12. Perdão, ou um começo disso
Mirei a prateleira em dúvida, retirando um livro, sem realmente me importar com o título ou o seu tamanho, indo me sentar à mesa mais próxima para começar minha leitura.
— Você dava aula para ele aqui, não dava? — Levantei a cabeça, encontrando Jacob que se sentou à minha frente com um semblante pensativo.
Uni as sobrancelhas, encolhendo os ombros.
— Dava — murmurei num fio de saudade, voltando a encarar o livro cabisbaixa.
— Deve ser difícil pra você, fingir que não se importa — comentou.
Estreitei os olhos para si, largando o livro aberto com as páginas viradas para baixo sobre a mesa.
— O que está tentando dizer?
— Você finge para todos que está bem. — Me lançou um olhar maldoso. — Quando, na verdade, está morrendo de remorso pelo o que fez com Finn naquela última noite da festa. — Abri a boca, pronta para negar, mas nada saiu. Tudo o que pude pensar foi na expressão de Finn quando lhe estapeei. Meu estômago embrulhou. — Estou errado, Brown?
— Não importa — rebati, com a voz trêmula. — Nós dois erramos naquela noite...
— Essas mentiras conseguem te convencer? — Se indireitou na cadeira, ficando com o rosto mais próximo do meu. Engoli em seco com os olhos marejados, sem desviar de seu olhar frio. — Já pensou no quanto ele sofreu depois que vocês terminaram? Como teve que passar os ataques de ansiedade sozinho?
Uma lágrima escorreu por minha bochecha. Rapidamente a sequei, me curvando para que ele não notasse.
Me levantei num sobressalto, abandonando o livro sobre a mesa enquanto enxugava o rosto e seguia pelo corredor de prateleiras, aumentando o ritmo de meus passos à medida que me afastava.
Pela minha falta de atenção, esbarrei em alguém. Alguém com um corpo esguio e mais alto me segurou com delicadeza para que provavelmente não caísse com o esbarrão e imediatamente se afastou. Abri a boca para me desculpar, perdendo a fala ao mirar Finn com o rosto vermelho e molhado por lágrimas.
O cacheado fungou, fazendo a culpa martelar em meu peito:
— Você prometeu que nunca ia me deixar.
Me sentei na cama num pulo com a respiração descompassada, encarando a porta do meu quarto entreaberta ao tentar me convencer de que havia sido apenas um sonho. Fechei os olhos ao agarrar meus joelhos, passando as mãos pelo rosto um pouco úmido. Foi tão real.
Não consegui deixar de pensar em Finn o final de semana inteiro. Só de imaginar como ele estava, com as crises, as brigas constantes com o seu pai, e o que aconteceu entre a gente, vinha aquele aperto constante.
Ele havia me magoado!, repetia meu orgulho.
Que direito isso te dá de tratá-lo dessa forma? retrucava minha consciência.
O semblante no rosto vermelho e banhado pelas lágrimas do cacheado no sonho aumentou a ardência em minha garganta. Meus olhos marejaram.
Pulei da cama, indo direto ao banheiro, na tentativa de sufocar aquelas lembranças antes que eu me atrasasse para a escola.
Desci para o café tentando controlar a expressão em meu rosto. Mamãe colocou meu prato de waffles à minha frente e suspirou ao parecer notar algo.
— Quer conversar sobre alguma coisa, querida?
— Eu tô bem — garanti, sentando à mesa para enfiar qualquer coisa no estômago antes que acabasse perdendo a hora.
— Millie, olhe pra mim.
Obedeci, com a boca cheia.
— Por que está tão tristinha nesses últimas dias? — Levou a mão para meu cabelo, acariciando as madeixas. Neguei, com aquele rosto vermelho e cheio de dor de volta à mente e minha garganta pegando fogo. Os olhos de minha mãe ficaram ainda mais entristecidos e preocupados ao me ver à beira das lágrimas. — Vamos, Millie, você pode me dizer...!
Foi quando desabei. Fazia algum tempo que mamãe não me via tão mal ao ponto de precisar pedir conselhos. Em geral, os evitava para me manter longe de suas perguntas constrangedoras.
As lágrimas já caíam e minha voz estava embargada:
— Você já fez alguma coisa, pensando que estava certa, e então... — funguei.
— ...'Você percebe que estava sendo injusta'? — completou, com um sorriso compreensivo, sem parar com os carinhos. — Meu amor, é claro que sim. — Pegou em minha mão que até então segurava a xícara de chocolate quente. — Errar é completamente normal. Nós só precisamos ter cuidado para não magoarmos profundamente alguém.
Aquele olhar reconfortante e tão familiar foi capaz de capturar toda minha dor e expô-la, apesar de não ter sido em palavras claras, mas de forma que eu não guardasse apenas para mim.
— Eu sei — murmurei, soluçando novamente ao falar.
Ela me abraçou e correspondi com vigor, suspirando forte por parte da culpa se dissipar e me despedi ao me levantar, secando meu rosto com as costas da mão, tentando agir normalmente como se nada tivesse acontecido, lhe desejando um bom trabalho ao sair.
Nem a neve do lado de fora conseguiu me animar. O único efeito que causou foi aquela calmaria costumeira de todas as manhãs. Observei duas crianças brincando na neve no parquinho próximo de casa e sorri um pouco. O Natal estava próximo e eu sem expectativa alguma. Torci para ao menos ele ser bom este ano.
Minha tia já havia confirmado que viria, o que significava que eu veria Maddie daqui alguns dias. Talvez isso pudesse me animar de alguma forma.
