermelhas para dar à modelo, como símbolo de paz. E também, fez questão de comprar uma sacola enorme de várias pelúcias diferentes e coloridas para dar para a menina. Ele não sabia o porquê dessa enorme urgência que sentia, mas queria muito ser perdoado pela garota.
No fim, não foi difícil achar e entrar na área privada, ele podia estar em todos os noticiários, mas ainda era Tony Stark, e nenhuma porta estava fechada para ele.
O local a ser fotografado estava cheio de decorações de natal, mais do que todos os outros lugares do prédio. Alguns modelos estavam espalhados usando roupas características da época natalina enquanto eram fotografados.
Olhando ao redor, ele percebeu Mariana, que estava longe, em uma sala montada de espelhos e vidro, com ventiladores enormes no teto que soprava isopor, dando a impressão de nevasca.
Ele já tinha deixado a modelo com bastante raiva mais cedo, não iria interromper seu trabalho para piorar ainda mais as coisas.
Por sorte, ele acabou notando Kelly sozinha em um canto, sentada no chão, de frente a uma mesinha de centro que apoiava seus lápis e caderno de colorir.
Seu coração doeu ao lembrar do que ele fez com a menina, e sentiu a culpa pesar a cada passo que dava em direção a criança, que estava alheia a sua presença enquanto pintava.
Ele se sentou silenciosamente perto dela, no sofá mais próximo a mesinha de centro. Kelly nota a presença dele, e o olha. Notando que era ele, a postura dela ficou um pouco mais fechada, e rapidamente desviou o olhar.
Com um suspiro, ele coça a nuca, e resolve que tinha que livrar seus ombros da culpa rapidamente.
-Kelly… você não precisa falar comigo, ok?- começou calmamente, a garota prestou atenção, ele notou.- eu só quero me desculpar com você, tudo bem?
A garota para de desenhar no mesmo instante, e o olha com uma expressão surpresa e curiosa ao mesmo tempo, ele sorri para o olhar dela.
-Eu não devia ter te agarrado daquele jeito, e lamento muito por ter te machucado de qualquer forma. Você me desculpa?
Ele percebeu os olhos da menina brilharem, e suas sobrancelhas arquearam.
-Desculpa?- a menina repetiu a palavra, como se não tivesse entendido direito.
-Sim, você me desculpa?- confirmou, usando um sorriso fofo, como qualquer adulto sorriria para uma criança fofa.
Kelly, ainda surpresa, abriu um sorriso alegre, ficando levemente corada.
-Sim, eu te desculpo!- sorriu, como se aquilo fosse uma ótima notícia.
Ele recebeu aquela fala como um cobertor quente que o protegeria do frio. Ele sorriu, o peso de seus ombros evaporava à medida em que ele observava o sorriso e olhos brilhantes da criança.
-Bem, obrigada, princesita.- diz se sentindo aliviado, leve e feliz.
A garota o olhou, como se ele fosse um herói, e sorriu grandemente, acenando para o seu agradecimento.
Tony se sentia maravilhosamente bem com aquilo, ele não era um herói, mas teve vontade de virar um apenas para receber mais olhares como aquele. Para se sentir um herói novamente, um herói para Kelly.
Pensando na garota com tanto carinho como agora, ele se lembra do presente que trouxe para ela.
-A propósito, eu trouxe algo para você.- sorriu estendendo o saco de presentes para ela.
Kelly parecia tímida olhando para aquilo, com dúvida se realmente aceitava ou não, aquele saco de brinquedos tentadores.
-Pense nisso como um presente de natal adiantado.- Sorriu ladino ao perceber que aquilo convenceu totalmente Kelly.
Com um aceno positivo e um agradecimento animado, ela aceita o presente sorridente, nunca tendo recebido um na vida. Naquele momento, com o pedido de desculpas e com o presente, ela se sentiu especial, pela primeira vez em seus curtos anos de vida.
Ela abriu aquele saco de presentes com animação, seus olhos brilharam e seu sorriso se alargou ao ver vários bichinhos de pelúcias ali, sem conseguir controlar sua emoção de felicidade, ela agradeceu Tony novamente gritando animada enquanto tirava os vários animais do saco.
O Stark riu e sorriu com a animação da criança, ele nem considerava aquele um de seus melhores presentes, mas a animação da menina trazia uma felicidade e satisfação que ele nunca sentiu por dar algo a alguém antes. Naquele momento, ele queria dar o mundo para ela.
Ele a observou atentamente enquanto a garota tirava as pelúcias, sorrindo encantada para cada animalzinho que encontrava. Um urso rosa, um marrom e outro azul, uma girafa, um elefante, um coelho… ela tirou cada um do saco, encantada por eles, porém era como se procurasse algo, até que as pelúcias acabaram, e um leve biquinho foi formado em seus lábios.
-Não gostou?- Tony perguntou um pouco aflito vendo aquilo, querendo consertar seja lá o que estivesse errado.
Entretanto, sua pergunta foi negada veemente por Kelly, que colocou seu enorme sorriso de volta aos lábios, dizendo como tinha gostado, até que seu sorriso sumiu novamente, como se tivesse se lembrado de algo ruim.
-Eu não tenho nenhum presente para você…- Kelly diz tristemente, desviando o olhar, parecendo envergonhada.
-Oh! Não, não, não se preocupe com isso, princesita!- protesta com a voz acelerada, querendo trazer o bom humor de volta para a menina.- Eu não quero presentes, além disso, já tenho de tudo, eu sou a última coisa na qual você precisa se preocupar.
Para o alívio do Stark, a expressão da garota não era mais triste, porém, agora era um tanto confusa.
-Mas todo mundo quer alguma coisa, deve ter algo que você ainda não tem.- disse em expectativa, como se estivesse realmente interessada na resposta.
Ele fez um som pensativo, coçando seu cavanhaque, mas não estava pensando realmente naquilo. Tudo que ele queria, ele tinha, e não cabia a ele preocupar uma criança com isso.
