25. A ajuda inesperada
Me apoio no parapeito da janela, ainda em choque com o nome citado por Iris. Entretida com meus pensamentos, algumas peças se encaixam. Havia sido por isso que a família de Romeo voltara aos EUA do nada. Eu não fazia ideia de que meu ex-namorado herdaria uma empresa, os negócios de sua família, assim como Finn e que, muito menos, esse tempo todo era ele o prometido de Iris.
Toda aquela história já estava me deixando nervosa. E se eu não conseguisse ajudar Apatow? É ridículo pensar isso da garota que tornou todo meu ano escolar um inferno. Mas, sinceramente, eu faria isso por qualquer uma. Antes de qualquer coisa, Iris é uma garota e está sendo obrigada a ter um futuro que não quer. Ao lado disso, qualquer briguinha ou provocação vindo de si agora parece completamente insignificante. Me remexi na cama praticamente a noite toda. Queria resolver tudo o quanto antes, mas precisava esperar até amanhã de manhã. Toda aquela ansiedade levara meu sono embora e assim que o relógio marcou cinco em ponto, pulei da cama. Até que seria bom me trocar uma hora mais cedo já que meu corpo se recusava a descansar um pouco mais.
No entanto, precisaria que mamãe acordasse para lhe pedir um favor nada fácil pelo papai, então resolvi tomar um banho mais demorado e aproveitei para lavar o cabelo. Agora que havíamos entrado na primavera e o inverno se fora, não teria problema sair tão cedo de cabelo molhado pra escola.
Quando desci, os dois já estavam na cozinha.
- Bom dia, querida.
Lhe respondi enquanto me sentava. Apenas após ter dado algumas mordidas no meu waffle, tive coragem de iniciar o assunto:
- Mãe, a senhora pode ligar pra tia Melissa?
Meu pai desviou os olhos do prato para encarar mamãe, temeroso com sua reação. Em geral, tínhamos mais contato apenas com tia Melissa e minha prima Maddie. O restante da minha família materna não eram tão próximos de nós e mamãe comentara uma vez pelo fato de ter se casado com meu pai.
- Garota... - papai começou, me devolvendo um olhar tenso.
- Mãe, por favor. Eu não pediria isso por qualquer coisa.
Ela trocou um olhar com meu pai e pegou o telefone sobre a mesa, enquanto ele suspirou e assentiu pra mim.
Esse horário ela estaria indo até a empresa da minha família materna. Assim como minha mãe, minhas duas tias herdaram a empresa dos meus avós. Porém, antes que isso acontecesse, mamãe brigara com eles para poder se casar com meu pai. Ficara então decidido que ela obviamente sempre receberia toda sua parte do lucro, no entanto perderia o direito de ser ativa nos negócios, ficando responsáveis apenas minha tia Melissa e minha tia Olivia, que mora no exterior.
Por ter uma vida mais atarefada, minha única chance era falar com tia Melissa.
Suspirei de alívio quando ela atendeu. Mamãe conversou brevemente com ela sob meu olhar apressado, já que eu ainda tinha que ir à aula e me entregou o aparelho com um olhar severo pela minha afobação.
- Bom dia, tia. Eu... preciso de um favor seu.
- Bom dia, minha linda! - dava pra notar que ela estava falando com alguém, um tanto ocupada, eu precisava ser rápida. - Quanto ficou o macchiato, amor? Só um instante, Millie.
Fiz menção para mamãe que subiria para escovar os dentes e pegar minha mochila.
- Pode dizer, minha princesa. Como estão as coisas?
- Estão bem, tia. - respondi com certa pressa. Ela não tinha todo tempo do mundo, há julgar pelo barulho de seus movimentos rápidos na rua, e muito menos eu. - Eu queria pedir algo, mas creio que é um assunto que seria melhor tratado pessoalmente.
- É claro, minha flor. Eu não posso hoje, tenho uma reunião mais tarde. Mas podemos nos ver amanhã na hora do almoço.
