26. Trégua!
SADIE
Abri minha mala, enfiando maior parte de minhas roupas ali, enquanto Jassy me observava sentada sobre minha cama.
Millie dera a ideia de eu passar hoje à noite lá. Queria tentar convencer seus pais sobre eu ficar lá por um tempo. Mesmo que não fosse possível, já estava grata por conseguir ficar sem ver meu padrasto hoje.
- Você vai voltar logo? - Parei, me virando para encarar aqueles olhinhos tristes.
- Eu não sei, Jassy. - Me neguei a mentir para minha irmãzinha, o ser que eu mais amo nesse mundo. - Vem cá.
Ela desceu da cama e enlaçou meu pescoço. Suspirei, a única coisa que me doía era deixá-la.
Deixei um selar em sua testa e peguei minhas coisas.
Ainda teria que assistir à droga da aula.
Ao passar pela cozinha, me deparei com minha mãe sentada à mesa com uma bíblia aberta. Pigarrei antes de tocar seu ombro.
- Eu estou indo, okay?
- Vai dormir em casa essa noite? - Soltou uma bem direta fria.
- Não.
Ela suspirou, se virando para me dirigir um olhar decepcionado.
- Eu não entendo, Sadie. Parece que você não suporta morar mais aqui - resmungou, incomodada.
Dei um passo pra trás, desviando os olhos.
- Isso não é verdade - aleguei, segurando meu pingente no formato de uma Lua que Noh me deu há uns dias por reflexo.
- Você não suporta o seu pai. Fico triste porque não consigo entender como pai e filha não conseguem se dar bem.
- Aquele homem não é meu pai. - Minha voz é carregada de frieza e ódio.
- Como pode dizer isso? - Levantou-se da cadeira. - Entendo se não quiser chamá-lo assim, mas ele fez tudo por você. Por nós!
- Claro. O dinheiro dele é tão importante que a senhora não é capaz de enxergar o que está bem na frente de seu nariz! - alterei um pouco meu tom, a assustando.
- Escute aqui, mocinha...
A cortei:
- Por que a senhora acha que eu não saio do quarto depois que chego do colégio? - questionei, sentindo as lágrimas brotando nos meus olhos. - Por que acha que ele fica na sala feito um cão de guarda até tarde?!
- O que você está insinuando, Sadie?! - bradou.
As lágrimas começaram a cair. Minha garganta doía a cada palavra proferida pelo esforço de tentar não soluçar em sua frente:
- Mãe, você não vê? Não é possível que você não enxergue como ele me olha, como fica sempre próximo. - Engoli em seco, tentando não deixar minha voz falhar.
- Sadie, já chega! - gritou mais alto. Dei um passo para trás, arregalando os olhos. - Eu não vou deixar que você fale dele dessa maneira.
Encarei o chão.
- Só falta você dizer que eu o estou provocando.
- E não é o que está acontecendo? - Prendi a respiração. Nunca fui de pensar muito no meu pai, mas foi impossível não tentar imaginar o que o papai acharia daquela merda toda. Ele jamais permitiria. A voz dela tentou soar mais amena enquanto a mulher que se dizia minha mãe acariciava meu ombro. - A culpa não é sua, filha. É que você é muito bonita. Os homens reparam. E as suas roupas...
Afastei suas mãos de mim.
- Eu vou embora daqui.
Me virei e peguei minha mala pela alça, tendo certeza de que ela havia visto pelo grito incrédulo que soltara:
- S-sadie, volte aqui!
Bati a porta ao sair, deixando mais lágrimas caírem e encharcarem meu rosto enquanto corria com urgência para bem longe daquela casa.
MILLIE
Desci a escada vestida para aula, indo tomar café, ainda meio sonolenta. Aproveitaria para pedir a meus pais que Sadie passasse um tempinho aqui por uns dias. Tinha certeza que mamãe jamais negaria quando soubesse pelo o que a ruiva estava passando, apesar de Sadie ter deixado claro que era para contar a verdade apenas em último caso.
A campainha soou e eu resmunguei, tendo que fazer o "esforço" de ir atender.
- Millie, atende a porta, por favor. - Mamãe gritou da cozinha.
Deixei minha mochila sobre o sofá e fui destrancar a porta. Para minha surpresa, era tia Melissa com um sorriso bastante estimulante no rosto.
- Ai, meu Deus. - Parei estagnada na porta. - Responderam?
Ela riu.