Ao passar pela porta da sala cabisbaixa, mal percebi que não havia dado bom dia para Noah até ele se virar preocupado.
Ele perguntou algo que não fui capaz de processar, como um computador lento, até meu cérebro finalmente decifrar sua frase. Noah estava querendo saber se eu estava bem. Assenti, dando a desculpa de que havia dormido mal.
— Tem certeza? Me diz o que foi — insistiu, largando a caneta sobre a mesa.
Sorri fraco, apoiando meu queixo sobre os braços em cima da carteira.
— Não sei, não acordei muito legal — murmurei, o que parte era absoluta verdade.
— Eu sei o que vai te animar — disse contente, conseguindo um pouco de minha atenção. — Lembra que a gente tinha combinado de ir naquela feira de Star Wars depois de amanhã à noite, né? — Só Deus sabia como Noh estava louco para ir comigo nessa feira fazia meses. Nós dois gostávamos de Guerra nas Estrelas, mas ele era obcecado, assim como eu por Harry Potter. Havíamos marcado o dia há tempos, e lhe prometi que não marcaria nada na mesma data.
Tentei manter o sorriso, apesar de não estar muito no clima de ir. Mas tinha de fazer isso por Noh.
— É claro. Depois você me envia o horário certinho.
Fiquei com a cabeça apoiada na carteira, contando os minutos até o Professor chegar, louca para me distrair com alguma coisa que pudesse encher minha cabeça.
O silêncio que se instalou indicava que ele havia chegado. Mas me mantive com a cabeça abaixada, sem entender o motivo para silêncio total.
— Pessoal, esta é Rebecca Miller, mas ela prefere ser chamada de Becky — disse o Professor de matemática. Curiosa, levantei a cabeça. Uma garota vestida de preto da cabeça aos pés, com uma coloração de cabelo rosa bastante chamativa. Era linda, apesar de eu nunca fosse ter coragem de me arriscar nesse tipo de visual. — Ela veio de Dakota e vai passar o restante do ano letivo conosco.
A menina sorria, sem demonstrar traço algum de incômodo por estar chamando toda a atenção da classe, principalmente dos garotos, por ser carne nova. O Professor se dirigiu à rosada, sussurrando algo para si antes de deixá-la escolher um lugar. Becky assentiu e caminhou em passos firmes até o fundo da sala. A acompanhei com o olhar, assistindo a dona de fios róseos sentar-se ao lado da janela, bem ao lado de Finn, que também a observava com curiosidade.
Ela jogou a bolsa cheia de bottons de bandas de rock e caveiras sobre a mesa e a vasculhou antes de virar o rosto com um sorriso amigável para o cacheado e dizer algo. Ele sorriu para si, conversando com ela numa boa.
Os dedos de Noah foram estalados próximo ao meu rosto, conseguindo de volta minha atenção.
— O que foi? — questionei, confusa.
— Perguntei se você fez a análise de Química — repetiu com um olhar estranho.
— Ah, desculpa. — Virei-me para trás, procurando a folha separada dentro do meu caderno ainda na mochila.
— O que você estava olhando? — Se virou também, soltando uma exclamação baixa que demonstrava que havia compreendido.
— Aqui. — Lhe estendi a folha, suspirando quando ele continuou olhando para trás. — Noah.
— Ficou incomodada? — Me fitou preocupado.
— Pare de encarar — pedi entre dentes.
Ele finalmente se virou, aceitando minha análise e abriu seu caderno para comparar com a sua.
Suspirei, olhando sobre o ombro para onde Finn estava, com um estranho aperto no peito ao vê-lo ainda entretido na conversa com a aluna nova. Óbvio que aquilo não era nada demais, eles só estavam se conhecendo. Que mal havia nisso?
— Estão praticamente iguais — disse meu melhor amigo, aliviado.
— Claro que não — disse finalmente, me virando para Noh. — Ela só sentou no fundo! Não é como se... — Os olhei novamente, flagrando a garota conversando não somente com o cacheado, como o restante de seus amigos.
Que merda...?
Engoli em seco. Finn mantinha o sorriso para a garota.
— Millie?
— Oi? Desculpa... — Me virei para si. Noah analisou meu rosto com calma, não muito convencido.
Logo o assunto ficou de lado já que o Professor iniciou a chamada, incluindo o nome de Becky no final, antes de se levantar para começar a aula.
O ouvi com atenção, tentando compreender a nova matéria, enquanto ignorava de modo falho aquela sensação de incômodo dentro de mim.
Altas gargalhadas o interromperam. Fechei os olhos com força ao reconhecer exclusivamente uma delas.
— Pessoal, vocês podem conhecer melhor a Srta. Miller no intervalo. Vamos focar aqui, por favor.
Respirei fundo, tentando fazer o mesmo, sentindo o olhar de Noah todo o tempo sobre mim.
Era a mesma bagunça quando algum aluno novo chegava no meio do ano letivo e estávamos prestes a entrar de férias. Durante a troca de Professores, nem eu, nem as outras meninas nos livramos daquele irritante interesse dos meninos em conhecer Becky.
Aos nos sentarmos na mesa do refeitório, descobri da pior maneira uma parte ruim do Inverno: eu teria que assistir à Finn conversando com a "novata", termo do qual os garotos estranhamente se esqueceram de lhe etiquetar, visto que já a chamavam pelo nome.
Sadie claramente percebeu meu aborrecimento, já que tentava me distrair, evitando a todo custo citar a aluna nova.
Fui uma dos primeiros a entrar na sala, já que não fazia questão de permanecer muito tempo lá fora, deixando Sadie e Noah para trás, que iriam tomar água antes de subir.
