Com um sorriso esboçado em meu rosto e ainda com os olhos fechados, viro o meu corpo com o braço esticado para abraçar a pessoa ao meu lado.

Mas abro os meus olhos quando não consigo atingir o meu objetivo, e apenas sinto o colchão gelado. Elle não está ao meu lado.

Me levanto da cama, apenas de cueca e vou ao banheiro, procurando a de cabelos castanhos escuros. Nada dela. E nada dela também no meu apartamento.

Tínhamos um trato. Não tínhamos?

Visto uma bermuda correndo e saindo do meu apartamento, indo até o dela. Bato diversas vezes na porta e nada de abrir.

Elle não parece ser uma pessoa vingativa.

Passo as mãos em meus cabelos e volto ao meu apartamento quando caí a ficha que ela realmente se vingou da minha pessoa.

Porra! resmungo, dando um tapa em minha porta quando a fecho.

O que vou fazer agora? Eu tenho a merda de um jantar em família hoje e não posso cancelar, muito menos dizer que a "minha namorada" não vai poder ir.

Pego o meu celular e procuro o contato da Elle. Chama, chama e chama, mas ninguém atende. Que inferno!

— Preciso de ajuda. — digo, quando um outro contato atende. — Mas primeiro, você sabe da Elle?

— São dez da manhã de um sábado, Hacker. Qual o seu problema? — a loira reclama. — E não, eu não sei. Por que?

— Dormimos juntos e quando acordei, ela havia sumido. Fui ao apê dela e nenhum sinal... ligo e ela não atende.

— Eu não sei. E quero dormir. — fala. E eu rolo os olhos. — O que você quer?

— Você vai ser a minha namorada de mentira.

—Vou? — ela gargalhou e continuo em silêncio. — Você é maluco! — me ofende. — Eu tenho uma longa vida pra beber as minhas cervejinhas e também não quero perder a minha melhor amiga.

— Por favor, London. Eu te pago. — imploro choroso. — A Elle não vai se importar, eu mando uma mensagem avisando.

— Porque você simplesmente não diz que a sua suposta namorada não vai poder comparecer? Eu não vou!

— Porque eu sempre digo isso e agora preciso provar que tenho uma, pra pararem de me zoar

— Mas você não tem. — diz ríspida.

— Te pego às meio dia. Estaremos de volta amanhã. — falo e desligo.

Não estou nem aí. Ela vai comigo por bem ou por mal.

"Vou ligar pra polícia e avisar que serei sequestrada." É o que diz na mensagem enviada pela London logo após a ligação ser encerrada.

Apenas mando um emoji e bloqueio o celular, indo colocá-lo pra carregar enquanto tomo o meu café da manhã, e depois arrumo a casa e as minhas coisas também.

Isso pode dar muito certo ou muito errado, porém, o importante é a minha família, especialmente os meus primos e tios, acreditarem que finalmente tenho uma namorada.

[...]

Antes de descer para ir a casa da London, eu passo novamente no apartamento da Elle, batendo e tocando a campainha.

Nada dela abrir, de novo.

Porém, escuto o miado e arranhões da Hera da porta.

Droga, eu não posso entrar, já que a Elle pegou a chave reserva desde que descobriu que "roubei" a sua gata.

Solto um suspiro frustrado e desço as escadas, já com as chaves em minhas mãos. Entrei no meu carro assim que aproximo do mesmo e dou partida até a minha salvadora da pátria: London.

Cantarolo o caminho todo, o que o faz encurtar.

— Como vamos fazer isso? Você nem faz o meu tipo. — ela resmunga, quando me aproximo da mesma, que está parada em frente ao seu prédio.

— Você também não faz o meu. — deixo claro e sorrio. — Seremos ótimos atores, fique tranquila! — pisquei.

Abro a porta para ela entrar e depois faço o mesmo. Dou partida e London escolhe a música.

Todo o percurso, os meus pensamentos se dividem em dois: onde a Elle se meteu e como irei fingir que a London é a minha namorada sem sequer tocar nela.

Esse era um dos motivos pelo qual eu queria que fosse a Elle, já tivemos esse contato, seria tão mais fácil... eu não precisaria nem encenar.

Ok, vai dar tudo certo.