-Bem, assim que eu pensar em algo, eu te digo.
Aquela resposta simples pareceu distrair a menina de sua pergunta, sendo sua mente inocente facilmente distraível. Ela apenas concordou dando de ombros, e se moveu para guardar as pelúcias que tinha espalhado, deixando apenas o coelho de fora, o usando para abraçar enquanto voltava a pintar seu caderno de desenhos.
A mente adulta e experiênte de Tony, também se mostrou bastante, distraível naquele momento, onde ele observava cada ação da garota com atenção e admiração. Ele não sabia o porquê disso, mas naquele momento, enquanto a olhava desenhando tão tranquilamente, ele esqueceu do motivo que o levou ali, se esqueceu de Meriana, e até de seu jatinho que o esperava. Só Kelly importava.
E importava tanto que ele chegou a se assustar.
Ele nunca sentiu isso com ninguém, e não sabia o porquê estava sentindo agora.
-Senhor Stark, posso te fazer uma pergunta.-
O tom de Kelly chamou sua atenção, o que o fez espantar aqueles pensamentos intrusivos, a olhando enquanto ela ainda desenhava distraída.
-Claro.- concordou, sem pensar muito.
-É verdade que você criou uma uma arma que é capaz de paralisar uma pessoa através do som? Que tipo de elemento físico você usou?
-Eu…- Tony engasga, embasbacado.
Ele não estava esperando essa pergunta, até porque, aquele tipo de pergunta estava totalmente fora de cogitação para uma criança, afinal, crianças fazem perguntas bobas e sem sentido, elas não perguntam sobre armas.
-Eu…- murmurou, não gostando de ter aquele tipo de assunto, se sentindo incomodado, pela primeira vez, em ser um fabricante de armas, então ele apenas desviou das perguntas.- você não é muito nova para perguntar essas coisas?
-Não!- negou como se aquilo estivesse a ofendido seriamente.- eu tenho quase sete anos e meio, e ainda pulei um ano da escola. Sou grandinha e inteligente!
-Co… como?- seu timbre tremeu, e ele engasgou com a notícia que tinha acabado de receber.
Kelly franziu as sobrancelhas confusa, ela se lembrava de ter ouvido sua mãe contar sobre sua idade em algum momento, então presumiu que ele estivesse perguntando sobre ela ter pulado uma série.
-Sou muito inteligente, aprendi a ler com um ano, sabia? Vovô não gostava muito quando eu dizia coisas inteligentes, mas vovó achava bom e me colocou em uma escola boa…- Kelly começa, contando sobre como conseguiu a proeza de pular de série com seu cérebro incrível.
Mas Tony não ouviu, sua mente o levou fundo para lembranças e sensações.
Mariana mentiu para ele, Kelly não tinha a idade que ele achava. E seu coração se bombardeou com emoções conflitantes. Sobre mais o que ela estaria mentindo?
A idade da Kelly, a inteligência dela, a ponta do nariz dela, e até mesmo a droga da conexão inexplicável que ele sentiu para com ela. Tudo isso, era a porra de um sinal, um sinal óbvio que ele via com clareza agora.
Um bolo de nervosismo se formou em sua garganta, ele era esperto, o homem mais inteligente da terra, ele soube, droga, agora ele sabia, mesmo assim, ele queria uma confirmação, um motivo, e uma explicação.
-Já vai embora?
Ele nem tinha percebido que tinha se levantado do sofá, até “acordar” com um tom tristonho direcionado para si.
Ele olha para a criança ainda sentada na mesma posição, ela o olhava com seus olhos brilhantes, o que causava ainda mais peso em sua mente e coração, o fazendo sentir coisas que nunca sentiu, e uma delas, foi amor e carinho imensuráveis.
Sorrindo, não querendo abalar a criança que era completamente inocente e alheia ao que se passava em sua mente, ele se abaixou, ficando na altura dela.
-Vou falar com sua mãe rapidinho.- diz, desviando o olhar para o desenho que ela estava pintando, sem ser capaz de sustentar o olhar nela.- porque não pinta um desenho bem bonito para quando eu voltar?
Ele iria voltar? Não pergunte isso a ele.
-Tá bom! Prometo!- sorriu animada, virando as folhas de seu caderno, como se procurasse algo perfeito.
Tony sentiu um enorme carinho tomando conta de si.
Sim, ele iria voltar.
E com isso, ele não teve controle quando sua mão se ergueu, trêmula, e foi em direção aos fios de cabelo de Kelly, acariciando os fios macios com o mesmo cuidado que usaria para segurar porcelana frágil.
O momento pareceu parar, a garota não pareceu incomodada com o toque, mas Tony… esse foi atingido por uma enxurrada de emoções. Era tarde demais para ele, em seu coração, Kelly já era dele.
Com isso em mente ele se levanta, sorrindo para a garota uma última vez antes de se levantar e se virar para o caminho que o levaria até a mulher que lhe roubou anos que ele nem sabia que queria viver.
Ele praticamente arromba a porta daquele estúdio improvisado, atraindo a atenção da modelo e do fotógrafo.
-Sai.- olhou fixamente para o fotógrafo, e não precisou repetir quando o homem passou por ele correndo.
Mariana encara o Stark, cruzando os braços. Ela sabia o que ele queria, sua expressão dizia aquilo. Ele era inteligente, logo perceberia, ela sabia que sim. Era uma pena que seus esforços para manter os dois longe um do outro tenha falhado.
-Ela é minha filha?!- Tony perguntou com seu tom aflito. Ninguém saberia dizer se ele estava esperando uma resposta negativa ou positiva.- responde Mariana! Ela é minha filha?!
A mulher fechou os olhos, precisando a ponta do nariz com raiva, ela já estava cheia de toda aquela situação.
-Sim, ela é sua filha.- confirmou, com um grunhido raivoso por sentir todo julgamento vindo dele.- a mesma filha na qual você se ofereceu para pagar o aborto, assim como fez com tanta outras mulheres antes e depois de mim! Qual é a diferença, Tony?!