— Que cara é essa, Brown? — provocou uma voz com tom maldoso atrás de mim, mal sabendo que havia me pegado em um mal dia.
— A única que eu tenho — rebati, impaciente, retirando meu material de debaixo da carteira, sem lhe encarar.
— Nossa! — exclamou enquanto ria nasalado. Me virei para si com um olhar de desdém, apesar de não ser proposital. — Vejo que alguma coisa te tirou bastante do sério — provocou. — Por um acaso, alguém tem algo a ver com isso?
— E você, Iris? — retruquei, lhe devolvendo o olhar sarcástico, sem dar rodeios assim como ela sempre fazia. — Sou a única irritadinha aqui? O que não faz o menor sentido, certo? Você tentou atrapalhar meu namoro até onde pôde!
— Se esqueceu da parte em que abri seus olhos, Brown — alertou, fazendo sua melhor expressão de ofendida. — Ou você não se lembra?
Estreitei os olhos.
— De você jogando os erros do garoto que supostamente diz que gosta, mesmo vendo o quanto Finn tinha dificuldade de se perdoar, para Deus e todo mundo naquela casa lotada ouvir?! Sim, me lembro bem. — Me coloquei de pé.
— Adora me colocar como vilã da história, né? — debochou. — É impressionante! Sendo que é você que fica fazendo o Finn correr atrás o tempo inteiro! Se terminou pra valer, deixe-o em paz! — disse, mais próxima do meu rosto.
— Você não fala coisa com coisa, Iris. — Estreitei os olhos em confusão, achando aquilo tudo sem o menor cabimento.
— Confesso que fiquei surpresa — prosseguiu, rindo. — A puritana da sala fazendo o Finn correr atrás dela apenas para se mostrar. Que papelão, Millie!
Tombei um pouco a cabeça pro lado, intrigada com o motivo para aquilo tudo.
— Você por um acaso é melhor que ela? — Um tom firme fez Iris se virar surpresa com a ousadia.
Olhei ao redor desconsertada enquanto Iris fitava Becky em descrença. Meu rosto queimou ao perceber a sala lotada.
Meu Deus...
— Como é?
— Você julga a garota como se fosse Deus. Que direito pensa que tem? — A rosada devolveu o olhar frio da Apatow, sem se intimidar.
Iris se manteve quieta por um momento, tornando o ar ainda mais tenso. Nunca alguém havia lhe repreendido. A Apatow estava, no mínimo, atordoada. A loira então riu da cara da Miller:
— Olha, você não sabe de nada. Acabou de chegar, então não se intrometa! — bradou, se aproximando da rosada com a expressão novamente séria.
— Me intrometo quando alguém começa a humilhar outra pessoa por diversão — retrucou Becky, aumentando seu tom.
Iris riu sem se abalar e se colocou de frente para a Miller que a encarava neutra.
A Apatow sussurrou, falando com o tom mais calmo que conseguiu:
— Aí, se quer continuar andando comigo e com os meus amigos, precisa aprender que por aqui é assim que as coisas funcionam.
O sorriso convencido voltou para os lábios da loira, supondo que Becky fosse se submeter.
— Prefiro deixar de andar com vocês se é preciso ficar pisando nos outros para se sentir melhor, assim como, você insinuou, você e seus amigos babacas fazem. Eu não preciso disso. — Os alunos à nossa volta brandaram em contentamento. Ela se virou para todos que haviam parado para assisti-las, enquanto a loira a fitava desacreditada. — O show já acabou, tá legal?
Becky foi até sua mesa como se nada tivesse acontecido e, aos poucos, todos foram para seus lugares e para suas salas. Iris me encarou furiosa antes de também seguir seu caminho, pisando duro. Portanto, decidi me sentar de uma vez, morta de vergonha por aquela cena na frente de todo mundo à troco de nada.
Imaginei que, depois da cena ridícula da Apatow, Becky se afastaria de Finn assim como dos outros, como havia prometido. Mas estava enganada. Claro, ela havia conseguido minha gratidão depois do que fez. Nunca um ser desta escola se atreveu a isso.
Contudo, machucou vê-la conversando e rindo com o Wolfhard na Terça-feira como se já fossem próximos. Nossa relação havia sido bastante turbulenta no princípio, então não poderia negar que estava com inveja. No entanto, era compreensível. Via-se claramente o quanto eram parecidos, ao contrário de nós, que, além de termos sido obrigados a nos aturar no começo, nossas diferenças nos cegava para podermos enxergar a essência do outro.
Porém, eu via como Becky parecia ser uma garota legal, o que tornava ainda mais difícil me incomodar com ela. Eu deveria estar feliz por Finn ter alguém além daqueles amigos para conversar, certo? Bem, não era fácil na prática.
O fato de eu estar tentando seguir em frente com Jacob reafirmava que eu não tinha o direito de me sentir assim. Então, por que tinha de doer tanto?
— Está prestando atenção, Millie?
Fitei Jacob, piscando várias vezes.
— Desculpe. Na verdade, não — murmurei, envergonhada.
— Vou repetir — disse animado, enquanto deixava sua bandeja de lado.
Havia percebido há algum tempo que ficar com Jacob havia perdido a graça. A conversa não fluía como antes e mal conseguia prestar atenção nele. Era estranho dizer: mas eu não aguentava mais falar sobre Super-heróis e teatro! Jacob conseguiu me fazer enjoar do assunto que eu mais gostava de conversar. Trocar um pouco o disco era sempre bom, certo? Chegou ao ponto de parecer que não tínhamos mais nada em comum.
