VII. Se Você Conseguisse Ver O Que Eu Vejo Em Você
Às vezes, Asami sentia vontade de sumir pelas coisas que sua mãe inventava. Como aquela viagem para visitar os primos de Asami que a tinha feito perder três dias de aula e, consequentemente, os jogos que Oikawa queria tanto que ela assistisse. E a troco do quê? Afinal, ela teve que aguentar a chatice de suas primas mais velhas falando de todas as imperfeições de Asami e deixando bem claro o quanto ela era feia e esquisita e quatro olhos e nerd e tudo o que tinha de ruim no mundo. Não que Asami se importasse com a opinião de patricinhas metidas que na verdade só tinham inveja por Asami ser inteligente, mas, ainda assim, era um saco ficar perto delas, ainda mais por três malditos e longos dias.
Asami deu um longo suspiro, agradecendo mentalmente por finalmente estar voltando para casa, onde poderia voltar a ter sua paz. Ela encostou a cabeça no vidro do carro, analisando a paisagem por um tempo enquanto seus pais conversavam sobre algo que ela não fez muita questão de prestar atenção.
Involuntariamente, Asami acabou sorrindo se lembrando de todo o drama que Oikawa tinha feito quando ela disse que não poderia ir ver o jogo dele. "Asami-chan, se você não for, quem vai me dar sorte?". Parecia tão idiota, porque Oikawa não era do tipo que precisava de sorte já que ele tinha talento, e ainda parecia mais idiota que ele precisasse dela para ter sorte. Mas, ainda assim, ela não podia deixar de sorrir como uma idiota lembrando do como Tooru era, inegavelmente, carinhoso com ela.
Às vezes Asami até mesmo se esquecia das diferenças entre eles. Na verdade, quando estava com Oikawa, nada disso importava, não de verdade. E era uma merda admitir que ela estava ainda mais apaixonada por ele. O que também era um pouco merda, porque Tooru jamais olharia para Asami como algo além de amiga. E ela insistia em dizer para si mesma que não tinha problemas nisso, que a amizade de Oikawa bastava para ela. Deveria bastar; então porque ela insistia em gostar tanto, tanto assim dele? Às vezes ela pensava que talvez fosse tão patética quanto Julieta.
| Emi (17h09)
Você vai voltar hoje?
Né????
Né????
Pelo amor de Deus, me diz que sim
Tudo dando errado nessa merda
E eu não sei pensar sem você
Me diz que você já tá voltando pra casa, por favooooor
Asami franziu o cenho para as mensagens de Emi, se perguntando o que diabos poderia ter dado tão errado para fazer Emi surtar desse jeito. Sem fritar o cérebro pensando muito a respeito, Asami respondeu a mensagem de sua melhor amiga.
| Asami (17h15)
Sim, daqui meia hora
chego em casa, porque???
O que deu tão errado assim?
A mensagem de Emi demorou para vir, deixando Asami terrivelmente curiosa e talvez um pouco ansiosa. Quando Emi finalmente respondeu a mensagem de Asami, ela já estava em casa, levando suas coisas de volta para seu quarto depois de passar aqueles três dias infernais na casa de sua tia.
| Emi (17h50)
Eles perderam para o Shiratorizawa
Eu tô com o Iwa, mas o Oikawa...
Sei não. Ele não me pareceu lá muito bem não, sinceramente
E antes que pergunte, porque sei que vai perguntar, ele ficou no ginásio pra "treinar" (ou talvez chorar sozinho sem ninguém ver)
Asami sequer respondeu a mensagem de Emi e sabia que não precisava. Apenas foi para seu quarto trocar de roupa antes de sair novamente, gritando qualquer coisa para seus pais antes de desaparecer porta afora, sabendo exatamente para onde deveria ir.
Todas às vezes que Asami precisou, mesmo sem se dar conta disso, Oikawa tinha estado ao lado dela; quando Asami não quis mais ir para a escola, Tooru foi até a casa dela. Agora, seria a vez de Asami mostrar para ele que se importava e que ficaria ao lado dele se ele precisasse. Que Oikawa não estava e nem estaria sozinho.
A primeira coisa que ela escutou quando chegou do lado de fora do ginásio na Aoba Johsai, foi o som da bola atingindo o chão com força. Uma vez, duas, três. Asami respirou fundo e, sem tempo para pensar muito, abriu a porta.
