3. Um único motivo
Pessoal, peço que escutem a música no momento indicado e depois leem a tradução. Não me responsabilizo pelas lágrimas de ninguém. T^T
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— Tem certeza que não está com fome? — perguntei delicadamente pela segunda vez à ruiva sentada em minha cama que fitava o chão pensativa, ao lhe entregar uma muda de roupas para a mesma dormir.
Sadie pegou as roupas silenciosamente, negando com a cabeça.
— Valeu. Mas estou totalmente sem fome agora. — respondeu, com um tom rouco que me fez suspeitar de que ela havia chorado.
Sem saber se deveria insistir ou não, me sentei ao seu lado, endireitando o corpo para ficar de frente para a ruiva. O colchão onde Sadie iria dormir já estava arrumado.
Não fazia ideia do que estava acontecendo. Cheguei a considerar que a ruiva havia brigado com Caleb ou Noah de novo, mas não fazia sentido ela ter vindo bater na minha porta por causa disso. Mesmo que estivesse se sentindo sozinha ou querendo conversar com uma amiga, eu conhecia Sadie o suficiente para saber que ela não era do tipo que desabafa. A prova disso é seu silêncio nesse instante. No entanto, não era muito comum Sadie ficar calada. Então o que teria acontecido?
— ...Quer falar sobre isso? — indaguei, tentando manter o mesmo tom manso.
A mesma me fitou com o olhar vazio.
— Eu sei que você merece, no mínimo, uma explicação por eu ter aparecido aqui no meio da noite. Mas a gente pode não falar disso agora? — pediu, parecendo bastante desconfortável. Resolvi não insistir, notando que era algo difícil para a mesma me dizer. Logo, Sadie tentou trocar de assunto: — Vi que interrompi o jantar, tudo bem se você quiser ir terminar de comer.
— Tudo bem se você ficar um pouco sozinha? — perguntei, um pouco sem graça por estar aliviada dela ter dito isso, àquela altura, minha fome já havia dobrado.
— Para falar a verdade, não. — ela pareceu um pouco envergonhada por confessar isso, mas eu nunca a julgaria depois de um dia como hoje.
— Certo.
Ao retornar para a cozinha, meus pais jantavam em silêncio, como se estivessem nos esperando para saber o que estava acontecendo e mamãe me fitou confusa ao perceber que eu estava sozinha. A mesma aceitara Sadie dormir aqui sem questionar nada ao me ouvir dizer que a ruiva era uma amiga de escola, apesar de ter percebido claramente seu olhar surpreso ao notar as a vestimenta gótica da ruiva, muito parecida com a de Finn.
— Onde está Sadie? Ela já comeu? — perguntou minha mãe.
— Ela disse que não está com fome. — respondi com um suspiro enquanto puxava minha cadeira para me sentar à mesa.
Enquanto fazia meu prato, mamãe deu uma última garfada no bife antes de se levantar:
— Irei preparar o prato dela e depois você pode levá-lo para ela, querida. — disse a mesma, ao retirar mais um prato do armário.
— Acho que ela comeu em casa, mãe. — falei, pelo fato de estarmos jantando mais tarde que o normal.
— Ela está é com vergonha de dizer que está com fome. — afirmou a mesma com firmeza, enquanto colocava purê de batata, vagem e um bife no prato que eu levaria para Sadie.
Papai sorriu achando engraçado a atitude de Dona Winona e eu não contive um pequeno sorriso também. Mas acabei aceitando, porque minha mãe me fez pensar que talvez o motivo de Sadie ter vindo até aqui teria sido algum problema dentro de sua casa, até porque não era um hábito Sadie ter vergonha dessas coisas. Lembrava perfeitamente como a mesma havia se sentido totalmente à vontade na primeira vez em que viera até minha casa. Algo grave havia acontecido.
A ruiva acabou comendo metade da comida que eu havia levado para o quarto. Enquanto a ruiva comia um pouco à contragosto, já vestida com o pijama que eu lhe entregara para dormir, não contive meu olhar que avaliavam sua expressão minuciosamente. Sadie mais parecia frustrada ou decepcionada do que magoada.
