4. Voltando ao começo
Acordei com meu celular vibrando debaixo de mim. Me remexi um pouco à contragosto devido ao sono, percebendo que estava enrolada pelo meu próprio fone por ter provavelmente me mexido muito durante a noite. Após retirá-lo e o deixado enrolado no chão, ao lado do colchão, liguei a tela do meu aparelho, forçando um pouco a vista tanto por estar sem óculos, quanto por ter acabado de acordar e o brilho alto quase ter me cegado, vendo que era uma simples notificação do Facebook. 7h31.
Poderia simplesmente voltar a dormir, mas, acabei resolvendo me levantar ao sentir meu estômago berrar de fome por estar acostumado com meu café da manhã às 6h30.
Calcei minhas pantufas preguiçosamente e desci sem pressa até a cozinha. Esquentei meu chocolate quente e me sentei à mesa, pegando um waffle do prato sobre a mesma que estava coberto.
A porta da área de serviço foi aberta e mamãe adentrou a cozinha com uma vassoura na mão.
— Bom dia. Já de pé, querida? — perguntou a mesma, após eu ter respondido um "bom dia" rouco e baixo devido ao sono.
— Uhum... — murmurei após terminar de mastigar. — O pai ainda está dormindo?
— Está. — ela de repente encostou a vassoura na parede e se sentou à mesa comigo, me fitando com um sorriso materno se abrindo em seus lábios. — Me diz o que está sentindo. — pediu mansamente.
Talvez tivesse sido a forma totalmente delicada dela de ter me pedido aquilo ou por eu ter finalmente me sentido pronta para falar sobre isso abertamente.
Era mais provável a primeira suposição, pois parecia que, ao contrário de ontem, eu precisava falar sobre aquilo tudo quase desesperadamente e a forma de minha mãe ter me perguntado sobre o assunto havia sido como uma espécie de gatilho.
Só posso afirmar que a vontade de chorar voltou e, com toda certeza, meus olhos haviam ficado vermelhos. Mordi o lábio inferior para conter um soluço e abaixei os olhos antes de sussurrar:
— Finn e eu terminamos...
Mamãe me fitou com um misto de preocupação e mais alguma emoção que não pude identificar, mas sabia que não era espanto. A mesma se encostou no encosto da cadeira e desviou os olhos dos meus.
— Imaginei...
A fitei com atenção, unindo as sobrancelhas:
— Como sabia? — não pude evitar perguntar.
— O jeito como você chegou ontem. — explicou. — Millie, fiquei realmente muito preocupada.
— Não, não. — neguei, deixando a metade do meu waffle sobre o prato. — Quando Finn dormiu aqui. Você falou umas coisas... co-como se soubesse que isso aconteceria... — expliquei, franzindo o cenho confusa.
Mamãe apertou os lábios antes de responder:
— Quando você falou que ele sofre de ansiedade, fiquei preocupada. Sabia que ele se agarraria à você, tendo como âncora. E então pensei: e esse eles terminarem? O quê que vai ser desse garoto? Esperava que estivesse errada sobre isso, mas então...
— Nós terminamos... — completei, ficando preocupada com Finn. Por um lado, ela tinha total razão. Fui eu que fiz Finn ir até o psicólogo, fui eu que incentivei ele a estudar. Ele continuaria fazendo isso sem que nós estivéssemos juntos? Conhecia-o perfeitamente para saber que não.
— Por que vocês terminaram, Millie? — mamãe indagou, atraindo minha atenção.
A fitei por um instante, considerando aquela ideia de contar, mas obviamente que eu desisti.
— Não consigo dizer. — respondi simplesmente, como se aquilo fosse satisfazê-la, bebendo mais um pouco do meu chocolate quente.
Nunca poderia contar aos meus pais o motivo, papai iria querer matar Finn. E, por um motivo que desconheço, eu não queria eles furiosos com ele, por mais que o Wolfhard merecesse. E também por não querer mamãe acordando os pobres vizinhos, papai e Sadie à base de gritos enfurecidos destinados a alguém que nem estava presente.
