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13. A verdade pode doer, ou não

Entrei em casa com um misto de emoções no peito. Me encostei na porta e encarei a parede branca da sala.

Depois de passar algumas horas com Finn, não fazia ideia do que iria acontecer agora.

Ou talvez não tivesse que acontecer nada e poderíamos levar... na amizade?

Da última vez não deu muito certo. Apesar de não sermos os mesmos daquela época. Era estranho pensar meses atrás como se tivesse sido há muito tempo?

Meus pais estavam surpresos com o horário que cheguei, já que havia avisado que só iria patinar um pouco.

Sabia que papai iria fazer milhares de perguntas sobre Jacob se tivesse dito que encontraria um garoto, por isso havia avisado que fui sozinha, o que era muito comum.

Eles estavam acostumados comigo saindo no Inverno para patinar. Acho que era a única época do ano em que eu via motivos para sair. Em geral, parques e shoppings não me chamavam muito a atenção o suficiente para largar meu precioso videogame e me arrumar pra sair de casa. Só ia mais por causa da Sadie. E nem preciso dizer nada quanto a festas, principalmente no que deu na primeira e última que fui.

Antes que eles pudessem questionar o horário, passei igual um furacão em direção ao meu quarto para colocar um pijama bem quentinho e me enfiar debaixo das cobertas.

Relutei muito, mas precisava enfrentar a água morna do chuveiro, já que suei na pista de patinação e não poderia dormir assim. Mamãe me chamou para jantar, mas preferi descer após o banho para fazer um lanche rápido e ir comer no quarto, enquanto assistia alguma coisa.

Peguei dois hambúrgueres no congelador, e os deixei sobre a bancada da pia. Passei maionese nos pães de hambúrguer que havia retirado do armário e cortado no meio com a faca. Deixei a frigideira com o fogo ligado sobre o fogão e esperei.

Ao fritar os hambúrgueres e encher um copo de coca-cola, subi, dando boa noite para meus pais.

Não era sempre que eu comia no quarto, mas gostava de fazer isso de vez em quando no frio, já que a sala parecia ficar mais gelada nesta época do ano.

Acabei escolhendo uma comédia, por estar bem humorada e afim de dar boas risadas.

Era muito bom assistir filmes com o cacheado. E divertido ouvir seus comentários durante todo o filme, apesar de sempre ter odiado pessoas que não param de falar durante a sessão. Mas, mesmo com filmes de drama, como A Culpa É Das Estrelas que vimos juntos, Finn tornava as cenas engraçadas.

Fitei meu celular, mordendo o lábio por esperar algum aviso dele por ter chegado. Apesar do cacheado nunca ter tido esse costume.

Ainda assim, estava tarde...

Decidi checar, um pouquinho decepcionada ao constatar que não havia mensagem alguma.

Suspirei, debatendo se deveria perguntar se já havia chegado, porque provavelmente Finn não diria.

Deixei o aparelho de lado, decidindo que era melhor não enviar nada.

Até lembrar que dissera ao Finn que havia bloqueado seu contato e que talvez, por isso, ele resolvera não avisar.

Bufei, enviando uma mensagem curta e simples.

Prestei atenção ao filme, voltando alguns segundos por ter perdido o começo.

Meu telefone vibrou e o liguei, pausando a tela.

Finn: Cheguei, acabei de sair do banho [21:09]

Finn: Esqueci de te avisar [21:09]

Finn: Foi mal [21:09]

A última mensagem era acompanhada de um emoji sorrindo enquanto uma lágrima escorria por sua testa. Tão típico dele...

Sorri.

Millie: Imaginei [21:10]

Enviei um emoji rindo e encarei a tela com a conversa aberta, sem coragem de digitar mais nada.

Bloqueei o telefone e assisti ao filme, dando a devida atenção ao meu lanche que esquecera sobre meu colo.

Cheguei na escola um pouco mais cedo no dia seguinte. Mamãe havia estranhado meu humor de manhã, comentando que eu estava mais feliz e perguntou se havia conseguido resolver meu problema. Simplesmente desviei da conversa, pegando meu waffle sobre o prato para ir comendo no caminho, dando a desculpa que estava atrasada. Saí correndo antes que ela visse no relógio da parede que ainda estava cedo.

