V. Você Mandou Um Serial Killer Pra Minha Casa?
Asami não foi para escola no dia seguinte; ou no dia que veio depois. Ou no dia depois desse. Ela disse que estava "doente", mas a verdade é que Asami sequer queria sair do conforto de sua cama. Tudo se tornava mil vezes mais fácil quando ela não tinha que se preocupar em sair debaixo dos cobertores. Ela apenas precisava ficar ali, consigo mesma, ignorando as dezenas de milhares de mensagens enviadas por Emi e fingindo que não existia.
Não seria tudo mais fácil em sua vida se Asami tivesse nascido como, sei lá, princesa da Inglaterra? Assim não teria importância alguma se ela era bonita ou feia, inteligente ou burra. Afinal, ela seria princesa da Inglaterra, e a única coisa que importaria seria isso.
Com um suspiro, Asami deixou que seu rosto afundasse novamente contra a pilha de travesseiros macios em sua cama, ignorando as batidas na porta de seu quarto. Ela sabia que era sua mãe, deixando alguma coisa ali para ela comer antes de ir trabalhar. Mas Asami não tinha fome e nem vontade de se levantar; se conseguisse, ela dormiria o dia inteiro, mas a sua crise era sua inimiga, impedindo Asami até mesmo de conseguir dormir.
Ela já tinha assistido O Prisioneiro de Azkaban quatro vezes há aquela altura, e estava pensando seriamente em voltar para o início e ver tudo outra vez.
O celular de Asami tocou; tocou, tocou e tocou, e ela não precisava olhar a tela para saber que era Emi querendo saber se Asami estava bem. A verdade é que Asami não estava e talvez não estaria por um tempo, não quando ainda podia sentir mãos a agarrando com força, não enquanto aquela marca arroxeada ainda estava em seu braço graças ao aperto daquele garoto maldito.
Mesmo que não devesse, era impossível para Asami não pensar no quanto sua vida era desgraçada às vezes. E tudo o que ela conseguia pensar nesses momentos é em como tudo seria mais fácil se ela simplesmente fosse invisível. Mesmo que também a incomodasse um pouco essa ideia de invisibilidade, afinal... Ela meio que já era invisível, não? Porque quem além de Emi a enxergava de verdade?
Asami sabia que se afundar naquele buraco não era uma boa ideia. Sabia disso, mas também não conseguia evitar. Talvez ela não tivesse direito de julgar Romeu por ser um grande emocionado quando nem mesmo ela conseguia controlar suas próprias emoções direito, afinal.
Com um suspiro, Asami recuperou seu celular perdido no meio do monte de almofadas e cobertores, destinada a desligar ele; já estava começando a se irritar um pouco com os barulhos das mensagens de Emi que não paravam de chegar, e as ligações que ela insistia em fazer, mesmo sabendo que Asami não iria atender.
| Emi (16h03)
Acho bom você parar com palhaçada e me responder, Asami!
Inferno
Eu só não vou ai na porta da sua casa te encher de soco para ver se para com essa merda porque tenho que fazer a bosta do trablho de inglês com Iwaizumi!
Me respondeeeeeeee, sua desgraçada!!!!!!!!!
Já que você não se deu o trabalho de me responder, dei seu endereço para alguém ir conferir se você tá viva
Por favor, não me mate
Te amo, espero que esteja bem S2
Asami se levantou em um pulo, os olhos se arregalando com aquela mensagem. O que Emi quis dizer com "dei seu endereço para alguém ir conferir se você tá viva" afinal? Bem, talvez Emi tivesse mandado o irmão mais novo ir atrás de Asami, mas o irmão mais novo dela sabia exatamente onde Asami morava, então...
Fazia meia hora desde as últimas mensagens de Emi; se ela tivesse mandado o irmão, ele já teria aparecido ali há essa altura. E pensar no que diabos Emi estava aprontando agora apenas fez Asami querer desaparecer ainda mais enquanto a garota desbloqueava seu celular e digitava freneticamente uma mensagem para Emi.
| Asami (16h33)
Quê??????