— Sabe... — começou ela de boca cheia, ao morder um pedaço da carne e me olhar com aquele olhar zombeteiro que eu já estava começando a sentir falta. — Você podia disfarçar mais. — continuou, com um tom mais descontraído.
Soltei um pequeno risinho, envergonhada por ter sido pêga tentando decifrar sua expressão.
— Desculpe. É que... você está tão calada... acho que não estou acostumada com isso. — baixei a cabeça levemente, sentindo-me um pouco envergonhada pela confissão que faria: — E também não levo muito jeito para confortar alguém.
No entanto, Sadie sorriu compreensiva.
— Acho que é porquê, por mais que a gente tenha saído juntas e tenhamos alguns gostos um pouco parecidos, eu não costumo falar muito de mim. Quer dizer, você me conhece, mas nunca me viu... — ela pareceu procurar a palavra certa. — mal...
Sadie estava certa. Por mais que tenhamos nos divertido no shopping, conversado umas mil vezes sobre filme e me contado que estava em uma situação difícil entre Noah e Caleb, ela nunca havia se aberto comigo de verdade. Quer dizer, a mesma nunca havia me explicado realmente o porquê de não ter terminado com Caleb antes. Para falar a verdade, ela não costumava dizer tudo o que pensa. Não por medo, mas por ser reservada.
— Tem razão... — respondi. — Mas não precisa começar a contar algo agora. — garanti, sorrindo fraco.
Ela sorriu grata em resposta.
— Você também não parece muito bem. — observou, olhando melhor minha face. — Aconteceu alguma coisa?
Abaixei o rosto, sorrindo sem emoção. Doía relembrar o que acontecera horas atrás.
— Finn e eu não estamos mais juntos. — respondi, sentindo o peso de cada palavra. Sadie entreabriu a boca e desviou os olhos, entretando não parecia muito chocada. — Sadie, você sabia de alguma coisa?
Ela me encarou novamente com o olhar cheio de culpa. Nos fitamos por alguns segundos antes da mesma resolver dizer alguma coisa.
— Sinto muito, Millie. — ela sussurrou.
— Você também sabia... — falei, apesar de uma forma neutra, num tom acusatório.
A ruiva assentiu.
— Está brava por não ter te contado. — ela disse, soando mais como uma afirmação do que uma pergunta, mas mesmo assim assenti com a cabeça. — Não falei nada porque eu sabia que ele iria te dizer uma hora ou outra. Não achei que tinha o direito de me meter. Ainda estávamos ficando amigas. E como Finn estava cada vez mais diferente do que ele foi antes...
Engoli em seco, ciente de que assim havia sido melhor. Sadie e eu ainda estávamos criando um laço de amizade, e não iria querer saber tudo o que havia descoberto por outra pessoa que não fosse Finn. Sadie não falou nada não por maldade, mas por achar que não tinha esse direito.
— Como pôde continuar namorando com o Caleb depois disso? — ela pareceu surpresa com o novo foco do assunto. Mas eu não pude deixar de pensar nisso.
— Eu... eu o perdoei, Millie. Não estávamos juntos na época e os meninos ficaram mal pelo o que fizeram.
Contive o riso sarcástico. Ficaria assustada se eles não tivessem o mínimo de remorso. Sinceramente, naquele momento, tudo o que podia pensar era que o arrependimento deles não valia uma vida.
— A menina morreu, Sadie. — afirmei, tentando lembrá-la como aquilo tudo era sério.
A ruiva pareceu querer rebater, contudo pareceu mudar de ideia:
— Não vou discutir com você. Sei que está brava porque acabou de descobrir tudo isso.
— E acredita que foi graças à Iris?
— Iris? — ela pareceu surpresa.
Assenti.
— Finn tentou esconder até onde pôde. — sorri sarcasticamente, pensando no fato de que Finn nunca iria me dizer nada sobre isso se pudesse.
— Ele te contou tudo? — ela questionou, parecendo um pouco desconfiada enquanto avaliava minha expressão.
— Contou. — arqueei a sombrancelha, sem compreender o porquê da pergunta. — Na frente dos amigos. — complementei.