Era tão péssima mentirosa que isso era a coisa mais inteligente a se fazer do que ser pêga na mentira e bombardeada de perguntas.

No entanto, ao lembrar do climão que iria ter de enfrentar com Noah e Sadie, toda essa animação se dissipou.

Foi a primeira vez que Noh e eu discutimos e agora sei que praticamente pedi por isso. Sadie não disse nada, mas provavelmente estava chateada também. Seu tom estava diferente da última vez que conversamos.

Merda, eu não sabia o que fazer.

Os alunos estavam agitados. As provas seriam amanhã, e então entraríamos de férias.

Nos corredores, os alunos mesclavam entre expressões de ansiedade, aqueles que realmente se importavam com a prova, e de felicidade, o restante que sabiam que tirariam uma nota ruim por não terem considerado sequer tentar estudar.

Ao entrar em sala, notei que Noah não havia chegado ainda.

— E essas provas, hein? — Romeo se sentou em seu lugar do meu outro lado, com a expressão cansada de quem não dormiu a noite toda.

— Chegou cedo — observei surpresa.

Ele forçou um sorriso, com os olhos entreabertos.

— Contra minha vontade, acredite — afirmou com humor. — Por mim, atrasaria mesmo que fosse mais quinze minutos de sono.

— É, no frio acordar cedo fica difícil — concordei. — Sinceramente, não sei se fico nervosa ou tranquila com essas provas, afinal vimos as matérias o semestre todo. — Retirei meu caderno de dentro da mochila e o coloquei sobre a mesa.

Vocês viram — corrigiu.

— Desculpa — disse, sem graça. — Eu esqueci que você chegou depois. Se quiser, eu posso te enviar por mensagem a matéria que vimos no começo.

— Eu agradeceria.

Sorri, aproveitando que a sala estava sem nenhum Professor para fazer isso. Consegui enviar o conteúdo de quatro matérias até resolver terminar em casa assim que a sala começou a encher.

Noah entrou e mordi o lábio, sem saber o que lhe dizer.

O garoto se sentou ao meu lado num suspiro. Romeo olhou para nós dois achando estranho e encolhi os ombros. Estava sem coragem.

Será que ele havia ido no evento? Eu deveria perguntar? E se ele ficasse ainda mais chateado?

Era a primeira vez que havíamos discutido e agora eu simplesmente não sabia o que fazer.

Seu semblante estava fechado, como se Noah não estivesse nada a fim de conversar. Nunca havia o visto assim antes.

— Noh... — murmurei com insegurança.

— Como foi ontem? — Seu tom cortante me surpreendeu. Tão frio quanto a neve do lado de fora.

— B-bom, na verdade...

— Ele não foi, não é? — Me fitou passível, mas sem humor. O olhar vazio.

— Como sabia?

Noah estava estranho. A melancolia em sua face me dera vontade de afirmar que estava exagerando, mas não o fiz. Jamais conseguiria imaginá-lo falando com alguém de forma tão seca, muito menos comigo.

— O Finn disse que ele faz teatro —retrucou de forma vazia, mirando sua carteira como se ali tivesse algo de seu interesse. — Logo depois da escola e, às vezes, nos fins de tarde. Mas eu já imaginava pelo jeito que te coloca como prioridade.

— Noah! — Lhe encarei pasma. — C-como assim teatro? E como o Finn sabe disso?

Estava mais confusa. Que papo todo era aquele? Não devíamos estar conversando sobre o que aconteceu entre nós dois ontem?

— Sadie disse que ele chegou atrasado na cafeteria e nem pediu desculpas por isso — continuou, sem me dar uma resposta, largando o estojo e seu caderno sobre a mesa de qualquer jeito antes de se virar para mim, a revolta em seu olhar era palpável. — Por que deixa ele te tratar assim?

— Meu Deus, por que vocês estão sempre falando de mim pelas minhas costas? — rebati, um tanto magoada.

— Quem sabe até você parar de agir feito criança e aceitar que ainda gosta do seu ex-namorado. —  Toda a raiva em seu rosto fora substituída pela dor, como se Noah tivesse se esforçado para dizer o que estava engasgado dentro de si.

