6. Você acha que eu me importo?
- Ele poderá vir hoje?
Encaro meu pai pasma.
- Hoje? - exclamo.
- Algum problema? - ele pergunta casualmente, tomando um gole de seu café.
- David. - minha mãe o repreende.
(N/A: SÓ ISSO QUE VOCÊ SABE DIZER PRA ELE, MULHER?)
- O que é? - ele se faz de desentendido.
- Não tem que ir trabalhar? - pergunto.
Meu pai coloca sua xícara sobre a mesa pacientemente e me encara.
- Virei pra casa mais cedo. Não se preocupe.
Reviro os olhos, imaginando a merda que isso irá dar. Termino meu waffle e me levanto.
- Bom, eu tenho que ir. Tchau gente. - dou um beijo estalado na bochecha de cada um e vou para sala pegar minha mochila.
Só espero que Noah não surte.
***
- O quê?
Eu sabia que ele reagiria assim.
- Eu sei, Noh. Acredite eu mesma não gosto disso mas meu pai é muito insistente. - digo, enquanto empilho os livros de matemática para levarmos para sala.
Ele coça a nuca nervosamente enquanto pega metade e saímos dali para levarmos os livros.
- Millie, eu tenho inúmeros motivos por estar solteiro. Eu não levo jeito com essas coisas. Acredite, eu ficarei tão nervoso que irei lhe constranger.
Sorrio.
- Pare com isso, Noah. Meu pai quer apenas conhecer você. Apenas minha mãe que criou o sonho de você e eu... - ele me observa, esperando que eu termine. - Aah, você entendeu!
Ele faz uma careta, me fazendo rir.
- Me desculpe, Millie. Mas não há nenhuma possibilidade de nós... quero dizer, você é bonita m-mas... - ele se enrola com as palavras e eu sorrio achando incrível a forma de como nós dois somos parecidos. E feliz por Noah pensar exatamente como eu sobre isso. - e-eu já...
O interrompo:
- Ei, tudo bem. - solto um riso antes de continuar. - eu também penso o mesmo. Ela só está feliz por eu ter feito um amigo. Bom, mais do que feliz. - completo rindo e ele me acompanha.
Ele faz um pequeno esforço para segurar os livros com apenas uma mão para bater na porta da nossa sala de aula com a outra.
Suspiro aliviada quando o professor a abre e nós rapidamente entramos.
- Muito obrigado, Sr. Schnapp e Srta. Bobby Brown.
Noah vai para o lado direito e eu para o lado esquerdo da sala para distribuirmos os livros. Respiro nervosamente quando percebo que Apatow, Sink e o Wolfhard são os últimos das fileiras da esquerda enquanto o resto do grupo deles é da direita.
Continuo distribuindo os livros enquanto tento ficar calma ao passo que a cada segundo me aproximo ainda mais deles.
Só espero que nenhum deles se aproveite da situação para dizer alguma grosseria ao Noah.
Mas obviamente que o McLaughlin não seria o McLaughlin se perdesse essa oportunidade.
- Aí, valeu cara. - ele pega um dos últimos livros sobre as mãos de Noah, antes que ele possa entregá-lo, de propósito para derrubar o outro. - Ah, foi mal. Foi sem querer. - ele mente descaradamente soltando um risinho irritante de deboche enquanto Noh se abaixa para pegar o último livro e entregar para o Matarazzo, fingindo que a intenção do garoto não havia sido intencional.
Entrego os livros para as garotas e tento não olhar para aqueles olhos intensos quando entrego o último livro para o Wolfhard.
Enquanto me afasto, fico surpresa quando ouço o sussurro irritado da Sink para o namorado.
- Sério, qual o seu problema, Caleb?!
Não consigo escutar a resposta por já ter chegado à minha mesa mas a vontade de voltar lá - para a minha surpresa - era grande. Por que Sink havia reagido assim?
- Millie?
Saio do meu transe e encaro Noah.
- Desculpe, o que foi?
- Você conseguiu entender a segunda questão?
- Ah, claro. As questões! - digo, me lembrando da atividade e abrindo o livro.
Noah me fita hesitante.
- Está tudo bem, Millie?
Eu o encaro.
- Está... Está sim, é que... - hesito. Como ele entenderia o quão aquilo foi estranho, aliás, bizarro? É que vocês não entendem o quão o grupo de Iris odeia pessoas como nós e a ruiva ter praticamente defendido o Noah... Tem algo errado aí. - ...como eu posso lhe explicar...?
Ele espera pacientemente mas acabo por desistindo.
