14. Ceia de Natal
Sadie e Noah voltaram pra sala, e aproveitei que o Coordenador havia simplesmente sumido para esperar Finn no corredor que dava pra Diretoria.
Sentada em uma das três cadeiras acolchoadas, balançava meu pé de forma inquieta.
Poderia estar perdendo aula, mas Finn havia parado ali por minha causa. Se ele fosse punido, eu poderia explicar agora mesmo que desta vez Finn não agira de forma agressiva sem motivo.
Me levantei num sobressalto assustada por ter sido pêga ali pelo Coordenador, que saiu da sala subitamente.
Assim que me viu, bufou.
- Posso saber porquê a senhorita não está em aula? - questionou de forma sarcástica.
- senhor Jonas, eu... fui o motivo da briga... só quero saber se está tudo bem... - expliquei, temendo ser mandada para a sala.
Ele arqueou a sobrancelha desconfiado.
- Sei - concordou, com um tom de incentivo para eu prosseguir.
- Então, eu acredito que seja necessário minha... - Comecei a abrir um sorriso amarelo.
- Olha, Millie, o motivo da briga não interessa. Eles não deviam ter partido pra agressão aqui dentro - afirmou, sério. - Nem lá fora, na verdade. - Assenti. - Isso aqui é um colégio, não um playground pra vocês fazerem o que quiserem não, portanto, peço que vá para a sua sala.
- E o que vai acontecer com eles? - murmurei.
- Provavelmente uma bela de uma advertência e os pais vão ser notificados.
Merda.
- Entendi - murmurei.
Um baque alto semelhante a um soco bem dado na mesa dentro da sala me fez sobressaltar novamente, e encarei a porta com o susto:
- Eu não tô nem aí pro seu rosto! Você e aquele lugar que chama de teatro que se danem! E que se dane a senhora e essa porra dessa advertência também! Ligue pro meu pai, se quiser.
A porta foi aberta de forma brusca.
Finn parou ali ao me ver. A fúria em seu rosto era quase palpável. Seu olhar foi de encontro ao meu e suas sobrancelhas franziram. Fechou a porta atrás de si.
- Mills?
- Motivo da briga, né? - disse Jonas com o mesmo tom sarcástico acompanhado de um riso nasalado e seguiu pelo corredor, nos deixando sozinhos.
Baixei meu olhar sentindo meu rosto queimar ao entender o que havia presumido.
- Por que não me contou? - questionou o cacheado com o olhar sério.
- Pra você reagir assim? - murmurei, levantando a cabeça.
- Millie, ele... - exclamou, revoltado.
- Eu sei o que ele fez, Finn! - Alterei meu tom, para que ele me ouvisse. - E agradeço que queira me defender, mas não significa que precise se prejudicar.
- Eu não me importo - disse, firme.
Pisquei, sem saber como responder.
- O seu pai será chamado até a escola. - avisei sobre o que mais me alarmava.
- Eu sei. - Suspirou.
- E vai gritar com você! - insisti.
- Eu sei! - resmungou, girando a cabeça pro lado, desconfortado.
- E você vai ficar mal por isso! - lembrei.
- Foda-se - afirmou sincero ao me encarar.
Pisquei confusa.
- Finn - o repreendi.
- Millie... - se interrompeu, suspirando de novo e deu alguns passos em minha direção. Baixei o olhar ao ter seu rosto próximo ao meu. - É ciúme também, não sou hipócrita de negar pra você. Mas... - O olhei assim que seus dedos foram para meu rosto, colocando uma mecha rebelde do meu cabelo atrás da orelha. - Só de imaginar ele te beijando sem consentimento... - Não completou, engolindo em seco.
- Finnie, eu sei disso, mas...
A porta abriu novamente atrás dele, e Jacob saiu da sala, largando a porta aberta propositalmente. A Diretora arqueou a sobrancelha com o olhar sério e desconfiado para nós de sua mesa e dei um passo atrás, me distanciando do toque de Finn.