A única coisa que ela teve tempo de fazer, foi de desviar antes que uma bola atingisse seu nariz. Ela arregalou os olhos quando a bola de vôlei atingiu a parede atrás de si, e escutou Oikawa soltar um barulho meio estrangulado e surpreso.
-Asami-chan, desculpa!- ele gritou, desesperado. Asami não disse nada; apenas analisou o caos ao seu redor, milhares de bolas espalhadas para todos os lados, como se Oikawa tivesse se revoltado e atirando todas elas no chão. Asami não duvidava que ele tivesse passado aquele tempo todo treinando para tentar apagar a frustração de ter perdido para Shiratorizawa.
Ela se virou, seus olhos encontrando com os de Oikawa. Ele podia até fingir, mas os olhos vermelhos não o deixavam negar o quão abalado ele estava. E cansado também, ela notou isso pela forma como Oikawa respirava pesadamente.
-Você não deveria se esforçar assim, é bem inconsequente.- ela ralhou, caminhando na direção dele, ignorando a careta que Oikawa fez para ela. -Caramba, Tooru. Você já se desgastou no jogo de hoje, você quer acabar com alguma lesão? De novo?
-Não fala assim comigo, Asami-chan. - ele murmurou, como se fosse uma criança tomando bronca da mãe, e Asami suspirou.
Por um tempo, ela apenas ficou ali, na frente de Tooru, analisando o rosto dele. O quanto ele estava acabado e cabisbaixo, completamente diferente do Oikawa que sempre estava fazendo alguma piada diferente ou sorrindo de forma simpática. Ali Asami percebeu que estivera errada ao pensar que talvez não existisse um dia ruim para ele; a verdade é que Tooru sabia esconder muito bem o que sentia. Até ser demais para ele suportar.
-Porque está aqui?- Oikawa perguntou e Asami deu de ombros, abrindo um meio sorriso para ele.
-Isso que amigos fazem, não é? Eu precisava vir ver se você estava bem.- ela falou e Oikawa apenas assentiu.
Por um instante, eles apenas permaneceram em silêncio, Asami se perguntando o que deveria falar, o que deveria fazer... Se os papéis fossem contrários, Oikawa saberia exatamente como alegrar Asami. Mas Asami não era Oikawa; porém, ainda assim, ela podia oferecer para ele seu apoio. Ou um ombro amigo para chorar caso ele quisesse.
-Eu sinto muito. - Asami falou, esticando a mão e apertando o braço dele com carinho. Oikawa apenas piscou os olhos antes de erguer a cabeça para fitar os dela. -Você merecia mais que isso.
Oikawa apenas riu, sem nenhum humor.
-Eu nunca vou ser bom o suficiente. - ele disse, fazendo Asami piscar os olhos, surpresa por escutar logo ele dizer algo do tipo. -Quer dizer, eu não sou inteligente que nem você, sabe? A única coisa que sei fazer, é jogar vôlei, e se nem nisso eu posso ser bom...
Asami não estava esperando essa revelação, não estava esperando que Oikawa mostrasse para ela suas inseguranças dessa forma. E o coração de Asami se partiu um pouco mais quando ele se sentou no chão e lágrimas escorreram pelas bochechas dele.
Como ele sequer podia pensar essas coisas, quando claramente ele era incrível? E não apenas no vôlei, mas como pessoa também. Para ela, Tooru Oikawa era maravilhoso; ela apenas queria que ele visse isso.
Asami se sentou sobre os joelhos, na frente de Oikawa. Ela não pensou muito a respeito antes de esticar a mão e tocar a bochecha de Oikawa, limpando com carinho as lágrimas que desciam ali. Ele pareceu parar até mesmo de respirar por um instante, erguendo a cabeça para fitar os olhos de Asami. Apesar de sentir o rosto esquentar, ela não se afastou, continuou acariciando a pele dele, esperando que pelo menos pudesse acalma-lo um pouco com aquilo.
-Você está errado. - Asami disse, a voz tão firme que fez Oikawa piscar os olhos, surpreso. Ela deixou que sua mão deslizasse até o cabelo dele, afundando os dedos ali e fazendo uma carícia suave que fez o garoto fechar os olhos por um instante. -Está errado, Tooru, muito, muito errado. Não ignore todo seu talento e sua dedicação por causa de uma derrota ou porque alguém idiota acha que você não consegue. Isso faz parte da vida, mas perder não vai classificar se você é ou não bom. E ninguém pode te dizer isso também. Se você conseguisse ver o que eu vejo em você, o como eu te vejo...- Asami suspirou.