Ele soltou o ar incomodado, zangado e indignado com a pergunta.
-A diferença é que ela nasceu, Mariana!- gritou, gesticulando com raiva.- um feto não tem sentimentos! não tem vida! não tem sonhos! Ele é só a porra de algo que existe e que logo viria a viver nesse mundo de merda! Nunca obriguei nenhuma das mulheres a abortar, e não pense que sou a porra de um maníaco que sai por aí engravidando mulheres para fazê-las abortar, porra! Todas as outras vezes foram acidente, caralho! Você sabe disso!
Tony gritou com raiva, andando em círculos, passando a mão sobre seus fios, quase os puxando.
Mariana bufou, esfregando seu rosto, sem se importar com a maquiagem, sentindo todo o nervosismo que o rodeava. Ela está odiando passar por aquilo, mas sabia que merecia.
-Sua mentirosa, você disse que ia abortar! Por que levou essa gravidez até o fim? Porque não falou nada para mim? Não acha que eu merecia saber que eu tinha uma prole minha vivendo por aí?!
A modelo o olhou, com raiva e mágoa nos olhos, ela tinha várias respostas para aquela pergunta, ela iria respondê-las, porque ele merecia saber, e sinceramente, esperava que depois disso, algum tipo de droga de milagre de natal acontecesse com toda aquela situação.
-Eu também não queria essa gravidez, tá legal?!- ela explodiu com raiva.- eu não queria ser mãe! Eu não queria estar passando por tudo isso, eu odeio ela, odeio ser mãe! Odeio a minha vida! Eu só queria paz, porra, eu só queria paz!!
Mariana percebeu que começou a chorar em meio aos seus gritos de desabafo, presos a muito tempo, mas ela não se importou.
Tony a olhou perplexo pelas falas que saiam de sua boca, se acalmando de alguma forma ao ver que a modelo estava mais brava do que ele.
-Meus pais abusaram de mim a minha infância toda…- explicou, secando as lágrimas com força.- eu fui embora cedo de casa, mas eles nunca pararam de encher meu saco, mas então, quando descobriram minha gravidez, eles quiserem uma segunda chance com ela, e então eu entreguei ela para eles em troca de que eles me deixassem em paz… sim eu sei, eu sou uma filha da puta.
O Stark engasgou com a informação que recebeu, medo e indignação se espalhando dentro dele rapidamente. Ele não tinha nenhuma moral para chamar alguém de filho da puta, mas concordava que Mariana tinha sido uma.
-Você… você é louca?!- seu desespero era quase palpável.- Não passou pela sua cabeça que eles podiam fazer com ela o mesmo que fizeram com você?!
A modelo riu, uma risada embargada e alta de puro escárnio.
-Eu não queria a criança, Tony, você não sabe como foi fácil trocar ela por um pouco de paz, você já sentiu esse desespero, Stark?- ela fez a pergunta, porém não o deixou responder.- eu fui uma tremenda filha da puta, mas eu não sou um monstro, eu não sou como meus pais.- murmurou a última parte, fungando um choro triste.
-O que você quer dizer com isso? Mariana, eles…- Tony gaguejou, não querendo acreditar nas imagens que sua mente criava.
-Eles eram péssimos para ela, péssimos, eu… eu sabia disso… de toda negligência, agressões verbais, agressões físicas, mas… mais eu tentei ignorar imaginando que aquilo a faria forte, assim como me fez… até que…- ela para, abraçando seu próprio corpo, não segurando novas lágrimas que insistiram em cair.
-Até que, o que? O que aconteceu, Mariana?!- a ansiedade martelava seu peito, reação essa que piorou com as lágrimas da mulher.
-Ela apanhava muito, Tony, mas dessa vez quase, ele quase a matou, ela passou um tempo internada, as costas dela ainda estão muito machucadas…- ala observa como o Stark leva a mão até seu peito, como se seu coração estivesse parando diante dessa informação. Ela o entendia, e queria o preparar para o que ela diria a seguir, mas isso era impossível. Então ela apenas fechou os olhos e suspirou, preparando a si mesma para dizer.- ela foi estuprada, relatórios médicos disseram que não era uma coisa recente.
A modelo diz em um tom de voz tão frio, que surpreendeu ela mesma. Se diferenciando de Tony, que soltou o ar com uma expressão de puro choque, tendo que apoiar suas próprias mãos nos seus joelhos por sentir suas pernas bambas, naquele momento, ele poderia desmaiar.
Kelly era apenas uma criança, uma criança tão pequena e indefesa.
Tony sentiu vontade de vomitar, vontade de chorar, vontade de gritar. Porra, ele queria matar alguém.
-Ela sofreu muito Tony, eu não podia mais deixar aquela situação continuar, mas também não podia ficar com ela, eu não a amo, e ela merece amor.- Mariana diz em um tom baixo, secando suas lágrimas.- por isso, estou a levando para um orfanato, onde ela realmente vai receber tudo o que precisa.
Com suas últimas palavras, Tony sai de seu doloroso transe, voltando a encarar a mulher com horror.
-Você vai mandar ela para um orfanato depois de tudo o que ela passou?!- seu tom era alto e indignado, porém Mariana o corta antes que ele lhe envie um discurso cheio de rancor.
-Estou a mandando para um orfanato, justamente por tudo o que ela passou!- profere, gesticulando com raiva.- eu não vou devolver ela para aqueles monstros, eu também não vou amar uma coisa que nunca quis! E com certeza não vou entregar ela para um homem como você!
-Mas eu sou o pai dela!
-Você é um fabricante de armas, isso sim! Você machuca as pessoas, você vive em um campo de guerra, e sejamos sinceros, Tony, você acha que realmente seria um bom pai?
A pergunta da mulher o pegou de surpresa, atingindo seu coração como uma facada, porque a resposta dessa pergunta era óbvia. Ele não seria um bom pai.
