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22. Alguém para quem contar

Os outros alunos nunca costumavam chegar perto de mim por me acharem estourado. Mesmo aos dez anos, era normal entrar no banheiro, na sala de aula ou passar por alguém no corredor e o ambiente, até então barulhento, tornar-se silencioso instantaneamente. Geralmente prendo o riso quando acontece. Mas nem sempre foi assim. Às vezes, eu esqueço que me tornei quem mais temia no fundamental: o 'valentão'.

No dia em que conheci meus amigos, estava escondido jogando meu videogame portátil no intervalo quando Troy e James me encurralaram, arrancando o jogo de minhas mãos antes de me empurrarem pro chão.

Ignorando os insultos, limpei minhas mãos sujas de pó do asfalto e sangue leve no tecido da calça e me levantei. Tentei lhes dar as costas, mas fui segurado pelo colarinho da camisa.

Não demorou muito para que estivesse no chão novamente, protegendo o rosto para não ser atingido pelos chutes e socos.

Até que estranhamente eles pararam. Permaneci encolhido. Devia ser algum professor, já que nunca alguém os impediu antes. Porém, outro garoto passou a discutir com eles e os mandou embora antes que tivesse que ir pra cima dos dois. Me virei surpreso. Um garoto negro da minha idade os desafiava com o olhar.

Mal acreditei quando os imbecis se afastaram, proferindo piadinhas idiotas sobre nós dois. Sem dizer nada, o garoto me estendeu a mão. Porém, me levantei sozinho, com a última dignidade que me restava.

— Por que fez aquilo? — murmurei desconfiado.

— Você é idiota de ficar aqui sozinho? Por que deixa eles fazerem aquelas merdas com você?

Dei de ombros, com as mãos machucadas enfiadas nos bolsos da jaqueta.

Ele  me chamou até o parquinho, onde eu costumava observar as outras crianças do outro lado da rua. Fomos até os balanços, onde um garoto de cabelos cacheados castanho-claros sob um boné azul e vermelho estava sentado devorando uma barra de chocolate.

— Aonde você foi? — perguntou ele.

— Esse é o Gaten, e meu nome é Caleb. — disse o que me ajudou, ignorando o outro.

Proxerrr. — disse Gaten, com a boca cheia de chocolate.

Acenei com a mão, hesitante.

Ééé... Finn murmurei.

— Se quiser, pode andar com a gente. Pra aquilo não acontecer com você de novo — sugeriu Caleb.

— Aliás, como fez aquilo? — questionei, dando minha total atenção para si.

— Caleb sempre diz que se aprende muitas coisas no orfanato. — Gaten deu de ombros, falando normalmente após ter engolido todo o chocolate.

— Você é de um orfanato? — Ele assentiu.

— Fiquei lá até alguns meses atrás. Até minha tia finalmente conseguir me adotar.

Assenti. Apesar deles quererem me ajudar, não conseguia tirar o jeito que Caleb enfrentou Troy e James da cabeça. Eu não era corajoso como ele.

— Eu não consigo fazer aquilo que você fez... — resmunguei envergonhado.

Finn!

— Você vai aprender. — Caleb tocou meu ombro.

— Finn, droga!

— Fala, porra! — Levantei a cabeça com o susto.

— Seu celular tá tocando, cacete — afirmou Caleb.

O retirei do bolso. Estava atrasado para encontrar Millie. O larguei sobre o chão da pista, entortando a boca numa careta.

— Ela não pode me ver assim...

— Qual é? Não bebemos tanto assim. — Deitou o corpo pra trás. — Só quero saber quando vai parar de frescura e ficar com a gente nas festas ao invés de virmos pra cá.

Sorri sem emoção. Acho que Millie me fez ver as festas com outros olhos. Ela pode ter mudado de visual, mas seu caráter não mudou nada.

— Tomar uma água. — Me levantei com certa dificuldade, indo em direção ao bar.

Fiquei bebendo minha água, esperando recuperar minha sobriedade enquanto Gaten não parava de tagarelar imbecilidades.