Quem você mandou para
minha casa, sua maluca???
Pelo amor de Deus, Emi!
Eu só quero ficar
s o z i n h a
Entende isso? Que saco, Emi!!!
Pra quem você passou meu endereço?
Emi?
Emi?!
Emiiiii?!
Asami podia ver que sua melhor amiga estava online, e claramente ignorando Asami. Ah, sim, Asami sabia que era uma pequena vingança por ela ter passado o dia ignorando as mensagens de Emi, mas aquele não era momento para Emi dar o troco! Ainda mais se tinha dado o endereço de Asami para alguém.
| Asami (16h40)
Você mandou um serial killer
pra minha casa???
Pelo menos espero não ter uma
morte dolorosa. Que ele seja
misericordioso comigo
Que cacete, Emi, me diz logo que
merda você aprontou!
| Emi (16h42)
Ha ha ha
Que piada boa, uau, pelo menos seu senso de humor merda continua ótimo!
E dá pra relaxar por, tipo, dois segundos?
O príncipe encantado já deve estar chegando ai
E antes que você me dê um tiro na testa, quem pediu seu endereço foi ele
| Asami (16h44)
Que príncipe encantado?
Emi não respondeu, mas também não precisou quando Asami escutou a campainha tocar. Por um segundo, ela apenas ficou parada, estática, como se a pessoa esperando na entrado pudesse escutar caso Asami respirasse um pouco mais alto.
Que coisa mais patética, Asami pensou a medida que se arrastava para fora de sua cama e tentava pentear os cabelos bagunçados com os dedos.
Tudo bem, Asami só precisava abrir aquela porta e educadamente mandar quem quer que estivesse ali embora. É, era exatamente isso que ela faria, e nem seria tão difícil assim, afinal, tudo o que ela mais queria era ficar sozinha e em paz por um segundo.
Ela abriu a porta, abrindo a boca para já começar com suas sessões de desculpas para mandar a pessoa embora, quando seus olhos se depararam com olhos castanhos. Olhos castanhos que a olhavam com preocupação e, por um segundo, o coração de Asami parou de bater dentro do peito quando ela se deu conta que a pessoa ali, parada na frente da sua porta, era Tooru Oikawa.
-O-Oikawa, o que você...- ela gaguejou, tentando processar o que estava acontecendo ali, na sua frente. E o porque diabos logo Tooru Oikawa estava parado na sua frente naquele momento. -Quer dizer, você...
-Asami-chan, você está bem? Parece prestes a vomitar. - Oikawa disse, a analisando, e Asami torceu o nariz, respirando fundo e tentando manter sua mente no lugar.
Certo; Oikawa estava ali, por algum motivo, olhando Asami com uma preocupação que ela não era exatamente capaz de entender. Mas, bem... Ele tinha presenciado o que tinha acontecido com Asami, então...
-Eu estou bem. Não precisava ter se preocupado.- ela garantiu, tentando transmitir uma firmeza que não existia. Tooru pareceu enxergar isso perfeitamente, pois arqueou uma sobrancelha e abriu um meio sorriso para ela.
-Emi-chan disse que você ficou doente.- ele falou, mas em seus olhos estava claro que o que ele queria dizer era "sei muito bem que você não tá doente". Asami fez uma careta; -Eu trouxe lámen de frango pra você.
Asami piscou os olhos, surpresa e talvez um pouco chocada. Então, ela franziu o cenho para Oikawa e ele deu de ombros, estendendo uma sacola na direção dela, que Asami pegou, ainda meio hesitante.
-Porque?- ela soltou, sem conseguir se conter, e Oikawa sorriu.
-É seu favorito, não é? Bom, pelo menos eu acho que é, você sempre pede ele.- Oikawa disse, dando de ombros como se não fosse nada demais. Asami ficou ainda mais surpresa; surpresa por Oikawa a observar por tempo o suficiente para saber de uma coisa dessas. E supresa por ele saber que Asami existia. E surpresa por ele se importar. -Asami-chan, não pareça tão perplexa! - ele reclamou, o que fez Asami rir e abrir mais a porta para que ele pudesse entrar, algo que Oikawa fez sem protestar.