Ele sempre pensou que gostaria de ser alguém diferente de seu pai, mas o fruto nunca cai longe da árvore. E ele tinha que admitir que, se soubesse da filha antes, ele não teria se esforçado para a conhecer, seria o tipo de pai ausente, que lhe envia uma pensão gorda e manda a secretária escolher um presente para dar para a filha em datas festivas.
Se ele soubesse de Kelly antes, pouca coisa mudaria, e isso o enchia de vergonha.
-Mas…- perdido em seus pensamentos conflitantes e desanimadores, ele tenta pensar em algo, mas a única coisa que consegue é pensar no que fez e no que poderia ter feito, ele queria poder voltar no tempo agora.- Mas eu merecia saber.
A modelo soltou um bufo sarcástico, o olhando com reiva, e pressionou a temporada, cansada de todo aquele estresse.
-Agora você sabe, vai fazer o que?
Na realidade em que conhecemos, mais especificamente no terceiro capítulo, Mariana faz uma pergunta parecida ao Tony, através de uma ligação nada esclarecedora .
Naquela realidade, o Stark não soube como responder, tendo o peso de uma notícia de uma filha adolescente em um orfanato, pesando em seus ombros.
Porém, nessa linha temporal, Tony tinha o peso de uma filha ainda criança, e abusada, em seus ombros.
Para Tony, isso fazia toda aquela situação ser mais urgente, muito mais urgente. Com isso ele teve uma resposta para a geradora de sua filha.
Ele não soube antes, logo, ele não iria ignorar a criança. Ele sabia agora, e agora, ele faria o que tinha que fazer.
-Eu vou ser um bom pai.- respondeu com a mesma convicção que usaria para dizer que o céu era azul. Ele se esforçaria ao máximo, ele faria de tudo para cuidar bem de sua filha. E o sol brilhava.
Vendo a convicção, a certeza, e a vontade do Stark, a modelo não resiste, não mais. Ela tinha prometido a si mesma, achar o lar que Kelly merecia, e agora, ele estava ali, na frente dela.
Seus ombros caíram, saindo da defensiva, um leve sorriso surgiu em seus lábios.
-Então vai.- orientou, apontando para a porta do estúdio improvisado.- nada vai te impedir.
Nada iria impedir ele, e mesmo que impedisse, ele é Tony Stark, isso por si só já é auto explicativo.
Encarando a modelo pela última vez, com seus olhos convictos, e se vira para a saída, marchando de volta para onde Kelly, sua filha, estava.
A garota parecia alheia a tudo, e ao vê-la tão pequena e inocente, ele quase, quase, fraqueja. Mas aquela era sua filha, afinal, ela precisava dele, então ele estaria lá.
-Hola pequeña, voltei.- murmurou em um tom baixo e carinhoso, se abaixando para ficar na altura dela.
Ele ainda não sabia o que falar, ou como iniciar aquele assunto em si, ainda mais quando ela a olhou com seus lindos e brilhantes olhos inocentes.
Até que ela desviou o olhar, olhando para alguém que estava ao seu lado.
Mariana estava lá, e diferente de Tony, ela não tinha nenhuma dúvida ou receio sobre palavras.
-Kelly…- a mulher começou, olhando para Tony rapidamente, como se fosse para ter certeza de que ele ainda estava nessa, e não iria fugir.- Lembra quando eu te disse que te levaria para um lugar melhor?
Kelly acena positivamente para a pergunta, encarando a mulher e o homem com uma expressão confusa.
-Então…- Mariana se abaixou ao lado de Tony, encarando a menina com um carinho no qual nunca sentiria de verdade, mas Tony… esse sim a encarava com o carinho que a garota merecia. Ela estava fazendo a escolha certa.- esse lugar acabou de chegar até você…
-Kelly… eu sou seu pai.- Tony concluiu, sorrindo e se sentindo leve com a declaração, mesmo assim, nervoso com o modo no qual a garota poderia reagir.
-Pai?- a garota murmurou, franzindo o cenho em confusão e outros sentimentos indecifráveis para uma criança da idade dela.- O… o que?
Tony abre e fecha a boca, sem saber como reagir a enxurrada de emoções, ele queria dar tempo a menina.
Mas Mariana não.
-Sei que é difícil para você processar isso, mas você precisa ir com ele agora.- falou se pondo de pé novamente, com sua postura fechada.
Tony a olhou com raiva, percebendo naquele momento como ela não fazia nenhuma questão de esconder que não a queria em sua vida. Isso o deixou possesso, e com ainda mais vontade de tirá-la dali.
-Sei que você está confusa agora, mas prometo responder todas as suas perguntas.- sorriu, tocando nos ombros da garota carinhosamente e secou a pequena lágrima que caiu dos olhos dela. Ele se sentia culpado por estar despertando todos os sentimentos no qual uma menina da idade dela não tinha que lidar.
Kelly, porém, teve seus sentimentos acalentados pelas ações daquele que era seu pai. Ninguém nunca tinha secado suas lágrimas antes, e a tocado com tanto carinho, para a mente pequena, porém brilhante, aquilo era uma resposta para todas as suas perguntas amendontradas.
-Você vai me maltratar?- Questionou, apenas para confirmar, com seu tom um tanto choroso.
Tony sorriu tristemente, e fez questão de acariciar o rosto dela, o mais delicadamente possível. Era uma pena que essa pergunta tivesse que ser essencial para ela, ele lamentava muito isso, infelizmente não podia mudar aquele passado, mas podia, e faria, um futuro melhor para ela.
-Kelly, escute. Eu fiz, faço, e vou fazer, muitas, muitas coisas na minha vida, mas acredite em mim que nunca, nunca vou maltratar você.
Ela soluça, olhando com admiração, nunca tinha ouvido uma verdade tão verdadeira saindo da boca de um adulto antes.
-Promete?- fungou, estendendo seu dedo mindinho para ele.
Tony sorriu carinhosamente, e estendeu seu dedo também, o entrelaçando com o dela.