— Pessoal — o interrompi ao me sentir mais sóbrio, recebendo um murmúrio de Caleb. — Depois daquele dia — Gaten se endireitou, me fitando. — em que vocês me conheceram, eu forcei vocês a fazerem aquilo?

— Não — Caleb negou de prontidão. — Estávamos e estamos fazendo isso pra ninguém nos diminuir. Pra nunca mais alguém fazer aquilo com você. Não precisa se sentir culpado por nada. Eu enfrentei aqueles caras quando te conheci porque eu quis.

Mirei o céu estrelado por um momento. Isso não me fez sentir melhor.

— Às vezes sinto que perdemos o controle. Nos tornamos iguais à James e Troy. E eu não quero mais  isso — resmunguei, me erguendo e colocando minha mochila nas costas, sem dar chances pra Caleb tornar a negar. — Vou indo, vê se vão pra casa.

Gaten riu e os dois gritaram um "falou, cara" quando já tínhamos uma boa distância, me sacaneando por estar indo embora apenas por Millie ter "mandado". Lhes mostrei o dedo do meio e segui até a casa dela.

Em frente à sua porta às dez da noite, avisei que já havia chegado por mensagem. Sentei no meio-fio enquanto esperava. Millie abriu a porta com uma mochila em suas costas, vestindo roupas confortáveis, assim como eu recomendei.

— Vamos mesmo fazer isso? — sussurrou após eu ter ficado de pé e segurado seu rosto para dar-lhe um selinho.

— Vamos — murmurei de volta.

Esperamos uns cinco minutos até um dos motoristas do meu pai, Brian, chegar. Acho que posso considerá-lo como meu, já que é ele quem geralmente me leva nos lugares. Mas não gosto de pensar assim por outro lado. Por ele ser mais como um vigia do que um motorista. Infelizmente seria necessário irmos consigo, pela localização não ser perto o suficiente para irmos à pé no escuro, além de eu ter deixado as coisas que precisaríamos estarem dentro do carro.

Ele chegou em um 2018 CADILLAC CTSV e percebi Mills fitar o automóvel admirada. Sorri de lado e abri a porta para si, entrando depois dela.

O ar-condicionado do lado de dentro foi como um alívio, pela noite de primavera estar bem fria hoje.

— Boa noite, Sr. Wolfhard. Qual o destino?

— Você notou que não estou sozinho, Brian?

Eu odiava seu modo mecânico de falar comigo, por pensar que eu gostava de ser tratado igual ao meu pai. Como apenas seu patrão. Mas Brian insistia em manter sua cordialidade automática por questões, segundo ele, de comandos do Eric.

— Boa noite, senhorita...?

— Éér... Millie.

— ...Senhorita Millie. Qual o destino?

Me estiquei para sussurrar a rua em seu ouvido e Millie me olhou com curiosidade ao me sentar novamente.

— Você não vai me falar mesmo aonde vamos? — perguntou ela, enquanto saíamos de sua rua.

Neguei, rindo ao receber um tapa fraco em meu ombro.

— Você vai saber em questão de minutos. Relaxe, Mills — falei próximo ao seu rosto, lhe roubando um selinho assim que ela me fitou com impaciência.

Deveria ter me segurado pelo Brian, mas não pude me conter.

Assim que ele começou a subir a rua, soube que estávamos perto.

Millie saiu do carro e eu também em seguida. Enquanto ela admirava surpresa a vista da cidade, peguei duas sacolas bem grandes no porta-malas e voltei para frente do carro ao trancar, me pondo de frente à janela. Brian abaixou o vidro, com o rosto virado para frente, numa pose ridiculamente exagerada com aqueles óculos escuros àquele horário.

— Quanto pelo silêncio?

Ao tocar no assunto de seu interesse, retirou os óculos para me fitar nos olhos.

— Você se refere ao horário, a garota, ou o local do destino? — perguntou devagar, sinalizando a proporção do segredo.