Ela indicou um restaurante não muito longe da escola.
- Claro, depois da escola lá.
Passei o dia todo angustiada e ansiosa. Meus pais perguntaram o que era e apenas respondi que queria saber de Maddie. Mamãe detestaria saber que estou pedindo algo tão importante que envolve os negócios da família, do qual ela não pode ter sequer contato. Imagino que jamais me impediria, mas poderia ficar chateada.
Até mesmo Finn notou minha angústia, mas tentei disfarçar durante o resto do dia.
Suspirei de alívio ao chegar no lugar marcado no dia seguinte e encontrar tia Melissa já em uma mesa. Nos abraçamos e conversamos antes de fazer o pedido. Ela optou por algo leve e, pela primeira vez, decidi fazer o mesmo, visto que minha ansiedade levara meu apetite.
Assim que nossos pratos chegaram, comecei o assunto tão aguardado. Expliquei meus motivos e ela ouvia atentamente, analisando a situação de forma que favoreceria ambos os lados.
- Hmm, já ouvi falar da Empresa dos Apatow's. - disse ela. - Foi uma empresa excelente, não entendo como acabaram falindo.
- Bom, de acordo com Iris, a empresa investiu errado numa marca. E o preço foi caro. Em resumo, é tudo que ela sabe. A questão é que eu não acho certo que eles coloquem em seus ombros uma responsabilidade por algo tão grande. Entende?
- Entendo que queira ajudá-la, Millie. - Ela largou o talher para aproximar de minha mão esquerda e segurá-la. - Mas você deve saber que o mundo dos negócios é complicado.
- Sim. Você deve estar se perguntando o que ganharia fazendo negociação com uma empresa que já não tem muito para oferecer. Mas feche, mesmo que por um curto período, dando uma boa garantia para eles. Vocês podem dividir os lucros e talvez seguir com a parceria lá na frente...
- Querida - Ela sorriu. - Você poderia facilmente seguir nesse ramo, seus avós ficariam orgulhosos. Afinal, é da família, tem esse direito a partir dos dezoito anos. É uma pena que Maddie não demonstre o menor interesse também.
Ri com a mudança repentina de assunto, pêga de surpresa já que meu cérebro estava ocupado analisando a situação séria.
- Bem, o que me diz? - perguntei nervosa ao fitar seu olhar analítico diante daquela hipótese.
- Se trata de uma empresa rival. Apesar dos lucros terem caído, ainda há formas de levantar os negócios sem sua amiga colocar em jogo o próprio futuro. Fazer parceria poderia ser vantajoso no futuro. - Assenti surpresa por ela ter decidido tão rápido. - Mas acalme-se. Eu busco sempre formas de obtermos mais lucro. Já sua tia Olivia preza pela segurança de nosso matrimônio, uma mão de vaca - resmungou no final, me fazendo rir baixo.
Ela retira os óculos de grau para mexer no celular, e os recoloca de volta ao jogar a franja para trás com uma leve irritação.
- Mas assim que eu conseguir convencê-la, avisarei você. - Ela me lançou um sorriso tranquilo e piscou, me transmitindo segurança.
- Mesmo?
Sorri abertamente e ela assentiu. Sendo assim, encerramos o assunto e pedimos a sobremesa, da qual eu comi muito mais tranquila.
Cerca de metade da semana se passou. Eu já estava totalmente sem unhas por ter ruído todas por não poder mais esperar. Na ida à educação física, na quarta, Iris me surpreendeu ao me puxar para um canto do vestiário, onde era mais difícil alguém nos ouvir se falássemos baixo.
- Ela vai ter uma reunião com eles. Provavelmente até o fim desta semana teremos a resposta.
- É mesmo? - disse com os olhos arregalados. Com um gritinho, Iris apertou minha mão tamanha era sua esperança. Ao se acalmar, me encarou procurando algo em meu olhar. - Ainda não entendo porque fez isso por mim.
