36. Confie em mim
Não sei dizer quanto tempo se passou até conseguir normalizar minha respiração e levantar meu rosto que descansava na curva de seu pescoço. Saí de seu colo e o cacheado retirou a camisinha antes de se levantar.
— Vou tomar um banho. — assenti. Ele pareceu esperar uma resposta, contudo não disse mais nada. — Quer vir comigo?
Por um segundo, fiquei sem resposta.
— E-eu tomo banho em casa. — falei.
— Qual o problema? — perguntou, achando graça da minha reação.
— Sei lá... apenas não quero. — sei que ele já havia me visto nua outras vezes. Mas tomar banho juntos... parecia íntimo demais. Mas preferi não lhe dizer que pensava assim.
— É vergonha? — ele debochou.
Ao invés de me irritar com sua insistência, resolvi entrar na brincadeira e fechei a cara.
— Não.
Ele ri e vai até seu armário para pegar uma toalha. Com um sorriso, o observei enrolar sua cintura para baixo na toalha e sair do quarto.
Peguei minhas roupas do chão e comecei a me vestir, aproveitando para deixar as de Finn sobre a cama. Amarrei minha blusa de lã na cintura, ficando apenas com minha camiseta amarela masculina, que não tinha estampa. Ao terminar, fiquei deitada olhando o teto até Finn retornar ao quarto.
Ele procurava uma roupa no guarda-roupa enquanto bagunçava o cabelo úmido na toalha. Era estranho vê-lo sem o volume dos cachos, porém não deixava de ficar atraente.
Finn vestiu uma calça de moletom branca e fechou a porta do guarda-roupa, indicando que ficaria daquele jeito. Ele se aproximou da cama e esticou o braço para pegar sua roupa, para colocá-la para lavar enquanto eu o observava em silêncio.
— Vista uma camisa ou não respondo por mim. — falei. Não me pergunte de onde tirei coragem, porque eu também não sei.
Ele sorriu de lado e balançou a cabeça:
— Não.
Ele pegou a roupa sobre a cama, deixando a carteira, o celular e saiu. Após deixar a toalha novamente no banheiro, colocou algo para assistirmos na Netflix. Deitei minha cabeça em seu peito enquanto assistíamos e Finn passou a fazer carinho ali. Após um tempinho, minhas pálpebras começaram a pesar. Entretanto, ele parou o cafuné quando ouvimos minha barriga roncar.
— Está com fome? — perguntou, pegando o celular para checar algo. Assenti. — São quatro horas, Megan deve estar preparando algo.
Sussurrei um ok e ele voltou com o cafuné, contudo a fome afastou meu sono e consegui prestar mais atenção no filme. Porém, as partes que eu havia perdido pareceram importantes, pois já não conseguia entender nada e o filme ficou chato.
Uma ideia me surgiu e, apesar de sentir um pouco de vergonha, decidi seguir em frente. Inclinei minha cabeça um pouco mais para o lado e virei meu corpo de forma discreta. O corpo de Finn se enjireceu no instante em que comecei a beijar seu pescoço, descendo rapidamente para seu peito.
(N/A: NÃO ESTOU TE RECONHECENDO, MILLS :o)
— Millie — Finn me chamou e há certo tom de surpresa em sua voz, apesar de ter soado mais como um gemido.
— Eu falei para você colocar a camisa. — falei sarcasticamente, interrompendo o que estava fazendo.
Ele inclinou a cabeça para trás, entregando-se à sensação, enquanto descia ainda mais meus lábios.
— Garota, assim você vai me enlouquecer. — murmurou.
E então interrompi os beijos subitamente, fazendo o cacheado levantar o rosto com a testa franzida.
— Bom, deixa eu ir lá então. — falei, referindo-me à cozinha, inclinando-me para beijar seus lábios antes de tentar me levantar.
— O quê? Até parece. — ele enlaçou minha cintura, impedindo-me de sair da cama. — Sabe qual é o nome do que você acabou de fazer, Brown? Sacanagem.
— É sério, Finnie. Estou com fome. — falei, rindo.
— Fica aqui, Megan trará algo daqui a pouco. — choramingou, espalhando beijos molhados por todo meu pescoço, em uma clara tentativa de me manter entre seus braços.
— Para, Finn. — pedi com mais um riso. — Deixe-me ir lá pegar, Megan deve ter um monte de coisas para fazer. — afirmei, conseguindo fazê-lo parar.
— Ok... — suspirou.
Me levantei e saí do quarto. Enquanto descia até o primeiro andar, fiz um coque frouxo em meu cabelo, reparando que logo seria dia de lavá-lo.
Já na sala, pude sentir aquele cheirinho divino de bolo. Adentrei a cozinha sentindo meu estômago reclamar outra vez de fome.