-Eu prometo…
Mal terminou de falar, e seu corpo foi atingido por um abraço forte e uma menina visivelmente emocionada. Sua mente nem teve que mandar o comando para seu corpo reagir, ele a abraçou de volta, tomando cuidado com as costas dela agora que sabia que a machucava, mas ainda sim foi o melhor abraço de sua vida.
Ele não resistiu em apertá-la um pouco contra ele, respirando fundo o cheiro dela, sentindo uma vontade imensa de apertá-la contra ele até que ela entrasse em seu coração para nunca mais ser machucada. Uma pequena lágrima saiu dos olhos do Stark e ele sorriu em meio a todas as emoções.
Ele estava a amando, e iria amar, até o último dia de sua vida.
Ainda em meio ao abraço, ele sentiu a garota escondendo o rosto dela em seu pescoço e ele se sentiu à vontade para segurar o quadril dela, a levantando em seu colo junto com ele. Ela era grande demais para ficar no colo e um tanto pesada, mas ele não se importou.
-Vamos para casa, princesita, vou cuidar de você.- Tony murmurou sorridente, deixando um beijinho na têmpora da filha.
Ele tinha uma filha. Porra, soltem os fogos!
Sorridente, e se sentiu grandemente feliz, com a esmagadora felicidade de fazer o certo e de amar alguém, ele se prepara para ir embora.
Ele equilibra a Kelly em um braço, se inclina pegando o saco de pelúcias que tinha dado para a garota e o segura atrás de seus ombros.
Com isso, ele começa a andar em direção a saída, ignorando todos os olhares perplexos que recebia. Até que se lembra de algo, e para, se virando de volta, encarando Mariana que os observava.
Naquele meio tempo em que ele se afastou com a filha, a modelo parecia até bem mais jovem, como se anos de cansaço e preocupação tivessem saído de suas costas.
Bem, o fardo dela, era um presente para ele, então ele tinha que a agradecer.
-Meus advogados vão entrar em contato.- o Stark diz, e isso a fez sorrir.
-Obrigada.- diz, como se fosse ele que estivesse lhe dando o melhor presente do mundo.
Mariana era filha da puta, mas tinha acabado de fazer uma coisa certa em sua vida, ela tinha conseguido.
Com um breve aceno, Tony se vira novamente, marchando em direção a saída, sem olhar para trás novamente.
Por trás de seus ombros, Kelly, que estava bem acomodada no colo do pai, e olha para a mulher, que já a encarava.
A garota sabia que a mãe não gostava dela, e sabia que esse devia estar sendo um ótimo momento para ela, mas a garota não estava triste nem zangada com a modelo, afinal, estava sendo um bom momento para ela também.
Com um sorriso pequeno, sabendo que dificilmente a veria novamente, Kelly acena um tchauzinho, recebendo outro em troca antes que seu pai vire um corredor, os fazendo sumir de cena.
-Que merda acabou de acontecer?- Carl aparece do lado de Mariana, perplexo.
Ela teve vontade de rir, mas apenas o olhou, sentindo uma paz e felicidade que nunca sentiu antes.
-Isso foi o destino se cumprindo, e me livrando de uma boa dor de cabeça.- respondeu por fim, dando dois tapinhas no ombro do agente.
Tony recebeu vários olhares estranhos quando se movia no hotel com a garota nos braços, mas não se importou, ninguém era louco de tentar pará-lo.
Ao chegar no terraço, onde seu jatinho os esperava, ele foi atingido pelo vento frio da noite, e por uma sensação deliciosa de paz.
Era engraçado pensar como tinha viajado até lá para pegar mulher, e estava saindo com uma filha. Enfim, o universo e seus presentes.
Ele sentiu sua filha tirando a cabeça de seu ombro, encarando a aeronave dele com admiração.
-Gostou?- Tony perguntou, com orgulho, sorrindo grandemente quando ela acena positivamente.- já andou em um avião? É praticamente igual.
-Nunca andei de avião, é assustador?- indagou, fazendo um leve biquinho.
-Não é, e se for pra você, eu seguro sua mão.- sorriu, deixando um beijinho de esquimó no nariz dela, que riu e voltou a deitar sua cabeça no seu ombro.
Sorridente, ele continua a se aproximar do jatinho, até poder encontrar Pepper e Happy, ambos impacientes enquanto o esperava.
-E aí gente?- diz para chamar a atenção, nem mesmo o mau humor de Pepper quebraria sua felicidade.
-Tony! Que demora! O que…- a ruiva parou de falar percebendo a criança nos braços dele.
Ele sorriu, jogando o saco de pelúcias para Happy, que também o encarava estático.
-Gente, quero apresentar minha filha para vocês! Essa é a Kelly, e Kelly, esses são Pepper, e Happy.- pronunciou com orgulho sorrindo para a cara dos dois, eles estavam impagáveis.
Kelly ficou tímida com aquilo, Tony tinha os apresentado, mas os dois adultos não fizeram nenhum movimento para a cumprimentar, então ela se sentiu pequena, se encolhendo e voltando a esconder a cabeça no ombro do pai.
-Ah, qual é, gente!- Protestou para os outros dois, que ainda não sabiam como reagir. E sorriu, acariciando levemente as costas da filha.- não se preocupe, princesita, eles vão ser demitidos, ok?
O tom brincalhão de Tony era óbvio, mas a garota estava tímida demais para sequer levar os olhos até ele, ela apenas intensificou seu aperto.
-Tony, você está brincando, né?- Pepper soou, em um tom baixo, como se não fosse para a garota o ouvir.
-Claro que estou, não vou demitir você, sei que não gosta de procurar emprego.- sorriu e piscou, se movendo para entrar no jatinho, se inclinando em direção ao ouvido dela assim que passa por ela.- depois explico.
Tony sussurrou com um tom pesado e urgente, deixando claro que aquela situação tinha muito mais história do que aparentava. Ao terminar de entrar no jatinho, ele pode ouvir Pepper e Happy sussurrando. Eles teriam muito o que conversar.