Ele olhou para trás e bufou, saindo andando na frente. No momento, obviamente estava com muita raiva por ela querer chamar o Sr. Wolfhard até a escola. Sorri fraco para si e fui pra sala, ignorando Jacob.
Com o fim das provas, os alunos respiravam aliviados por estarmos saindo de férias.
Me despedi de Noah e Sadie e saí da sala correndo ao perceber que Finn já havia ido.
O encontrei no estacionamento, apesar dele ter de esperar na Diretoria por seu pai. Obviamente ele não o faria.
O chamei, observando-o parar ao me ouvir. Corri em sua direção até alcançá-lo.
- O que está fazendo?
- Dando o fora antes que meu pai chegue. - disse, confirmando minha suspeita.
- Vai pra algum lugar programado?
- Não, mas qualquer um que não seja minha casa.
Assenti. Devia ser muito triste se sentir intimidado dentro da própria casa.
- Então, pode me ajudar com uma coisa?
Amanhã seria Véspera de Natal e, no momento, aquela era a minha única preocupação. Já que mamãe e eu sempre organizávamos a casa para recebermos nossos familiares para a Ceia.
Eu sempre era responsável pela sobremesa, que por regra de família todo ano eram de chocolate. Da última vez havia ficado tão sem ideia do que preparar que fiz um bolo simples desse mesmo sabor com o formato de uma árvore. Apesar da aprovação de todo mundo, pretendia algo mais elaborado este ano.
Por isso, assim que cheguei em casa com o cacheado, larguei minha mochila no sofá da sala, e sem tirar meus agasalhos quentes, peguei a lista de compras de Natal que fora deixada na cozinha por Dona Winona de manhã e saímos para fazer as compras de tudo o que mamãe planejou para a Seia e a minha sobremesa.
- Não acha que está exagerando um pouco? - questionou o cacheado, olhando assustado para a quantidade de comida posta no carrinho do Supermercado.
- Não - afirmei. - Isso não é nem a metade, na verdade.
- Pelo visto, é de família - murmurou o cacheado, para si.
- O quê?
- Nada - afirmou, esfregando a nuca. Suspirou. - Só você para me fazer vir aqui na Véspera de Natal. - Empurrou o carrinho, me seguindo até o fim do corredor com dificuldade pelo tanto de gente à nossa volta.
Sorri, sem duvidar. Finn só faltou surtar na fila do caixa, lançando um olhar feio para uma senhora que lhe exigia deixá-la passar em nossa frente por ser idosa.
Antes que Finn pudesse lhe dirigir algum insulto, afirmei que nosso caixa simplesmente não era o preferencial. Ela me olhou feio e seguiu para onde indiquei.
Encarei o Wolfhard que me observava insatisfeito.
- Você é muito gentil - resmungou.
- Ela é uma senhora de idade - rebati.
- E muito folgada. - retrucou irritado.
Finn só se acalmou ao chegar nossa vez e me ajudou a levar as compras pra casa.
- Quer vir para a Seia amanhã? - lhe perguntei enquanto guardávamos tudo no armário, como forma de agradecimento pela ajuda, ao menos tentei me convencer disso.
Ele parou surpreso.
- É sério?
- Claro - afirmei, sem parar o que estava fazendo. - Você vem?
O encarei rapidamente, flagrando seu sorrisinho de lado.
- Venho.
No fim da tarde, o cacheado já havia ido embora.
Retirei meu sobretudo de botões, ficando apenas com uma blusa fina com mangas compridas. E comecei a montar a árvore.
Mandei mensagem para papai, avisando sobre os ingredientes que faltavam, já que Finn e eu não conseguiríamos trazer tudo da lista.
Assim que meus pais chegaram, ajudei papai a enfeitar nossa casa do lado de fora com as luzes de Natal, tentando acalmá-lo quando, por algum motivo, elas simplesmente não ligavam, nos deixando no escuro da noite e sendo iluminados apenas pelas luzes dos postes que ficavam longe da entrada da nossa casa.
Papai finalmente conseguiu resolver e entramos em casa para ajudarmos mamãe na cozinha.