- Esqueça. Eu só... - me interrompo, me virando para observar rapidamente o grupo do fundo. Eles estão fitando Sadie como se ela fosse um peixe fora d'água. Como se ela estivesse com alguma doença contagiosa. Como se... não fosse do grupo. Mas o quê?
- Millie? - ele me chama novamente.
Ok, me preocupar com isso é ridículo. Eles têm o problema deles e ponto. Não deve ter acontecido nada demais e eu estou deixando a minha curiosidade falar mais alto.
Me viro novamente para frente repetindo várias vezes para esquecer o grupo revoltado e leio rapidamente a questão dois do livro no intuito de responder a dúvida de Noah.
- A resposta é Alternativa "b". As trocas gasosas são feitas nos alvéolos e ocorrem por difusão.
- Como? - ele me fita impressionado.
- A hematose é o processo de trocas gasosas que ocorre nos capilares sanguíneos dos alvéolos pulmonares através da difusão de gases: oxigênio e dióxido de carbono. Hematose é a troca de gás carbônico por gás oxigênio nos alvéolos pulmonares, ou seja...
Noah me corta:
- Não, não. Como você soube a resposta assim que bateu os olhos na questão?
Sorrio.
- Eu amo biologia, Noah. E você ama matemática, consegue resolver uma conta de baskára na cabeça, sem usar conta! - o elogio e ele retribui meu sorriso.
Noh sabe que é verdade.
***
No intervalo, fomos os últimos a sair da sala. Mas enquanto eu estava guardando meu material, levantei meu olhar para fitar Wolfhard e os outros saindo da sala. Sink estava com eles, como se nada tivesse acontecido - isso se realmente aconteceu alguma coisa -, e seu rosto estava indecifrável assim como o dos outros. Noah se levanta ao meu lado e eu imediatamente volto meus olhos para ele:
- Vamos?
Enquanto andamos pelo corredor, vejo o garoto loiro - pelo qual eu estava ansiosa para ver durante a manhã toda - encostado na parede enquanto conversava algo com outro menino que usava óculos e tinha o cabelo um pouco maior do que o do Wolfhard e mais claro, completamente cheio de cachos.
Isso vai parecer estranho, mas eu nunca havia escutado a voz de Jacob. Até porque eu nunca havia chegado perto o suficiente do mesmo. E isso me causava uma tremenda curiosidade. Como seria a voz dele? Como seria o tom? Queria muito saber. Aposto que deve ser linda.
Os olhos de Jacob brilham e um sorriso simpático é aberto enquanto ele responde algo ao amigo. Céus, como um garoto pode ser tão...
Sou tirada de meus pensamentos quando Noah sussurra ao meu lado, me deixando totalmente petrificada com o susto:
- Vai falar com ele. - Mas o quê?
Me viro para o mesmo assustada. Ele... ele não poderia ter percebido nada. Ou poderia? Não, impossível.
- Co-como você?
Noah abre um sorriso que quer dizer: "Millie, eu já sei de tudo" e eu arregalo os olhos.
Merda. Merda. Merda.
- Millie eu não sou cego. Faz dias que eu estava desconfiado. - meu Deus, estava tão óbvio assim? - Você está gostando dele desde quando? - seu tom torna-se um pouco curioso.
Dou graças à Deus por não estarmos tão perto do assunto da nossa discussão a ponto dele conseguir nos ouvir. Mas isso não ajuda em nada minha situação. Noah me pegou no flagra e eu não estava preparada para mentir, finalmente dizer a verdade ou tentar fugir. Resultado:
- E-eu... No-noah eu não... Que-quero dizer... - tento juntar as palavras para formar alguma frase que dê sentido ao que estou dizendo mas tudo o que eu consigo fazer é apenas embaralhá-las e gaguejar, como se elas fossem peças idênticas de um quebra-cabeça que não se encaixam.
Fui simplesmente pêga e agora não sei como formular uma desculpa plausível pra isso. Até porque, no fundo, eu não quero mentir. Não para o Noah. Não para o meu amigo, que compartilhou comigo algo tão pessoal ainda ontem sem pensar duas vezes. Ele merece a verdade.
- Ei. - Noah me interrompe, colocando suas mãos sobre meus ombros para que eu me acalme. Respiro fundo. - Está tudo bem. - ele me assegura, abrindo um sorriso compreensivo e eu suspiro mais aliviada por ele estar indicando que eu não preciso explicar nada agora. - Mas, - Ah, não! - você vai me dizer isso detalhadamente mais tarde.