O Stark escolheu um lugar no fundo da aeronave, seu plano era colocar a garota sentada ao lado dele, e no lado da janela, mas assim que ele se sentou e tentou tirar a garota de seu colo, ela apenas se agarrou a ele como um bicho preguiça.
-Não?- ele tentou novamente, apenas para receber um aceno negativo em troca.- ok…- murmurou, se mudando para o assento do lado da janela.
Se acomodando em uma posição confortável com a garota em seu colo. Ele jogou a cabeça para trás, começando a balançar uma de suas pernas para tentar relaxar a garota.
Ele se sentiu bem ali, até agora estava indo tudo muito bem, ele sabia que ainda era cedo para comemorar, mas ele descobriu que tinha tudo o que mais queria ali, e tudo aquilo está sendo maravilhoso.
-Papi, pra onde vamos?
A voz da menina chama a atenção dele, fazendo sua mente parar por um instante ao perceber do que foi chamado.
-Papi?- ele repetiu a palavra em um tom de surpresa.
Seu tom, no entanto, pareceu um pouco mais alto do que o normal, o que fez a garota levantar o rosto de seu ombro um pouco alarmada.
-Desculpa, desculpa…- um som choroso saiu de seus lábios.- prometo só falar inglês agora.
-Oh! Não querida, de jeito nenhum.- ele se alarma também, louco para tirar qualquer que seja o pensamento pessimista que sua filha esteja pensando.- eu não me importo, pode falar qualquer língua comigo, ok? Eu te chamo de princesita, e você pode me chamar de papi, o que acha?
Kelly voltou a se acalmar, o olhando ainda desconfiada, mas acenou positivamente.
Tony sorriu, passando tranquilidade para a filha, acariciando os fios de cabelo perto de sua orelha. Por fora ele estava calmo e passível. Por dentro ele estava estourando de alegria.
Ela tinha o chamado de pai, eles se conheciam a poucas horas, e tinham descoberto sua parentalidade a poucos minutos, mas o fato de ter conseguido deixar a garota confortável o suficiente para ser chamado de pai, na língua materna dela, o que tornava tudo mais especial, era incrível.
Ele sabia que o padrão de carinho dela estava baixo, e ele não precisou se esforçar muito, mas logo isso mudaria, e tê-la lhe chamando daquela forma era uma ótima maneira de fortalecer os vínculos.
-Vamos para casa, amorcito.- diz, fazendo questão do sotaque espanhol.
A menina sorriu, acenou e voltou a relaxar.
Ele era pai dela. E Kelly era dele, filha dele, tesouro dele, o melhor presente que tinha recebido na vida.
-Ei… lembra quando eu te disse que te diria quando eu pensasse em um presente?- perguntou suavemente, recebendo um aceno positivo em resposta.- eu já sei o que quero.
-Mesmo?- ela o encarou, curiosa.
-Sim…- sorriu, deixando um beijo na testa dela.- eu quero ser o melhor pai que existe para você, Kelly, esse seria o melhor presente da minha vida, promete que vai me ensinar a ser um bom pai para você?
Os olhos da garota brilham visivelmente emocionados. Aquelas emoções, aquelas palavras, aquelas ações, ela nunca recebeu tanto amor e carinho antes.
Kelly não acreditava em magia de natal, mas com certeza, algum milagre tinha acontecido na vida dela.
Sorrindo grandemente, ela se inclina, abraçando o pai com força.
-Você já é o melhor pai que existe!- diz, grudando nele com força.
Tony riu e sorriu com o gesto amoroso, se sentindo, de fato, o melhor pai que existia.
Sim… ele seria um bom pai. Nós sabemos disso.
Era manhã de natal quando Tony acordou com feixes fracos de luz entrando pela janela.
Ele solta um bocejo e se espreguiça, sentindo um leve peso em sua barriga e um peso maior em seu ombro.
O peso menor era um livro enorme aberto em sua barriga, ele dormiu enquanto lia ele para a filha. Com cuidado, ele remove aquele livro de matemática avançada de cima de si. Sim, ele tinha tentado livros de Princesa e contos de fadas, mas o livro de matemática foi fichinha comparado a noite anterior quando ele teve que recitar sua pesquisa inteira de física quântica para a garota.
Olhando em direção ao seu ombro, ele sorri ao ver sua filha dormindo tranquilamente ali.
No dia anterior, a guarda dela tinha sido passada oficialmente para ele. O abusador dela estava atrás das grades, seu dinheiro tinha garantido que ele nunca sairia dali. E os dois estavam cada vez mais próximos. Mariana tinha sumido de sua vida e ele esperava que ela estivesse bem. Ele fez uma declaração pública sobre ter uma filha e agora todas as manchetes o aplaudiam.
É… a vida está continuando, de um jeito bom.
Tony se espreguiça novamente, olhando a neve cair para fora da janela do quarto, enquanto servia de travesseiro para a filha.
Ele não tinha certeza de que horas eram, todos foram dormir depois da meia noite, após a ceia de natal, e após Kelly abrir todos os mais de cem presentes que ele tinha conseguido encaixar embaixo da árvore, só porque ele não conseguiu dizer não quando ela pediu para vê-los com um biquinho e olhinhos brilhantes.
Tony tinha lhe dado tudo o que uma garota daquela idade poderia querer, isso, e vários livros educativos no qual surpreendentemente foram seus favoritos. Pepper tinha dado para ela um kit de maquiagem infantil e vários livros de fantasia, segundo ela, aquilo trazia exercício para imaginação, e Happy tinha dado um colar com um pingente de abelha, inseto esse que ela era fascinada. Kelly amou aquele colar com a sua vida, e sua reação foi abraçar o segurança com tudo. Tony tinha quase certeza que aquele colar tinha um rastreador, mas não era ele quem iria reclamar sobre as medidas de segurança de Happy.
No fim, Tony sentiu orgulho ao ver a filha tão próxima de Pepper e Happy, se alguma coisa acontecesse com ele, eles eram os únicos com quem contava para cuidar dela.
A neve caía lentamente do lado de fora, e o clima nublado trazia um ar aconchegante. Ele estava amando.