Minha sobremesa escolhida era fácil, por isso o preparo foi deixado para amanhã.
Para nos aquecer neste inverno, pensei em um Café au Lait com chocolate, cravo e casca de laranja. Ao terminar de fazê-lo, deixei as xícaras de café prontas sobre a bandeja que aguardava na mesa. Canela e granulado decoravam o creme do café.
Eram sete da noite e a mesa da Seia estava pronta.
Noah não poderia vir, já que viajou com seus pais e só voltaria próximo ao retorno das aulas. Sadie já havia deixado claro que não se importava muito com o Natal, mas daria uma passadinha rápida por aqui.
A tensão dentro de casa estava grande. Ambas nossas famílias não se davam muito bem desde o casamento dos meus pais, pelos meus avós maternos nunca terem aceitado papai pelo fato dele não ter simplesmente nascido em uma família de prestígio.
Os primeiros a chegarem foram minha tia Melissa, seu marido, Maddie e seu irmão Joe, que só aparecia em poucos eventos do ano que comemorávamos aqui em casa.
- Maddie!
- Millie!
Nos abraçamos, para a surpresa de sua família, que eram acostumados com nossa inimizade durante todos esses anos.
Madison sempre fora uma menina fútil e me julgava por ser diferente dela, mas fizemos as pazes depois que ela me pegou chorando e descobriu que fora por causa de um garoto. No fim, me ajudou com alguns conselhos e comprou algumas roupas pra eu no shopping, mesmo comigo insistindo de que não era preciso.
- Olha, agora vocês são amigas... - debochou Joe logo atrás dela. - Milagres acontecem.
- Feliz Natal pra você também, Joe. - devolvi o sarcasmo. - E a namorada? Como ela tá?
Maddie começou a rir assim que toquei naquele ponto tão delicado, já que Joe havia levado seu primeiro fora da primeira garota que namorou sério e que gostava de verdade. Desde então, ele não aparecia com mais ninguém, sendo que isso era bastante comum antes e Maddie e eu nunca perdíamos a oportunidade para lembrá-lo disso.
Essa era nossa forma de defesa, já que ele sempre nos irritava por ser mais velho.
Fingiu uma risada animada:
- Obrigada por me lembrar, Millie. Assim como faz todo Natal. - Revirou os olhos de forma tediosa e sorriu irônico. - Tem alguma coisa pronta? Eu vim pela comida!
Ao se afastar, observei o cara de pau adentrando a cozinha.
- Já vi que você seguiu meu conselho. - disse Maddie, observando minha vestimenta. - Essas roupas ficam bem melhores.
Dei de ombros e sorri.
- E aí? Como está com aquele garoto que me pediu aquela ajuda?
- Bom... - hesitei. Parecia impossível explicar todo aquele reviravolta depois que ela foi embora. - A gente começou a namorar, mas... terminamos.
- Ai, não resume as coisas. - reclamou, se sentando no sofá. - O que aconteceu?
- Digamos que... ele tenha feito algo grave no passado. E não me contou.
- Sei. Te desejo sorte, prima. Então, vocês não estão se falando?
- Não estávamos, até... sei lá, fica difícil já que nos vemos todos os dias.
- Você sabe que se tiver mesmo que esquecê-lo...
- Isso não deve importar, eu sei! Mas realmente não o esqueci. E prefiro não fazer nada por agora. Acho que precisamos desse tempo.
- Por tudo o que você disse, eu concordo.
Tivemos que encerrar o assunto assim que mais pessoas começaram a chegar, inclusive meus avós. Eram dez da noite quando Finn me avisou por mensagem que estava saindo de casa.
Chamei meus primos para ficarmos do lado de fora e comecei a fazer um boneco de neve com a ajuda deles, mesmo com as reclamações de Joe por estar congelando aqui fora.
- Pensei que você já havia feito isso com o David - comentou Maddie.
- Eles esteve no trabalho a tarde toda ontem - expliquei, colocando a cenoura como o nariz do boneco como toque final.
