Ando um pouco desconfiada da minha própria vida. Por mais que não esteja tudo cem por cento dando certo, eu me sinto completamente feliz pelas poucas coisas que estão acontecendo.

Minha mãe saiu antes do previsto, ela está bem e feliz em casa, consegui um bom dinheiro para pagar pelo menos metade da dívida do hospital fazendo faxina não só pelo meu prédio, mas também em outros bairros. Vinnie e eu estamos bem; London e eu também. E estou indo bem na faculdade e prestes a concluí-la.

Termino de arrumar o meu apartamento e de me arrumar. Pego os dois saquinhos de lixo e me direciono para fora da minha casa, parando em frente a do Vinnie e dando batidas na porta.

— Oi, Vinnie! — digo, sorridente e ele responde de volta. — Você pode ficar dando uma olhada na Hera enquanto estou fora? Vou passar o dia todo pelos outros bairros. — aviso.

— Posso sim. — sorrio agradecida. — Vai fazer o que por esses lados?

— Dinheiro. — ele semicerrou os olhos. — Não vou me prostituir. — explico e ele riu.

— Ah, bom!

Dou mais informações sobre o trabalho.

— Não é pra isso que você está estudando, Elle. — ele suspirou. Eu sei. — Você deveria estar cuidando dos bichinhos e não da casa dos outros.

— Tenho convicção disso, Vinnie. Não era isso que eu planejava para a minha vida, mas é dessa forma que eu irei pagar a minha formação.

— Entendo. — suspirou novamente e passou as mãos em seus cabelos. — Quando você voltar, pode passar aqui em casa?

Eu assenti. E antes de descer as escadas, Hacker me deu um beijo rápido de despedida, que me fez sair com um sorriso bobo em meus lábios.

Coloquei os sacos na lixeira e segui andando até a casa mais próxima, que ainda é nesse mesmo bairro.

— Elle? Oi. — paralisei no meio do caminho quando dou de cara com o Jordan. Eu sorri, gentilmente, e nos cumprimentamos com um abraço e ele não hesitou em deixar um beijo em minha bochecha.

— Oi, como você está?

— Muito bem e você? E a sua mãe? Não tivemos contato desde aquela vez... — ele enfiou as mãos nos bolsos e eu apenas balancei a cabeça.

— Estamos bem, ela recebeu alta. — cruzei os meus braços e semicerrei os olhos por conta do vento batendo em meu rosto. — Tenho que ir. — aviso, após minutos em silêncio e olhando um para o outro. — Foi bom te encontrar! E novamente, obrigada pelo suporte!

Nos abraçamos novamente e eu segui o meu caminho, observando a rua e notando que a loja em que trabalhei está fechada. Que milagre!

Cheguei ao meu destino, e logo me apressei em trabalhar após as instruções da dona da casa. Além de limpá-la, ainda tenho que passear com os seus dois cachorros.

Eu simplesmente amo quando a minha ou meu "chefe" tem cachorros ou gatos para eu cuidar, sinto até mais vontade de trabalhar.

[...]

Acho que o Vinnie está se saco cheio das minhas mensagens a cada cinco minutos perguntando sobre a Hera. Eu detesto deixá-la sozinha, mesmo sabendo que tem uma ótima pessoa e que a ama cuidando dela.

Falando em Vinnie Hacker, os últimos dois dias passamos assistindo Brooklyn Nine-Nine e confesso, esses dois foram uns dos mais incríveis dias que eu tive esse ano. Além da série, Vinnie me faz distrair e esquecer de tudo, fora que o mesmo banca a comida.

É doido pensar que uns meses atrás eu enchia a sua geladeira e armário com algumas comidas saudáveis. E hoje, eu estou comendo junto dele. Mas eu faria tudo de novo, até porque se não ousasse fazer isso, não estaria da forma que estamos hoje.

Dentre os seus erros, Vincent tem muitos acertos, me fazendo esquecer do "crime" que cometeu: roubar a minha gata.

Oito e quarenta. Fim de todos os expedientes existentes, mas com a minha conta com dinheiro e isso é suficiente, valendo toda a gota de disposição caída em cada cômodo.

Mando mensagem para o Vinnie, avisando que estou saindo e volto para o aplicativo da Uber, indicando que o meu motorista chegou e eu agradeço. Tô exausta!

— Você pediu para eu passar na sua casa. — digo, me aproximando do loiro, que está parado na entrada e a Hera está em seu colo.

— Eu sei. — ele riu. — Está com fome? — ergo a sobrancelha e ponho a mão na cintura. — Pergunta idiota, né!? — eu concordo.