- Iris - Lhe segurei pelo ombro com uma mão -, temos nossas diferenças, mas isso nunca deveria ter nos tornado inimigas.
Ela ficou em silêncio até assentir e relaxar os ombros, como se de repente estivesse se preparando para a aula na quadra.
- A propósito, foi mal pelo tapa - relembrou do acontecimento que ocorrera aqui mesmo há meses atrás com um sorriso.
- Foi mal pelo soco - respondi, e mesmo sendo estranho, caímos no riso.
FINN
Me distraí com um pouco com a aula física. Era queimada em equipe e todos os meus amigos estavam juntos na mesma equipe. Resultado: Caleb e Gaten estavam tentando massacrar a outra equipe, que injustamente estavam Mills e Noah. Eu estava tentando jogar limpo. Mas os dois eram realmente ruins. Apesar disso, Millie era boa em evitar ser queimada. Era rápida e notei que ajudava o melhor amigo várias vezes a escapar da bola.
Mas Iris estava fazendo mais do que apenas jogar limpo, parecia que ela evitava queimar Millie. De acordo com seu histórico de ódio por ela, aquilo era no mínimo estranho. Contudo, em contraste disso, Caleb ficava focando nela para me provocar. Eu acabei sendo queimado e fui para o outro lado da quadra. Sorte talvez, porque foi naquele momento que um colega do meu time mirou em Millie alto e eu sabia que acertaria bem no rosto dela.
Ao invés de entrar no circulo, a puxei e enlacei seu corpo, virando-a para ficar atrás de mim.
- Argh, Finn!
Ri baixo e mostrei o dedo do meio para os meus amigos.
A professora levou o apito pendurado em seu pescoço até os lábios, assoprando bem alto ao ponto de meus ouvidos doerem. É claro que uma hora iria vir falar merda, já que não é a primeira vez que protejo Mills na quadra.
- Wolfhard! - Ela atravessou a quadra até mim e Mills, que não saíra dos meus braços. - Sabe que aqui esse tipo de coisa não é permitido, certo? Vocês podem ficar de chamego fora desses muros.
Deveria estar dando sermão no outro time e não em mim, imbecil.
- Você viu o que aconteceria se eu não tivesse feito nada, né? - questionei frio, morrendo de vontade de mandá-la se foder. - Posso ir tomar água com ela? - perguntei rapidamente quando Millie se virou para se desculpar.
- Podem. - Ela revirou os olhos, por me conhecer o suficiente para saber que não iríamos voltar.
- Pare, Finn - pediu a Brown, visto que eu não parava de praguejar puto no refeitório com aquela situação injusta. - Ei. - Ela segurou meus ombros, me distraindo. - Já foi. Obrigada por impedir aquela bolada.
Aaargh, deveria ser crime Millie sorrir dessa forma pra mim.
Encolhi os ombros e parei imediatamente de falar, deixando-a me abraçar.
Enlacei o corpo de Mills, apoiando meu queixo sobre sua cabeça, e fechei os olhos. Mal percebi que ficamos daquela forma por minutos. Nem o abraço de Megan era tão viciante quanto o de Mills.
- Melhor a gente voltar - Millie comentou com um riso.
- Nem fodendo.
Pouco antes da educação física acabar seria o intervalo. Então, pedi para ir tomar água no refeitório com Millie e a levei até a biblioteca.
Ela reclamou, mas faltavam uns vinte minutos pra aula terminar e sinceramente queria passar um tempo só com ela um pouco. Mesmo termos voltado há um tempinho, a sensação constante de saudade dela ainda não passara completamente.
Para garantirmos que a bibliotecária não nos pegaria, corremos para o fundo da biblioteca, atrás de uma prateleira que escondia bem da visão de sua mesa.
Ela parou ofegante à minha frente e caímos no riso.
- A gente precisa parar de fazer isso.
- Desiste, você já foi mais exemplar - aleguei apenas para provocá-la.