Arregalei os olhos. Nosso contato visual foi cortado assim que uma Professora entrou em sala.

Havia sido muito mil vezes pior do que imaginava.

Ele me ignorou as primeiras três aulas inteiras e eu não fiz mais questão de tentar consertar as coisas.

Tentei deixar aquilo um pouco de lado. Afinal, havia chegado a hora de falar seriamente com Jacob. Sentei na mesa de sempre, respirando fundo enquanto o esperava.

Droga, como iria lhe dizer aquilo?

“Jacob, eu me enganei. Percebi que damos certo como amigos e...”, não.

“Vai ser um pouco difícil de dizer isso, mas...”, muito enrolado.

“Não me entenda mal, você é um garoto incrível e merece encontrar alguém que realmente goste de você e realmente espero...”, pelo amor de Deus, não!

Assim que o vi ao longe, me preparei psicologicamente. Iria ser na lata mesmo.

— Posso falar com você? — Falamos ao mesmo tempo.

— Você primeiro. — Ele sorriu gentil.

— Pode dizer — retruquei desconfortável, apesar do medo de perder a coragem.

Ele se sentou ao meu lado. Segurou minhas mão, me deixando extremamente nervosa ao aproximar um pouco mais seu rosto do meu.

Seu olhar era de certo desespero, com um ar um tanto exagerado.

— Sabe Millie, por causa dos treinos, não consegui estudar nada para as provas e acho que vou bombar...

— É mesmo? — O encarei preocupada.

E eu aqui pronta para lhe dar mais um banho de água fria...

Deveria esperar um pouco mais?

Jacob assentiu, apertando os lábios e baixou o olhar.

— E, por isso, eu queria te pedir uma coisa.

Assenti rapidamente, tendo a certeza de que ele me pediria para estudarmos juntos.

Eu não queria aceitar. Deus sabia o quanto. Perdi a conta de quantas vezes havia adiado responder suas mensagens por não aguentar mais conversar com ele.

Mas aquela prova era realmente importante e ele precisava da minha ajuda.

— Eu me sinto realmente envergonhado por isso, mas não posso repetir este ano. — Olhou no fundo dos meus olhos, apesar do desespero neles, havia algo estranho. Como se ele estivesse tentando desesperadamente me convencer.

— É claro, podemos estudar juntos após a aula — assegurei. — Não vai ser muito, mas pode te ajudar a salvar sua média. — Percebi que o interrompi: —Desculpe, era isso o que você ia dizer?

Ele não respondeu de imediato e julguei que era devido Jacob estar sem jeito por pedir uma ajudinha extra.

— É, era isso. — Assentiu ao abrir um sorriso forçado.

— Okay, então, nós podemos...

— Millie, posso falar com você? — Desviei os olhos para cima, encontrando Sadie ali. Afastei minhas mãos das de Jacob, sussurrando que já voltava.

A segui até os bebedouros.

A ruiva parou e se virou com uma expressão tensa.

— O que foi, Sadie? — perguntei preocupada.

— Eu percebi o modo como Noah agiu com você na sala. — Ela me encarou com pesar. — Não leva muito a sério. Ele descobriu ontem que a avó só tem mais... alguns dias.

Soltei um suspiro incrédulo, arregalando os olhos.

— Eu realmente percebi que ele não parecia bem. — Assenti. — Você acha melhor eu deixá-lo quieto por enquanto?

Havia conhecido Noah primeiro que ela, mas não sabia como agir naquela situação e por algum motivo pensei que a ruiva saberia.

— Acho que vocês devem conversar. — Ela sabe que sempre diz isso? — Ele só estava triste por isso e acabou descontando em você.

— Mas ele realmente parecia irritado...

— Claro, ainda está um pouco chateado por ontem. Mas ele exagerou.

Assenti. Conversei um pouco mais com ela, para saber com mais detalhes o estado crítico da avó de Noh. Seus pais tiveram que correr com ela até o hospital outra vez, sem ele devido ao horário. Passaram a madrugada inteira lá, esperando os resultados dos exames.

No fim, Sadie disse que as notícias não foram nada boas. E que ele só veio para a aula por ser a última semana antes das férias.