A dois dias atrás, Kelly tinha comentado sobre como queria ver neve no natal. E, bem, o que a filha do Tony Stark queria, ela tinha.
Então ele fez questão de a trazer para uma mansão que tinha comprado no Canadá. A mansão era enorme e afastada, e ele quase nunca usava, então passar um tempo com a filha ali era só benefício.
Seus olhos saem da janela, e voltam a observar Kelly, ela estava adoravelmente embrulhada e toda encolhida embaixo da coberta, o usando como travesseiro e como porto seguro.
Na primeira noite em que a trouxe para morar com ele, ela ficou sozinha em um quarto que foi rapidamente decorado e arrumado por Pepper e toda a sua eficiência, era um quarto roxo com uma cama de princesa e tudo mais que uma princesa merecia.
E apesar da garota ter amado o quarto, na primeira noite sozinha lá, ela teve pesadelos, o que gerou um forte ataque de pânico nela.
Tony sabia sobre o que ela tinha passado e podia adivinhar sobre o que ela sonhava, apesar da garota não ter dito nada quando ele perguntou.
Naquela noite, Jarvis o acordou com um alerta de emergência, o que fez ele sair correndo em direção a filha sem se dar ao luxo de despertar corretamente.
Quando ele chegou lá, ele encontrou uma garotinha encolhida e chorosa, o que o atingiu diretamente em seu instinto paterno.
Desde então, ele passa a noite com ela. Lê histórias, lê livros sobre física e matemática, ou seja lá o que ela tenha vontade de ouvir, ele a acolhe em seus braços, e cuida dela durante o sono, e acorda de seus pesadelos e a acalma de sonhos agitados.
Ele sabia que não era psicologicamente saudável para uma criança do tamanho dela dormir com o pai, mas psicologicamente falando, a garota já estava ferrada, ele não iria negar aquela ajuda para ela. E além disso, ele já tinha providenciado um terapeuta para a garota, aquilo seria um problema para ele resolver.
Tony sai de seus pensamentos ao sentir Kelly se mexendo, ele a observa se espreguiçando e bocejando adoravelmente antes de voltar a se aconchegar nele, piscando sonolenta.
-Buenos días, princesita.- sussurrou amorosamente, deixando um leve carinho nela.
-Buenos días, papi.- murmurou sonolenta, coçando os olhos.- Feliz navidad!- acrescentou novamente, como se estivesse se lembrando naquele momento sobre a data que era.
-Pra você também, cariño.- sorriu, se virando para ficar frente a frente com a filha, achando ainda mais adorável a cara de sono dela.- você quer alguma coisa de natal? Papi te dá qualquer coisa.
Ele até tinha tentado introduzir um Papai Noel no dia anterior, fez Happy vestir a fantasia mais realista que tinha encontrado, completamente a contragosto do segurança, mas Tony tinha aprendido que a menção do nome da filha, fazia Happy fazer qualquer coisa. Pena que aquilo serviu apenas para arrancar boas risadas da Kelly, ela não acreditava no Papai Noel, mas pelo menos, foi divertido.
Tony era acostumado a dar enormes festas, ou se não, a ser convidado para as melhores festas de natal. Ele não se arrependeu nem um pouco de recusar todos os convites e ter tido uma ceia simples com a filha, Pepper e Happy, os únicos que realmente importavam.
A expressão, e o sorriso da filha em abrir cada presente de natal foi impagável, nada teria mais valor do que aquele momento, e isso, isso era o verdadeiro natal.
-Você já me deu tudo, papi.- ela respondeu com um pequeno riso, como se não acreditasse que existia mais alguma coisa no mundo para se ganhar.
Tony estava estragando ela, e isso lhe dava orgulho.
-Ah… deve ter algo que você ainda não tem, hum?- Moveu as sobrancelhas para cima e para baixo, fazendo com que Kelly soltasse uma risadinha, antes de desviar o olhar.
-Tem uma coisa…- murmurou timidamente, sem olhar nos olhos.- eu… eu queria a um tempo… mas não precisa me dar se não quiser…
A garota parecia tímida e até com medo da reação dele, é verdade que até agora ela não tinha pedido nada para ele, não diretamente, e não queria que ela sentisse medo de pedir, caso quisesse algo.
-Seja lá o que for, pode me pedir, ok? Qualquer coisa. Nunca vou ficar bravo.- prometeu, acariciando o rostinho dela, que sorriu, e acenou positivamente.
-Eu quero uma abelhinha.- revelou timidamente, com seus olhos brilhantes.
-Uma abelha?- repetiu, um pouco surpreso com a simplicidade do pedido.- tem certeza que não quer um pônei? Ou uma lhama?
Kelly riu da reação dele e das sugestões, se sentindo feliz por não encontrar nenhum indício de raiva nele.
Negando com a cabeça, ela insiste em uma abelha, e Tony dá de ombros acenando positivamente.
-Bem, se é o que você quer.- sorriu dando um beijo na testa da filha.- considere seu. Agora, quem quer brincar na neve?
-EU!- Kelly levantou ambos os braços, pulando na cama em movimento rápidos e animados.
Tony soltou uma gargalhada alta e se levantou, começando a pular na cama junto com ela.
-Vamos brincar na neve!- Kelly cantarolou, ainda pulando em meio a um riso, dando giros em volta do pai.
-E vamos fazer um boneco!- Tony cantarolou também, rindo com a animação da criança.
-EI!- A porta do quarto é aberta em um rompante, revelando uma Pepper nada feliz.
Tony e Kelly se sentam na cama no mesmo instante, colocando suas melhores caras de inocente no rosto, enquanto tentavam segurar o riso olhando um para o outro.
-Não acredito que vocês estavam pulando na cama.- a ruiva tentou soar nervoso, mas era impossível conter seu tom divertido.
-Porque? Queria pular também?- Tony perguntou com seu melhor sorriso sarcástico. Porém sua fala pareceu animar completamente a criança.