Ao invés de colocar uma touca de lã sobre sua cabeça assim como todos faziam, papai e eu colocávamos seu quepe de policial.
Assim que o boneco de neve havia ficado pronto, Joe entrou como foguete para se esquentar e Maddie foi logo atrás para pegar mais uma blusa de Inverno.
Enquanto a esperava, coloquei meu cachecol no boneco, fazendo um nó fácil.
Pouco depois, Finn chegou. O levei para dentro e o apresentei como um amigo de escola. Meus pais ficaram surpresos por vê-lo ali, mas não comentaram nada por estarmos com a casa cheia.
Logo, era meia-noite e todos começamos a distribuir abraços para desejar um Feliz Natal uns aos outros. Finn que, por incrível que pareça, havia se dado muito bem com todos e abraçou todo mundo para fazer o mesmo.
Ele havia conversado principalmente com meus familiares paternos, que não o olhavam estranho por seu modo de se vestir.
Depois de comermos, peguei duas xícaras de café para Finn e eu e fomos para fora.
- O que achou? - perguntei com espectativa ao observá-lo experimentar a bebida quente.
- Está ótimo - elogiou com sinceridade, umedecendo os lábios. - Foi você que fez?
Desviei minha atenção que havia se concentrado em sua boca por tempo de mais e assenti.
Ele sorriu, tomando um gole um pouco maior.
- Seus talentos não param de surgir. - comentou, me deixando sem jeito.- Mal acredito que você me chamou... - Abaixou a cabeça, tentando esconder seu sorriso de lado.
- Seu pai brigou com você por ontem?
- Não. É raro ele ir na escola no mesmo dia em que algo acontece. - disse, observando as casas iluminadas espalhadas pela rua.
- Onde Megan foi passar o Natal?
- Ela foi visitar a família.
- Hmm. - Sorri, assentindo.
- Sabe de que estou falando? - Me olhou confuso.
- Ela me contou a história. - Desviei os olhos para a rua deserta. - Posso ir vê-la amanhã?
Ele sorriu.
- Você sabe que sim. - Olhou por trás do meu ombro. - O que é aquilo?
- O quê?
Me virei, me surpreendendo por uma bola de neve passar de raspão por meu rosto.
Sadie, que sorria divertida por eu não tê-la percebido, correu até nós, jogando outras bolas de neve em mim, e logo depois em Finn.
- Me atrasei?
- Já passa da meia-noite, mas estou feliz que conseguiu vir. - respondi, rindo ao me levantar para abraça-la e lhe desejar Feliz Natal.
Entramos para Sadie comer alguma coisa e só então voltamos para fora. Maddie e Sadie se deram muito bem e enquanto elas conversavam, combinei com o cacheado de ir até sua casa na Segunda-feira.
Fizemos um almoço no Domingo, do qual veio menos gente, já que a maior parte da família morava longe, assim como tia Melissa que pôde vir por esse mesmo motivo.
Iria aproveitar a semana para dormir até tarde, já que passaria as férias inteiras sem hora para dormir pelo fato de sempre poder passar a madrugada inteira jogando.
Acordei às dez, com aquelas pontadas horríveis na cabeça.
Fui até a mansão dos Wolfhard's depois do almoço assim como combinado. Como sempre, o segurança permitiu minha entrada e encontrei Finn me esperando na porta, já que havia sido avisado.
Era estranho estar ali depois de algum tempo.
Segui o cacheado até a cozinha, encontrando Megan varrendo o chão.
Ela parou assim que nos viu.
- Millie! Quanto tempo - dizia da mesma forma calorosa de sempre ao me abraçar.
- Ela veio ver como você está - explicou Finn cruzando os braços para ela, insinuando o fato de que ela não deveria estar trabalhando, ao menos, até descobrirem o que ela tinha.
- Você já foi assustá-la, menino. - Bateu no ombro do cacheado de leve. - Eu estou ótima. Vamos, sente-se, Millie. Acabei de fazer um bolo.