A ruiva parecia estar escondendo algo, mas resolvi deixar pra lá, já que ela preferia não dizer nada sobre isso. Ao me lembrar de Jacob, voltei para a mesa, enquanto a ruiva voltava para onde Noah estava, no intuito de lhe dar apoio.

Estranhei a mesa vazia e procurei o garoto com o olhar. Vi ao fundo Jacob seguindo o corredor que dava para o jardim e fui atrás, para combinar de irmos para a biblioteca após a aula. Eu não gostava nada daquela ideia, mas já havia aceitado. Se eu podia ajudar, seria errado recusar isso, certo?

— Você conseguiu?

Parei ao escutar vozes masculinas ao chegar próximo da virada.

— Não... — disse Jacob em um suspiro irritado. — Ela saiu antes. — Era perceptível seu tom de mentira. — Sinceramente, não acho que eu consiga... Ela está diferente.

— Não interessa, cara! Faz uma chantagem emocional... Sei lá! — disse uma segunda voz.

Eram tão familiares...

— Isso não é fácil, tá bom? — disse em indignação. — Ela é toda certinha. Pode ter mudado por fora, mas é a mesma por dentro. Duvido que me passe as respostas das provas mesmo que eu peça.

Arregalei os olhos, fechando a mão em punho.

Aquele...

— Você é o ator aqui. Não deve ser tão difícil. — Eu definitivamente conheço essas vozes.

— Você beijou ela? Fez tudo o que combinamos?

— Beijei! Saímos juntos, fui atencioso, mostrei um lado sensível — disse num grunhido frustrado. — mas no fim ela pediu para irmos com calma.

Respirei fundo enquanto algo se apossava de mim. Raiva.

— Ou você que é muito lento. — O outro debochou.

Os donos das vozes gargalharam e um continuou:

— Era só levar pra cama e pronto. Então, ela cairia na sua feito patinho.

Os três gargalharam alto.

Soltei um riso amargo baixo, com vontade de estapear os três.

Respirei fundo. Não poderia demonstrar fraqueza diante do que ouvi. Isso só daria ainda mais motivos para eles rirem de mim por realmente ter caído na conversa de Jacob.

Por que parecia estar acontecendo tudo de novo?

Virei o corredor com a expressão plena, vendo aquele sorrisinho sumir do rosto dos dois amigos do mentiroso de costas para mim, e que, por isso, ainda não havia me notado.

— Jacob.

O maldito se virou para trás branco como se tivesse visto um fantasma.

— Podem repetir o que disseram? Eu não escutei direito. — sorri em sarcasmo.

— M-millie... — Passou as mãos pelo rosto, desacreditado que eu tivesse acabado de pegá-lo no flagra. Soltou um suspiro, desacreditado. — Isso não pode estar acontecendo.

— É só isso que você tem para me dizer?! Só isso?!

— Pega leve, tá legal? Eu... Eu precisava das respostas das provas.

Seu rosto assumiu uma expressão de culpa. Ele achava mesmo que eu iria acreditar nisso?

— Ah, você precisava das respostas?! — Lhe lancei um olhar de reprovação.

— Você não entende. — Suspirou ao desviar os olhos.

— Jacob... Me explica de uma vez o que tá acontecendo — falei pausadamente, antes que acabasse socando aquela cara de atorzinho barato.

Os garotos idiotas que ele considerava tão amigos saíam de fininho sem que ele percebesse. O plano ridículo foi dos três, mas quem o colocara em prática ainda estava em minha frente, portanto não me importei com isso.

— Millie, eu... Eu estou muito ocupado com os treinos e...

— Isso é mentira. — Ele arregalou os olhos. — Não é isso que você fica fazendo de tarde, não é?

— Não, não. Eu realmente... — insistiu, um tanto atônito agora.

— Para de mentir pra mim! — berrei. — Você ia me pedir as respostas, não ia?

— Eu ia! — confessou, juntando as sobrancelhas, julguei que numa expressão de culpa fingida para conseguir minha pena. — Mas desisti! Escute, eu menti pra você sim. Faço sim teatro. Estive lá antes de ir te encontrar na cafeteria e não pude ir patinar com você porque minha aula terminou tarde.

— Pra quê tanto joguinho?! Era divertido me fazer de idiota? Me enganar e conseguir o maldito gabarito não era o bastante?