— Então será isso: nos conhecemos na praça de skate, ficamos por dois meses e depois te pedi em namoro. — reforço a história.

— Caso alguém peça para nos beijarmos: eu sou tímida e não gosto de contato físico perto dos outros, e por esse motivo, não podemos realizar o pedido. — diz e eu assinto.

— Não tem como dar errado.

— Não tem mesmo. — afirma e sorri.

Uma hora dirigindo. Agora, faltam apenas mais uma e meia.

Assuntos sobre a Elle foram abordados, mas quando se encerraram, cantamos juntos e conversamos sobre outras coisas o restante do caminho.

Meu coração dispara quando estaciono o carro e saio dele, London já estava do lado de fora. Aproveito para pegar o meu celular e mandar mensagem a Elle, avisando o que está acontecendo e perguntando se a mesma está bem.

London, fica ao meu lado e eu estico a minha mão, ela aproxima a sua e entrelaçamos nossos dedos. Respiramos fundo duas vezes e entramos, de mãos dadas.

Entrando na casa de meus avós, respiro fundo mais uma vez, cumprimentando cada pessoa ocupando o local.

— Então ela existe mesmo. — o meu prime, Jake, debocha. Eu rolo os olhos e solto uma risada nervosa. — Cabelo bonito. — elogiou a loira, a puxando para um abraço.

— Obrigada. — ela agradece. — Sou London.

— Jake. O mais bonito da família. — se gaba, piscando e solto uma risada.

Coitado.

— Uau! — o meu tio, surge admirado pela beleza da minha falsa namorada. — Você acertou em cheio. Que garota linda.

É porque você não viu a Elle.

— Cadê minha mãe? Meu pai? — pergunto, ignorando os seus elogios.

Ele avisou que a minha mãe estava na cozinha e o meu pai junto do meu avô, no quintal.

Entrelacei novamente meus dedos com o da London e a puxei para cozinha, pra terminar de apresentá-la aos restante.

Quando surgi no campo de visão de minha mãe, ela arregalou os olhos e me olhou estranho, e também para a loira de cabelos cacheados.

— Essa menina não tem nada a ver com a discrição que a mamãe nos deu da garota que você estava apaixonado. — a voz de Reggie me fez girar o corpo e repreendê-lo com o olhar.

— Bem vinda, querida. — a mais velha se aproximou da L, mas antes lançou um olhar para o Regg. — Filho. — veio até mim e me abraçou, dando um beijo na minha testa. — E sinta-se em casa, ok? — olhou para a London e ela assentiu.

Minha vó e as minhas tias, que também estavam na cozinha, me cumprimentaram e também a London. Depois, uma das minhas tias nos levou até o quarto que iremos passar a noite.

— Achei que ficaríamos em quartos separados. — London diz e eu a olho. A mais velha a olhou com o cenho franzido. — É porque minha família tem esse costume. — sorriu nervosa.

— Os casais ficam juntos... ainda mais "adolescentes". — nos olhou com malícia e eu engulo seco.

Depois da mesma sair, enfiamos nossas bolsas no guarda roupa que consta no quarto e respiramos fundo mais uma vez, repassando o combinado pela terceira vez.

Isso não vai dar certo. Por que eu simplesmente não menti dizendo que tinha um compromisso importante? Porra!

Pego novamente o meu celular e vejo se há alguma notícia da Elle, porém as mensagens que mandei, nem enviadas foram. Eu esqueci completamente que aqui o sinal é tenebroso.

Deixo a London no quarto e vou buscar água e algo para a mesma comer. Quanto menos ficamos juntos pela casa, será melhor, já basta o jantar mais tarde.

— O que aconteceu com a menina Elle? — minha mãe sussurra, enquanto despejo a água num copo de vidro. — Essa é a amiga dela. O que está acontecendo?

— Como você sabe que é amiga dela?

— Esqueceu que sigo a Elle no Instagram? — ergue a sobrancelha e eu suspiro. — Você não tem vergonha na cara não? Não foi isso que te ensinei, Vinnie.

— Acontece. — digo e guardo a jarra. — Tem alguma coisa pra comer?

— Como você namora a amiga da menina que você estava gostando?

