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- As vezes eu sinto que estou roubando a vida de outra pessoa, eu sinto que simplesmente não deveria existir. Eu não aproveito a vida que tenho, eu não quero aproveitar, se outra pessoa estivesse viva no meu lugar tenho certeza que ela se sairia melhor do que eu nisso. Sabe… Todo dia quando eu acordo quero deixar de existir, sei que tem pessoas da minha idade que estão piores do que eu, mesmo assim não consigo ser grata pelo que tenho, eu não consigo ser feliz, eu nem tento mais, eu só fico esperando o dia em que vou morrer ou o dia em que minha vida vai mudar, mas esse dia nunca chega! Nunca chega... então, cansei de esperar. Entende?

O homem sentado em sua poltrona com uma postura invejável, afirma e anota alguma coisa em sua prancheta.

É o terapeuta do orfanato, o doutor Hazel foi contratado a alguns meses pela equipe do orfanato, a terapia com ele é opcional, exceto se você tiver algum problema comportamental que coloque as outras garotas em risco ou se você for uma depressiva suicida, como é o meu caso.

-Não tem nenhum problema em estar insatisfeita com a vida, Kelly, você está em um orfanato porque sua mãe te jogou aqui quando tinha sete anos, é mais do que compreensível você não gostar da sua vida. O mundo não é cor de rosa e você enxerga isso.- o psicólogo responde ainda escrevendo em sua prancheta.

-Uau, Agradeço pelas doces palavras.- o sarcasmo era mais que evidente na minha voz.

-No seu aniversário de 15 anos, que foi a dois dias atrás, você foi encontrada sangrando pelos pulsos, quase morta, pela sua colega de quarto. Doces palavras não vão resolver isso Kelly, o que vai resolver é te tornar mentalmente forte, e para isso precisamos trabalhar com a verdade e a realidade.- o doutor agora diz olhando nos meus olhos, o que faz com que eu desvie o olhar um pouco incomodada.

Apesar de ser a minha primeira consulta com ele, nossa comunicação é fácil e me abri facilmente. Talvez seja pelo fato de que eu não tinha conhecido meu pai antes da minha mãe me jogar aqui, então qualquer atenção masculina me cativa.

-Agora, sobre seus problemas alimentares…

-Eu pesquisei sobre você.- digo em uma clara tentativa de mudar de assunto.

Seus olhos parecem ler minha mente, porém aceita a mudança de assunto.

-E o que descobriu?

-Você tinha um escritório particular, sua hora de consulta era uma das mais caras da Califórnia. Porque decidiu vir para o orfanato? Tenho certeza que não ganha nem metade do que ganhava.

-Cansei de atender pessoas ricas que descobriram que dinheiro não é tudo, aqui no orfanato posso ajudar garotas que nunca tiveram nada na vida e que infelizmente talvez nunca tenham, se posso torná-las, nem que seja só um pouco, fortes mentalmente para o mundo lá fora, é isso que vou fazer.- explica em um tom que dá a entender que não é a primeira vez que diz isso.- Mas não fechei meu escritório totalmente, atendo às terça e quintas no período da manhã.

-Isso é muito nobre da sua parte, doutor, querer ajudar garotas bem mais novas que você por pura empatia.- digo novamente bem sarcástica, e um pouco desconfiada, talvez porque ele seja um dos únicos homens que trabalham aqui no orfanato que é apenas para garotas.

-Não se preocupe quanto a isso, o que você está insinuando para mim é extremamente repugnante, e além disso eu e meu marido somos muito bem casados.

Aceno positivamente para ele, não deixo de analisá-lo de cima para baixo, um homem de meia idade com um terno fino, fácil dizer que ele é só mais um de vários milionários por aí.

-E o que seu marido faz?- não deixo de perguntar curiosa.

-não achou isso em sua pesquisa?- seu tom é sarcástico.

Desvio novamente o olhar com uma carranca dessa vez. Minha pesquisa foi somente jogar o nome dele no Google, não era como se eu tivesse invadido um sistema e descoberto a vida toda dele.

-Ele é detetive do FBI.- responde a minha pergunta depois da minha falta de resposta.

-Que legal!- respondo visível animada.- amo ver e ler sobre casos criminais, seu marido esteve no caso daquela mulher que foi encontrada pendurada com as tripas pra fora?- questiono ainda mais animada.

Gosto de casos criminais desde criança, não que eu seja psicopata, mas o mistério por trás de tudo é uma coisa que chama a minha atenção. Sherlock Holmes foi o primeiro livro que eu peguei na biblioteca do orfanato, e foi com ele que meu gosto pelo mistério começou.

Ao invés de responder minha pergunta, o Dr. Hazel anota alguma coisa na prancheta.