— Foi você? — mamãe quis saber, me deixando levemente irritada de algum modo.
Claro que Finn tinha errado, mas mamãe parecia pensar que o cacheado era o único que errava. E que diferença fazia se havia sido ele ou eu que havia desmanchado?
A verdade era que estava com medo dela voltar a questionar o motivo.
— Foi mãe, fui eu. — respondi à contragosto, ficando nervosa por ela estar chegando perto.
— Ele fez algo grave?
— Fez sim. — voltei a pegar o waffle e mordi mais um pedaço, para que tivesse a desculpa de não poder falar por estar mastigando.
Para a minha surpresa, ela não perguntou mais nada. Apenas assentiu e pegou uma das torradas sobre a mesa.
— Sabe, não queria que doesse tanto... — murmurei, desviando os olhos para a toalha branca que forrava a mesa.
Senti seu toque gentil e materno em minha mão que segurava a xícara, fazendo um leve carinho ali.
— Eu sei, meu amor. — mordi o waffle outra vez, não por ainda estar com fome, na verdade, àquela altura, já a havia perdido completamente, mas sim, para tentar engolir a bile em minha garganta ao prender um soluço. — Mas vai passar. Com o tempo, vai. — prometeu.
— Não tenho certeza, mãe... — murmurei. Estava doendo tanto. Parecia que isso nunca iria parar.
— Querida, vou te dizer uma coisa agora que nenhum adolescente acredita. — ela abriu aquele sorriso reconfortante.
A fitei esperançosa.
— Irá amar de novo. — afirmou, com convicção na voz. — E será tão bom quanto da primeira vez.
Não soube o que dizer, tudo o que pude fazer foi acreditar cegamente nela. Apesar de não querer pensar nisso naquele momento. Gostar de outra pessoa? Definitivamente não parecia algo muito provável. Conseguiria? Depois de superar isso conseguiria entregar meu coração para outra pessoa e correr o risco de repetir a dose do que estou sentindo agora?
— Acho que nunca mais vou amar ninguém... — respondi, finalmente a fitando.
Ela retribuiu o olhar por um instante tão chocada que ambas nós duas caímos na risada, os meus um pouco mais contidos, mas mesmo assim consegui rir um pouco.
Claro que estava exagerando. Mas estava na bad, sentia que tinha direito a um pouco de drama.
— Não é assim, querida. — mamãe afirmou, após conseguir conter os risos, e continuou, com o olhar um pouco longe como se estivesse pensando em algo. — Se apaixonar é... bom. Ficar de coração partido é uma droga, mas não podemos evitar isso.
— Verdade. — assenti, sorrindo apenas por sorrir.
Tomei meu último gole do chocolate quente e me levantei num sobressalto, sabendo qual o remédio que iria me ajudar com o meu humor.
— Ia limpar a sala? Vou te ajudar.
Sadie acordou meio-dia. Dona Winona e eu estávamos terminando de preparar uma lasanha quando a mesma adentrou a cozinha. Contudo a ruiva já estava com a própria roupa e seus cabelos estavam arrumados, sua mochila já estava em suas costas.
— Bom dia... — falou, num tom tão rouco, que quase não reconheci sua voz.
— Boa tarde. — respondi, com um sorrisinho de lado, ao alfinetá-la por ter acordado tão tarde, sendo que eu havia ido dormir depois da ruiva.
— Não enche. — ela respondeu com um sorriso sarcástico, fazendo-me rir.
— O linguajar desses jovens...me sinto velha. — Dona Winona entrou na brincadeira, nos fazendo rir mais, enquanto colocava a lasanha no forno.
— Bom, gente, já vou. — Sadie interrompeu os risos e nos a olhamos com atenção.
— Fica para o almoço, Sadie, não é? — disse Dona Winona, indecisa se havia acertado o nome da ruiva, que assentiu positivamente.
— Preciso ir pra casa, tenho que almoçar com meus pais. — respondeu a mesma, com um sorriso.