Ela não pareceu convencida, mas seja lá o que queria me dizer, resolveu deixar pra lá e eu também não insisti.
— Como... está o Noah? — mudou de assunto, seus olhos agora brilhavam de curiosidade e preocupação.
A fitei um pouco surpresa por ter perguntado dele e limpei a garganta.
— Magoado. — fui sincera. — Você terminou com ele quando parecia que as coisas iam ficar bem e...
Sadie suspirou.
— Sei...
Ao contrário do que pensei, a ruiva não disse mais nada. Não queria me intrometer, mas não poderia deixar Noah enlouquecendo sem conseguir entender porque Sadie havia resolvido se afastar sem lhe explicar nada.
— Foi... por causa do que aconteceu?
— Em parte... — ela concordou. — Eu queria esperar a poeira baixar, sabe como é. — assenti, um pouco surpresa por estar certa ao ter tentado explicar para Noah o que provavelmente estaria se passando na cabeça da ruiva ao ter rompido a relação. — E também porque... — a encarei incrédula ao notar lágrimas brotando no canto de seus olhos.
— Saddy?
— Não sei, Millie. — começou ela, abandonando parte do tom neutro em sua voz. — Talvez para que o Noah tivesse um pouco de espaço para ter certeza de que quer ficar comigo... digo, ele é incrível. Enquanto eu só faço o que é errado... queria que ele tivesse certeza, depois de ter visto o que eu causei no pátio da escola...
Minha testa se franziu. Então aquele era o motivo. Ela pensava que Noah havia mudado de opinião sobre ela depois da confusão na escola. Por Noah ter levado um soco do McLaughlin ao descobrir a traição.
Sadie achava que não merecia Noah.
Por um momento, não pude deixar de pensar no Wolfhard. Como ele havia afirmado isso pra mim várias e várias vezes, como se não conseguisse compreender o motivo de eu amá-lo. Como se não fosse digno disso. Porque sim, eu ainda o amava.
E apesar da coisa horrível que ele havia feito, era digno disso, assim como Sadie.
Sem pestanejar, abracei a ruiva.
— Por que você e o Finn ficam com essa paranoia de que não merecem ser amados? — questionei ao soltá-la segundos depois. Sadie me encarava surpresa. — Sadie, o que aconteceu na escola não muda nada do que o Noah sente por você. Ele ficou totalmente confuso com a sua decisão, está mal por você ter terminado com ele. E, independente de seus erros ou defeitos, Você merece ser feliz, Sadie. Você errou sim, mas reconhece isso.
Ela sorriu minimamente, me abraçando de volta.
— Obrigada, Millie. — sussurrou, num tom mais tranquilo. Ao me soltar, a mesma passou a mão pelo rosto, antes de abrir um sorriso mais animador. — Bom, acho que já chega desses assuntos. Que tal um filme de comédia pra animar?
Sorri, pensando que realmente aquela ers uma ótima ideia.
No entanto, três leves batidinhas na porta chamou nossa atenção.
Ao virar o rosto, mamãe estava de pé ao lado da porta com um sorriso gentil nos lábios.
— Seu pai e eu estamos indo dormir, tudo bem? — a mesma comunicou.
— Claro, Sadie e eu vamos assistir um filme. Tudo bem a gente fazer pipoca?
— E o jantar foi o maior sacrifício do mundo, não é? — mamãe zombou. Por um momento, havia esquecido que havíamos acabado de comer. — Bom, boa noite, meninas.
Respondemos "boa noite" para a mesma enquanto a observávamos sair do quarto antes de nos levantarmos e rumarmos até a cozinha para preparar a pipoca.
No fim, acabamos fazendo pipoca, brigadeiro e alguns salgadinhos que haviam no armário.
Ver o filme com a ruiva foi bastante divertido. Riamos tanto que era difícil não gargalhar alto. Era bom esquecer tudo por um tempo, mesmo que fosse curto. Naquele momento já não importava o que havia feito Sadie vir até minha casa, contanto que ela estivesse melhor.
