III. Então Porque Você Está Sozinho?
Asami não sabia exatamente em que momento as coisas tinham evoluído de um simples dia estudando no ginásio para escapar da gritaria para vários dias passando as tardes estudando ali enquanto ouviam os sons da bola de vôlei batendo de um lado para o outro. Mas não era como se Asami pudesse reclamar, afinal, ela preferia mil vezes o som da bola do que o da gritaria dos alunos ou a poeira da biblioteca que sempre fazia sua rinite maldita atacar. E tinha Oikawa que insistia em dizer que ter "garotas bonitas" ali fazia com que o time dele jogasse melhor só para de exibir. Asami não sabia muito bem se isso era verdade, mas não deixava de rir mesmo assim.
-Então você finalmente tá jogando vôlei de verdade?- Asami disse com um sorriso, jogando a bola para cima quando ela atingiu seus braços.
-Sim, é demais! - o garoto disse com animação, tanta animação que se esqueceu de impedir que a bola de vôlei que Asami havia jogado para ele caísse no chão, o que fez Asami rir.
-Hinata, você esqueceu de pegar a bola. - ela disse com um tom brincalhão, fitando os olhos do garoto de cabelo laranja. Hinata fez uma careta engraçada.
Asami conhecia a família dele desde que se entendia por gente já que a mãe de Asami e a de Hinata eram melhores amigas de infância. Para Asami, Hinata era como um irmãozinho mais novo, e ela realmente ficava feliz de ver que ele finalmente tinha encontrado pessoas para jogarem junto com ele. Afinal, Asami não era, nem de perto, tão boa assim em vôlei, então não era lá grande ajuda. Tudo o que ela sabia era o básico, e graças a Shoyo que insistiu tanto em ensinar a garota dois anos mais velha a jogar para que ela jogasse com ele. O que não deu lá muito certo.
-E tem aquele maldito Kageyama. - Hinata resmungou, recuperando a bola de vôlei e jogando na direção de Asami, que consegui tocar a bola e a devolver para Hinata enquanto reiniciavam aquela sessão de passes. -Ele pode ser bom demais, mas é tão idiota!
Asami riu, sabendo exatamente que era sempre assim que se começava uma amizade. Afinal de contas, Emi e Asami competiam para ver quem era a melhor aluna da turma antes de começarem a ser amigas de verdade e se darem conta de que, onde uma falhava, a outra poderia muito bem servir como apoio. E Asami estava certa quanto a isso; afinal, quem melhor do que Emi para fazer Asami parar de preguiça quando o assunto era aulas de física? Quem além de Emi conseguiria fazer Asami ficar tão irritada ao ponto de passar a madrugada inteira estudando sobre movimento harmônico simples apenas para conseguir esfregar na cara de Emi que ela podia sim saber tanto quanto ou mais que Emi sobre a matéria?
Hinata não parecia nada inclinado a concordar, mas Asami tinha plena certeza que não demoraria nada para surgir uma amizade entre ele e esse tal de Kageyama. Nem que fosse para viverem em uma eterna competição para tentar descobrir quem é o melhor.
-E você já participou de alguma competição? - Asami perguntou, fazendo uma careta quando quase deixou a bola cair, o que fez Hinata dar risada.
-Uns jogos pra treinar. - Hinata disse e abriu um sorriso tão grande que era capaz de cegar alguém. -Eu sou titular! Meio de rede!
-Que demais! Ninguém fica chocado por você ser mais baixo que os outros e não ser líbero?- Asami perguntou, ciente de tudo o que Hinata já teve que escutar por causa de sua altura. Ele fez uma careta engraçada que fez Asami rir. Como sempre, ele odiava que lembrassem dos seus grandes um metro e sessenta e quatro centímetros.
-O tempo todo. Você precisa ver a cara que fazem quando me veem pular!- Hinata disse, abrindo um sorriso, e Asami riu. Ela sabia muito bem como era ficar chocado vendo o quão alto Hinata conseguia pular. -Vamos ter o intercolegial daqui um tempo. Você podia vir me ver jogar!
-Talvez eu vá.- ela disse, dando de ombros e segurando a bola em suas mãos, interrompendo a sessão de passes entre eles. -Mas depende do dia. Porque eu tenho que...
-Estudar, é, é. Eu sei. - Hinata disse e ela sorriu. Anos de convivência faziam aquilo; eles conheciam um ao outro bem demais.
Asami se aproximou dele, apertando as bochechas de Hinata com força. Como sempre, ele não reclamou, mesmo que ela tivesse deixado marcas vermelhas na pele do garoto.
-Mas eu te prometo que vou tentar ir. Vou ser sua torcedora número um!- ela brincou e Hinata riu antes de abraçar Asami com força. Ela bagunçou os cabelos laranjas dele antes de se afastar. -Preciso ir. Tenho prova amanhã.
-Isso não vai ser problema pra você, Asami-san. Você sempre tira nota máxima!- Hinata disse com um sorriso e ela riu antes de se despedir do garoto e voltar para casa.
Asami gostava de caminhar; era durante suas caminhadas para casa que Asami colocava todos seus pensamentos no lugar e deixava de lado todas as preocupações com escola e as pessoas ao seu redor. Quando estava sozinha, Asami não precisava se preocupar com mais nada. Não precisava se preocupar com o fato que ela não era e nem nunca seria o tipo de garota ou o tipo de pessoa que se destacava. E, se ela fosse ser sincera, mesmo que às vezes isso a atormentasse, naqueles momentos, Asami não se importava.
Ela não tinha nascido para agradar ninguém, e muito menos seria uma idiota emocionada como Romeu e Julieta.