- Aí, céus, está bem. - até que estou aliviada por ter sido Noah que descobriu meu segredo. Apesar dele ainda ser um garoto. E no fundo, eu sabia que uma hora ou outra eu teria que falar isso pra alguém. Só fico um pouco irritada por ele ter descoberto porque eu não consegui nem ao menos desfarçar. - Agora, por Deus, vamos comer! - começo a arrastá-lo enquanto Noah ri do meu desespero.
- Hm... Então... Você gosta dele esse tempo todo? - Noah pergunta alguma coisa enquanto termina de mastigar.
- ...O quê?
Ele engole o frango frito.
- Então você gosta dele esse tempo todo? - ele repete pacientemente.
- Ah, eu... - coro. - meio que sim.
Noah suspira e eu o encaro sem entender. Ele coloca seu garfo sobre o prato e me encara, não sei dizer se ele está sério ou preocupado.
- Millie, você não deve ficar guardando esse sentimento apenas para você. Tem que falar com ele. Falar a verdade. Dizer o que sente.
Arregalo meus olhos.
- Não! Nã-nã-nã-não, e-eu não consigo. - droga, voltei a gaguejar.
- Millie...
- Noah, você não entende. - abaixo minha cabeça, fitando meu próprio prato já vazio. - Eu não sou boa em dizer para as pessoas o que eu estou sentindo. Ainda mais algo desse tipo. Eu nunca fiz isso. - volto a encará-lo, ele também não está mais me olhando. Mas sei que está prestando atenção. - Você nunca... se apaixonou por alguém? Alguém que te fizesse soar frio ou fazer seu coração se acelerar e sentir aquele frio na barriga?
Ele levanta seu rosto, seu semblante diz que ele quer me falar alguma coisa importante.
- Millie, eu... - ele é interrompido pelo som do sinal, que indica que é hora da - pior aula de todas - educação física. Bufo.
- Droga. Bem, vamos?
Ele se levanta ao mesmo tempo que eu concordando.
- Vamos.
Enquanto andamos lado a lado, começo a me perguntar o que ele iria me dizer. Bem, vou me certificar de perguntar isso depois.
(N/A: preciso nem dizer que ela vai esquecer totalmente, né? '-')
Posso dizer que sou muito boa na maior parte das matérias. Bem, ninguém consegue ser bom em tudo e no meu caso, meu ponto fraco sempre foram os esportes. Sou péssima em educação física.
Sempre levo um livro pra quadra para ficar lendo sentada na arquibancada enquanto os outros alunos jogam. Por isso, minha nota nesta matéria sempre fica em torno de 5 à 7, os conteúdos em sala de aula sempre me salvam. O meu único problema está na aula prática.
E Noah também não é muito diferente. Ele sempre fica sentado ao meu lado enquanto observa os outros alunos jogando.
- Falta quantos minutos para a próxima aula? - pergunto para ele.
Vejo Noah checar o celular pelo canto do olho e logo em seguida, me fitar.
- Meia hora ainda.
Bufo.
- Ei, vocês dois. - levantamos nossos rostos imediatamente quando ouvimos o grito da professora do outro lado da quadra. - A aula de hoje é obrigatória. Venham participar ou é zero.
Não. Não. Não. Por favor, não me obrigue a isso.
Quando eu digo que sou péssima em esportes, não é exagero!
Solto um resmungo em protesto e Noah se levanta ao meu lado.
- Não temos escolha, vamos. - ele estende a mão e mesmo que a contra-gosto, coloco meu celular, o livro, meu óculos e minha blusa de moletom ao meu lado antes de pegar sua mão e me levantar.
Descemos os enormes degraus da arquibancada e vamos para o centro da quadra.
A professora me fita em desaprovação.
- Na próxima aula, vista o uniforme da educação física assim como as outras, irei abrir uma exceção para você apenas hoje. - ela me comunica.
Arregalo os olhos. O uniforme de educação física consiste em uma calça legging - que não me agrada em nada quando eu a visto, já que prefiro calças mais justas -, uma camiseta azul clara com a sigla da escola - que, aliás, é tão colada em meu corpo que destaca minha cintura e minhas curvas, o que me dá uma puta de uma vergonha. - e tênis.
- Ok, obrigada professora. - respondo tentando manter meu tom educado sem transparecer meu desgosto.
A professora apita, dando inicio à segunda atividade. Handebol.
Eu fui péssima - apesar do fato de saber as regras ter me salvado um pouco -, fiquei correndo atrás de quem pegava a bola a maior parte da aula. Quando finalmente consegui pegá-la, a lancei para uma garota morena que eu havia percebido que era do meu time.