— Eu não sei, eu... Eu não te conhecia. — Sua tom todo emotivo não me enganaria mais, mas o deixei prosseguir com seu showzinho: — Mas todo o resto é verdade! Meus pais nunca aprovaram o meu sonho. Nunca me apoiaram em nada, na verdade. Eles querem que eu seja médico. Um é isso e o outro é advogado. Pode imaginar a reação deles quando eu disse o que queria para o meu futuro? E sei lá, imaginei que você iria gostar de ver um lado mais sensível... as garotas gostam disso. Mas fui sincero com você na cafeteria. Você foi tão legal... achei justo te mostrar o lugar que mais gosto de ir de vez em quando...

Soltei uma gargalhada alta, sem um pingo de humor. Incrível seu dom de sempre dizer a coisa errada mesmo quando está se desculpando.

— Justo, é?! Nossa, me sinto lisonjeada!

— Millie...

— Me diz porquê eu. — Cruzei os braços. — Sou invisível nesta escola e mesmo assim você me encontrou. — murmurei mais pra mim do que para ele. — Estava entediado, ou o quê?!

— Não. Eu não tive tempo pra estudar por causa das aulas do teatro e recuperar a nota depois ficaria difícil se bombasse nesse bimestre também. Os caras comentaram comigo sobre você porque foi namorada do Finn e o ajudou a estudar porque tinha uma queda por ele, assim como a maior parte das garotas da escola e... — hesitou.

Tentei ignorar aquele comentário que, com toda certeza circulava por toda a escola sem eu estar sabendo, e tentei focar no que era mais importante por hora.

— "E" o quê? — insisti.

— A gente pensou que eu levaria mais jeito de te convencer a me passar o gabarito e combinamos tudo o que iria fazer e te dizer. — Baixou a cabeça, esfregando a parte de trás de seu pescoço. — Mas eu não tive coragem de fazer isso. Apesar do combinado, eu te contei sobre meus pais e você tentou me ajudar.

(N/A: AINDA NÃO GOSTO DE VOCÊ.)

Desviei os olhos, pensando sobre suas últimas palavras.

— Percebi que é uma garota legal e... não merece isso...

— Nenhuma pessoa merece isso — o cortei.

— Eu realmente lamento — afirmou.

Não. Eu não poderia confiar nele de novo. Queria dizer que o perdoava, mas e se ainda estivesse tentando me enganar?

Ele parecia mais convincente agora...

— Me faz um favor — disse com a voz dura. — Não se aproxime de mim outra vez, tá bom?

Retornei pra sala em passos duros, sentindo o peso da sensação de estar passando pela mesma coisa de novo. Encarei Noah preocupada assim que o vi. Olhando agora, ele parecia com um ar mais tristonho e de luto antecipatório do que qualquer outra coisa. Senti vontade de abraçá-lo, mas me contive.

— A Sadie me contou...

— Eu sei... — Me encarou com pesar. — Me perdoa.

— Não, não peça desculpas. — Ele pareceu surpreso. — Você tinha razão. Sobre tudo.

Baixei os olhos, vendo o quanto estava errada sobre muitas coisas.

Noah então entendeu:

— Eu sinto muito.

Assenti. Sabia agora que ele queria que Jacob não fosse como havia insinuado, mas era; que déssemos certo porque queria o melhor pra mim, principalmente depois do que passei com Finn, mas sabendo que aquela aproximação era muito duvidosa, precisou me alertar. E eu não havia lhe dado ouvidos.

— Eu também sinto. — Me aproximei de si e o enlacei.

Ele correspondeu e permanecemos assim por um bom tempo. Perder alguém era muito difícil, só de saber que isso poderia acontecer a qualquer momento devia estar acabando com ele.

Percebi então que deveria estar triste também. Descobrir que Jacob me enganou deveria me provocar alguma tristeza, principalmente por estar passando por isso pela segunda vez. No entanto, só sentia raiva. Que em comparação à preocupação com meu melhor amigo, aquilo não era nada.

Assim como Dona Winona dizia: “Há coisas das quais não perdemos, nos livramos”.

Eu senti certo alívio por ele ter escolhido não me pedir tal absurdo no fim, mas já não importava mais. Não preciso de mais dor de cabeça para lidar.