Quanto? — questionei com mais seriedade.

Ele ditou o valor e assim o digitei no celular para lhe transferir. Lhe mostrei o comprovante e o motorista assentiu.

— Venho pegar vocês de manhã como combinado.

Concordei com a cabeça e ele fechou o vidro. Me afastei para que pudesse manobrar o carro e descer a rua.

— É  seguro ficarmos aqui em cima? — Mills se virou para mim ao ter deixado suas coisas no chão.

— Claro. Eu gosto de vir aqui às vezes. Dificilmente vi outras pessoas aqui em cima. — Dei de ombros despreocupado.

— E tem algum motivo... especial? — questionou ao me aproximar mais.

— Ah, amanhã não poderemos ficar juntos de verdade durante malditas seis horas, então... — Não completei, e ela riu baixo, assentindo. — Sem contar do saco que vai ser todo mundo descobrindo que voltamos — completei, pensativo.

Não.

Arqueei a sobrancelha. Devo admitir que por essa eu não esperava.

Millie segurou minha mão, entrelaçando nossos dedos.

— Vamos manter em segredo, por enquanto.

Sorri de lado. Porém, temi que estivesse fazendo isso só por minha causa.

— Você tem certeza?

Levando suas mãos para minha nuca, Mills aproximou seu rosto, chocando seus lábios nos meus. Nossas línguas batalhavam por espaço, numa dança calorosa. Lhe puxei mais para perto com as mãos em sua cintura. Comecei a imaginar a adrenalina que seria durante as aulas. De estarmos juntos em segredo, assim como era antes. Nossos beijos trocados às escondidas. A vontade de querer tocá-la em público e não poder. Puxei seu lábio com os dentes, chupando em seguida. Em aprovação, Mills arfou. Nossas respirações se chocavam e o beijo se tornou ainda mais necessário que o próprio ar. Minha destra desceu mais e apertei sua bunda, embrenhando meus dedos com a outra mão na raiz de seus fios. Os puxei de leve, lhe arrancando um gemido baixo contra minha boca. Sorri durante o beijo, voltando a brigar por espaço com a língua.

Antes que minhas partes baixas despertassem de vez, lhe dei vários selinhos e me afastei à contra gosto, encostando nossas testas.

— Eu amo você — murmurei contra seu rosto.

Ela sorriu ainda de olhos fechados, roçando nossos lábios, me torturando a permanecer com nossas bocas afastadas.

— Eu amo você — repetiu, me arrancando um sorriso.

Meu peito falhava uma batida sempre que a ouvia dizer isso. Não consigo entender até hoje o que Millie fez comigo.

O primeiro 'eu te amo' que ouvi de uma garota foi aos onze anos e senti vontade de vomitar ou sair correndo, não lembro direito. Mas entrei em pânico. Tudo que consegui formular foi um 'valeu' baixo e trêmulo.

Quer dizer, a gente se beijava na época. Eram apenas selinhos e nos ignorávamos durante o resto do período escolar inteiro. Não tinha porquê ela ter dito aquilo. Eu não queria ser grosso, mas não iria dizer que lhe correspondia. Achei melhor agradecer.

Nunca fui uma pessoa fácil e acho incrível Mills ter me aceitado do meu jeito mesmo sermos diferentes. Talvez nós dois sentíssemos a mesma faísca quando estávamos juntos desde o começo.

Quando era um escroto com ela me sentia um completo babaca ao notar as coisas grosseiras que lhe falava um segundo depois.

Desde que conheci Caleb e Gaten fui me acostumando a dizer tudo o que penso, sem arrependimentos. Mas com ela...

No começo, eu estava tão puto com o Eric por me obrigar a ficar na escola o dia todo que acabei descontando em Millie. Mas só 'tava de cabeça quente.

Devo confessar que também sentia uma certa atração pela Brown, principalmente quando ficava tão revoltada com as coisas que lhe dizia que batia boca comigo. Nenhuma outra garota sequer se atreveu uma vez. Elas me tratavam como alguém superior pela fama do meu pai, o dinheiro da minha família. Mas Millie me tratava de igual para igual.