A encarei em silêncio, notando como seu sorriso parecia ser verdadeiro, apesar de algo me dizer que Sadie não estava dizendo a verdade.
— Ah, sim. Está certo. Foi um prazer conhecê-la. — mamãe assentiu, sorrindo docemente.
— Igualmente.
— Millie, leve Sadie até a porta. — pediu.
A acompanhei até a sala, ao chegarmos até a entrada principal, encarei a ruiva com atenção.
— Você não vai pra casa, vai? — perguntei de modo sereno e baixo para que não fôssemos ouvidas, sem querer ser muito evasiva.
Sadie sorriu sem emoção e negou.
— Desculpa por não conseguir te explicar nada agora. — sussurrou de volta.
— Não tem problema. Seja lá o que está acontecendo, se ocorrer de novo, pode dormir aqui outra vez, sem problemas. — falei num tom simpático.
— Obrigada, Millie. — a ruiva me abraçou, pegando-me de surpresa pela mesma não ser muito de afeto.
Fechei a porta quando Sadie foi embora no instante em que papai estava descendo as escadas para assistir TV enquanto esperava o almoço.
Passei o dia no quarto. Não estava afim de jogar videogame, muito menos de tocar em alguma lição da escola. Assistir alguns vídeos deitada na cama sobre genética e fisiologia animal abraçada com meu ursinho de pelúcia Lucky ajudaram um pouco. Depois abri a Netflix para maratonar alguma série e quando vi, já estava no fim da tarde.
No dia seguinte, me recusei a levantar quando o despertador começou a tocar. Pela primeira vez, senti vontade de o atirar contra a parede, contudo não o fiz, mamãe me esganaria. Mas se tivesse dormido quatro horas, era muito. E, sinceramente, também estava me sentindo totalmente desanimada para levantar, me trocar e ir à aula. Só de pensar em tocar em um livro meu cérebro parecia que iria embaralhar. Posso gostar muito de estudar, mas meu ânimo havia simplesmente evaporado.
— Millie? — me cobri até a cabeça com o cobertor ao ouvir meu nome ser chamado. Ouvi os passos da minha mãe se aproximando da minha cama e cogitei fingir que estava dormindo, mas era ridiculamente infantil demais até pra mim. — Está se sentindo bem?
Me descobri para fitá-la.
— Posso faltar? — murmurei.
— Tem certeza? — perguntou.
Mamãe sempre me perguntava se queria faltar à aula porque, em geral, me negava até o fim, mesmo estando doente. Sempre preocupada caso perdesse uma prova surpresa, apresentação de algum trabalho que havia esquecido ou matéria importante. Caso dissesse que sim, ela sempre perguntava se tinha certeza, porque sempre costumo voltar atrás. Mas hoje era diferente.
— Tenho. — assenti. Ela me olhou com mais atenção e senti seu toque em minha testa, e imaginei que estivesse checando minha temperatura. — Estou bem, mãe. É só...você sabe. — garanti, sem conseguir admitir o porquê da minha falta de ânimo. Me sentia patética pelo motivo.
— Eu sei. — ela assentiu. — Tudo bem, filha. Só não deixe que isso lhe atrapalhe por muito tempo, está bem? — fiz sinal de positivo e a mesma sorriu. — Volte a dormir.
Sabia que ela tinha toda a razão. Não poderia deixar Finn ter esse efeito sobre mim, mas só precisava de tempo antes de vê-lo de novo e tentar seguir em frente, enfim tinha o direito de viver minha bad. Porque, de qualquer forma, mesmo que fosse para a escola, não iria conseguir me concentrar.
Me virei na cama enquanto a mesma saía do quarto, rindo baixinho ao ouvir a mesma reclamar para meu pai:
— Se a Millie adoecer por causa daquele garoto vou matá-lo.
Levantei num pulo assim que meus pais saíram para trabalhar, tanto por não ter conseguido voltar a dormir quanto na intenção de assaltar a geladeira. No entanto, acabei comendo apenas uma maçã por obrigação. De algum modo, a fome havia evaporado e já não queria comer nada. Simplesmente não sentia vontade.
