7. Primeiro dia de treino
Meus pais me encaravam surpresos após eu ter perguntado sobre poder praticar boxe. Compreendia perfeitamente o espanto, visto que eu nunca havia me interessado em absolutamente nenhum esporte na vida. Nem eu mesma estava acreditando que havia aceitado a ideia que Noah tivera.
Quando o mesmo havia sugerido isso, havia o encarado descrente. Quer dizer, ontem quase havíamos implorado para não ter que irmos ao Boliche por medo de Sadie ganhar de lavada e agora ele havia vindo com uma dessas?
— Boxe...? — repeti, como se estivesse me certificando de que havia entendido.
Noah poderia ter sugerido qualquer outra coisa. Nem precisaria ser uma atividade física, confesso que seria ótimo perder um pouco do meu sedentarismo. Mas algo desse tipo já era demais. Logo para mim, que nunca gostei de nada que envolvesse violência. E era exatamente assim que eu enxergava esse esporte.
Meu melhor amigo me olhou juntando as sobrancelhas, estava começando a ficar um pouco nervoso, talvez por eu estar pensando em rejeitar a sua sugestão. No entanto, Sadie lhe respondeu antes que eu pudesse dizer algo mais:
— Essa... é uma excelente ideia! — concordou a mesma com uma estranha animação. Contive um gemido de frustração, querendo lhe responder que sim, era uma excelente ideia eu me meter com isso e acabar recebendo um belo de um soco na cara. Contudo, fiquei calada. — Millie, é perfeito! — A mesma virou-se para mim. Logo fez uma careta ao fitar minha expressão de desespero.— Não faça essa cara! Veja: você pode descontar tudo o que você está sentindo no boxe!
— ... Que? — Noah riu. Acho que nem ele havia entendido.
A ruiva revirou os olhos impaciente.
— Brown, todos esses sentimentos que você está sentindo, ressentimento, coração partido, raiva, você pode descontar no boxe. Vai te ajudar a extravasar. Além de que irá te ajudar a superar o Finn logo de uma vez.
— Não sei, Sadie. — respondi baixinho. Estava indecisa. Além do fato de que aquilo era novo demais pra mim, ainda teria que analisar várias coisas antes de decidir e ainda encaixar um horário para isso durante a tarde para não prejudicar minhas lições em casa.
— Eu sinceramente acho que seria muito bom. Não faz ideia de como é bater num saco até se sentir melhor. Ajuda muito. — afirmou a mesma, fazendo uma pausa para comer seu lanche.
Foi então que a encarei surpresa.
— Você já praticou...?
— Já. — confirmou antes que eu pudesse terminar, com um certo brilho de saudade no olhar.
A ruiva me fez lembrar da briga no corredor da escola há dois meses atrás. Quando Iris havia armado a maior algazarra ao afirmar que eu havia "roubado" seu namorado para a escola inteira quando Finn e a garota nunca estiveram juntos; e Sadie se envolvera no instante em que Iris havia citado o nome de Noah para provocar nós dois, insinuando que éramos amigos com certos privilégios. A ruiva a havia acertado um soco no rosto. Quando geralmente em brigas de meninas são mais comuns tapas e fora exatamente assim que a Apatow revidou. Aquilo havia feito sentido em minha cabeça apenas naquele instante.
— Faz sentindo... — falei pensativa.
— Então, isso é um sim? — Noah me perguntou, interrompendo meus pensamentos.
Ainda não havia me decidido. Contudo ver ambos tão entusiasmados me impossibilitava de dizer não.
— É um talvez. — disse por fim.
— Boxe, garota? Mas você nunca gostou de nenhum tipo de esporte... — disse papai confuso, sem entender porque eu havia vindo com aquele assunto do nada.
Dei de ombros ao me virar para continuar lavando os pratos do jantar.
— Eu sei. Só... acho que seria bom fazer alguma coisa diferente... — foi o que respondi. Realmente não sabia como dar uma explicação melhor para aquilo.
— Minha resposta é não! — exclamou mamãe, nos interrompendo, enquanto guardava a louça que estava no escorredor. Parecia estar exaltada, o que era um mau sinal.
— Win... — começou papai.
— Não, David! Co-como você pode sequer pensar em concordar com isso? — continuou a mesma, irredutível, virando-se para o mesmo ao terminar de guardar o último copo e fechar o armário. — Sabe o que vou fazer com o desgraçado que machucar minha filha?!