Assim que me soltou, observei Noah mexer em suas coisas com um sorriso pequeno nos lábios. Ele passou a mão pelo rosto de modo tão rápido que demorou para que eu me desse conta do motivo, mas ele já estava retirando um embrulho dali de dentro, sem me dar chances para tentar confortá-lo de algum modo:

— Teria sido mais legal com você ontem. Não teve a menor graça, na verdade. — Riu e fiz o mesmo de leve. — E, bom, tinha muitas outras coisas lá na feira, além de Star Wars e... quando vi uma coisa, pensei em você... — Me entregou o embrulho dourado com algo aparentemente macio dentro.

O encarei surpresa e ele me instigou com o olhar antes que eu afirmasse que não precisava comprar nada, principalmente depois de como lhe tratei como última opção. Rasguei a fita e finalmente abri, escancarando minha boca em seguida.

— É o cachecol da Grifinória... — O fitei. — Noah...

Ele sorriu e o abracei de leve novamente.

— Obrigada. — O olhei nervosa. — Mas não precisava, deve ter sido caro.

— Ah, a melhor parte. — Ele pegou outra coisa de sua mochila, que reconheci imediatamente como o cachecol da Corvinal e observei com entusiasmo ele o colocar em seu pescoço.

— Meu Deus... ficou muito bom.

A gente riu animado e, em seguida, coloquei o meu.

Observei meu melhor amigo olhar para a porta, como se checasse se alguém entrava, antes de pegar seu celular e abrir a câmera.

Rapidamente me aproximei dele para tirarmos duas selfies rápidas para então ele guardar o celular ao me dirigir um sorriso cúmplice.

Meu sorriso hesitou e ele me olhou confuso. Acabara de lembrar que outra pessoa estava precisando de ajuda para a prova de amanhã.

— O que foi?

— Eu... posso te pedir um favor?

— Claro. 

NOAH

— Tá, agora você coloca o X embaixo e multiplica com o trinta e dois. Com o resultado, divide o quarenta, e deixa no...

Apontando para cada número de sua conta, com meu corpo inclinado para perto do livro aberto na página dezessete.

— Dá pra você ir com mais calma? — resmungou o Wolfhard, largando o lápis sobre a mesa para coçar sua nuca em um tic nervoso estranho. Era a décima vez que fazia isso.

— Ai, como ela tem paciência com você? — Revirei os olhos.

Era um problema simples de Razão e Proporção do livro DO PRIMEIRO ANO. Pra quê esse estresse todo?

— Por que a Millie não veio no seu lugar, hein? — resmungou de volta.

— Vocês dois? Aqui sozinhos? — Ele me olhou irritado após eu ter zombado. — Nós três sabemos que não seria uma boa ideia, né?

Ele suspirou, mas continuou escrevendo.

— Eu ainda vou quebrar sua cara um dia desses... — murmurou.

— Como é? — Me fiz de surdo, ciente dele saber que eu poderia ir embora a qualquer momento e o largar ali.

— O que faz depois? — disfarçou, coçando a nuca outra vez.

MILLIE

Ainda não havia tido a chance de conversar com Finn depois de quarta-feira, no Central Park. Noah me enviou mensagem, avisando que “achava que havia conseguido enfiar alguma coisa na cabeça dura de Finn” e tive que repreendê-lo, defendendo que não difícil fazê-lo estudar a matéria.

Ele estava indo visitar sua avó que ficara internada no hospital, por isso não conversamos muito.

Na sexta-feira, um Professor do terceiro ano havia vindo até nossa sala para aplicar a prova. Eu nunca havia o visto antes e parecia ser do tipo que retirava a prova do primeiro aluno que fizesse qualquer barulho desagradável ou olhasse para o lado.

A tensão em sala estava gigante e não havia um barulho sequer, dando a impressão de que caso alguém batesse um lápis na mesa, produziria um som de eco.

O Professor afirmou que poderíamos começar e já fui abrindo nas questões das matérias que considerava mais fáceis após preencher meu nome e ano escolar.