Lavei a louça do café da manhã e limpei a sala e a cozinha.
Fiquei assistindo filme no quarto até o momento de receber uma mensagem de Noah perguntando se estava bem por ter faltado, percebendo que a aula já havia acabado a algum tempo.
Sim, só aconteceu umas coisas. Nada de mais. [12h30]
Depois da minha resposta, ele não perguntou mais nada, apenas enviou fotos de todo o conteúdo que eu havia perdido e então respondi um imenso obrigado antes de bloquear a tela e voltar a atenção para a TV.
Fiz metade das lições, deixando todo o resto para terminar de noite e passei a tarde jogando.
Também não fui à escola no dia seguinte, pelos mesmos motivos do dia anterior. Minha mãe não falou nada, sua encarada não foi muito boa, contudo ela permaneceu quieta.
Ao levantar, tomei um remédio para a dor de cabeça forte que estava sentindo após tomar uma pequena xícara de chocolate quente apenas para não tomá-lo com o estômago vazio e logo tratei de limpar o banheiro e a sala. Varri e passei pano, deixando a janela aberta para entrar um pouco de ar.
Concluí a outra metade das lições do dia anterior e finalmente terminei o trabalho que já deveria estar pronto desde o fim de semana. Acabei nem almoçando, já que não sentia fome. Ao terminar de escrever a conclusão, rolei os olhos para o horário que marcava no computador. A aula já havia acabado fazia um tempo.
Suspirei e fechei meu estojo, guardando o trabalho dentro de uma pasta para colocá-la dentro da mochila junto com o mesmo.
Um barulho vindo do andar de baixo me sobressaltou. Arregalei os olhos, levando meu olhar assustado para a porta. Me levantei e fui até o corredor com cuidado para não fazer barulho e desci as escadas devagar, encontrando Finn ali de pé.
Um alívio atingiu meu peito antes dele disparar outra vez. Finn estava aqui. De novo. E ainda não estava preparada para isso.
— Finn? O-o que faz aqui? Como entrou? — questionei, terminando de descer as escadas e indo em sua direção, mantendo uma distância segura, tentando ignorar as palpitações do meu coração.
Ele pareceu, por um instante, estar sob o mesmo efeito que eu. Pois um brilho passou por seus olhos ao me aproximar. Mas logo o cacheado tratou de avaliar minha expressão com cuidado, como se estivesse checando algo, antes de responder de forma simplista:
— Entrei pela janela.
— O quê? — questionei, incrédula com o mesmo.
Ele indicou a janela aberta e eu fechei os olhos, não conseguindo acreditar.
— Custava bater na porta? — exclamei o óbvio.
— Você me deixaria entrar? — fez uma pergunta retórica da qual me calou.
Mordi o lábio. Por fora estava séria e, por dentro, não fazia ideia de como lidar com aquela situação. Tudo o que sabia era que não poderia ficar muito tempo perto de Finn, era doloroso demais. Olhar pra ele me lembrava de tudo o que o cacheado havia me escondido, claro, mas também doía ficar tão perto e ainda assim não poder tocá-lo. Após alguns segundos com nossos olhares conectados enquanto esperávamos o outro dizer alguma coisa para quebrar aquele silêncio, questionei:
— O que faz aqui?
Ele desviou os olhos, como se não soubesse bem como explicar. Levou a mão à nuca e abaixou o olhar enquanto falava:
— Você faltou à aula por dois dias e eu... q-queria ver se estava bem, ou sei lá...
Me surpreendi com suas palavras. Imaginava que ele fosse dizer que havia vindo implorar perdão outra vez e não que estivesse preocupado por eu ter faltado à aula dois dias seguidos. Logo tratei de me relembrar que, se não fosse por ele, isso não teria acontecido.