Assim o fiz, já que Finn disse que iria trocar de roupa antes de deixar a cozinha.
Com bastante insistência, eu mesma servi nós duas e começamos uma conversa calorosa sobre algo sem importância. Ao tocarmos no assunto de sua saúde, ela explicou que os Médicos ainda não sabiam o resultado de seus exames por ter acabado de entregá-los.
Tivemos que parar assim que gritos surgiram da sala.
- Que barulheira é essa? - Ela soltou sua xícara de café sobre a mesa, alarmada.
- Finn... - Pensei em voz alta ao identificar seus gritos, me levantando para ir até a sala imediatamente com ela em meu encalço.
- Não! Eu já disse que não vou!
- Você vai! Precisa ter responsabilidades uma vez na vida, pelo amor de Deus.
Os dois estavam aos berros contra o outro. A roupa formal do Sr. Wolfhard indicava que havia acabado de chegar.
- Pra quê? Pra sua boa imagem e para poder fingir que seu filho não é do jeito que é?!
- Eu não disse isso!
- E nem precisava!
- Sr. Wolfhard... - Megan tentou intervir, se colocando entre os dois.
Observei a respiração descompassada do Wolfhard mais novo, seu semblante estava tenso.
- Não a chamei, Megan - disse o Sr. Wolfhard duro, sem tirar os olhos do filho que ficou ainda mais furioso com si. - Volte para a cozinha que é seu lugar.
- Para de falar assim com ela. - Finn o repreendeu.
- Você devia tomar cuidados com as palavras que usa aqui, seu moleque. - disse o mais velho, bastante alterado. - Vá já pra cozinha, Megan. - Aumentou seu tom, me assustando. - E quanto a você, vá fazer suas malas!
Não me movi, preocupada que o pai de Finn resolvesse partir para a agressão caso perdesse o controle. Finn nunca dissera nada sobre isso, mas morria de medo que algo assim começasse a acontecer. Se eu descobrisse algo do tipo, eu mesma o denunciaria, dane-se quem ele era e todo seu poder e influência.
- Não, eu não vou, cacete! - Finn puxou seus fios encaracolados e os soltou, os olhos marejados me fez perceber o começo de mais uma crise.
- Você vai se eu digo que vai! - Eric foi em direção às escadas em passos largos e firmes com Finn indo em seu encalço logo atrás, prevendo que o pai fosse fazer suas malas à força.
- Ai... Ai... - Me virei assustada, com Megan segurando meu braço enquanto apertava seu peito com a outra.
- Megan! - Me desesperei, percebendo seu corpo ficar mole. - Megan, pelo amor de Deus! Finn, Finn! Sr. Wolfhard!
Alguns empregados vieram correndo, a segurando e a pondo no sofá, quando ela apagou.
Finn e seu pai voltaram para baixo assustados com meus gritos e o mais novo correu desesperado para onde Megan estava, berrando desesperado em choque ao vê-la desacordada sobre o sofá.
Chamei uma ambulância, mesmo com minhas mãos trêmulas. Dei o endereço da casa e afirmei que o estado dela era grave.
Avisei para o cacheado que já estavam à caminho, mas ele parou de escutar assim que ela abriu os olhos lentamente, sem parecer cem por cento consciente.
O cacheado a abraçou, com o rosto banhado pelas lágrimas e imediatamente tentou falar com ela.
Um copo de água lhe fora dado assim que ela conseguiu dizer alguma coisa. Cinco funcionários da casa estavam ao seu redor além de nós e o Sr. Wolfhard pediu espaço para ela de forma grossa e impaciente.
Finn não conseguiu trocar muitas palavras com Megan antes dela ter outro desmaiou, desesperando outra vez o cacheado.
- Não! Não! Por favor, M-megan! - Ele a abraça-la, e mesmo com o Sr. Wolfhard tentando tirá-lo de perto dela, Finn se recusava a soltá-la, soluçando alto como nunca eu havia ouvido.
O Wolfhard mais velho me fitou impaciente, como um pedido de ajuda, e eu sabia que ele tinha certa razão em não mexermos em Megan enquanto ela estivesse desacordada.
