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PARTE I: MILLIE

1. O segredo de Sadie

SADIE

21h37. Bem tarde da noite para chegar em casa. Que ótimo, estava ferrada.

Ao guardar o celular no bolso, coloquei a chave no trinco da porta, girando-na delicadamente para fazer o menor barulho possível. A TV era a única coisa que iluminava todo o cômodo.

Agarrei a alça da mochila sobre meu ombro e entrei, bloqueando a brisa fria ao fechar a porta cuidadosamente.

Comecei a atravessar o corredor que dava para o quarto de minha mãe e o que eu dividia com Jacey. Contudo, um som de passos me alarmaram e parei bruscamente quando um vulto saiu do banheiro.

— Está tarde. — Joseph disse, num tom suave e ao mesmo tempo repressivo.

— Eu sei. — respondi duramente, sem olhar nos olhos dele. O silêncio em que o ambiente se instalou foi pior do que uma conversa constrangedora. Eu me sentia aterrorizada. Olhei por cima de seu ombro discretamente, vendo ao fundo a porta do meu quarto. Ele estava literalmente bloqueando a passagem. — Onde está a minha mãe? — questionei, num tom falsamente firme.

— Dormindo. Jacey também.

Assenti, ainda sem olhá-lo, baixando os olhos. Não que fosse preciso para conseguir sentir o olhar malicioso de meu padrasto mesmo sob àquela escuridão.

— Eu vou para o meu quarto. — falei, fazendo menção de me afastar. No entanto, sua mão grande e gélida segurou meu braço com certa brutalidade, impedindo meu ato.

— O que andou fazendo na rua até esta hora, Sadie? — questionou, como se procurasse algum motivo para me manter ali.

— Nada demais. — respondi, apesar de querer lhe dar uma resposta sarcástica. No entanto, não estava nos meus planos irritá-lo. Insatisfeito com minha descrição curta, Joseph aumentou seu aperto. Arregalei os olhos, ficando um pouco mais assustada. — Está me machucando... — avisei, aumentando propositalmente meu tom de voz como um alerta para o mesmo.

Ele afrouxou o aperto, parecendo subitamente ter se acalmado.

— Você sabe que eu me preocupo com você, não sabe? — murmurou.

— Me solta. — pedi. Percebendo que ele não cedeu, ameacei, sentindo lágrimas brotarem no canto dos meus olhos enquanto tentava puxar minha mão trêmula: — Eu vou gritar...

— Primeiro se pergunte em quem sua mãe vai acreditar. — ele sussurrou quase despreocupado, com um sorriso nojento de lado.

Joseph levantou sua outra mão. Instintivamente, o empurrei com força. Por ter sido pêgo de surpresa, o mesmo cambaleou para trás, batendo em algo que descobri ser um quadro ao cair no chão e provavelmente quebrar, causando um barulho indesejado por nós dois, por motivos distintos.

Fechei os olhos aflita ao ouvir o interruptor de um dos quartos. De novo não...!

— Sadie? Por que está em casa tão tarde? — minha mãe se rencostou na porta, me olhando como se estivesse prestes a me dar uma bronca, ignorando completamente o barulho que a tirara da cama. O cabelo ruivo estava em um coque frouxo do qual ela acabara de fazer e vestia um pijama de inverno.

— Estou aqui agora. — respondi, tentando soar o mais monótono possível, como se não estivesse acontecendo nada segundos atrás.

— Vá dormir então, Sadie. — Joseph se aproximou e tocou meu ombro, falando num tom falsamente gentil e delicado.

Na mesma hora me desvencilhei de seu toque, sentindo nojo dele:

— Tire suas mãos de mim. — falei, quase que por instinto.

O que é isso, Sadie?! — a mulher que se diz minha mãe questionou, como se não estivesse vendo o olhar do próprio marido vidrado em sua filha.

— A senhora continua cega, mãe. — afirmei, com raiva, desistindo de tentar permanecer calada assim como da última vez.

— O que foi? — ela alternou seu olhar entre seu marido e eu por um segundo e, ao compreender minha expressão, seu rosto ficou irado. Irado comigo. — Não comece, Sadie, por favor. — pediu, como se estivesse farta daquele assunto.

'Não comece'?! — repeti, ficando puta da vida com sua negligência. — Eu só não digo o que ele fez porque a senhora não vai acreditar.

O quê, Sadie? O que ele fez? — ela disparou, no tom mais sarcástico que conseguiu. — Só falta você acusá-lo de assédio de novo. — Lhe dei as costas, rindo sem emoção, e a mesma vociferou: — Onde você vai, Sadie?

— Você se importa, mãe? — me virei para a mesma. — Se importa de verdade? — tudo o que ela foi capaz de me dar foi seu silêncio. Bufando, dei dois passos para longe dos dois. Ao me chamar de novo, a olhei no fundo dos olhos. — Eu vou embora — direcionei meu olhar para o cara do qual minha mãe deposita total confiança e amor, alguém que nem deve saber o que é isso; e sussurrei: —, não fico mais um segundo nessa casa.

Ignorando seus chamados enfurecidos, andei apressadamente pelo corredor e cruzei a sala, abrindo a porta e desatei a correr ao sair, tentando pensar em algum lugar para passar a noite.

Tudo o que eu queria ao chegar era apenas ir para o meu quarto e dormir. Infelizmente, isso não era algo tão simples de se fazer naquela casa.

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Eu sei, ficou pequeno. Mas calma que amanhã tem mais, pessoas <3 <3

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