Ela não se importava com superficialidades. Nem com minha fama de valentão da escola. Enxergava apenas o meu caráter. Quando insinuei que estaria me ajudando com intenção de eu levá-la pra cama, Millie se revoltou e não parou de falar furiosa, me xingando.

Ficava surpreso com cada palavra proferida com ódio, percebendo minha estupidez. E então disse que jamais iria pra cama com alguém como eu. Isso mexeu comigo. Foi como levar vários tapas na cara.

Fiquei tão chocado que fugi de lá às pressas. Eu não ia sair, só estava descontando nela a manhã estressante que passei gritando com meu pai ao me informar o motivo de ter ido até a escola, mas ao me jogar todas aquelas verdades fiquei tão envergonhado — e puto — que fugi.

Desde aquele dia essa garota não saía da minha cabeça. Quando eu vi, ficava lhe olhando falar e falar dos conteúdos das aulas enquanto imaginava pegando ela ali naquela biblioteca vazia.

Mas nunca era o bastante. Ficar próximo de si não supria essa necessidade. Nem mesmo se ficasse com ela mais de uma vez. Era um vício. E eu já sabia que mesmo que lhe tomasse não adiantaria. Percebi estar apaixonado ao lhe contar tudo o que Eric fazia no dia em que lhe mostrei minha tatuagem. Não só confiava nela como nutria um sentimento muito forte.

Mills, um tanto perdida, me ajudou a montar a barraca que eu trouxe para podermos dormir. Revelou nunca ter armado uma, o que me arrancou um riso.

— Você acampou muitas vezes?

Assenti.

— Um garoto do fundamental era escoteiro e a gente conversava às vezes. Ele deu a ideia de eu ir junto e quem sabe virar um também. Mas eu estava mais interessado em não ter que ver o Eric em casa do que ficar rodeado de gente e ainda ter que socializar já que não tem wi-fi no meio do mato.

— Deve ter sido difícil.

Parei o que estava fazendo para fitar o sorriso debochado em seu rosto.

— Pode parar, tá? Foi péssimo  — dramatizei, lhe arrancando um riso.

Assim que terminamos, entramos na barraca. Retirei do saco cobertores e dois travesseiros. Assim que arrumamos, nos deitamos e encaramos a vista da cidade.

Mills retirou o celular do bolso, selecionando o app da câmera. A imagem capturava nossos pés dentro da barraca e a vista lá fora. Sorri de lado, observando ela se concentrar para tirar a foto.

Ao começarmos a sentir sono, nos deitamos e encaramos o outro. Nunca pensei que ficaria desse jeito com alguma menina. Millie me encanta. O mais incrível é que seu jeito de ser não é para agradar os outros. Todas as meninas com quem estive faziam por onde para acabarmos dentro de algum lugar privado, sempre com segundas intenções. Mas a Mills...

— Para, Finn — Escondeu o rosto em meu pescoço envergonhada e eu ri baixinho contra seu ouvido.

— O que foi?

— Não me olha assim — resmungou, com o tom abafado contra meu pescoço.

Gargalhei.

Ela se sentou como se nada tivesse acontecido e começou a vasculhar a mochila.

— Pega a lanterna pra mim?

Fiz o que ela pediu. Millie retirou de lá um livro e eu ri.

— Não ri! É muito bom ler ao ar livre, você deveria experimentar.

— Prefiro escrever. — murmurei sorrindo.

Mantive a lanterna ligada para ela e a Brown se recostou em meu corpo, repousando a cabeça em meu pescoço, enquanto lia seu romance.

Meus planos eram ficar ali com ela até, no máximo, de madrugada. Mas nós dois caímos no sono e despertei no pulo, com os primeiros raios solares queimando meu rosto pela pequena brecha da barraca.

Procurei meu celular tateando à minha volta sem me mexer tanto, tomando cuidado para não acordar Mills que estava com a cabeça em meu ombro e me enlaçava com o braço.