— Winona, acalme-se... — pediu o mesmo inutilmente, largando o lápis sobre a mesa, que usava para rabiscar os gastos do mês visto que precisávamos comprar presentes entre outras coisas para o Natal e Ano-Novo, para levar a mão até a nuca e suspirar em frustração.
Revirei os olhos. Aquilo iria demorar.
— Vou matá-lo! — continuou mamãe, sem realmente ouvi-lo. — É isso que vou fazer. E então serei presa e você terá que subornar o juíz para me tirar da cadeia. Porque se você me trocar por alguma vadia eu vou...
— Olha as besteiras que você está dizendo, pelo amor de Deus! Ainda mais na frente da Millie! — papai exclamou ao encará-la seriamente, parecendo ficar realmente zangado naquele instante.
— David, boxe é um esporte violento! — afirmou ela, ainda em tom alto, voltando ao assunto anterior, ignorando completamente o que dissera anteriormente. — Por acaso viu aquela notícia que saiu no jornal esses dias? Da boxeadora que sofreu um acidente bastante grave?
Foi então que ela conseguiu minha atenção, fazendo-me arregalar os olhos assustada e considerar dar para os meus amigos alguma desculpa por desistir.
— Foi um acidente de carro, Winona. De carro! — exclamou meu pai, desmentindo a mesma.
— David! — sussurrou mamãe, indicando-me com o olhar. Soltei o ar um pouco mais calma. Ela estava apenas tentando me enganar para que eu desistisse. Não poderia julgá-la por isso.
No entanto, papai suspirou, passando as mãos por seu rosto ao tentar se acalmar.
— Winona, deixe a Millie fazer o que ela quer. — pediu meu o mesmo, desta vez num tom bem mais manso. — Você não sabe como eu queria que ela saísse um pouco e fizesse algo além de ficar em casa estudando pra variar. — admitiu.
Mamãe o olhou feio, o que indicava que havia perdido a discussão e que havia odiado isso.
— Tem certeza disso, querida? — a mesma desviou o olhar para o meu, falando também mais calmamente, apesar de seu olhar implorar-me silenciosamente para voltar atrás.
Hesitei. Aquela era a única chance que tinha de desistir, pois, se me arrependesse depois, mamãe iria soltar berros enfurecidos por eu a ter feito pago alguma academia cara simplesmente para nada.
— Tenho certeza, mãe. — respondi depois de um instante calada.
Ela suspirou derrotada e assentiu.
— Então, temos que comprar as luvas e ver alguma academia com um preço acessível. — disse ela para papai.
— Certo. — ele assentiu.
Ao terminar de limpar a cozinha e subir ao quarto, resolvi pesquisar um pouco sobre no que eu estava me metendo. Confesso que fiquei um tanto assustada quando cliquei num vídeo de luta de boxe no YouTube onde uma garota havia levado um soco bem dado no rosto por outra e cair no chão do ringue. Ela estava usando as luvas adequadas, lógico, mas ainda assim pude sentir a dor que deve ter sido. Uma garota que nunca joga bola por medo de levar uma bolada fazendo esse tipo de atividade pareceu uma ideia ainda mais tola naquele momento. A intenção de Noah era com toda certeza brilhante, mas não para alguém que prefere viver cercada de livros ao invés de fazer qualquer outra coisa que envolva luta.
Após me recuperar de ver aquilo, pesquisei pelo preço das luvas e de algo a mais caso fosse necessário, descobrindo que além delas precisaria de um protetor bucal, bandagem e mais algumas outras coisas. Num suspiro profundo, pensei: eu realmente vou fazer isso.
Na quinta de manhã, papai disse que já havia feito minha matrícula pelo site de uma academia aqui perto de casa.
— Tão rápido assim, David? — perguntou mamãe, chocada com a rapidez, enquanto mexia seu café com leite com uma colher pequena.
— Claro, se é isso que nossa filha quer fazer... — respondeu ele.
— Dois dias atrás eu achava que Millie queria ser cientista, não é? Mas pelo visto... — ela me olhou com um olhar teatralmente triste, contudo eu sabia que era pra valer.
— Bióloga, mãe. — corrigi enquanto me levantava da mesa e pegava a alça de minha mochila ao lado da cadeira. — Mas ainda quero ser isso.
Meu pai parecia analisar minha expressão, por medo de identificar algum sinal de arrependimento de minha parte. Fico orgulhosa de mim mesma por poder afirmar que ele não havia conseguido encontrar nada disso em meu rosto. Mas, apesar de ser absurdamente compreensível, questionara meus motivos por estar tão decidida naquilo.