-Não é hora de falar sobre o que meu marido faz- diz cortando o assunto.- Vamos voltar para você, me conte sobre seu problema com comida.

Suspirei irritada e jogando minha cabeça para trás enquanto revirava meus olhos.

-Qualquer coisa mínima acontece comigo e eu como tudo que vejo pela frente até estourar, depois tento vomitar tudo, e falho miserável, depois disso costuma vir à crise depressiva onde eu fico dias sem me alimentar e sem conseguir nem levantar da cama.

-Isso começou quando sua mãe te colocou aqui?- pergunta de maneira profissional. O encaro confusa por ele saber disso.- também fiz minha pesquisa.

-Sim, acho que sim. Eu sempre fui gordinha, puxei da minha mãe que era uma modelo latina e plus size. E quando eu cheguei aqui, não conseguia me encaixar em nenhum grupinho e por conta disso e de tudo que aconteceu a comida foi a única coisa que preenchia meu vazio.

-Entendo.- ele diz enquanto escreve em sua prancheta.- Na sua ficha diz que você toma vitaminas por conta do seu problema alimentar, vou te passar mais alguns remédios para sua depressão e ansiedade, que devem te ajudar com seu descontrole alimentar também. Insônia?

-Às vezes…

-Vou passar remédios pra isso também.

Ótimo de uma garota que apenas tomava vitaminas, para uma garota completamente doente e cheia de remédios.

-Ok…- digo em um suspiro.

-Nosso tempo está acabando e quero te passar uma atividade para você.- diz finalmente parando de fazer anotações.- quero que pense no seu passado e pense na sua vida agora, observe os sentimento que isso te causa e me diga semana que vem na nossa sessão. E também, quando sentir vontade de comer de forma descontrolada se pergunte, "é fome ou um sentimento que precisa ser alimentado?"- acrescenta.

-Certo.- Me levanto.- Até a próxima Dr. Hazel.- Trocamos um aceno amigável antes que eu saísse pela porta.

Assim que saio da sala dele quase bato de frente com Angela, uma ruiva alta e robusta da minha idade, que tem o passatempo em zoar com a cara dos outros.

-Tratando sua cabecinha suicida Kelly?- pergunta cruzando os braços com um sorriso sarcástico, seu tom destila veneno.

-Tratando seu probleminha de raiva anjo?- devolvo no mesmo tom.

A ruiva fecha a expressão para as minhas palavras e manda eu me foder antes de passar por mim e entrar no consultório do Dr. Hazel.

Depois desse pequeno encontro amigável, resolvi que não queria fazer nada nesse tedioso sábado, então vou para o meu quarto.

O orfanato feminino Santa Madrinha passava uma vibe internato. Um prédio grande e antigo onde possuía cinco andares, os dois últimos sendo os quartos que eram cômodos pequenos com duas camas e um guarda roupa, no térreo ficava a recepção, a enfermaria e também a sala do Dr. Hazel que ficava ao lado da sala da diretora do orfanato. No primeiro andar ficava a cozinha e a sala de refeições, e nós outros dois ficavam as salas de aulas e as salas de lazer onde tinha uma biblioteca relativamente grande com alguns computadores novos, graças a um doador.

O orfanato chegou a receber um prêmio por conta da dedicação em preparar as garotas órfãs para viverem sozinhas no mundo. Um lugar bem melhor do que a maioria dos orfanatos, mesmo assim ainda era um lugar onde garotas foram deixadas pelos pais ou os perderam para a morte, então não, não era um bom lugar.

Chego no meu dormitório e vou direto para a minha cama me jogando nela.

-Como foi a terapia?

Olho em direção a minha colega de quarto que fez a pergunta, ela estava se maquiando sentada em sua cama. Diferente de mim ela é linda, alta e magra, cabelos longos e lisos, tudo graças a sua genética coreana. Nesses dois anos que dividimos o dormitório, a gente nunca teve uma conversa decente, apenas o necessário.

-De boa.- respondo simplesmente. Sei que ela não se interessa realmente.

Apesar de ter me encontrado quase morta, nossa relação de "apenas falar o mínimo" não mudou, ela faz parte de um grupinho de Patricinhas, enquanto eu não me encaixo em nada, o famoso conversa com todo mundo mas não é amiga de ninguém.

-Tá bom então.- fala ao terminar de se maquiar.- não se mata.- diz me olhando antes de passar pela porta.

-Ok.-Murmuro mesmo sabendo que ela não vai ouvir.

Pensar no meu passado. Foi uma das tarefas que o Dr. Hazel me deu. Mas se tem uma coisa que odeio é pensar nisso.

A minha história de vida não era das mais bonitas, digamos assim.