-É que ninguém tinha feito algo assim por mim antes.- ela disse, dando de ombros como se não fosse nada demais, mesmo que estivesse óbvio que era sim grande coisa. -Obrigada, Tooru. Você não precisava ter se preocupado tanto.
Oikawa deu de ombros, como se estar ali não fosse sacrifício nenhum, algo que fez as bochechas de Asami esquentarem um pouco. Além disso, ninguém que não Emi tinha estado em sua casa antes; em que universo paralelo ela estava onde Tooru Oikawa estava ali, na sua casa, e preocupado com ela?
-Asami-chan, claro que eu deveria ter me preocupado. - ele disse com um sorriso, aquele sorriso que sempre fazia com que uma parte do cérebro de Asami parasse de funcionar por um instante. -Afinal, é isso que amigos fazem, não é?
Amigos? Então ele a considerava uma amiga? Isso a pegou tão de surpresa que Asami sequer teve uma resposta para ele, o que fez Oikawa fazer uma careta engraçada, fazendo Asami rir.
-Obrigada.- ela disse, e era sincero.
-Então, Asami-chan.- Oikawa começou, se inclinando na direção dela e sorrindo. -Pode falar que você já tá mil vezes melhor só com minha companhia.
-Como você é besta, Oikawa.- ela disse com uma risada, mesmo que suas bochechas estivessem pegando fogo. Afinal, não era como se ele tivesse completamente errado...
Ele podia até não se dar conta disso, mas aquela visita inusitada e que arecia algo completamente banal, para Asami, significava o mundo. Ela achava que fosse invisível e insignificante, mas ali estava Tooru Oikawa, provando para ela que Asami não podia estar o tempo todo certa, principalmente quando o assunto era sobre si mesma.
-Eu só vim pra ver se você estava bem, Asami-chan. Eu não quero te incomodar.- ele disse de um jeito que fez o que ainda estava intacto de Asami acabasse de ser destruído completamente. Tudo se tornou ainda mais difícil de suportar quando Oikawa deu um daqueles sorrisos que Asami gostava tanto.
Droga, droga e droga, pensou Asami, enquanto seus olhos estavam fixos nos olhos castanhos de Oikawa, que eram tão bonitos que faziam Asami se perder um pouco lá dentro. Ela poderia, facilmente, passar o dia observando aqueles olhos. Porque tenho que gostar tanto dele?, era o que Asami se questionava pelo menos cinco vezes ao longo do dia. E seria tão, tão mais fácil se Oikawa fosse o garoto popular babaca, mas ele não era nem de perto esse tipo de pessoa. Pelo menos, não com ela.
-Eu já vou indo.- Oikawa disse, a olhando.
Asami não pensou muito a respeito; na verdade, tudo o que ela conseguiu pensar foi que não queria ficar sozinha, não queria ficar sozinha com seus próprios pensamentos. Ela sabia exatamente o que aconteceria quando Oikawa fosse embora e... Bem, pelo menos com ele ali, Asami não precisaria se preocupar com nada que não isso. Que não a companhia dele.
-Espera.- ela disse e Oikawa se virou para fitar os olhos de Asami. Por um segundo, ela apenas engoliu em seco, abrindo a boca algumas vezes antes de reunir sua coragem, tentando ignorar a queimação em suas bochechas. -Você... Não precisa ir embora agora, sabe? Você pode ficar. Digo, se não tiver nada de melhor pra fazer. Quer dizer, você deve ter coisas mais legais para fazer, tipo treinar, é, ignora, foi um convite idiota.
Oikawa deu uma risada suave, segurando os braços de Asami e a fazendo parar de surtar por um segundo, os olhos fixos no dela. Oikawa sorriu, e Asami pensou que talvez já não restasse mais nada dela no lugar depois disso.
-Eu vou ficar.
E ele ficou.
Data: 25/01/22
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