— Eu acho que... já fiquei trancada naquele quarto por tempo demais. — foi a única coisa que me veio à cabeça para responder, mas pareceu ser o suficiente para ele. Meus pais também queriam que eu superasse Finn e que melhor maneira do que me distrair com algo?
Por fim, passei as alças da mochila por meus ombros antes de beijá-los na bochecha antes de sair para ir à aula.
Na escola, a primeira coisa que Noah disse assim que me sentei em minha carteira fora "E aí?", que significava que ele queria saber como meus pais haviam reagido diante de tudo aquilo. Dei um breve resumo para ele, destacando a preocupação excessiva de Dona Winona e a completa confusão do meu pai, que não entendia o motivo do meu súbito suposto interesse pelo boxe.
— Imaginei que a tia Win fosse reagir dessa maneira. — Noh comentou, achando graça.
— Pois é. Fiquei sem saber como explicar que foi uma ideia suicida do garoto do qual ela gosta tanto. — debochei, fazendo-o ruborizar.
— E quando você começa? — mudou rapidamente de assunto.
— Hoje. — falei. — Mal posso esperar.
Ele riu da minha ironia.
No intervalo, fomos comprar algo para comermos antes de irmos nos sentar no lugar de sempre, que agora era no jardim.
Pedi um hambúrguer para a moça simpática da lanchonete, lhe entregando o dinheiro antes de pegar meu lanche. Enquanto a mesma se virara para atender Noah, me virei para Sadie para lhe responder algo que fugira completamente de minha mente quando encontrei Finn sentado entre seus amigos em uma das mesas bem perto de onde nós estávamos. Me permiti olhar para ele por um momento. Precisava aproveitar a oportunidade já que o cacheado ainda não sabia que eu o estava encarando. Sua expressão estava séria e fechada como sempre. Ele respondia algo para McLaughlin que eu não podia ouvir devido ao barulho alto do refeitório inteiro. Era estranho ser bom olhar para o garoto que havia me dececionado profundamente. De certo modo, era difícil olhar naqueles olhos castanhos — que pareciam tão vazios, com marcas de insônia abaixo deles — e sentir dor no lugar daquelas palpitações em meu peito que o cacheado sempre me provocara, apesar de ainda estarem lá. Seu rosto parecia estar ainda mais pálido que o normal e eu implorei em meu íntimo para que fosse apenas impressão. Logo, o moreno deve ter sentido ser observado durante tanto tempo por alguém. Seus olhos varreram o ambiente até me achar. Ele pareceu surpreso, mas sustentou o olhar. E eu simplesmente não consegui desviar. A frieza pareceu lhe abandonar, dando lugar para um pequeno brilho, quase inexistente. Como a primeira faísca de um isqueiro que não é aceso a muito tempo. Devia estar sendo difícil pra ele também. Devo ter ficado tanto tempo parada com meus olhos presos aos dele que Sadie precisou estalar os dedos bem próximo ao meu rosto para que eu pudesse voltar a focar nela.
— Ouviu o que eu disse, Millie? — perguntou, e eu fiquei com medo de responder. Se dissesse que não, ela iria querer saber para onde eu estava olhando e eu sinceramente não queria escutar mais um "vocês deviam conversar".
— Sim. Eu só... comecei a pensar como deve ser todo esse negócio de boxe e tal. — menti, começando a caminhar com ela e Noah, que havia acabado de pagar pelo seu lanche, seguindo-os para longe dos olhos de Finn que eu sabia que ainda não haviam desviado de mim.
Contei pra Sadie onde era a academia que iria começar hoje e fiquei surpresa quando a ruiva disse que era a mesma que ela fazia. Sink sugeriu então que fosse comigo até lá, já que eu não tinha tanta certeza de onde era. Como papai havia se oferecido a sair mais cedo do trabalho para poder me levar, lhe enviei uma mensagem avisando que não seria necessário já que Sadie sabia onde era, omitindo, é claro, a parte que ela havia feito boxe lá.
Depois da escola fomos juntas até minha casa para que eu pudesse me arrumar. Coloquei um top por cima de uma camiseta masculina grande e larga que eu tinha, sentindo um pouco de ressentimento por nunca ter me interessado para comprar alguma regata. Contudo, aquela camiseta deveria ser um tanto adequada, visto que não era nada colada. Coloquei uma das poucas calças legging que eu tinha e peguei os tênis de corrida da minha mãe, amarrando o cabelo em um rabo de cavalo.