Encontrei Megan em frente ao forno aberto, retirando o bolo com luvas térmicas para colocá-lo cuidadosamente sobre a mesa, enquanto cantarolava baixinho uma música que não pude reconhecer. Ela tem um ar caseiro e espontâneo. Abri um sorriso olhando para ela, era possível ver claramente que gostava de seu trabalho. De certa forma, se assemelhava muito com minha mãe.
Assim que me viu, abriu um sorriso gentil.
— Aí está você. Já ia levar a bandeja até lá em cima para vocês. — disse, partindo dois pedaços médios do coffe cake, um tipo de bolo simples com uma leve calda em cima, para colocá-los cada um sobre dois pratinhos.
Geralmente o consumimos com café. O bolo é tipicamente um pão de ló aromatizado com café, normalmente cozido em forma circular com duas camadas separadas por cobertura de manteiga de café, que também cobre a parte superior do bolo.
Em seguida, ela os deixou sobre a bandeja, onde já estavam meus waffles recheados de chocolate e mm's e um outro prato com um pedaço de pizza, que julguei ser para o Finn, e duas xícaras médias de café. Aquela visão já estava fazendo minha barriga doer.
— Por favor, não se incomode. Estou certa de que a senhora deve ter outras coisas para fazer. — falei com gentileza.
Megan sorriu agradecida, provando de que eu estava com razão e esticou suas mãos sobre a mesa e, um pouco confusa, lhe entreguei as minhas.
— É uma menina maravilhosa, Millie, agradeço por tudo o que está fazendo pelo Finn. — disse e eu apenas pude sorrir, compreendendo o sentido de suas palavras, apesar de sentir certa necessidade de lhe afirmar que não estava fazendo nada demais. Contudo, eu tinha de admitir para eu mesma que não era verdade, apesar de ser de coração.
— Obrigada. — foi o que lhe respondi, por ainda estar sem ter o que lhe dizer.
Megan então soltou minhas mãos e ajeitou rapidamente o avental amarelo em seu corpo, que combinava perfeitamente com seus cabelos dourados, presos em um coque tão perfeito que eu não era capaz de encontrar um fio fora do lugar.
— Bem — começou ela, parecendo tentar se recompor. —, então leve para cima, que irei...
Ela não teve tempo de comentar o que iria fazer, pois enquanto eu me inclinava para pegar a bandeja sobre a mesa, outro funcionário com os olhos arregalados de medo adentrou a cozinha com um tom de voz nervoso e urgente:
— Megan, Megan! O Sr. Wolfhard acaba de chegar. Ele quer que você prepare seu banho imediatamente. — afirmou o homem, o suor escorrendo pela testa.
Poderia imaginar-me perfeitamente ficando branca. Encarando o homem praticamente amedrontado com o próprio patrão, tudo que minha mente pode gritar para mim foi: Finn.
— Aonde o Sr. Wolfhard está neste momento? — perguntei apressada, vendo o homem se virar para se retirar para voltar a seu trabalho.
— Não faço ideia, senhorita. — respondeu, sem me desarmar. — Provavelmente ao quarto do filho, para avisá-lo que chegou mais cedo. — completou antes de deixar o cômodo.
Arregalei os olhos e fitei Megan ao mesmo tempo em que ela me olhou. Seus olhos imploravam calma, contudo, tudo o que pude fazer fora largar a bandeja de café da tarde tão bem preparada por ela e voltar ao quarto de Finn correndo.
Quão frio, amedrontador e cruel alguém consegue ser para tratar tão mal o próprio filho e botar medo em seus próprios empregados? Quão sem compaixão Eric Wolfhard é? Era o que eu me perguntava enquanto corria de volta ao último andar.
Assim que estava a dois metros de distância da porta de Finn entreaberta, passei a caminhar para recuperar o fôlego. Entretanto, quando ouvi a voz do Sr. Wolfhard, parei abruptamente.
— Você só me dá desgosto, sabia disso, Finn? — disse, em um tom de voz alterado e furioso. Pude perceber pelo modo meio enrolado que suas palavras saiam que estava bêbado. — Tudo o que você sabe fazer é ficar fora o dia INTEIRO e ficar deitado assim que retorna para casa! Não presta nem para me ajudar com os negócios da empresa!
— E pra quê é que você quer que eu te ajude?! Para continuarmos fingindo que somos uma família feliz? Para manter sua imagem de bom homem? — berrou Finn, com o tom sarcástico e cheio de ressentimento, contudo trêmulo e a imagem dele com lágrimas molhando seu rosto me veio à mente. — Não é apenas com isso que você se importa?! — acusou. Em seguida, houve um som de um tropeço, provavelmente vindo de seu pai. — Céus, olhe seu estado! — imaginei o Wolfhard mais velho se apoiar em algo, pois Finn retorna às suas acusações: — Tudo o que você sabe fazer é sentar essa sua bunda na cadeira de seu escritório até tarde da noite para chegar em casa e culpar o garoto que deveria ter morrido no lugar dela.