Involuntariamente, Asami pensou em Oikawa. O jeito como ele parecia não se importar com o fato de Asami ser a nerd da escola que todos evitavam. Era como se, para ele, Asami fosse uma pessoa como qualquer outra. Era engraçado que o garoto mais popular da escola soubesse que ela existia e ainda perdesse o tempo dele sendo educado com Asami.
Talvez fosse por isso que Asami gostasse mais de Oikawa do que gostaria de admitir. Talvez fosse por isso que ver o sorriso simpático dele fosse como tomar um tiro bem no meio do peito. E talvez fosse por isso que ela achasse os olhos dele tão terrivelmente bonitos. E talvez fosse por isso que Asami sentisse tanta vontade de afundar seus dedos nos cabelos castanhos de Tooru.
Com um longo e pesado suspiro, Asami passou a mão pelo rosto. Era uma droga que ela não conseguisse deixar de pensar nele por tempo o suficiente para esquecer que Tooru Oikawa existia. Era uma droga que Asami talvez gostasse dele mais do que deveria. Mesmo que, para garotos como ele, garotas como Asami nunca passassem de apenas uma amiga.
Asami estava tão perdida dentro de seu próprio mundo que não prestou muita atenção nas pessoas ao seu redor. Graças a isso, Asami acabou se chocando contra algo sólido, fazendo a garota tropeçar nos próprios pés e quase cair no chão. Ela percebeu que não era exatamente um algo, mas sim um alguém quando mãos agarraram seus braços com delicadeza, a mantendo no mesmo lugar e impedindo que Asami caísse de forma patética no asfalto.
Ela sentiu as bochechas pegarem fogo instantaneamente, querendo desaparecer do universo, seu orgulho e dignidade se esvaindo em um piscar de olhos. Asami reuniu suas forças para pedir desculpas pela sua imensa burrice e ergueu a cabeça para fitar a pessoa com quem havia trombado.
Asami teve vontade de desaparecer quando seus olhos se fixaram em olhos castanhos, aqueles mesmo olhos castanhos que ela estava pensando minutos atrás.
Um sorriso largo e sincero foi aberto para ela, e isso apenas fez com que as bochechas de Asami ficassem ainda mais coradas. Por um instante, Asami se perguntou se poderia simplesmente desaparecer dali antes de virar geleia por conta do efeito que aqueles sorrisos tinham sobre ela.
-Asami-chan, você está bem? - Oikawa perguntou, soltando os braços dela lentamente, fazendo com que os pelos do corpo de Asami se arrepiassem. Ela balançou a cabeça com um pouco de força demais, o que fez Oikawa rir. -Eu não te vi.
-Eu estava distraída. - ela murmurou, tentando se esconder no meio de seu cabelo preto comprido. Talvez assim Oikawa não percebesse o quanto suas bochechas estavam pegando fogo naquele momento.
-Está sozinha, Asami-chan?- ele perguntou, a fitando com aqueles olhos que sempre faziam uma parte do cérebro de Asami parar de funcionar. Ela apenas assentiu para ele e Oikawa deu um meio sorriso. -Você quer companhia?
-E-eu não quero atrapalhar nem nada.- ela disse, se embolando nas palavras, sentindo o coração dar um salto dentro do peito com a ideia de andar sozinha com Tooru Oikawa. -Está tudo bem, sério. Eu só estava indo para casa, nada demais.
-Ah, mas não é legal andar sozinha, Asami-chan. - ele disse, franzindo o cenho para ela. Eu já me acostumei com a solidão, Asami pensou, mas não disse nada, apenas deu de ombros.
-Então porque você está sozinho?- ela disse com um sorrisinho e Oikawa torceu o nariz, o que fez Asami rir.
-Na verdade, eu...- Oikawa começou, porém, uma voz o chamando com um tom de irritação o impediu de continuar.
Involuntariamente, Asami se virou; apenas para se deparar com uma das garotas mais bonitas que ela já tinha visto na vida.
O cabelo ruivo perfeitamente bem cuidado, assim como a pele que não tinha nenhuma espinha, diferente de Asami que parecia um imã para elas. A garota usava um vestido rosa bonito e estava com os braços cruzados abaixo dos seios, encarando Tooru com uma sobrancelha arqueada.
Ela era, literalmente, tudo aquilo que Asami jamais iria ser. Por um segundo, Asami se sentiu péssima vestindo uma calça legging preta e uma camiseta cinza grande demais para ela. Sem contar que Asami era a verdadeira cara do cansaço naquele momento depois de ter passado um dia exaustivo ajudando sua mãe dentro de casa.
Asami viu Oikawa fazer uma careta quando a garota começou a se aproximar deles e Asami desejou estar em qualquer outro lugar que não ali.
-Você demorou demais e sua mãe disse que estava nessa merda de parque.- a garota disse, parecendo indignada.
-Eu perdi a noção do tempo. - ele disse, simples, dando de ombros. A garota pareceu bem perto de atirar sua bolsa na cara dele.
-Que droga. Sinceramente, eu...- ela começou, porém, parou de falar assim que seus olhos fitaram Asami. Ela torceu o nariz. -Quem é essa?
Oikawa se virou, olhando Asami por um instante antes de voltar a olhar a garota na sua frente.
-Essa é a...- ele começou, mas Asami o cortou.
-Não sou ninguém importante e já estava indo embora. Tchau pra vocês.- ela disse, rapidamente, ignorando o chamado de Tooru quando se virou e caminhou da forma mais veloz que conseguiu.
Ela não sabia exatamente o porque tinha fugido; e também não sabia exatamente o porque seu coração estava tão, tão pesado naquele momento.
Mas de algo Asami tinha plena consciência: ninguém nunca perderia o tempo com uma garota como Asami. Não quando haviam outras mil vezes mais bonitas que ela por aí.
Data: 23/01/22
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