- Finnie, por favor, não podemos mexer nela - murmurei para ele, segurando seus braços com delicadeza para que ele se levantasse.
Relutante, o cacheado a soltou e o abracei de pé, sendo correspondida por seus braços que me apertavam contra si.
A Ambulância demorou vinte minutos. E apenas uma pessoa poderia ir nela. Finn e Eric discutiram na frente de todo mundo para irem e o outro ficar. No fim, seu pai fora escolhido por ser adulto, deixando o mais novo fora de si.
Tentei o tranquilizar, pegando o endereço para irmos ao Hospital de táxi.
Fiquei horas sentada na recepção com o moreno que não conseguia parar de tremer ao meu lado. Tentei levá-lo para comer alguma coisa na lanchonete em frente, mas ele se recusava.
Segurei suas mãos com firmeza, sentada ao seu lado. Mas não poderia fazer mais nada por ele. Nesta situação, não tinha como impedir que sua ansiedade atacasse.
Até que um médico se aproximou de Eric e Finn imediatamente se levantou para escutar.
- Eu sinto muito. - Ele balançou a cabeça e baixou o olhar. Não podia ser. Era só isso que ele tinha a dizer depois de não terem nos dado nenhuma notícia?
Os tremores do Wolfhard mais novo aumentaram, mas mesmo assim ele se manteve quieto, deixando que seu pai falasse por não ter autoridade alguma ali.
- Mas como assim, Doutor?
- Os exames mostraram que ela tinha pressão alta. E estava bastante elevado quando chegou aqui, devia passar por situações de bastante estresse pelo menos todos os dias para chegar nesse ponto.
Finn engoliu em seco, escondendo o rosto com a mão. Lágrimas voltaram a cair.
- Como assim?
- Foi a óbito de um infarto fulminante. - O Doutor deu a notícia. Houve um silêncio pesado no recinto. - Sei que vocês fizeram o possível. Quando se não é atendido às pressas isso pode acontecer.
Por fim, nos deixou sozinhos para absolvermos a infeliz notícia. Eu estava me sentindo completamente confusa. Estava conversando normalmente com ela, estávamos rindo. E agora...
O Sr. Wolfhard foi chamado até lá para resolver algo que Finn e eu não demos a menor atenção e me voltei à ele.
- Eu sinto muito. Muito mesmo. - falei com os olhos marejados.
Finn me abraçou com força e apoiou a cabeça na curvatura do meu pescoço apesar de ser mais alto. Percebi o motivo assim que um soluço abafado escapou de seus lábios.
O deixei cair em prantos enquanto tentava não chamar nenhuma atenção para si.
Tudo havia acontecido tão rápido. Se eu sentiria falta de Megan, não conseguiria imaginar o quão difícil estava sendo e iria ser difícil para Finn.
Megan era a luz daquela casa. Estava sempre sorrindo mesmo tendo um patrão como o Sr. Wolfhard, fazia as coisas da casa sem reclamar e cuidou de Finn desde pequeno. E sofria com pressão alta calada. Me pergunto se ela ao menos desconfiava. Devia, no mínimo, sentir dores fortes de cabeça.
O que vai ser de Finn sem ela?
- ...O Sr. Wolfhard chorou muitas vezes por seu próprio comportamento. Por não conseguir nem sequer olhar pra ele sem lembrar da esposa. Ele joga toda a culpa no filho quando está muito bêbado. Sóbrio, ele se mantém distante.
"Acredito num milagre. Em que o Sr. Eric pede perdão e o filho consiga perdoá-lo, e eu acho, Millie, que você é esse milagre."
"Eu vejo como ele te ama, Millie. Finn nunca se abriu para ninguém como fez com você. Se tem alguém que consegue, é você. Por favor, pense nisso..."
Aquele havia sido o último desejo dela. Finn se reconciliando com o pai.
Se ela acreditava que eu era capaz de fazer isso acontecer... Então, talvez, eu tivesse que tentar.
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