24. A escapada
- Oi, eu... posso entrar? - perguntou, esfregando a mão no pescoço.
Noah parecia nervoso quase tanto quanto eu. Com o coração prestes a sair pela boca, pisquei duas vezes, buscando pela minha própria voz que sumira.
Ao passar o choque, notei estar muito tempo com o rosto tenso e arrumei a postura, colocando uma mecha de cabelo chata atrás da orelha e limpando a garganta.
- H-hum, eu disse que te encontraria no parque, Lindo... - Tentei disfarçar meu nervosismo com um sorriso e lhe chamando pelo apelido que lhe dei, cruzando os braços enquanto saía pra fora, deixando-a entreaberta, bloqueando a entrada com o corpo.
- Eu sei, é que... você demorou - sorriu envergonhado, pressionando a mão na área da curva do pescoço.
- O quê? - Chequei meu celular, descobrindo que havia passado meia hora do horário que marcamos. - Ah, eu me distraí com a Jacey. Desculpa. Eu já vou sair, me espere aqui fora!
Ao falar sem parar, sem lhe dar a oportunidade de abrir a boca e sem me importar com minha total falta de educação, fechei a porta em sua cara e corri para o meu quarto para pegar minha jaqueta e borrifar um pouco de perfume nos pulsos e no meu pescoço. Dei um beijo na testa de Jacey, que reclamou com minha saída e disse que voltaria logo.
Voltei à sala, caminhando em direção da porta.
- Sadie! Aonde você vai? - Congelei com a voz daquele homem nojento que até então estava em sono profundo.
Dei dois passos pra trás, tentando manter meu tom de voz controlado:
- Buscar uns livros que esqueci na escola. - gritei de volta. - Eu já volto.
- Onde está sua mãe? - Ele apareceu na sala, o rosto vermelho e o olhar disperso deixavam claro que passara a tarde enchendo a cara de whisky.
- No quarto com a Jacey - menti ao me virar, tentando manter a expressão dura, mesmo morrendo de medo dele descobrir que ela não estava em casa.
- Venha aqui - murmurou, sério.
- Eu disse que tô de saída - tentei soar firme. - Preciso pegar esses livros até daqui vinte minutos senão a escola vai fechar...
- Eu disse para vir aqui agora!
Ele jogou o copo de vidro que segurava com força no chão. O barulho do estilhaço me assustou e gritei, me encolhendo enquanto tampava os ouvidos.
- Saddy?! - Noah gritou do lado de fora, preocupado com o barulho.
Arregalei os olhos e imediatamente corri para a porta, mas fui agarrada pelo cabelo.
- Quantas vezes eu disse que não gosto que saia esse horário?
- Eu sei, pai... - disse, segurando seu aperto na tentativa de fazê-lo afrouxar um pouco, enojada com seu hálito próximo ao meu rosto. - Eu sei. Mas é coisa da escola, eu preciso ir!
- É um garoto aí fora, Sadie?! -Fiquei sem ação. Não sabia se temia pela minha pele ou pela de Noah. - Você sabe que eu detesto quando mente pra mim, não sabe?
Sua mão desceu pelo meu ombro com malícia e lágrimas de desespero brotaram nos meus olhos. Varri a sala com o olhar, à procura de qualquer coisa para me defender e agarrei um vaso, lhe acertando com força na cabeça.
O vaso estilhaçou e ele grunhiu, cambaleando pra trás até cair no chão. Aproveitei para correr de volta ao quarto, trancando a porta.
- Sadie!!! - Me virei para a janela, fitando o rosto desesperado de Noah que pressionava as mãos no vidro.
- Noah!
Sem pensar duas vezes, agarrei minha mochila.
- Saddy...
Jacey estava em prantos no chão, assustada com aquele barulho todo. Coloquei uma das alças da mochila no ombro e me abaixei com o coração partido em vê-la daquele jeito.
- Ei, ei, ei, Jassy. Vai ficar tudo bem. - Lhe abracei. - Desculpa. Eu fiz uma besteira e o papai ficou zangado.
- Por isso que você tá chorando? - murmurou, um pouco mais calma.
- É. A gente brigou, mas tá tudo bem agora.
Ela assentiu, me enlaçando com seus bracinhos.
Ia soltá-la para poder sair de uma vez quando o filho da puta começou a esmurrar a porta gritando meu nome, ao menos não forte o bastante para derrubar devido ao seu estado deplorável.
Jacey arregalou os olhos e a levei para longe da porta, me abaixando para ficar na sua altura.
- Eu vou precisar sair e assim que eu pular a janela, quero que você destranque a porta. Pra acalmar o papai. Pode fazer isso?
- Por que ele 'tá gritando?
- Pode fazer o que combinamos? - insisti com o tom mais manso que consegui para que não ficasse ainda mais apavorada do que já estava.