-Sim Pepe! Vem pular com a gente!- Kelly pede sorridente se pondo em pé novamente.
Sorrindo amorosamente para a garota, a ruiva vai até ela, e se inclina para deixar um beijinho na testa dela.
-Vou deixar para a próxima, querida. Teve uma boa noite?
-Uhum.- murmurou se jogando em direção a ruiva, que sorriu grandemente e a pegou no colo, a tirando da cama.
-Muito bem, vamos nos arrumar, porque ouvi dizer que tem alguém que quer muito brincar na neve.- sorriu para a garota que soltou um sons felizes em seu colo.- e você.- se virou para Tony.- se arrume também.
-Sim, senhora.- brincou, fazendo um sinal de continência.
Pepper apenas revira os olhos e sai com Kelly em seus braços para a preparar para um dia de neve.
Eles passam mais quatro dias no Canadá, até que Tony resolve voltar para Malibu com a filha, tendo em mente que ela aproveitaria muito mais o fim de ano na praia, com todos os shows de fogos que aconteceriam.
Kelly passou o caminho todo de volta para casa, dormindo em seu ombro, o que era bom, porque ela teria uma enorme surpresa quando chegasse em casa.
-Pronta para ver seu presente?- Tony perguntou, segurando a mão da filha assim que Happy estacionou de frente a mansão.
Ele ajuda uma Kelly bastante ansiosa e alegre a descer do carro e segura a mão dela, a guiando.
Kelly cantarola animada, ela queria uma abelha a muito tempo, tinha até pensado no nome que daria para ela e como a colocaria para dormir ao lado dela na cama, junto com o senhor coelho e a senhora elefante que tinha ganhado do pai no dia que se conheceram. Aqueles eram seus bichinhos preferidos.
Ela cantarolou animada, começa a saltar em direção a casa, porém, Tony muda seu caminho, a puxando em direção aos fundos da casa, que ficava bem perto do precipício onde a mansão era construída.
Confusa com a mudança de direção, ela passa a segui-lo um tanto desconfiada, segurando a mão dele com força.
-Para onde estamos indo, papi?
-Surpresa!- Ele sorriu para a filha, a tranquilizando.
Agora, ela realmente não sabia o que esperar. Mas confiava nele.
Eles praticamente deram a volta na casa, até que alguns zumbidos começaram a ser ouvidos.
-O que…- a garota não tem nem tempo de perguntar, antes que vários apiários, cheios de abelhas dentro e em volta aparecesse em seu campo de vista.
Kelly fica boquiaberta, e estática em seu lugar olhando os vários insetos voando de um lado para o outro naquele espaço, fazendo com que zumbidos suaves sejam escutados.
-Gostou?- Tony perguntou orgulhoso, olhando para os apiários bem colocados no enorme jardim no qual ele nunca tinha dado muita atenção.
Ele olhava as abelhas voando com orgulho, a filha tinha pedido apenas uma, mas ela não resistiu em encher aquele lugar de apiários grandes e cheios de abelhas sem ferrão, ele tinha escolhido aquela espécie por motivos óbvios.
-Papi…- a garota o chamou em um tom descrente.
Sorrindo, ele olha para ela, se sentindo o melhor pai do mundo.
-E aí?- perguntou novamente, erguendo as sobrancelhas.
Kelly, por sua vez, para de olhar os insetos, e leva seus olhos desacreditados até ele.
-Era uma abelha de pelúcia.- revela, vendo seu pai arregalando os olhos com aquilo.
-Aah…
Reza a lenda que um mês depois, o Tony criou uma marca de mel kkkkk
Era para eu postar essa joça no natal, mas quem disse que eu conseguia terminar? No começo era para ser uma coisa bem curtinha, depois, mas vocês sabem como sou, no fim, foram mais de 16 mil palavras. Agora temos um especial de natal, sem ser natal, graças a incompetência desta autora, podem aplaudir.
Começar o capítulo com a abertura de “what If…” para falar de uma realidade alternativa foi uma sacada de mestre, né? Pode falar!
Pois bem, infelizmente, tudo o que a jovem Kelly sofreu nas mãos dos avós é canon, com isso, podemos ver como o quão profundo é o trauma dela, além de ter passado por tudo isso, ter ido parar em um orfanato.
Nessa realidade, podemos ver uma Kelly que teve a chance de não passar pela solidão que a levaria a ter traumas sociais e problemas com toque. Por isso, ela se agarra tão rapidamente ao Tony. Pois é, só em outra realidade para a Kelly tomar iniciativa de um abraço kkk
Aqui também podemos ver mais da mãe da Kelly. Na primeira vez, ela foi apresentada com um sotaque espanhol, mas aqui, o espanhol é pouco retratado, porque a maior parte da história se passa em Cuba, então eles já estavam falando espanhol, tirando a parte em que eu ressalto a mudança de línguas.
Mariana, inicialmente, era para ser uma personagem citada apenas uma vez, mas nesse especial, eu senti que eu precisava me aprofundar nela, e sinto que assim, pudemos entender as situações que levaram a personagem fazer o que fez, e como isso influenciou a vida da Kelly.
Outra coisa que eu percebi também, é que na realidade original, o Tony nunca falou em espanhol com a Kelly, sendo que aquela era a língua materna dela e isso a deixaria bastante confortável. Na minha cabeça, Tony super falaria com ela em espanhol, e com certeza vou dar um jeito de fazer isso acontecer! E não se preocupem leitores que precisam ouvir o Tony chamando a Kelly adolescente de ‘princesita’, isso é canon, prometo.
Sei que o aborto é um assunto que meche com a índole das pessoas, e o posicionamento que os personagens tem sobre isso pode incomodar. Mas vamos lembrar que isso é uma história fictícia, onde eu modelei os personagens conforme eu julguei ser necessário para o desenvolvimento da história. Contudo, vamos manter o respeito para com quem pensa diferente.
Desculpem as notas longas.
Espero que tenham gostado e me desculpem por qualquer erro.
Até o próximo~
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