Sadie e eu andamos algumas quadras antes de pararmos em frente a uma academia que eu já notara antes, apenas por causa de Maddie uns dois anos e meio atrás quando ainda não nos dávamos bem. Estávamos indo com minha mãe e a tia Melissa comprar roupas para o Ano Novo quando passamos em frente à Academia, que na época era bem mais simples e não era toda pintada de preto com letras de seu nome escritas em forma de slogan em cima; Maddie zombava de meu corpo nada atlético e, por coincidência, indicou a academia com o rosto, sugerindo que eu devesse fazer alguns exercícios físicos para criar um pouco mais de massa muscular. Desde sempre, minha prima se importara muito com a aparência.
— Já tinha visto esse lugar. — comentei, como quem não quer nada.
— Vai gostar. Vem. — disse, ao me puxar pelo braço.
Subimos os pequenos degraus até a entrada. Na recepção, a mulher atrás do balcão preto sorriu gentilmente ao nos aproximarmos.
— Boa tarde, vieram se matricular? — perguntou.
— Boa tarde. Não, na verdade ela vai começar hoje. — Sadie respondeu.
— Certo. Fez a matrícula pelo site? — Assenti enquanto a mesma se dirigia ao computador. — Nome completo?
— Millie Bobby Brown. — respondi.
— A atividade será boxe, correto? — continuou ela, olhando-me de canto de olho para confirmar.
— Sim.
— Está certo. Bem-vinda, Millie. Já pode ir para o treino, a sala fica no primeiro andar à direita. — indicou a mesma.
Assenti, um pouco nervosa, gaguejando um obrigado um pouco desajeitado antes de me virar para Sadie. Assegurei para a ruiva de que ela poderia ir, visto que eu demoraria uma hora e meia ali. A mesma cedeu, desejando-me boa sorte antes de ir. Subi as escadas até o primeiro andar e, por educação, bati na porta azul-escura que já estava aberta.
Um homem negro de estatura alta, que julguei ser o Professor, levantou os olhos de alguns papéis que segurava para me fitar. Ele sorriu antes de subir com o indicador o óculos que escorregara de seu rosto e fez um gesto para que eu entrasse. Usava a camiseta preta da academia.
— Olá. É nova, certo? Pode entrar. Já vamos começar. — Assenti ao fazê-lo, dando dois passos à frente.
Haviam cerca de quinze alunos ali. A sala era revestida por tatame, com espelho em uma das paredes que ia do chão ao teto, que lembravam uma sala de balé. No canto da parede de frente ao espelho, estavam jogados alguns equipamentos essenciais para o treino dentro de uma caixa.
— Eu sou o Professor Victor. Muito prazer, e você é?
— Millie. — respondi timidamente, subindo meu olhar para o mesmo. Alguns dos outros prestavam atenção em mim, a maioria eram do sexo oposto, o que me deixou de certa forma meio acanhada.
— Millie. — repetiu, assentindo. — Bem-vinda, você vai sentir algumas dores nos músculos nos primeiros dias, mas é normal, ok? — Assenti novamente, enquanto contava quantas mulheres haviam ali. Eram exatamente apenas três. — Bem, já pode tirar os sapatos, vamos começar. Já havia feito boxe alguma vez?
— Não. Esta é a primeira. — respondi, retribuindo o sorriso ao voltar meus olhos para si.
Me afastei do mesmo para retirar meus tênis e deixá-los no canto, perto da porta.
Fui para perto dos outros quando mais alguém bateu à porta. Uma garota de cabelos longos e claros, que aparentava ter mais ou menos minha idade, havia chegado e estava bastante ofegante.
— Posso entrar, Professor? — perguntou, ainda com dificuldade de respirar.
— Pode, Lillia. — A mesma logo passou pela porta apressadamente, deixando sua mochila encostada na parede antes de vir até nós. — Tente chegar um pouco mais cedo, este é seu quarto atraso em dois meses. — advertiu ele. A garota assentiu, como se essa não fosse a primeira vez que sua atenção estava sendo chamada e a mesma já estivesse acostumada.
Dando início ao treino, após alguns alongamentos, o professor nos fez fazer alguns aquecimentos — que estavam notavelmente fáceis para a maioria dos alunos, exceto eu — antes de começarmos. Por nunca fazer nenhum tipo de atividade física, já estava sofrendo apenas nessa parte e o fato de ainda não termos começado, apenas me alarmava mais.