— É uma longa história, depois eu explico. — falo baixo.

Minha mãe me entrega sanduíches caseiros e pedaços de bolo em uma bandeja.

— Já deixo avisado que só vão nos ver no jantar. Vamos descansar, foi cansativo dirigir por duas horas e meia. — digo e subo para o quarto.

Paz. Eu realmente achei que teria paz quando falasse que íamos descansar. Mas eu seria um tolo se pensasse que minha família realmente iria nos deixar a sós quando eu finalmente trouxesse uma namorada pra conhecerem.

A todo minuto entrava alguém para perguntar se queríamos algo, conhecer melhor a London e querer saber como nos conhecemos. Sério, que chatice! mas eu sabia que seria assim, porém queria que fosse com outra pessoa.

[...]

— Nossa, você está linda! — elogio a loira.

Ela veste um vestido branco até o meio das coxas de mangas cumpridas e com gola, com uma abertura nas costas. Em seus pés, está o mesmo calçado que veio: Air Jordan vermelho com preto.
Os seus cabelos estão soltos e volumosos.

Uma hora. Uma hora que a London levou pra se arrumar apenas para ficar sentada numa cadeira e jantando com os meus familiares.

Eu estou apenas com uma calça moletom cinza e uma camisa branca, e em meus pés, um adilette da Adidas preto. Porém, estou muito cheiroso.

Novamente, de mãos dadas, nos aproximamos dos demais. Puxo a cadeira para a loira sentar e sento ao seu lado.

Uma enxurrada de elogios foram direcionados a garota ao meu lado, e também a mim, dizendo que escolhi certo. Apenas sorri forçado, a London também.

Enquanto se servem e conversam, tento reenviar as mensagens para a Elle, mas sem sucesso. Continuo sem sinal.

— Estou preocupado com a Elle. — sussuro para a London. — Você está com sinal? Ela te mandou mensagem?

— Não, mas ela deve estar bem. Fica tranquilo. — sua mão tocou a minha e apertou. Um sorriso reconfortante esboça em seu rosto, apenas assenti e decidi me servir.

Continuo com a conversa aberta e tentando enviar as mensagens a cada minuto. Meu coração bate fortemente e a preocupação toma todo o meu sossego.

Só consigo pensar na noite de ontem, o quanto estávamos bem e felizes. Fomos dormir bastante tarde, porque além de transarmos umas três vezes, conversamos sobre várias e várias coisas.

E eu só queria acordar com ela em meus braços. Eu só queria que ela estivesse aqui ao meu lado, fingindo ser namorados e eu dizer coisas sobre ela que são as mais pura verdades.

— E aí, como você conseguiu conquistar essa garota, Vinnie? — Jake, pergunta. — Ela é tão bonita.

— É bonita e minha. Então tira os seus olhos da minha namorada. — falo sorrindo e eu rolou os olhos. — E não te interessa. — volto a comer.

Não sei o que dizer.

— Pensei que inventaria outra desculpa, Hacker. — agora é a vez da Liv, minha prima, chamar a minha atenção. Apenas rolo os olhos. — Então, você realmente não é gay.

— Ainda tenho minhas dúvidas. — Maggie, minha outra prima, semicerrou os olhos. — Nunca o vimos com nenhuma garota.

— E desde quando isso adianta? Ela pode ser muito bem uma namorada falsa. — Reggie diz e eu o lanço um olhar mortal. — Só estou falando! — levantou as mãos em rendição e me olhou, rindo. — Isso não quer dizer que você contrataria alguém pra ser sua namorada de mentirinha e enganar a sua família.

— Eu sou capaz de ter uma namorada, porém, não posso dizer o mesmo de você. — bagunço seu cabelo e depois deixo um tapa na nuca.

— Ah, é!? Então quero ver vocês dar um beijão de novela, aqueles que só de olhar, dá pra perceber que estão apaixonados e foram feitos um para o outro. — Liv diz, totalmente empolgada e entusiasmada. Jake a acompanha, pedindo o mesmo.

— Não vou fazer isso. Não tenho que provar nada pra vocês. — digo e volto a prestar atenção na minha comida. Eles continuam pedindo.