Isso fez com que eu desanimasse. Tentava prestar atenção em suas palavras, mas meu cérebro se voltava para outros assuntos dentro de minha própria cabeça. Numa tentativa de fazê-lo parar de falar, marquei para irmos patinar em uma data qualquer e afirmei que precisava ir no banheiro. Passei o restante do intervalo lá.
Em sala, ele me mandou mensagem para confirmar que iríamos amanhã à noite e lhe respondi apenas que sim antes que fosse pêga com o celular.
Noah sorriu pra mim animado ao fim da quarta aula.
— Millie, e então? Prefere me encontrar no ponto de ônibus amanhã ou passo na sua casa? — encarei Noh sem entender. Ao notar minha confusão, me relembrou: — A feira de Star Wars!
Chocada, bati a mão em minha testa.
— É amanhã?
Seu sorriso murchou. Droga, fiquei indisponível na última hora.
— Por quê?
— E-eu... — Desviei o olhar.
— Millie, eu te pedi para que não marcasse nada — insistiu triste, apesar de seu tom compreensivo. — Estava tudo certo ontem, o que aconteceu?
Murmurei pausadamente, nervosa com sua reação:
— Eu... acabei combinando de ir patinar com Jacob... — Sua expressão mudou drasticamente para frustração e tratei de me explicar às pressas: — Eu nem percebi quando ele disse o dia, juro! Nem prestei atenção quando... — As palavras se embolavam. O pior era que eu realmente não havia prestado atenção no dia que Jacob sugeriu, porque não escutei nada.
Mas Noah não quis mais me ouvir:
— Sério, você vai me deixar na mão por causa de um cara que conheceu faz menos de duas semana?
— Perdão, Noh. É que... eu já tinha combinado com ele há um tempão.
— “Há um tempão”? — repetiu, sarcástico. — Vocês começaram a se falar literalmente há sete dias e você já acha que lhe deve alguma coisa. Você nem quer ir patinar com ele, dá pra ver, Millie.
— Por que você tá me enchendo tanto por causa disso? A gente pode ir uma outra vez — tentei apaziguar.
— No ano que vem? — Desviei os olhos, constrangida, e ele balançou a cabeça. — Espero que saiba o que está fazendo. — Dito isso, Noah se virou pra frente, realmente bravo comigo.
Na aula do Sr. Pedro, Noah mal me encarou quando fui até a mesa de Sadie, que me olhou curiosa ao notar minha tristeza.
— Millie, acho melhor você colocar a cabeça no lugar antes de vocês conversarem. — disse séria assim que lhe expliquei. — Reveja algumas atitudes, depois conversa com ele.
— Não acha que o Noh exagerou um pouco? — sugeri.
— Como você reagiria se vocês combinassem de ir a um evento de Harry Potter há bastante tempo e depois ele desmarcasse por algo... — ela se interrompeu, desistindo de completar. — Entende o que quero dizer?
Assenti, frustrada por apenas querer me enganar sendo que havia pisado na bola feio.
No dia seguinte, Noah mal falou comigo, muito menos me esperou para o intervalo como sempre fazia. Resolvi ir até a mesa onde me sentava com Jacob, apesar de não sentir a menor animação.
FINN
Suspirei ao batucar os dedos na mesa, tentando evitar acabar mandando Iris ir à merda, que não parava de falar mal de Becky no meu ouvido. Os meninos a olhavam incomodados. Depois da briga besta que Iris teve com Becky, mesmo ela tendo acabado de chegar ontem, se afastou deles que não tinham nada a ver com a aparente rixa que a loira criou com Millie. Havíamos entrado na sala depois da discussão e só então descobrimos o porquê da Iris ter voltado no horário sendo que sempre íamos quando o refeitório ficava praticamente vazio.
Fazia algum tempo que deixamos de provocar outros alunos, assim como Millie e Noah. Não sei se era porque perdera a graça ou percebemos que levava a nada. Mas acho que cansamos de confusão, que na maioria das vezes Iris arranjava sozinha.
— Chega, Iris... — pedi exausto, fechando os olhos ao esfregar a testa. Minha noite de sono havia sido péssima, não precisava de motivos para aumentar mais a dor de cabeça.
Ela revirou os olhos, e resolveu apelar para conseguir alguma atenção:
— Sabe com quem a Brown está andando agora? — Como se eu me importasse...
Ela disse Brown?
Minha primeira reação seria levantar e tirar essa história a limpo com Noah, mas fiz minha melhor expressão de tédio ao encará-la.
— Tenho raiva de quem sabe — a cortei. — Agora pode, por favor, me deixar em paz?
Ela resmungou, insatisfeita por não conseguir o que tanto queria. Me ver louco usando a Millie para que eu surtasse com ela e discutíssemos. Mas não lhe deixaria se divertir às nossas custas.
— Vai estar tarde quando notar o belo par de chifres que ela te colocar. — Riu com veneno.
Eu juro que se Iris não fosse uma garota, eu teria lhe quebrado a cara.
— Não tem como ganhar chifres de alguém que não tem nenhum relacionamento comigo — retruquei, lhe alfinetando com profundo rancor.
Meu olhar sério que eu sabia que afastava qualquer um com medo, finalmente a fez recuar.
— Te tirei de uma fria, Finn. Só você não enxerga isso — afirmou agora desconcertada, numa última tentativa antes que eu perdesse a paciência de vez.
— A troco de nada. — rebati, me levantando para ir ao banheiro antes que me estressasse mais.
Quando estava voltando, notei que na mesa de Noah, estava apenas Sadie. Estranhei, me aproximando, alarmado com o que Iris havia dito.
— Ei, cadê a Millie?