— Acho que você pode ver isso claramente. — falei sarcasticamente, referindo-me às claras marcas debaixo dos meus olhos que entregavam as noites mal dormidas, sem obter resposta alguma do mesmo. Contudo, Finn estava com olheiras ainda mais profundas do que as minhas. Notando que estávamos nos encarando por um bom tempo, prossegui: — Era só isso? — ele pareceu ficar magoado com minhas palavras e assentiu antes de parecer voltar atrás.
— Na verdade, acho que devíamos conversar...
— Não temos mais nada para conversar. — retruquei. — A menos que você esteja me escondendo mais alguma coisa. — alfinetei.
— Você sabe que temos, Millie. — resmungou, ignorando minha provocação.
— Não, não temos. — o cortei. — Por que não pode me deixar em paz um pouco? Se faltei à aula foi porque não queria te ver. — acabei soltando sem querer e Finn arregalou os olhos com minha sinceridade.
Nos fitamos de modo tenso antes dele admitir em um murmuro:
— Por que não consigo. Não consigo mais ficar longe de você.
— Pensasse nisso antes de me esconder tanta coisa. — rebati, tentando não me deixar levar pela confissão do cacheado.
Finn por um momento pareceu perder um pouco a paciência, elevando seu tom:
— Ok, Millie, eu errei. Errei em te esconder tanta coisa. Mas, foi só por causa que não queria que acontecesse tudo o que está acontecendo agora. — afirmou.
— E como posso saber se não tem mais? Como? Quem me garante isso, você? — exclamei, começando a perder a paciência também com o moreno.
Ele se calou, como se tivesse pegado pesado demais, antes de voltar a falar em um tom baixo, como se estivesse fazendo uma confissão.
— Millie, você pode dizer que menti, mas a única pessoa que confio na vida é você. Nunca me abri pra mais ninguém.
O fitei por um instante antes de dizer:
— Não é o suficiente. — ele abaixou os olhos diante de minha afirmação, entendendo perfeitamente o que queria dizer. Não bastava Finn achar que era a única pessoa do qual ele se abria sendo que mesmo sendo eu, ele ainda escondia tanta coisa. Desviei os olhos do mesmo também, falando mais comigo mesma do que com si. — Preciso de tempo, antes de tentar seguir em frente.
Finn voltou os olhos para meu rosto, expressando desespero no olhar diante do que dissera. Ele se aproximou de mim, seu rosto ficando centímetros do meu. Seu tom saiu rouco e baixo:
— Não quero que você siga em frente.
O fitei seriamente nos olhos, tentando ignorar seu perfume masculino tão familiar que invadia minhas narinas devido sua proximidade.
— Não importa o que você quer. — afirmei. — Se pensa que vai vir até aqui, dizer que errou e que vai ter meu perdão sem mais nem menos... — comecei, alterando meu tom ao perder a paciência totalmente com ele.
Mas Finn me calou, pegando-me de surpresa ao agarrar minha nuca e selar nossos lábios ao me puxar para junto de seu corpo. De início, tentei me afastar. Contudo, o calor do seu beijo tão familiar e cheio de saudades logo fez com que minha língua se movesse junto da sua. Tentei empurrá-lo com as mãos, mas Finn as segurou antes que obtivesse sucesso. Não consegui parar por mim própria. Minha boca acompanhava a sua quase que por instinto, enquanto ainda lutava para me soltar. O cacheado segurou minha cintura e aos poucos relaxei à medida que minha dor se dissipou. Percebendo que minhas mãos haviam relaxado, ele as soltou para segurar meu rosto. Estava tudo errado. Devia estar tentando seguir em frente e não insistindo no erro.
Com certa dificuldade, desgrudei nossos lábios. Ele tentou me beijar de novo, mas virei o rosto.
— Não, Finn.
— Por favor, Mills... — ele implorou.
Balancei a cabeça negativamente.
— Vai embora, por favor. — pedi, livrando-me de seu toque antes de ir até a porta, destrancando de vez e abrindo a mesma bruscamente.
Ele me olhou por alguns segundos antes de ceder e caminhar até a saída.