— Oi meu amorzinho, que saudade! — aproximo o rosto da minha gata e deixo o beijo na sua testa.

— E o meu? Meu beijo? — o loiro pergunta bicudo e eu apenas ri negando com a cabeça.

Arranquei a Hera do seu colo e ele pegou a minha bolsa. Subimos para o nosso andar e Vinnie entrou junto comigo no meu apartamento.

— Já pensou na sua fantasia? — pergunto, tirando meus sapatos e minha jaqueta, indo para o meu quarto e os colocando em seus devidos lugares.

O halloween é depois de amanhã. London já preparou a minha, porém, não me mandou nenhuma spoiler mesmo depois da chantagem emocional.

— Tô em dúvida. — diz, sentando na minha cama.

— Vou tomar banho, vai pra sala. — hesito em tirar a roupa quando noto a sua presença.

— Você quer mesmo uma resposta pra isso? — ergueu as duas sobrancelhas.

Eu semicerrei os olhos.

— Já te vi nua, em todas as posições diferentes, e você está com vergonha de tirar a roupa na minha frente?

Que grande filho da mãe.

— Vincent, sai daqui. — me aproximei, tentando conter o riso.

Seguro o seu braço e tento tirá-lo da cama, mas ele me puxou para mais perto, prendendo-me em seus braços firmes e fortes.

Ficamos nos encarando até finalmente nossos lábios se juntarem, dando início a um beijo lento, prazeroso e causando quentura específicas por todo o meu corpo.

— Vou tomar banho. — digo decida e saindo do seu agarre. Corro para o banheiro, evitando cair em seus desejos nesse estado em que me encontro.

Tomo um banho demorado, aproveitei para lavar os meus cabelos e hidratá-los. Tiro um pouco da umidade dos fios com uma toalha e saio do banheiro enrolada com outra, indo para a área de serviço e colocando minhas roupas sujas no cesto.

Vinnie continua na minha cama e com ele está a Hera.

— Que fofo. — falo sorridente ao ver a cena dos dois juntos. Ele sorriu. — Tô morrendo de fome. — comento, procurando o meu pijama.

— Vou preparar algo pra gente. — ele diz e eu me viro, olhando-o. — Posso? — pergunta confuso, eu assenti rindo.

O riso mudo para o sorriso totalmente bobinho, fazendo o meu rosto doer por não conseguir desfazê-lo. É tudo muito estranho, mas eu estou gostando... gostando muito.

Eu ando sentindo uma dorzinha no meu peito, porém ela é boa e saudável, se isso é possível.

A maior parte do dia todos os meus pensamentos são relacionados a Elle e tudo que andamos vivendo, mesmo que não seja nada demais. Ando tendo muita ansiedade de encontrá-la; eu durmo e acordo pensando e querendo vê-la, mas nem sempre isso é possível porque ela anda muito ocupada.

Eu sei... eu tenho certeza que sinto algo por ela. Eu gosto dela, isso é nítido. Mas eu não sei e morro de medo de não ser um sentimento recíproco, porque a Elle já passou por muitas coisas em seus relacionamentos e isso faz com que ela trave e evite sentir algo a mais.

Mas eu queria, queria muito que ela falasse algo que eliminasse minha insegurança e incerteza.

Enquanto preparo o Mac n' Cheese, ou melhor, macarrão de queijo, me viro quando sinto a presença e cheiro da Elle. Ela veio para o meu lado e eu deixei um beijo no topo da sua cabeça.

— Larga isso, Electra! — repreendo-a quando ela pega as louças pra lavar.

— Me deixe, Vincent! — ela joga o seu corpo para trás, se empinando, na tentativa de me afastar. — Você já está preparando, nada mais justo que eu lavar.

— Você já trabalhou demais. — seguro suas mãos e ela volta a tentar me afastar. — Se sua intenção é fazer com que eu saia daqui, não vai conseguir. — digo, levando minhas mãos para a sua cintura.

— Deixa de ser maldoso. — ela riu negando com a cabeça.

Mesmo não querendo, volto com a minha atenção para a louça que não quero que ela lave, e depois de muito esforço, eu consegui.

Consegui fazer com que ela esperasse deitada no sofá e assistindo sua série favorita: B99.

[...]

Com o jantar pronto, louça lavada e pratos postos no balcão, a chamo para comer e a mesma veio como um flash.

— Tenho boas notícias. — eu digo, e ela me encara, esperando que eu continue. Dou um sorriso larguíssimo e ela fica sem entender.