Sadie afastou os braços dos ombros de Noah e me fitou apreensiva.
— Digamos que... as coisas se complicaram. — Arqueei a sobrancelha.
— Tem falado com ela? — interrompeu o Schnapp.
— Não. — Encolhi os ombros. Ele suspirou tenso sem dizer nada e bufei com a falta de explicação. — Que cara é essa?
— Nós brigamos... nós... — Ele olhou para a namorada atônito.
— Por quê? — questionei, afinal, aqueles dois viviam grudados, apesar de eu ter levado um tempo para aceitar isso e perceber que jamais haveria algo a mais.
Noah me explicou a situação e ao ouvir o nome do filho da puta que estava com Millie, quase fui atrás de briga ali mesmo.
— Puta que pariu, aquele desgraçado! — Noah se levantou a tempo, me segurando antes que eu fosse procurá-los. Me debati furioso, tentando me ver livre dele, até que o cansaço me venceu.
— Calma, Finn! Espera! — O fitei nos olhos, ignorando os alunos irritantes que nos olhavam assustados como se eu fosse louco. Eu não posso mais gritar, é isso? Venham me processar! — Eu sei que está com raiva. Mas eu não a culpo. — Tentei me desvencilhar outra vez. — Cara, você não pode surtar agora.
Se ele soubesse quem era Jacob Sartorius, não estaria tentando me conter.
Eu poderia não ser um santo, mas Jacob era pior. Um cínico, do tipo que se fazia de anjo para passar por cima dos outros.
Eu me debatia com urgência, realmente preocupado com Millie.
Eu iria socar a cara dele só por ousar se aproximar dela. A Millie provavelmente ficaria furiosa comigo, mas ela não o conhecia.
Eu sabia que ficaria brava. Com toda certeza. E talvez com razão...
Ela estava livre e não tínhamos mais nada. Porra, nunca admitiria em voz alta, mas Noah tinha certa razão. Se surtasse na frente dela provavelmente iria perdê-la, se é que era possível foder mais ainda a situação.
Megan tivera uma conversa estranha comigo há muito tempo, que apesar de eu nunca ter entendido, nunca esqueci. Um conselho cujo significado fez todo o sentido naquele momento e mostrou o quanto estava sendo egoísta ao querer explodir com ela.
Noah me olhou perplexo quando parei de lutar. Então me soltou com hesitação.
— Eu nem percebi... — murmurei, mirando um ponto fixo no chão. — Resolvi me afastar. Deixar ela colocar a cabeça no lugar. A minha vontade agora é... — fechei a mão em punho.
— Não faça nenhuma besteira agora, Finn. Por favor! — disse Sadie, num tom mandão. — Já deu de Diretoria por um ano!
— Ela gosta dele? — questionei, olhando para Noah. Para mim, só isso importava.
— Gostava. Mas isso foi antes. — Suspirei tenso.
Ela nutria sentimentos por ele em segredo...
Isso era uma das piores coisas quando se gosta de alguém. Meu coração doeu só de imaginar Mills sofrendo em silêncio por alguém.
E agora, estava tentando seguir em frente, provavelmente porque ele se aproximou de si. E tentando voltar a gostar dele, enquanto o canalha estava com alguma má intenção que eu ainda ia descobrir.
— Você não chegou a vê-los juntos? — perguntou o Schnapp.
— Não. Tenho andado com tanta coisa na cabeça que... — O olhei. Noah ouvir aquilo não lhe faria a menor diferença. Só Millie entenderia... — Esquece.
Imaginar Jacob perto da Mills, tentando talvez até beijá-la fazia meu sangue ferver. Algo ruim crescia dentro de mim, se espalhando como veneno. Num surto de raiva, soquei a mesa, respirando fundo ao me apoiar ali enquanto outros alunos sentados me olhavam espantados.
— Antes eu iria lá e quebrava ele inteiro! — esbravejei ofegante, me voltando para Schnapp que me encarava amedrontado. — Mas não vou fazer isso — assegurei. — Quero ser melhor. Por ela. — Ele me olhou surpreso. — Mas que dá vontade, dá. — O encarei sério. — Ele a beijou?
Ele negou rapidamente. Suspirei, sentindo boa parte da agonia se dissipar.
— Ela vai encontrar ele hoje à noite, no Central Park — informou.
O encarei descrente.
— Porra, por que tá me contando isso? — exclamei, quase magoado.
— Vai. — Arregalei os olhos, negando várias vezes com a cabeça. Ele só podia estar louco! — Vá! Tenho quase certeza de uma coisa. Duvido que ele apareça.
Desviei os olhos. Na última vez em que me aproximei de Millie contra sua vontade, tivemos uma das nossas melhores fodas pra escutar no dia seguinte que a noite comigo havia sido um erro e ainda consegui um tapa pra fechar o dia. A última coisa que queria era forçar outra aproximação.
— Não vou fazer isso — murmurei, mas com a voz firme. Estava arrasado por não poder fazer nada.
— Finn, presta atenção. — O fitei mal humorado. O Schnapp conhece o conceito de ‘não’? — Eu entendo os motivos dela, assim como Sadie. — Apontou para a ruiva, que assentiu, atenta à nossa discussão. — Millie não é ingênua, só não quer pensar com clareza. Passou tanto tempo fazendo isso que cansou. Mas você precisa fazer alguma coisa. Ela só irá ouvir você.
Suspirei, bagunçando meus cabelos frustrado ao me sentir sem saída.
— Caralho...
Olhei hesitante para Sadie, perguntando para ela o que achava sem usar palavras. Ela entendeu e assentiu séria.
Bufei.