Millie estreitou os olhos pra mim em surpresa e apenas toquei sua nuca para lhe puxar de leve até mim, lhe dando um selinho longo.
Ficamos na biblioteca de bobeira até soar o sinal. Lhe perguntei se queria ir comprar algo para comer mesmo estando praticamente sem fome, porque conhecia bem seu apetite. Mas Millie sorriu, me mostrando o celular.
- O Noah está perguntando se queremos que ele e Sadie tragam algo para nós.
- Diz que eu quero um hambúrguer sem picles e coca. - falei, cruzando os braços enquanto sorria com sarcasmo. - Ah, e com muito ketchup também. E umas batatas não seria nada mal.
- Deixa de ser palhaço, Finnie. - Ela gargalhou, me dando um tapinha no braço.
- O quê que foi? Ele não tá oferecendo?
- Aqui não tem babata frita - afirmou.
- Jura? Não sabia, gata. - Ela me deu outro tapinha no braço e lhe abracei como um pedido de desculpas. - Te amo.
- Você está de bom humor ou o quê?
- Você me deixa de bom humor.
Ela me enlaçou pelo pescoço, recostando seu rosto em meu ombro e pude sentir seu shampoo leve.
- Eu também te amo, chatão.
Ri baixo. Porque eu me sentia exatamente como da primeira vez sempre que ela pronunciava essas palavras? Seja lá o motivo, eu gostaria muito de sempre me sentir assim, não importando quantas vezes Millie repetisse e repetisse. Literalmente amava ouvir.
O toque irritante do sino soou, indicando que a porta foi aberta e nos separamos, apesar da estante atrás de nós dois nos esconder bem.
- Relaxem, somos nós - Sadie disse, com dois embrulhos de um papel pardo.
Ela entregou um pra cada um de nós e Noah puxou uma cadeira pra ela e para si.
- E aí, como foi a Educação Física? - perguntei de boca cheia, em provocação.
- Vai à merda, Finn! - Sadie riu.
Ia continuar provocando até encará-la nos olhos e notar algo neles. Sadie parecia chateada com alguma coisa e não foi muito difícil imaginar o que estava acontecendo depois de vir ajudando ela nos últimos dias.
- Você tá legal? - Minha pergunta soou tão sincera e séria que atraiu a atenção de Millie.
Os olhos verdes se desviaram dos meus e obtive imediatamente a resposta. Meu semblante fechou e meu bom-humor fora embora, deixando até mesmo Schnapp sem graça.
- É o padrasto dela... - ele murmurou, fazendo a ruiva arregalar os olhos e lhe lançar um olhar ameaçador.
- NOAH!
- Deixa ele falar! - rebati, puto com ela por querer esconder.
Ia quebrar aquele merda que se dizia padrasto dela. Já chega, não a deixaria pôr os pés naquele lugar até que ele estivesse atrás das grades onde é o seu lugar.
- Gente, pelo amor de Deus, o quê que tá rolando? - questionou Mills, com a voz carregada de preocupação.
- É o padrasto da Sadie... ele... ele... - Desviei os olhos, bastante incomodado.
- É nojento. - Sadie o interrompe, de braços cruzados. - Digamos que não é seguro eu encontrar com ele fora do quarto, principalmente depois que minha mãe cai no sono.
Um silêncio se instalou por uns trinta segundos. Não encarei nenhum deles até Millie resolver quebrar o gelo, com sua voz carregada de compaixão - A mesma que usara comigo quando presenciou minhas crises de ansiedade, a mesma que contribuíra muito para que eu me apaixonasse por ela:
- Isso é horrível. Por que nunca me contou?
Sadie deu de ombros, baixando o olhar. Noah e eu nos movemos ao mesmo tempo, mas Mills foi mais rápida. Se levantou e foi até a ruiva, lhe envolvendo com os braços. Schnapp e eu encaramos as duas por mais uns segundos antes de nos juntarmos ao abraço. Notei pelo movimento frenético nos ombros de Millie que Saddy estava soluçando.
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