- Como você está, minha linda?
Notei que ainda não a havia convidado a entrar e o fiz de imediato, me questionando mentalmente onde estavam meus modos. A respondi rapidamente meio eufórica ao me afastar, fazendo-a rir.
- Mas, meu Deus, se a senhora está aqui... - A hipótese de uma resposta negativa me impediu de terminar.
- Sim, sim. Tenho boas notícias. Mas preferi vir até aqui para explicar os detalhes.
Assenti rapidamente enquanto passávamos para a cozinha. Mamãe ficou surpresa por encontrar tia Melissa logo tão cedo. Dava para ver que daqui ela já iria para a sede da empresa, então mamãe tratou de servir-lhe café por obviamente saber que a irmã não se demoraria aqui.
- O acordo deu certo. E sinceramente prevejo que dará bastante lucro para ambas as partes. Os Apatow's tem uma Empresa de grande porte, apesar dos negócios terem começado a cair. Eu me surpreendi bastante com a sinceridade deles quando entrei em contato, não esconderam absolutamente nada.
- Estavam contando totalmente com a ajuda dos Beckham - murmurei, ficando um pouco tensa com a hipótese deles não terem abandonada o plano ridículo de obrigar a filha a se casar por conveniência.
- Foi exatamente o que pensei. Tive que mudar um pouco a oferta. Para salvar a empresa, disponibilizamos uma porcentagem maior dos lucros para eles nos primeiros três meses.
- Há algum risco? - murmurei, mordendo a pele branquinha do dedão.
Ela assentiu.
- Pequeno, mas ele existe. Mas francamente estou positiva. A demanda deles caiu por um erro dos próprios Apatow's. Com a parceria, é bem improvável que aconteça outra vez.
- Perfeito.
- Okay, éer... o que está acontecendo? - mamãe questionou com um riso acanhado, pondo a xícara de lado, seus olhos confusos iam de mim à irmã.
- Querida, pode ir. - Minha tia tocou meu ombro de leve. - Vejo que ainda tem aula.
Assenti me levantando. Ao deixar meu prato e a xícara na pia, dei um beijo rápido em mamãe. Antes de fechar a porta de casa "Precisamos conversar, Win" foi a última coisa que ouvi.
Não podia atrasar, por isso segurei minha curiosidade e segui pra escola. Assim que virei o corredor da minha sala, Iris vinha na direção contrária.
Seu rosto estava radiante, ela parecia à ponto de me abraçar, mas apenas ficou com uma distância mínima.
- Fiquei sabendo que deu certo - comentei.
Por algum motivo fiquei sem graça. Também estava feliz, mas o fato de nós duas estarmos sentindo isso pelo mesmo motivo era novo, um tanto estranho.
- Deu. Mamãe disse que o casamento já não é mais preciso. - Seus olhos brilhavam ao passo que pronunciava cada palavras.
Sorri pequeno, baixando o olhar por um segundo, voltando a fitá-la novamente.
- E como você está?
- Livre, graças à você. - Assenti, tentando controlar o rubor em minhas bochechas. Iris notou e provavelmente se perguntava o mesmo que eu. E agora? Ela ignoraria o que aconteceu e voltaria a fazer minha vida um inferno como antes? Não descartava a hipótese. E não seria mais fácil? Afinal, não éramos amigas. Não era justo, mas eu havia me conformado há muito tempo. Porém, suas palavras me chocaram: - Millie, eu peço perdão pela forma como eu tenho agido nos últimos dois anos e tornado sua vida nada fácil. Eu sei que, agora, isso não vale tudo que eu fiz você passar. Mas, espero que você possa considerar minhas desculpas. Estive uma pilha de nervos todo esse tempo e - Soltou um suspiro de exaustão. - bom, você conseguiu minha liberdade de volta. Obrigada.
Assenti, grata pela decisão de trégua. Toquei seu ombro, apertando-o de leve. Acho que um abraço seria demais para nós. Mas apenas nossos sorrisos cúmplices bastavam.
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(N/A: pessoal, além da fic eu estava com muita coisa acumulada para resolver e por isso consegui escrever apenas dois capítulos. No entanto saí do meu emprego que não estava fazendo bem para minha saúde mental e enquanto procuro outro estarei escrevendo e atualizando essa fic. Previsão do próximo capítulo é esta segunda-feira, obrigada pela paciência de quem ainda acompanha, vocês são incríveis <3)
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