— Espera. — seu olhar esperançoso fitou-me antes de se desmanchar quando prossegui: — Me prometa que vai continuar estudando sozinho, Finn. — pedi enquanto o cacheado arqueava a sobrancelha confuso enquanto me fitava atentamente. — Posso não ser mais sua namorada, mas é importante pra mim que você consiga entrar naquela escola de música.
Ele suspirou cansado e respondeu frustrado:
— Millie, sinceramente, não consigo e nem quero pensar nisso agora.
E então saiu sem dizer mais nada. Bati a porta e soltei um longo suspiro, pensando que nunca iríamos conseguir conversar como pessoas civilizadas.
Durante o jantar, me mantive calada em boa parte do tempo enquanto meus pais conversavam. Até mamãe me questionar, com um tom um pouco sério na voz:
— Vai à escola amanhã, não é, querida?
Suspirei ciente de que não poderia continuar faltando.
— Vou.
— Está muito calada, Millie. — observou a mesma.
— Finn veio aqui em casa. — expliquei, sem encará-la, enquanto cortava a carne.
— O quê? O que ele veio fazer aqui? — papai questionou atento ao o que dizia, elevando o tom. Ficara preocupado como todo bom pai protetor.
— Queria conversar. Deixei claro que acabou. — respondi simplista, evitando dar muitos detalhes.
Eles não disseram mais nada e eu continuei comendo.
— Vai comer só isso, querida? — mamãe mudou de assunto.
Olhei para o meu prato confusa, notando que realmente estava comendo uma porção de comida um pouco menor do que geralmente sempre comi.
— Não estou com muita fome. — foi o que respondi, porque realmente não estava.
Após o jantar lavei a louça antes de subir para o quarto para tentar dormir.
Só tentar mesmo.
Na manhã seguinte, relutei um pouco para levantar devido à mais uma noite mal dormida. Se dissesse que dormira mais que quatro horas, estaria mentindo. Tomei um banho rápido na tentativa de não dormir em baixo do chuveiro e, ao me arrumar, me coloquei diante do espelho, pensando no que faria para disfarçar aquelas olheiras horríveis para poder ir à aula um pouco mais apresentável.
Parecia ridículo, principalmente para mim, mas naquele momento cheguei, por um segundo, desejar ter maquiagem que, com toda certeza, poderia dar uma boa disfarçada naquilo.
Foi quando lembrei. Virei o rosto e olhei por sobre o ombro, o estojo de maquiagem que minha prima Maddie havia deixado aqui quando havia vindo passar um final de semana ainda estava sobre a prateleira, onde havia deixado.
Peguei o estojo, tirando a base e o pó. Um pouco desajeitada, consegui passar. No final, consegui disfarçar bastante as olheiras e, devo admitir, estava até que mais bonita, apesar de não achar que valesse à pena passar por todo esse trabalho todos os dias. Mas até que era útil às vezes.
Deixei o estojo onde estava e peguei minha mochila.
Na escola, suspirei ao entrar na sala de aula. Como de costume, estava mais adiantada e a sala não estava com metade dos alunos, mas Noah arregalou os olhos quando me vira me sentar ao seu lado, com um misto de alívio e surpresa.
— Oi, Millie. — ele me cumprimentou, com o olhar preocupado.
— Oi, Noh...
— Como você está? — perguntou.
Analisei seu rosto por um instante. Ele sabia.
— Como você...?
— O Finn veio falar comigo. — respondeu ele, antes que eu pudesse completar. Mas é claro. — Achou que soubesse porque você tinha faltado. — assenti, mordendo o lábio. — Vocês terminaram? — Assenti. — Parece que agora estamos no mesmo barco. — comentou infeliz.
— Converse com a Sadie.— pedi. Noah, ao menos, tinha chance de reatar seu namoro.
— Você falou com ela? — questionou surpreso com a minha sugestão repentina.
Não tive tempo de responder, pois o professor entrou logo em seguida, o que fez com que nós nos virássemos para a frente, e suspirei. Parecia que havíamos voltado ao começo. Para quando éramos apenas Noah e eu.
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