— Ah... — ela terminou de mastigar. — Encontrei o Jordan mais cedo, ele parece-- — sua voz começa a ficar mais distante depois de citar o nome do seu ex.

Sinto minha respiração cada vez mais pesada e meu punho se fecha.

Que ódio! Que porra esse cara ainda quer com ela?

— Vinnie? Você está bem? — sua mão toca o meu braço apoiado no balcão.

— Eu tô ótimo. — respondo, depois de alguns segundos em silêncio. E volto a comer em silêncio.

— Qual era a boa notícia? — ela pergunta e eu continuo em silêncio.

Eu odeio esse cara com todas as minhas forças. E sei que ter esse sentimento não faz bem, mas não consigo evitar, principalmente depois das coisas que ele me disse.

— Elle? — a chamo, mas não olho para ela. — Fica longe desse cara, é sério. Ele não é uma boa pessoa, pode ser um ótimo ator, mas ele é um merda.

— Eu sei que ele fez coisas ruins, mas ele parece ter mudad-

— ELE NÃO MUDOU, PORRA! — grito e a olho. Ela se assusta. — Desculpa... mas eu me preocupo com você. É sério! Não acredita mais nele.

— Por que você está falando essas coisas? Você sabe de algo?

— Não importa, só fique o mais distante possível dele. — suspirei e ela continuou me olhando confusa. — Mudando de assunto. Sabe aquela loja que você trabalhava? Você vai voltar para ela.

— Que!? — ela deu um pulo do banco. — Como assim? Acho que ela fechou.

— Fechou porque tem um novo dono. — levantei com o meu prato vazio após terminar de comer. — E você não precisa mais se matar limpando a casa dos outros, porque você vai dirigi-la do jeito que quiser.

— Vinnie... meu Deus! É sério? Quem comprou? — parei na sua frente, tentando conter o riso com a sua animação e choque.

— É sério. E não importa quem é o dono, o importante é que você não está mais desempregada... se você quiser. — rodei o balcão e fiquei ao seu lado. — Você quer?

— Mas é claro! — ela saiu do banco e pulou em meu braço, me abraçando fortemente. Me surpreendo quando junta os seus lábios com os meus. — Obrigada, Vinnie!

Encaro os seus olhos castanhos. Eles brilham como o céu numa noite estrelada ou como o brilho da lua refletindo a escuridão do mar. Um sorriso genuinamente lindo e grato toma conta do seu rosto, aquecendo o meu coração e me dando a certeza que todo o esforço valeu a pena.

Pode ser "nada demais" e "apenas um emprego" para muitos, mas eu sei o quão isso significa para ela. Não por eu ter feito isso, mas sim por ela estar precisando, e também por conseguir fazer o que ama.

Eu falei com o meu pai, que falou com o meu tio, que é um grande investidor. Então, isso não é apenas um "favor", é algo sério e ele está apostando demais nesse projeto e pela loja estar localizada em um ótimo lugar, tenho certeza que dará muito certo, ainda mais porque é a Elle que está cuidando de tudo junto comigo.

Explico melhor para a morena que não tiramos o emprego de ninguém, a loja estava sendo vendida e o dono queria apostar em outro tipo de estabelecimento. Portanto, se ela quiser manter o mesmo projeto do antigo dono, ela pode. Mas também pode transformar numa clínica.

Depois de lavarmos as louças e guardá-las, Elle, Hera e eu nos direcionamos para o sofá, deitamos sobre ele e começamos a assistir.

— Quer dormir aqui? —ela pergunta, levantando a cabeça do meu peitoral e me olhando.

— Adoraria, mas tenho que levantar cedo pra ajudar a Maddy e o Jordan. — aviso e solto um suspiro. Ela se sentou, me olhando com mais clareza.

— Como assim?

— Eles vêm pra minha casa amanhã — explico e ela muda a direção do olhar. —, mas ainda vou ficar um tempinho por aqui. — tiro uma pequena mecha de cabelo que caiu no seu rosto.

— Se precisar de ajuda, pode me chamar, ok? — fala e eu assenti, trazendo-a para mais perto e juntando nossos lábios. — A Hera! — repreendeu, quando termino o beijo puxando o seu lábio inferior. A felina está em meu colo.

— Verdade. — ri e olhei o meu relógio. — Depois a gente continua, está tarde. — dei alguns selinhos nela.

Ela me levou até a porta e antes de eu entrar no meu apartamento, me despedi com um beijo que deu vontade de voltar para o seu e dar continuidade na cama.

oii como vcs estão?