Minha mãe era uma modelo plus size, e o cara que transou com ela era só mais um dos idiotas que só querem transar com todo tipo de mulher que existe. Eu fui um erro, não era para ter nascido, e nas poucas vezes que vi minha mãe ela sempre deixou bem claro o quanto eu era indesejada e como meu pai me odiaria caso ele me conhecesse. Inclusive ela quase me abortou, só não fez porque meus avós não deixaram. Mas não pense que eles eram bonzinhos comigo.

Depois que eu nasci minha mãe me jogou para meus avós, me deixando sob cuidados deles. Preferia mil vezes ter sido abortada. Dentro da casa dos avós que prometeram cuidar de mim eu sofria de abuso psicológico e físico, eu apanhava por qualquer motivo, bastava apenas respirar errado ou o que acontecia muito que era eu acabar trocando palavras em espanhol por inglês, eles só aceitavam espanhol dentro de casa, era só cometer um erro para que meu avô me batesse enquanto minha vó apenas olhava.

A única representação paterna que eu tive me agredia a qualquer hora, isso me fez perder a vontade de conhecer meu pai, no qual eu tinha certeza que não estava nem aí para mim.

Isso durou até meus sete anos, meus avós enjoaram de mim e como minha mãe não me queria, vim parar nesse orfanato.

Bom, isso me acarretou trauma e depressão, sentimentos esses que me fizeram comer de forma descontrolada, e se antes já era gordinha agora sou ainda maior. E assim meu sobrepeso causou problemas de autoestima e agravou a minha depressão o que me levou a episódios de compulsão seguida por dias sem me levantar da cama.

Só de pensar nesses problemas me dá um frio na barriga e uma vontade enorme de deixar de existir.

Só espero que a minha terapia funcione.

Algum tempo depois de olhar para o teto e pensar na minha vida, um sinal estridente ecoou por todo o orfanato, indicando a hora do almoço, imediatamente me levantei para me dirigir ao refeitório..

Respeitamos muito os horários aqui, qualquer tipo de descumprimento gera algum tipo de punição, como por exemplo limpar algum local, não sair nos fins de semana ou coisa do tipo.

Ao chegar no refeitório algumas meninas já estavam na fila para pegar o almoço, então me junto a elas, e por coincidência parei atrás da Angela.

-Como foi a terapia, Anjo?- não resisti em provocar.

-Porque não reabre seus pontos no pulso em Kelly?- diz me olhando por cima dos ombros.

Ao ouvir seu comentário, olho para as faixas que circulam o lugar onde fiz o corte.

-Peguei pesado?- Angela perguntou em um tom que parecia ser preocupação.

Eu não aguento segurar uma risada nasal, desde quando ela se importa se pega pesado?

-A terapia já está fazendo efeito?- digo rindo da minha própria piada sem graça.

A ruiva revira os olhos e manda eu me foder, novamente. Assim se encerra nosso papo.

O almoço de hoje era frango empanado, e como hoje eu senti que merecia, pedi para a merendeira caprichar no prato, mesmo que eu me arrependa depois.

O refeitório tinha várias mesas espalhadas, onde diversos grupinhos se reuniam, e eu fazia o possível para ficar longe deles.

Acabei me sentando na mesa onde tinha as crianças menores, gostava de sentar com elas porque seus assuntos eram sempre leves e fáceis, diferente das garotas da minha idade, que falavam sobre meninos e o quanto eles são gatos.

-Atenção meninas!- a voz da diretora ecoa pelo alto falante.- como sabem, hoje e amanhã é permitido a saída de todas que tenham 13 anos pra cima, então logo após o almoço, quem deseja sair, diga a inspetora verônica o local em que vai estar. É obrigatório que estejam de volta às seis em ponto! O descumprimento dessa regra trará punições. Obrigada a todas e tenham um ótimo sábado!

O mesmo discurso de todo fim de semana.

-Vai sair hoje, Kelly?- uma das garotas da mesa pergunta.

-Não, provavelmente vou ficar na biblioteca ou no meu quarto.

-Ah, porque você não sai igual as outras?

-Eu só não gosto.-respondo simplesmente. Como eu explicaria para uma criança de nove anos que eu sinto que todo mundo me olha e me julga quando estou na rua?

O restante do dia foi tranquilo para mim, fiquei o tempo todo no meu quarto lendo e ouvindo música no meu celular de quase três anos atrás.

Eu não podia me dar ao luxo de ter muita coisa aqui, mas todo fim de semana permite que a gente possa pedir um item abaixo de cinquenta dólares, como cadernos, maquiagens, acessórios feminino e etc.

Essa semana pedi uma caixa de bombom, na qual já estava muito ansiosa para receber.

Depois do banho o sinal para o jantar tocou, agora uma sopa de legumes era servida. Depois do jantar fui direto para o quarto, respeitando o horário de dormir.

Uma vida monótona, completamente chata e entediante. Não podem me culpar por ter tentado sair dela.

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