— Não a mencione, Finn! — bradou seu pai. — Não ouse! Não tem este direito! — e tudo o que ouço em seguida é o som da minha própria respiração e me perguntei se os empregados da casa também estão conseguindo ouvir a discussão dos dois. A casa pde ser enorme, mas o tom de suas vozes... e pela primeira vez entendo porque ninguém consegue impedir o Sr. Wolfhard de atacar o filho verbalmente. Apenas seu tom é de se deixar qualquer um intimidado. — Marcos me avisou que trouxe mais uma de suas garotas pra cá. — minhas sombrancelhas se arquearam em surpresa. Ele estava mais calmo agora, entretanto fiquei com medo do que viria a dizer em seguida. — Quantas vezes tenho que repetir, seu merdinha? Que não é para trazer suas vadias, vagabundas até aqui! — afirmou em um suspiro cansado, como se estivesse repetindo aquilo pela milionésima vez.
— Não ouse chamar Millie assim! — gritou Finn, o tom trêmulo havia desaparecido completamente. — Não ouse sequer se referir a uma mulher assim, Eric!
— Ora, olhe só, parece que estamos progredindo, ham? Temos nomes agora. — disse seu pai com ironia, sem se surpreender por Finn tê-lo chamado pelo nome. — Hoje está levantando a voz comigo por causa de uma garota. Amanhã me pedirá para comprar seu terno e ir à empresa comigo?
Foi quando entrei. Minha vontade fora empurrar a porta com violência para fazê-lo parar de falar. Porém o flashback de seu teatrinho de bom pai quando havia me visto pela primeira vez me veio como salvação e eu resolvi me agarrar àquilo. Eric Wolfhard era um mentiroso. Um bom ator. Apostaria se pudesse que iria interromper suas palavras de ódio assim que me visse.
Abri a porta com toda a delicadeza que pude juntar em meu ser. Minhas mãos tremiam e eu ainda buscava controlar minha respiração e manter as batidas de meu coração regulares. Parecia mais uma missão impossível.
— Sr. Wolfhard? — a falsa surpresa em minha voz havia se mostrado um pouco clara, contudo ambos deviam ter ficado tão surpresos comigo que nem mesmo Finn devia ter percebido. — É bom vê-lo novamente. — falei, de forma amena ou talvez até mesmo fria enquanto Eric Wolfhard se virava.
— Olá. — ele respondeu, não parecia tão bêbado, contudo sua expressão meio perdida e vaga me causou certa vergonha alheia pelo homem por um segundo. — Espere, você é a amiga de Finn, correto? — ele pareceu lembrar do meu rosto.
— Exato. — assenti, tentando abrir um sorriso para o mesmo. Só tentando mesmo.
Encarei Finn prevendo ele estar novamente a ponto de retrucar a fala do pai, provavelmente um “sim, esta é a mesma garota que você chamou de vadia” ou algo perto disso mas quando viu meu pedido de silêncio em meus olhos, pareceu entender, pois voltou a baixar o olhar.
— Bem, e o que faz aqui? — perguntou com um sorriso tão parecido com o de Finn que, se eu não soubesse seu verdadeiro caráter — se é que ele tinha um — teria jurado que era totalmente sincero. — Veio estudar com ele?
— Sim, exatamente. — assenti de forma rápida demais.
— Bem, e onde está seu material? — obviamente que ele percebeu.
— Ali. — apontei para a parede perto da porta. — Estou indo para casa daqui a pouco. — informei, tentando encerrar o assunto para que ele finalmente saísse.
E o Wolfhard mais velho entendeu que era sua deixa.
— Bem, não vá muito tarde, Srta...?
— Brown. — respondi.
Ele assentiu.
— Foi um prazer conhecê-la. — disse indo até porta sem se virar ou dizer algo a mais para o filho.
Não respondi. Seria demais dizer que também havia sido um prazer conhecê-lo, porque estava extremamente longe disso. Contudo, ele não havia esperado sequer uma resposta minha.
Finn e eu não nos movemos quando seu pai havia, enfim, deixado o cômodo. Ambos ficamos ouvindo seus passos no corredor até se tornarem inaudíveis.
Encarei a expressão do cacheado com mais atenção do que antes. Seu rosto realmente indicava que ele havia derramado algumas lágrimas. Sua expressão assustada e seu corpo trêmulo foram como um forte golpe em meu peito. Ele tentou falar, contudo tudo o que saiu foi um engasgo rouco, partindo ainda mais meu coração.