Como imaginado, não estava nada tão complicado. Estaria, no mínimo, na média. Não costumava me cobrar tanto em provas, e sim em trabalhos, onde era questão de pesquisas e de capricho. Mas gostava de competir minhas notas de provas com Noah, apesar dele sempre conseguir maiores em matemática.

Discutimos um pouco sobre o que colocamos em algumas questões no intervalo, assunto do qual não durou muito quando Sadie afirmou que simplesmente chutou a maioria.

Logo, ela mudou de assunto, perguntando sobre o que havia acontecido com Jacob. Havia esquecido que ela não sabia de nada e Noah me ajudou a explicar.

Além disso, afirmou que Finn havia o conhecido em alguma festa, além de terem estudado juntos no primeiro ano, onde Jacob era o maior cínico dentro de sala de aula, e outra pessoa completamente diferente fora da escola, como se interpretasse um papel dentro dos limites da escola. Associei aquilo aos seus pais, como uma tentativa de fingir ser o filhinho perfeito.

Mas Noah não soube dar muitos detalhes pelo pouco que Finn havia lhe dito. E eu não fazia questão de saber mais nada.

Sadie o xingou indignada.

— Mas ele poderia ter ido até o fim e me enganado. — murmurei pensativa, baixando meu olhar para a mesa. — Não quero passar pano, nem nada parecido. Mas estou aliviada que ele voltou atrás.

— Mesmo assim — Noah negou. — Ele te beijou à força, Millie!

— O quê?!

Tive um sobressalto. Finn estava atrás de Noah com olhos arregalados, uma fúria se apossava deles.

— Finn... — Me levantei, preocupada com sua expressão que estava indo de choque para raiva.

— Cara, calma, não é bem assim... — Noah também se colocou de pé. Parecia não saber o que fazer e Finn o fitou com um olhar de acusação.

— Noah, você me disse que... filho da puta. — Ele simplesmente correu, me deixando ainda mais nervosa com o que faria, mas era óbvio: estava procurando por Jacob.

— Finn, não, espera! — Imediatamente fui atrás, percebendo ele parar em uma mesa.

— Seu desgraçado!

Parei, ouvindo suspiros chocados. Havia acontecido tudo muito rápido. Logo, um amontoado de alunos se formou à minha frente, me impedindo de ver qualquer coisa. Me espreitei entre eles com dificuldade, tendo que empurrar alguns de leve, apesar de todos estarem muito eufóricos com o que viam.

Consegui enxergar Jacob caído no chão. O garoto imediatamente se levantou, acertando um soco em Finn, que se apoiou em uma mesa ao cambalear para trás. O cacheado foi pra cima do outro de novo e não consegui ver mais nada com vários outros alunos se colocando à minha frente, tentando agitar ainda mais aquela briga violenta.

Percebi os amigos do Wolfhard correrem para separar os dois.

Tentei fazer o mesmo, mas era difícil dado à minha altura.

— O que está acontecendo aqui?! Parem já! Circulando todo mundo! — Mandou o Coordenador Jonas surpreendentemente alto o bastante para conseguir fazer a maior parte se dirigir para as salas de aula. Era difícil dizer quem dava mais medo, ele ou a Diretora.

Pude ver Finn tentando avançar novamente contra Jacob, sendo segurado bruscamente por McLaughlin, que tentava o acalmar.

Jacob simplesmente ria da situação, provocando ainda mais o cacheado, também sendo segurado pelos seus amigos, apesar de não fazer investidas para voltar à briga, se divertindo às custas da fúria do Wolfhard.

— Vocês dois vão pra Diretoria, agora!

Finn empurrou McLaughlin furioso, que o encarou com o cenho franzido pela agressividade. Jacob sorria, indo atrás tranquilamente.

— E vocês três?! — O coordenador se virou para eu e me surpreendi com meus amigos atrás de mim. — Estão surdos?!

— Já vamos, General! — garantiu a ruiva, sem um resquício de medo na voz.

Ele fez uma careta e simplesmente a ignorou, acompanhando os meninos até a Diretoria.

— Millie, me desculpa. — disse Noah. — Eu não o vi.

— Está tudo bem, Noh. Vão indo, eu vou esperar na Diretoria.

— Você vai ouvir poucas e boas. — avisou Sadie.

Suspirei.

— Mesmo assim.

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