— Digam logo o que vocês sugerem.
MILLIE
No fim da tarde, comecei a me arrumar. Ao colocar roupas quentes o suficiente e passar um pouco de pó, sombra e um batom fraquinho para não parecer demais, enviei mensagem para Jacob, avisando que já estava saindo. Soltei o ar tranquila ao receber um okay.
Cobri minha cabeça com o capuz da jaqueta, devido ao leve nevisco do lado de fora e torci para não ficar mais forte. Caminhei rápido com minhas mãos cobertas pelas luvas dentro dos bolsos da jaqueta.
(N/A: RECOMENDO VOCÊS LEREM OUVINDO ALGUMA MÚSICA SOFT/ROMÂNTICA DE SUA PREFERÊNCIA A PARTIR DAQUI ;) )
Para chegar ao Central Park, tive de passar pela rua próxima do cruzamento. Era a mesma que voltei com Finn ao voltarmos do shopping. Parei. Havia sido a mesma em que havia começado a chover.
Meus pés pareciam ter congelado no lugar. Uni as sobrancelhas. Foi exatamente aqui onde o cacheado me parou no meio da chuva e me fez prometer que o que tínhamos não iria ter fim e me deu um beijo cheio de sentimentos quando ao fazê-la sem hesitar.
"Me promete que nunca vai me deixar? Que isso não terá fim?"
"Não vou abandonar você, Finn. Não vou."
Encarei o lugar onde havíamos parado com os olhos vidrados, enquanto eles se enchiam de lágrimas. Engoli em seco, reprimindo um soluço, levando a mão à boca, para impedir que mais saíssem.
"Eu...eu também te amo."
"Repete."
"Eu te amo."
Lágrimas grossas caíram e imediatamente as limpei, respirando fundo. Não. Eu tinha que ir para o Central Park, não poderia ficar chorando aqui. Tinha de ir encontrar...
— Eu não posso fazer isso... — murmurei, me sentando no meio-fio coberto de neve, deixando meus patins ao lado, ignorando a sensação extremamente gélida abaixo de mim.
Eu não poderia continuar mais. Já havia ficado claro que não tinha o menor interesse em Jacob. E estava chorando ao lembrar do Finn. O que diabos iria dizer para Jake?
Mas também não poderia dar o bolo nele... Não seria educado.
Eu iria. Seria sincera com ele e diria que simplesmente não aconteceu; eu não estava sentindo nada mais e que sentia muito.
É isso.
Gemi frustrada, enterrando minha cabeça entre minhas mãos cobertas. Com certeza não seria fácil. Mas fui eu que comecei tudo isso, nada mais justo eu pôr um fim.
Me levantei, enxugando o rosto uma última vez, retomando meu caminho.
Respirei fundo ao chegar, sorrindo fraco ao ver famílias, crianças e casais patinando. Começava a escurecer, o que significava que estava quase no horário combinado.
Fiquei de costas para a pista, com as mãos dentro dos bolsos enquanto esperava.
Vinte minutos depois, ele não havia dado sinal de vida. Lhe mandei mensagem, até mesmo liguei, e nada. Suspirei, mordendo o lábio nervosa. Eu tinha que conversar com ele agora. Se deixasse para outro dia, acabaria perdendo a coragem. Não era algo simples de se falar por mensagem.
Desloquei o peso do corpo para a outra perna, o procurando ao redor.
Meia hora de espera e eu já estava cogitando desistir. Iria congelar aqui parada.
Resolvi dar meia volta quando vi um rosto conhecido ao longe. Perdi a fala ao notar quem se aproximava.
— Como sabia que estava aqui? — murmurei desconfiada, com meu coração palpitando contra o peito.
— O Noah me contou. — Finn disse de forma neutra, baixando seu capuz escuro para ajeitar melhor a touca que escondia seus cachos, que aliás ficava muito bem em si.
Assenti, desviando os olhos para o outro lado. Finn tocou sua nuca e limpou a garganta, sem dizer mais nada. Me perguntei em que ele pensava e se também estava relembrando da noite em que havíamos dormido juntos e a forma cruel que o tratei depois.
Meus pesadelos recentes e agonizantes fizeram meus olhos voltarem a marejar. As lágrimas vieram e respirei fundo ao abaixar a cabeça, tentando evitar que ele visse. Mas o cacheado me conhecia o suficiente para perceber, apesar dele ter apenas as iluminações dos postes ao seu favor por já ter escurecido.
Ele franziu a testa e esticou as mãos, mas apenas as deixou no ar, parecendo querer fazer algo ao notar o que estava acontecendo.
— P-perdão — murmurei, escondendo o rosto com a mão, piscando várias vezes ao virar para o outro lado. — Desculpa por tudo o que disse pra você... — Comecei a soluçar, desistindo de esconder que chorava, afinal ele já havia visto. — Como agi na festa... Fui horrível com você...
— Não chora, Mills — pediu com tom afetado, tocando meu rosto de leve para secar minhas lágrimas. — Sabe que acaba comigo, não sabe? — Assenti, soluçando de novo. Ele segurou meu rosto com ambas as mãos para que eu o olhasse nos olhos. — Ei, está tudo bem — garantiu.
— Você não entende. — Neguei, sabendo que Finn ficaria uma fera se soubesse sobre Jacob.
— Entendo. — O fitei surpresa. Noh teria contado tudo? Finn sorriu. — Fiquei preocupado quando soube. — Encarei o chão coberto de neve, até ele prosseguir: — Mas resolvi fazer nada. Errei muito com você. E não só escondendo a história toda da Layla.