Colocamos outro quando o primeiro filme terminou, apesar do efeito não ter sido o mesmo que o primeiro. Na metade do mesmo, olhei para o lado, encontrando uma ruiva que roncava sobre meu travesseiro.
Sorri, cobrindo a mesma com o meu cobertor antes de desligar a TV.
Levei nossa pequena bagunça de volta para a coisa, deixando a panela e os recipientes de pipoca vazios na pia e jogando os sacos de salgadinho no lixo.
Ao retornar para o segundo andar, escovei os dentes e coloquei um pijama de inverno antes de desconectar meus fones de ouvido da caixinha de som do meu PC e deitar ligando a tela do meu celular.
O silêncio do quarto faziam com que os momentos descontraídos e um pouco mais alegres com Sadie agora a pouco, se dissipassem aos poucos da minha mente, me deixando com pensamentos vazios mais e mais, como se eles nunca tivessem acontecido.
Me arrependeria do que estava prestes a fazer, disso tinha certeza.
No entanto, o impulso estava sendo como sempre mais forte do que eu e já estava colocando meus fones, decidindo finalmente checar as mensagens não lidas de Finn, afim de sentir a famigerada bad.
(Coloquem a música).
Selecionei uma música pop mais tristinha da minha playlist da bad, que acredito que todo mundo possui, e abri a conversa, já sentindo as batidas do meu coração se acelerarem só de pensar no que ele me enviara. Me sentia ridícula por Finn ainda ter esse efeito sobre mim.
A voz de Lady Gaga se pronunciou no instante em que comecei a ler, sentindo o coração doer pela clara urgência de Finn nas mensagens de texto:
Finn: Millie, por favor, vamos conversar melhor. [14:44]
Finn: Eu sei que você não quer nem olhar na minha cara agora e entendo isso. Mas por favor, não vamos acabar assim. [14:45]
Finn: Ok, vou dar o seu tempo. [14:55]
Finn: Só quero que você nunca esqueça isso [14:58]
Finn: O que tivemos, independentemente dos meus erros, foi verdadeiro. [14:58]
Sem conseguir lidar com aquelas primeiras mensagens, apaguei a tela.
Já sentiu seu coração tão dilacerado ao ponto de você não conseguir perdoar alguém? Sentia um misto de tantas emoções que não conseguiria citar todas elas, mesmo que eu quisesse.
Quando o Wolfhard e eu estávamos juntos, procurei motivos que justificassem sua personalidade. Seu modo de agir. Suas ações. Mas tinha que parar de fazer isso.
Era verdade que Finn sofrera muito em sua infância. Ninguém poderia negar isso. Mas ele, unicamente ele, é responsável por seus atos.
Engraçado, sempre me achei boa demais. Bobinha demais para falar a verdade. Talvez tivesse simplesmente cansado. Mas nunca pensei que não fosse capaz de conseguir perdoar algo que até mesmo Sadie havia conseguido em tão pouco tempo.
Uma parte de mim pensava assim.
Já a outra, me assustava.
A outra era a parte romanticamente idiota que achava que, dentre tantos motivos que Finn me dera para que eu decidisse permanecer longe de si, me relembrava como um disco quebrado que eu nunca conseguiria amar alguém de novo como eu o amei. Não daquela mesma forma intensa.
Que reconhecia que estava mentindo para mim mesma numa tentativa falha de tornar aquela dor um pouco menor. Porque, a verdade, era que não me arrependia de nada. Mesmo que eu continuasse repetindo isso.
A mesma parte que perdoaria Finn sem pensar duas vezes contanto que tivesse um único bom motivo para isso.
À aquela altura, já estava se tornando quase insuportável manter tudo o que eu sentia dentro de mim.
Soluçar era tudo o que eu precisava naquele momento, contudo me limitei a apenas fitar dolorosa e silenciosamente o teto escuro do meu quarto enquanto mais lágrimas desciam por minhas bochechas.
Não sei quanto tempo exatamente ficara ali, com meus próprios pensamentos, mas tenho quase certeza de que estava na sexta ou sétima música da playlist antes de finalmente cair no sono, calando os mesmos.
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