Ela deu três passos e lançou novamente para mim. Grande erro.
Deixei a bola escapar de minhas mãos e vi quando Apatow conseguiu pegá-la e lançá-la para o Wolfhard. Ele marcou um ponto quando fez gol e eu bufei. Percebi meu time resmungarem que a culpa havia sido minha. E pior que realmente era.
Voltei para sala com um humor não muito bom. A quinta aula era física. Fiz os exercícios em silêncio, sem participar tanto da aula como sempre.
Na última, o professor de inglês havia faltado então iríamos para casa mais cedo. Eu odiava quando isso acontecia.
Fecho meus cadernos, guardando-os em minha mochila. Me levanto enquanto passo meus braços pelas alças da mesma.
- Que horas mesmo, Millie? - Noah pergunta, se referindo a ida à minha casa.
- Umas quatro horas. Meu pai disse que sairia mais cedo. - ele assente.
- Ok, até daqui a pouco.
- Até.
Me viro e vejo o Wolfhard vir em minha direção. Tomara que hoje ele esteja mais calmo.
- Vamos. - ele diz apenas, sem ao menos me encarar e saindo da sala logo em seguida.
Suspiro. Ele está pior do que ontem.
***
- Bem, que tal começarmos por matemática desta vez? - pergunto, abrindo um sorriso simpático. Wolfhard apenas revira os olhos.
- Nem pensar, odeio matemática. - ele esbraveja.
- Ok, você é de humanas, não é? - pergunto, tentando não desmanchar meu sorriso.
- E isso importa?
O ignoro.
- Inglês então, você pareceu ter mais facilidade nessa matéria ontem. - digo abrindo o livro, enquanto o Wolfhard bufa e resmunga algo em um tom tão baixo que eu não consegui entender o que ele havia dito. - Bem... - passo meus olhos por algumas páginas até achar algo importante. - Aqui. Este texto ajuda a resolver as questões que o professor passou hoje, você...
Ele revira os olhos.
- Quer saber? Também não quero estudar inglês! - ele exclama. Dou graças a Deus pela bibliotecária ter saído por alguns instantes para não ter que ouvir isso e vir brigar com nós dois.
O fito incrédula, ele finalmente conseguiu desmanchar meu sorriso.
- O quê?
- E aliás não quero estudar nada dessa merda! - ele afirma, se levantando.
Ok, JÁ CHEGA!
(N/A: SAI DE BAIXO QUE AGORA A MILLS VAI DESCER O PAU!)
Me levanto também, devolvendo o olhar agressivo do Wolfhard pela primeira vez, farta por ouvir tenta petulância e grosserias de sua parte.
- Olhe aqui, eu passei horas em casa procurando atividades para passar pra você, planejei exercícios e estou dedicando todo o meu tempo estudando em casa para lhe ajudar. Então se você...
Ele me interrompe, gargalhando sarcasticamente:
- E você acha que eu me importo?! Por que está muito enganada! Se você quer tanto que eu te leve pra cama, diz logo porra! - arregalo meus olhos horrorizada. - Só aviso que quem está perdendo tempo aqui é você, porque eu não estou interessado em uma nerd como você! - sinto meus olhos arderem, não sei se pela raiva ou pela humilhação, só consigo ter certeza que meus sentimentos estão à flor da pele, e eu não estou gostando nada disso.
- Você acha que todas as garotas caem aos seus pés, não é?! Pois sinto lhe informar, mas eu não estou interessada! Você é um estúpido hipócrita, que pensa que o mundo gira ao seu redor! Pois fique sabendo que ele não gira! E que eu nunca pensaria em ir pra cama com alguém como você! - retruco no mesmo tom, ficando cada vez mais surpresa pelas palavras que saem da minha boca. Eu nunca havia exposto meus sentimentos desta forma.
Ele junta suas coisas apressadamente e volta a me fitar com ódio em seus olhos castanhos e intensos que estão mais escuros do que o normal.
- Ótimo.
- Ótimo! - retruco.
- Ótimo! - ele exclama, se afastando imediatamente de mim enquanto coloca uma das alças da mochila sobre o ombro e saindo dali, me deixando sozinha.
Finalmente percebo o quão minha respiração está acelerada e meu coração está disparado. Me sento na cadeira outra vez e passo as mãos por meu rosto enquanto tento regular tudo o que estou sentindo.
Não consigo.
- Droga, Wolfhard!
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