Tivemos que começar a correr em volta no tatame. No início, foi fácil acompanhar os outros, até que eu tive que dar uma parada.
— Não para não, continua andando. — instruiu o Professor Victor, estalando os dedos para tentar me incentivar.
Sorri, assentindo, antes de continuar apenas andando até conseguir voltar a correr. Só estávamos correndo e eu já estava morta. Voltei a sentir vontade de parar, mas cerrei os dentes, forçando-me a continuar.
— Lateral. — instruiu o homem. Sem entender, observei os outros, que ainda estavam avançando, só que desta vez de lado.
Um pouco desajeitada, os imitei. Depois disso, o Instrutor Victor pediu para trocarmos de lado. Felizmente, daquela forma era muito melhor do que correr.
Após um tempo, ele pediu para que parassemos e nos dividiu em dois grupos. O outro grupo era o dobro do que eu havia ficado. Eles pegaram suas luvas e foram para o outro lado da sala, começando a lutar em pares. Fiquei os observando em silêncio, me imaginando no lugar de um deles.
— Bem, agora, eu vou passar alguns golpes pra vocês e quero que repitam em frente ao espelho. Assim, vão poder os memorizar. — disse o instrutor, olhando mais para mim do que para os outros, já que aquele era meu primeiro dia. — É canhota ou destra, Millie?
— Destra. — respondi.
— Certo. Pé e mão que usamos, sempre atrás da guarda. — explicou ele, colocando o pé esquerdo por volta de 15 cm à frente do corpo e o traseiro com o dedão apontando para fora, dobrando um pouco os joelhos. As mãos fechadas em punho, com a esquerda a frente enquanto a direita ficava próxima ao queixo. — Sua mão esquerda é a mais fraca e tem menos domínio, por isto fica a frente da direita.
Assenti enquanto copiava seus movimentos. Me perguntei porque a mão mais fraca ficava à frente, sendo que seria bem mais lógico a mão que estamos acostumados a usar para desferir os golpes, contudo resolvi não interrompê-lo, deixando as perguntas para depois.
Primeiro, ele ensinou os golpes jab e direto. Sendo ambos socos simples, tendo a diferença de que o jab é lançado com a mão que está à frente da guarda, sendo necessário para executá-lo fazer um giro do quadril, seguido de um giro com o ombro e o peso da perna da frente ser deslocado para a perna de trás, para, consequentemente, aumentar a potência do golpe; e o direto com a mão que está atrás da guarda, com a diferença de que o giro é feito para o lado oposto.
Depois, pediu para que ficássemos em frente ao espelho praticando ambos os dois golpes, nos corrigindo algumas vezes quando era necessário.
Ficamos minutos repetindo o golpe até o Professor resolver passar outro e assim se seguiu a aula.
Parecia ser coisa simples, mas não era. E eu posso afirmar que nunca suei tanto em toda minha vida. Meu suor chegava até o meu pescoço e sentia a parte detrás de minha camiseta bastante úmida. Perto de acabar a aula, o Professor Victor juntou os dois grupos que até então ainda estavam separados e nos fez fazer três tipos de abdominais. Quando pensei que não aguentaria mais, ele encerrou a aula.
Voltei pra casa já sentindo os efeitos dos exercícios. Ao adentrar minha casa, minha mãe já haviam chegado.
— Como foi, filha? Se machucou?
— Não, mãe. — revirei os olhos, sorrindo ao desabar o corpo no sofá. — Eu nem lutei.
— Pode ir tomar um banho, então. — disse ela.— O jantar já está pronto. Seu pai chegará tarde hoje.
Assenti antes de me obrigar a levantar e subir até o andar de cima. Peguei uma toalha do guarda-roupa já que mamãe havia colocado as que estavam no banheiro para lavar, mas acabei me sentando em frente à minha escrivaninha e encarei a parede pensativa, sem desmanchar meu sorriso.
Ainda era cedo para lutar com alguém ou treinar socando o saco, no entanto aquela aula havia sido o suficiente para me deixar de bom humor. Agora eu entendia porque Sadie insistira tanto. E parecia totalmente ridículo o fato de eu ter ficado tão assustada.
Sem contar que não havia pensado no cacheado desde que havia saído com Sadie da escola nem sequer uma vez. E, confesso, havia sido muito bom. Uma esperança cresceu em mim naquele momento. Logo, eu deixaria de pensar em Finn.
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