Eram cinco e meia. Tinha meia hora para juntarmos as coisas e levar a dorminhoca de volta sem meus futuros sogros nem perceberem que ela havia saído, principalmente David.

Mills. — murmurei, lhe balançando levemente. Não era exagero dizer que parecia que Millie dormia igual pedra. Ela não acordou com meus chamados, toques ou tapinhas em seu rosto. Resolvi apelar: — Eu juro que não fizemos nada demais, David! — exclamei.

Pai?! — Imediatamente seus olhos abriram assustados e ela se sentou com a respiração tensa.

Caí no riso. Ela fuzilou com as orbes e distribuiu tapas em meus braços enquanto me ocupava em recuperar o fôlego.

— Temos que ir.

Ela notou o horário e se levantou. Enviei uma mensagem para Brian, para que viesse nos buscar. Arrumamos nossas coisas e em questão de minutos meu motorista-cacereiro chegou.

Levei a Brown até a porta de sua casa e lhe dei um selinho, antes de ser expulso para que ela pudesse entrar antes que Winona se colocasse de pé.

Revirei os olhos com sua audácia e fui pra casa tomar um banho.

Mas após me arrumar, tomei a liberdade de ir buscá-la.

— Meu Deus, Finn! — Dei de ombros com um sorrisinho divertido de lado ao abaixar o vidro e ela riu perplexa.

— Já vamos criar um burburinho só pelo fato de termos voltado. Por que não por isso também? — divaguei, abrindo a porta para lhe estender a mão. Millie cedeu, segurando minha mão e me deixando conduzi-la para dentro.

  Ao chegarmos na escola, não é exagero dizer que praticamente todos os alunos nos encaravam. Preocupado com os olhares como sou, agarrei a mão de Mills e entrelacei nossos dedos, desafiando alguém a falar alguma coisa. Seguimos para a sala como se nada estivesse acontecendo e ao entrarmos e ela deixar suas coisas sobre sua mesa, lhe dei um selinho demorado, como se estivéssemos sozinhos ali. Francamente, tanto para mim como para ela, era como se estivéssemos. E se algum professor estivesse lá dentro naquele momento pedindo para que nos separássemos por estarmos NuMa SaLa De AuLa, eu lhe mostraria o dedo do meio, sem soltá-la.

Dei bom dia para o Snchapp sem esperar uma resposta, que realmente não veio, e fui até meu lugar onde uma loira me olhava com a expressão de quem estava com o orgulho ferido.

— Vai acabar se machucando. — afirmou num tom amargo enquanto eu largava minhas coisas sobre a mesa.

— Bom dia pra você também, Iris.

— Sério, quando vai aprender a me escutar?

Soltei um risinho.

— No dia em que eu seguir o conselho de uma mimada qualquer, por favor, me enterne.

Caleb abafou um riso, mas acabou saindo baixinho e Gaten o acompanhou com um berro que chamou a atenção de toda a sala.

Me sentei e comecei a conversar com Becky que até o momento fitava a janela com fones de ouvido, ignorando totalmente os outros.

Perto da saída para o intervalo,
Schnapp e Millie estavam ao redor da mesa de Saddy, que ficara quase as três aulas inteiras de cabeça baixa.

— Vocês não acham que tem algo de errado com ela? — murmurei para os meninos, apontando a ruiva com o lápis.

— Tendo ou não isso já não nos interessa mais. — declarou Iris sem humor.

— Se bem me lembro vocês foram amigas — retruquei, sem lhe fitar.

— Você quer mesmo falar do passado, 'Finnie'? — questionou com sarcasmo, debochando do apelido que Millie costuma me chamar.

— Para com isso. — Lhe dirigi um olhar sério.

— Vem cá, Iris, é mau-humor ou o quê? Chega disso — defendeu Gaten.

— É isso aí, se o Finn gosta da garota e quer ficar com ela, deixa o cara... — concordou Caleb.