— Isso aqui é um jantar em família! — minha mãe se intromete. — Não quero ver beijo na mesa. Respeitem os seus avós, e também a mim. — repreende e sorrio curto.

— Tudo bem! — Liv sorri e me olha. — A noite será longa.

Rolo os meus olhos e volto a comer. London se mantém em silêncio.

O assunto muda e logo perguntam sobre a minha vida profissional, assim como a da loira ao meu lado, e depois meus tios falam sobre como a vida de seus filhos, que estão nessa mesa, são perfeitas... do jeitinho que eles planejaram.

Me levanto da mesa, avisando que irei ao banheiro, mas em vez de seguir para tal, eu me direciono para fora com o celular em minhas mãos e apontando para cima, em busca de sinal.

Enviou apenas duas mensagens: "elle, tá tudo bem?" "acordei e você tinha sumido. Espero que eu não tenha feito nada de errado!". Porém, não foram entregues e isso me faz ficar mais aflito.

Eu volto para onde estava, London me olha estranho e quando tenho oportunidade, explica que consegui enviar mensagem para a Elle, porém não foram entregues.

Ficando os meus primos na mesa, London junto com minhas primas, tias, avó e mãe, vão buscar a sobremesa, e, Jake e Taylor não perdem a oportunidade de fazer perguntas.

— Não sabia que loiras faziam o seu tipo. — fala Taylor e eu o olho sem esboçar nenhuma reação.

— Sempre foi mais o meu estilo... Isso é sacanagem! Onde eu moro não tem uma dessas. — Jake mordeu o lábio e eu respiro fundo.

Talvez eu esteja agradecendo pela Elle não estar aqui, eu não iria aguentar vê-los dando em cima dela. Tudo bem que não estou confortável com eles fazendo isso com a London, já que ela é minha amiga, mas com a Rivera seria muito pior.

— Se você der em cima, mais uma vez, da minha namorada eu quebro os seus dentes. — ameaço e eles riem.

— Amor de primo sempre é muito lindo. — meu avô diz, levando o copo de bebida alcoólica aos lábios.

Apenas respiro fundo.

Me viro para o Reggie e pergunto se ele tem sinal, mas o garoto nega e pergunta o motivo, respondo que nada.

As mulheres voltam e eu sou o primeiro a tentar se servir, porém minha mãe me impede e diz que a visita, London, deverá ser a primeira e pra eu ser cavalheiro e servi-la. A de cabelos cacheados solta uma piadinha quando eu lhe sirvo.

— Viu, conseguimos. — London comemora, quando finalmente o jantar acaba e fomos juntos para o quarto.

— Não podemos comemorar tão cedo.

Ela se jogou na cama e desviei o olhar, por seu vestido mostrar demais. Logo, ela se apoiou em seus cotovelos e me olhou.

— É... e não podemos dormir na mesma cama. — avisa e eu assinto. Já tinha pensado nisso.

— Eu vou dormir no chão. Sem problemas.

Ela concordou e riu, comentando logo depois sobre os meus primos, em especial o Jake.

— É, só faltou ele falar: quero furar o seu olho, Vinnie. — respondo rindo e me sento na cama, me deitando junto com ela.

Jake tem o mesmo estilo do Aaron, então é compreensível a mesma se interessar por ele, mesmo ele dando em cima dela, minha falsa namorada, bem debaixo do meu nariz.

— A noite não acabou, casal. — Liv surgiu, e logo atrás dela veio Taylor, Jake e Maggie. Em suas mãos tinha garrafas de vidro, provavelmente de álcool, e uma sacola. — Faz tempo que não nos vemos, Hacker, então iremos aproveitar essa noite.

— Amanhã eu tenho que dirigir, não quero acordar de ressaca. — me esquivo.

— Vai mesmo negar uma boa tequila com os seus primos favoritos? — Taylor se jogou em cima de mim. — Só umas doses, não queremos ficar bêbados.

— Só uma. — falo, tentando tirá-lo de cima de mim.

Maggie perguntou se a London bebia e claro que a loira não negou nenhum momento. Ela é feita de bebida alcoólica.

— Falei que não podia comemorar. — sussurrei e London riu, afirmando que vai dar tudo certo também.

iae putas, como vocês estão? ;)

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