Ao assentir mesmo sem entender nada, lhe abracei e beijei sua testa, mesmo com vontade de levá-la comigo e nunca mais voltarmos.
- Eu te amo, Jassy.
- Eu te amo mil milhões, Saddy...
Ri baixo, surpresa com sua resposta. A soltei à contragosto e abri a janela, pulando pro lado de fora com a ajuda de Noah, que me segurara para não cair, afinal ele não fazia ideia de que já estava habituada pelas incontáveis vezes que fizera aquilo.
Ele me abraçou forte e lhe correspondi com as mãos trêmulas, caindo em lágrimas por ter pensado que não iria conseguir sair. Lhe puxei pelo braço e corremos segundos depois dos berros pararem.
FINN
- Quer conversar?
Millie me fitou com preocupação sentada em seu puff. Lhe encarei sem saber como colocar o que sentia pra fora e suspirei, voltando a fitar o teto de seu quarto.
- O Eric disse que quer consertar as merdas dele, disse que vai procurar ajuda, que vai mudar e o caralho a quatro... - murmurei, sem humor.
- Sério? - Ela demonstrou entusiasmo.
- Mills, estamos falando do meu pai! - Levantei puto por ela acreditar tão fácil numa merda estúpida daquela.
- Sim, não é ótimo que ele queira se retratar? - questionou, levantando-se para vir até mim e se deitar ao meu lado.
- Ninguém muda do dia pra noite, Brown - comentei com frieza.
De repente, minha cabeça foi atingida por algo fofo e descobri que Millie me acertara com seu urso de pelúcia.
- Não me chama assim - reclamou.
Sorri de lado e lacei seu corpo, nos virando até que eu ficasse por cima.
- Chamo sim - disse próximo ao seu rosto, aproveitando para deixar um selinho em seus lábios.
Ela sorriu e me deitei novamente ao seu lado, agora virado para si, e me distraí acariciando seu cabelo.
- Não sei o que pensar... - voltei ao assunto.
- Você não precisa acreditar nele agora, deixe-o provar se realmente mudou. Só o tempo vai dizer. - Assenti ainda um pouco tenso e murmurei em resposta. Ela entrelaçou nossos dedos. - Finnie...
- Hm?
- Você vai cair pra trás, mas... - Fez uma pausa só pra me torturar. - Pode me passar o número da Apatow?
Afastei nossas mãos e arregalei os olhos, me virando para si.
- O quê?
MILLIE
Dei uma explicação breve para ele sem mencionar o fato de Iris ter chorado na minha frente e toda a confusão em que seus pais a meteram. Ficamos mais um tempo deitados enquanto Finn tentava deixar a questão do Wolfhard mais velho de lado.
Já era um pouco tarde quando o cacheado fora embora, mas mesmo assim arrisquei tentar falar com a Apatow.
- Quem é? - disse ela, ao atender.
- Iris... - comecei, um tanto incerta.
- Céus, é você - Por mais estranho que fosse, sua voz era carregada de euforia e alívio, ao invés de arrogância. - Tem... alguma novidade?
- Não, na verdade... - respondi desconcertada por ela esperar por uma resposta assim tão rápido, nunca lhe vira tão desesperada antes. - Eu preciso de alguns dados da empresa dos seus pais para minha tia avaliar, já que irei falar com ela amanhã...
Ela suspirou do outro lado da linha, mas a confiança costumeira em seu tom de voz não vacilou:
- Do que você precisa?
Ao me passar alguns dados básicos que muito provavelmente tia Melissa pediria para avaliar sua possível parceria com a Empresa dos Apatow's, como telefone pra contato, nome, explicação básica da fundação e CNPJ, perguntei à Iris sobre o acordo entre seus pais e o Ceo David Beckham para que minha tia pudesse abordar seus pais com uma excelente contra-proposta. O sobrenome dele estranhamente me era familiar, mas resolvi deixar pra lá.
Ao fim da conversa, já estava ciente dos detalhes mais minuciosos para acabar de vez com - como a loira mesma fez questão de dizer: - aquela palhaçada.
Por fim, ficamos apenas jogando conversa fora sobre tudo aquilo, dois dias antes seria muito difícil de se imaginar isso, mas devo concluir que qualquer garota sentiria compaixão de si em uma situação daquelas.
Até que nos voltamos ao tal filho do CEO, a quem a loira estava prometida.
- Você sabe ao menos quem ele é?
- Sei lá... meus pais disseram uma vez, mas eu estava puta demais na hora para dar atenção pra isso. Acho que era um tal de Romeo.
Me levantei em um pulo, completamente pasma. Não. Não poderia ser sério.
Mas se o CEO era David Beckham...
- Romeo? Romeo Beckham?
- Isso! Espere, você o conhece?
- Só pode ser brincadeira...
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