-Eu poderia dizer o mesmo, Asami-chan. - Oikawa retrucou, pegando Asami completamente de surpresa. Ela franziu o cenho para ele. -Porque só você não consegue enxergar que é linda? Não só por fora, mas por dentro também.
Por um segundo, Asami pensou ter escutado errado; mas seu coração batendo acelerado dentro do peito e os olhos fixos de Oikawa nos dela não deixavam que Asami se enganasse. Ela sentiu o rosto esquentar ainda mais, as bochechas ficando completamente coradas, algo que fez Oikawa sorrir de leve.
Ele a achava bonita.
Talvez tivesse dito isso por ela ser uma boa amiga; talvez tivesse dito isso por pena. Mesmo assim, foi o suficiente para fazer com que o estômago de Asami revirasse e ela sentisse uma coisa estranha dentro do peito. Quase como se fosse morrer ali, há qualquer instante.
-Obrigada, mas...- ela começou, tentando dizer a ele que estava enganado.
-Não diga que estou errado. - Oikawa falou, as mãos dele deslizando até o rosto de Asami, fazendo com que ela ficasse totalmente e completamente estática, chocada demais para se mexer ou dizer alguma coisa. -Asami-chan, não sou burro e nem cego.
-E o que isso quer dizer?- ela murmurou, talvez ainda meio hipnotizada por aqueles olhos castanhos.
-Isso quer dizer que...- ele murmurou, mas suas palavras se perderam no meio do caminho.
Quando Asami percebeu que gostava de Oikawa, nem mesmo em mil anos imaginaria que ele notasse que ela existia, quem dirá que se tornaria amiga dele. E depois disso, Asami jamais pensou que se encontraria em uma situação como a que se encontrava agora.
Ela nunca pensou que Oikawa fosse segurar o rosto dela em suas mãos, nunca pensou que ele fosse aproximar tanto o rosto do dela; e, definitivamente, nunca pensou que ele gentilmente grudaria os lábios nos de Asami, dando a ela tempo o suficiente para se afastar caso ela quisesse.
Mas porque Asami se afastaria? Tudo o que ela mais queria era aquilo, era ter a boca de Tooru contra a dela, era descobrir qual era a sensação de compartilhar isso com alguém, com ele.
Então, quando ele abriu a boca, pedindo mais passagem, Asami não pensou em nada antes de ceder.
Oikawa se inclinou mais na direção de Asami, afundando os dedos no cabelo dela, fazendo Asami suspirar enquanto o puxava para mais perto de si.
A língua de Oikawa envolveu a dela de forma tímida e calma a princípio, antes que ele a beijasse com mais intensidade, fazendo Asami esquecer até mesmo qual era seu nome. As mãos dela tremiam enquanto ela as deslizava pelas costas dele, o corpo de Asami arrepiando completamente com os toques de Oikawa, com o beijo dele.
Asami poderia ter ficado ali o restante da noite, e queria mesmo ignorar o celular tocando em seu bolso se não soubesse que provavelmente seria morta caso não o atendesse.
Foi difícil se afastar de Oikawa, principalmente porque ela não queria fazer isso. Com as bochechas pegando fogo, Asami não o olhou antes de atender a chamada.
-Hm, oi, mãe. - ela murmurou, contendo a vontade de se abanar por causa do calor que se instalou em seu corpo.
-Onde você se meteu, menina? Vem logo para casa, antes que seu pai surte.- a mãe dela disse e, sem esperar por uma resposta, desligou.
-Eu... Preciso ir.- Asami disse, se virando para Oikawa, ainda incapaz de encarar os olhos castanhos dele, sentindo suas bochechas ficarem ainda mais vermelhas, se é que isso sequer era possível. -Ou minha mãe vai acabar comigo.
Oikawa esticou a mão, segurando a de Asami por um instante, entrelaçando os dedos de ambos por um tempo e apertando de leve antes de se afastar e se levantar, ajudando ela a fazer o mesmo.
-Obrigado, Asami-chan. - ele disse e ela apenas assentiu, acenando para ele antes de se virar para sair. Asami quase bateu com tudo contra a parede antes de conseguir, finalmente, ir embora. Sentindo como se uma parte dela tivesse sumido. E, ao mesmo tempo, se completado.
Data: 26/01/22
Bạn đang đọc truyện trên: Truyen247.Pro