— Vocês só podem 'tá de sacanagem...!

Assim que o sinal soou, Sadie saiu pra fora em disparada e me levantei num sobressalto para ir atrás dela, mal ouvindo as últimas palavras da loira.

— O que ela tem? — questionei ao me aproximar de Millie.

— Não sabemos, ela não quer falar — respondeu Schnapp, com os olhos caídos.

Assenti num suspiro, saindo da sala apressado. Vi a ruiva ao longe virando o corredor para a biblioteca e a segui.

— Sadie! — O sininho soou assim que abri a porta e o silêncio se instalou. Segui pelo corredor de prateleiras e mesas olhando ao redor, em busca de qualquer sinal dela.

Até encontrá-la encolhida com as costas apoiada em uma pilha de livros didáticos novos, que provavelmente haviam acabado de chegar, com um cigarro aceso por entre seus dedos.

Me sentei ao seu lado em silêncio e esperei que dissesse algo. Ao perceber que não o faria, suspirei.

Ei. Conversa comigo. — Chutei de leve seu tênis e ela revirou os olhos, dando outra tragada. — Você e esse hábito nojento...

— Diz o cara que transou com metade da escola sem camisinha — retrucou, formando um pequeno sorriso no rosto que logo sumiu novamente.

— Não estamos falando de mim — resmunguei entre dentes. — E eu sabia que as garotas tomavam pílulas. Não era nenhum ingênuo.

— Até a aposta.

Ri sem humor.

— Aquela aposta só desgraçou minha vida. — Ficamos um tempo em silêncio e resolvi ir direto ao ponto, apesar de querer ser delicado com ela. Mas 'taí uma coisa que nunca fui: — Me diz logo. — Suspirou após outra tragada e negou com a cabeça, baixando o olhar. — Saddy.

Tá bem! — exclamou num grunhido. — Estou tendo problemas com meu padrasto.

— Como assim? — Arqueei a sobrancelha. — Ele está te maltratando?

Nããão! Digamos que ele... queira fazer totalmente o contrário.

Pisquei confuso. Lhe fitei em silêncio até perder a paciência:

Para de falar em enigmas, caramba!

Ela revirou os olhos e exclamou de volta:

Ele tentou me tocar, porra!

Arregalei os olhos e Sadie respirou fundo. Vi alívio em si. O mesmo alívio que senti ao contar para Millie sobre meu pai.

Engoli em seco e tive vontade de quebrar alguma coisa.

— Caralho, Sadie — rosnei, me levantando para andar em círculos. Até que me virei furioso para fitá-la. — O Snchapp sabe dessa merda?

— Não! E você não vai contar!

— Você quer manter essa merda em segredo?! — Quase berrei até ela me sinalizar para falar mais baixo. — Qual foi a última vez? — Lhe questionei com a sensação de derrota, bagunçando meu cabelo para aliviar a raiva.

— Ontem. Mas, por algum milagre, ele nunca conseguiu fazer algo além de me assustar.

— Dorme lá em casa hoje. — Me virei para si. — Melhor, até as coisas se resolverem.

— As coisas não vão se resolver. — disse fria. Olhando melhor agora, eram nítidas as orelhas em seu rosto. Me fizeram lembrar as noites mal dormidas horríveis que eu tive, odiava imaginar a ruiva estar passando pela mesma coisa. — Elas simplesmente são assim. Você, melhor do que ninguém, deveria saber.

Neguei.

— É diferente. Meu pai arruinou meu psicológico. Destruiu minha infância. Mas... — Pisquei várias vezes, controlando minha fúria. — tudo o que se pode dizer é que ele é um pai de merda, igual a muitos outros por aí. Mas a sua situação — Pausei, umedecendo o lábio inferior enquanto a ruiva me encarava com os olhos marejados. — é de um crime. É caso de cadeia, Saddy. Eu não quero mais que você durma naquela casa, por favor.

— E o que o seu pai vai pensar?

Quase ri de sua pergunta.

— E quem aqui disse que ele vai saber?

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