— Finn... — tentei interrompê-lo, segurando suas mãos que ainda se mantinham em meu rosto.
— Eu sei o que vai dizer — continuou. —, que nós dois erramos e pode até ser. Mas ainda sou responsável pela maior parte. — Sorriu triste. — Porém, me lembrei de algo que Megan me contou no começo da minha pré-adolescência. Que um dia eu amaria de forma tão profunda que esse amor me tomaria por inteiro. E eu não iria querer ninguém perto dessa pessoa. Mesmo um amigo. Na época, achei aquilo ridículo, e não consegui entender. Ela disse que teria de suportar esse ciúme, mesmo sendo doloroso. Só senti isso quando Noah me contou tudo. ‘Amar não é possuir’, foi a frase que ela pregou na minha cabeça feito chiclete nesse dia.
Por fim, ele sorriu sincero. Tentei não me levar por suas palavras, mas àquela altura era impossível. Finn era péssimo com discursos e eu sei que aquilo foi mais um desabafo do que qualquer outra coisa ou somente a coisa certa a se fazer, mas Finn evitava falar de si ou de seu passado. Ele preferiu confiar em mim, ao invés de me questionar ou se preocupar como se eu precisasse de proteção.
Assenti ao não saber o que responder, enquanto outra lágrima caía.
— Shhhh, não chore mais. — O cacheado me surpreendeu ao me envolver em seus braços, me devolvendo aquela sensação de paz que tanto senti falta. Me agarrei à ele ao enterrar meu rosto em seu peito, soluçando ainda mais pelo nosso contato.
Ao invés de persistir para que parasse de chorar, Finn acariciou meu cabelo enquanto me deixava desabar em seus braços.
Eu queria parar de fazer tanto barulho durante o choro, mas estava tão engasgado que eu precisava colocar para fora.
Seu perfume tão familiar me passou um misto de saudade e nostalgia. Seu abraço era sempre tão acolhedor que escolheria isso se pudesse tornar algo eterno. Estava com saudade dele por inteiro.
A dor se esvaía até sobrar somente um alívio reconfortante. Inspirei devagar, notando que já não soluçava mais e as lágrimas secaram.
O carinho em meu cabelo cessou assim que levantei meu rosto de seu peito. Finn me soltou quando levei minhas mãos ao rosto, assustada ao lembrar que havia passado maquiagem.
— Nossa, eu devo estar horrível. — Funguei, desviando os olhos para outro lado.
Aconcheguei minhas mãos nos bolsos e um silêncio estranho se instalou entre nós.
— Já que o cara não veio, você pode ir embora ou... patinar comigo. — Encarei Finn, que se concentrava nos próprios pés.
— Ok, vamos.
Ele me olhou surpreso, antes de assentir e ir comigo até a pista. Cada ingresso custava nove dólares e mais oito pelos patins alugados para Finn.
— Deixa que eu pago o seu.
— Nem pensar — neguei, entregando o dinheiro do meu ingresso e me sentando em um banco próximo para colocar os patins que havia trago, negando ajuda do cacheado já que sabia colocá-los.
— Millie...
— Não, Finn. Você me deu um livro na última vez — lembrei.
Ao terminar, esperei o cacheado, e finalmente fomos pra pista.
Empolgada, comecei a patinar para longe.
— Millie, espera! — Olhei para trás, vendo a cena mais cómica de Finn se agarrando à grade de proteção.
Gargalhei pra valer segurando a barriga, vendo-o tentando se equilibrar de pé mesmo se segurando em algo.
— Finn! — Fiz meu caminho de volta, sem conseguir parar de rir. — Quer ajuda?
Peguei uma de suas mãos, o que o assustou mais:
— Não, espera, espera!
— Eu vou te ensinar! — exclamei entre risos.
— Ensina! Não precisa mostrar — afirmou ao puxar a mão de volta.
Suspirei, tendo a sensação de que estava lidando com uma criança e sorri compreensiva para si. Ele me fitava inseguro, quase assustado, esperando instruções.
— Ok, na teoria — murmurei mais pra mim do que pra ele. — Eu vou segurar sua mão o tempo todo e patinar num ritmo que consiga acompanhar. Você só vai me seguir.
Ele forçou um sorriso de lado em concordância e soltou uma das mãos devagar, deixando que eu o puxasse alguns poucos centímetros, decidindo finalmente soltar a direita para que eu pudesse segurar.
— Você colhe o que planta — resmungou, me fazendo rir nasalado.
Patinei para trás devagar, de frente para si, que tinha os olhos pregados no chão.
Quando sentia que se soltaria, Finn apertava firme minhas mãos, tomando cuidado para não machucar.
— Acho que agora você já pode... — provoquei, sem falar sério.
— Não se atreva. — Me olhou sério, apesar de seu medo estar transparente, me fazendo sorrir.
— Eu tô brincando. — Ele pareceu se acalmar. Ao fazermos uma curva, foi um pouco difícil fazê-lo virar, mas Finn conseguiu se segurando em mim. — Você sabe andar de skate e tocar guitarra, mas não sabe patinar.
Ele sorriu pequeno, levantando os olhos.
— Não deboche de mim, Brown. —Depois de tanto tempo, era ótimo ouvir seu tom humorado outra vez. — Você leu?
— Hm? — O olhei sem entender.
— O livro... você leu? — Soltei uma de suas mãos devagar. Não deixei de notar como Finn parecia ansioso com a falta da minha resposta.
Me senti mal ao pensar que havia escondido o livro em uma gaveta do armário para evitar lembrar dele. Supus que Finn estava nervoso em perguntar por tudo o que passamos depois disso.
— Não. Estava terminando outro. — falei o mais monótono possível.
— Você devia ler... — Deu de ombros, sem olhar em meus olhos.
— Eu vou — prometi. — Mas, por enquanto...
Soltei suas mãos. Finn soltou uma exclamação de susto e esticou os braços para tentar se equilibrar.
— M-millie!
— Eu estou a cinco passos de você. Tenta vir até aqui e volto a te segurar.
(N/A: GENTE, A REFERÊNCIA NÃO TEVE INTENÇÃO, MAS EU AMEI E MANTIVE^^)
Finn hesitou, mas o fez, tentando andar ao invés de patinar.
— Finn! — o repreendi.
— Você disse passos — disse debochado ao chegar perto de mim, erguendo a mão para que eu a pegasse.
Fiz cara feia para si, a pegando novamente.
Depois de um tempo, Finn resolveu sair para me deixar patinando livremente, enquanto me observada do lado de fora encostado em um poste.
Ao perceber que ele estava sozinho lá já há bastante tempo, resolvi sair também e andamos em volta, onde havia uma feirinha de natal com algumas atrações natalinas.
— Prometo melhorar para patinar com você... — Ao perceber o que estava dizendo, Finn murmurou a última parte envergonhado: — ...da próxima vez...
Assenti, sem saber o que responder, continuando a andar ao seu lado.
Paramos perto de um grupo que estava prestes a soltar fogos de artifício, nos preparando para assistir.
Sorri enquanto observava distraída. Até que tive um sobressalto com o impacto de algo macio e extremamente gelado em minhas costas. Me virei, encontrando um cacheado que me encarava em espectativa e desafio.
— O que você...? — O atrevido se abaixou rapidamente, para repetir o que fez. — Finn!
Me abaixei também, juntando uma boa quantidade de neve nas mãos. Mesmo com as luvas, ainda era bastante gelado. Fui atacada primeiro ao levantar.
O ataquei em seguida, acertando na lateral de seu queixo por Finn ter tentado desviar. Eu não tinha uma mira tão boa, até porquê se tivesse participaria mais das aulas de Educação Física, mas em geral dava pro gasto. Quando vimos, já estávamos em meio à uma guerra, nos escondendo atrás de postes para não sermos atingidos pelo outro.
Até que ele simplesmente resolveu me perseguir com uma bola de neve em mãos e tentei correr em disparada, jogando uma bola de neve em sua direção para atrasá-lo. Mas fui abraçada por trás ao conseguir dar apenas alguns passos.
Gargalhamos comigo ainda encostada em seu peito, e nos sentamos na cadeira mais próxima da praça.
— Cansei — disse eu, sem fôlego. — Nossa... Eu realmente amo inverno, e você?
— Amo. — Apesar de olhar para frente, tentei ignorar a sensação de seu olhar fixo em mim. Seu tom estava cheio de emoção. — Amo muito.
— E como está Megan? — O mirei, mudando imediatamente de assunto.
— Garante estar ótima. — Ele sorriu. — O resultado dos exames ainda não saíram, mas ela garante estar bem. Insiste em não tirar um período mesmo que pequeno de férias.
Sorri.
— É a cara dela. Qualquer dia posso ir vê-la?
— Você sabe que sim.
— E o que achou da menina nova? — Desviei os olhos, sem saber porquê diabos fui tocar nesse assunto. — Ela parece legal...
— Ela é mesmo. — Engoli em seco. — E a namorada dela também.
— O quê? — O encarei surpresa.
Finn começou a rir. Perplexa, acertei um tapa fraco em seu ombro.
— Para de rir! — falei, apesar de rir também por minha estupidez.
— Estava incomodada? — Me encarou.
Desviei os olhos para frente.
— Sabe, eu realmente estava ansiosa por essa estação. — Vi de canto de olho ele também olhar para frente, cedendo ao novo assunto. — Desde criança, eu gostava de tomar chocolate quente com meu pai e ficar assistindo a filmes natalinos o dia inteiro.
Ele voltou a me fitar, mas permaneci olhando para o mesmo ponto.
— E a Winona?
— Houve uma época em que os turnos do papai na delegacia eram de noite, então ele ficava em casa comigo. Passávamos algumas horas juntos e ele ia dormir para poder trabalhar mais tarde.
Ele sorriu.
— Eu não sabia que gostava tanto assim do inverno — disse pensativo, mas logo seu sorriso arteiro retornou: — Não mude de assunto, você estava com ciúmes?
Apesar de seu olhar de esperança, aproveitei seu bom humor para não levar a pergunta a sério.
— Longe de mim, Wolfhard. Como você foi o que mais conversou com ela, fiquei curiosa — falei o mais plena que consegui.
— E como você sabe que eu fui o que mais conversou com ela? — retrucou sem desmanchar o sorriso.
— Argh, Finn... — Ele gargalhou.
— Você quer ir embora?
Dei uma checada no horário e fiquei surpresa em descobrir que já estávamos ali há três horas.
— Eu acho melhor.
— Está escuro, vou com você.
Fomos o caminho todo em silêncio e, ao pararmos em frente à minha casa, Finn murmurou um boa noite, enquanto seus olhos avaliavam minha expressão. Provavelmente por, assim como eu, não ter ideia de como seria nossa relação a partir de agora.
Lhe respondi o mesmo e entrei em casa, antes que a situação se tornasse ainda mais constrangedora.
***
(N/A: Pessoal, me sigam no Instagram, que está na minha bio. Estou fazendo posts sobre a fic por lá e também serve pra gente interagir. Postei ontem os dias certinhos das atualizações desse mês que agora serão toda semana<3)
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