Corri até o cacheado e o abracei com tanta força que se o estivesse machucando naquele momento, não perceberia. Tudo o que queria era tirar a sua dor. Não suportava vê-lo assim. Destruído. Humilhado.
— Que tipo de monstro é Eric Wolfhard? — deixei o pensamento escapar por entre meus lábios em um sussurro enfurecido.
Raiva. Eu estava com tanta raiva que poderia até chorar. Sentia aquilo como nunca antes em minha vida. Um sentimento que sempre busquei evitar, agora me consumia por completo.
E então foi quando o cacheado pareceu notar que eu o estava abraçando, pois foi quando me enlaçou pela cintura com ambos o braços e inspirou fortemente. Como um agradecimento silencioso.
Sabia que ele estava chorando, porque sentia suas lágrimas molharem meu ombro coberto pela camiseta. Mas Finn não emitia nenhum som. Me perguntei quantas vezes ele havia chorado em silêncio.
— Você não pode ficar aqui. — afirmei, mais para mim do que pra ele.
— O quê? — murmurou, surpreso.
Desfiz o abraço para encará-lo. Finn estava com os olhos arregalados. Sua testa franzida.
— Você não pode passar a noite aqui. — repeti, olhando fundo nos seus olhos. E então estiquei a mão para secar suas lágrimas enquanto Finn me observava. Mesmo quando acabei continuei segurando seu rosto, com minhas sombrancelhas juntas, e Finn levantou a sua mão para segurar a minha.
Nos olhamos por um instante como se pudéssemos ler a mente um do outro.
Depois que me afastei, comecei a zanzar por seu quarto um pouco eufórica. Peguei sua mochila e, sem pedir permissão, a abri. Lhe perguntei se caberia algumas mudas de roupas ali, mas Finn não me respondeu. Acabei presumindo que sim, a julgar pelo espaço que havia dentro e o pouco material que ele levava dentro. Foi quando Finn pareceu se dar conta do que eu estava prestes a fazer.
— Espere. Espere, Mills. — ele pegou em meu braço e eu o encarei. — Está tudo bem. Eu...vou ficar bem. Trancarei a porta do quarto. Ficarei seguro. — garantiu.
Não lhe dei ouvidos.
— E o seu psicológico? Ficará seguro? — retruquei e ele pareceu ficar sem respostas para isso. — Finn, você tem que entender que seu pai é apenas uma pequena parte disso. Ele desencadeou o problema, mas agora você ficar longe dele não vai ser cem por cento eficaz. Isso não vai impedi-lo de não conseguir dormir.
— E então?
— Você vai dormir lá em casa. — fui mais clara. — Não vou deixar que ele te tire outra noite de sono.
— Mas e seus pais?
Eu não queria pensar naquilo. Papai teria que compreender, e para isso, eu teria que explicar.
— Não dá pra avisar, meu celular ficou em casa. Me ajuda a fazer sua mochila. — pedi.
— Mills, eles vão sacar que esteve aqui. — insistiu.
Suspirei e peguei seu rosto nas mãos.
— Não. Importa. — falei. Tudo o que me importava naquele momento era ele, não me preocuparia ali com o que meu pai diria quando percebesse que havíamos inflingido suas regras.
Ele acabou assentindo. Finn abriu o armário e passou a me entregar as mudas de roupa para que eu tentasse colocá-las dentro da mochila de um modo para que coubesse tudo. Colocamos uma roupa para a escola no dia seguinte, meias e confesso que fiquei vermelha quando Finn me passou duas cuecas boxers de propósito, ao invés de guardá-las ele mesmo. Ele foi ao banheiro pegar sua escova de dente e o convenci a não levar toalha para não ocupar o pouco espaço que sobrava. Quando foi a vez do pijama, ele afirmou que dormia apenas de boxer, Provavelmente para que eu ruborizasse de novo, mas o convenci a colocar ao menos uma outra calça de moletom.
Já que ainda estava limpa, guardamos a que ele usava e Finn colocou outra roupa, facilitando para que não precisássemos ocupar mais espaço com seu all star e a jaqueta.
Aproveitando que estávamos em sua casa, pedi para que pegasse seus documentos também, para que eu pudesse marcar sua consulta no dia seguinte. Ele claramente hesitou, mas não se negou.
Quando saímos de seu quarto, a porta do cômodo, que julguei ser o banheiro estava fechada, o que me fez supor que o Wolfhard mais velho ainda estava lá e puxei Finn pela mão para que ele se apreçasse. Não tinha certeza se seu pai reagiria mal ou por por ele ter ido dormir em outro lugar sem avisar, mas por via das dúvidas o ideal era sairmos sem ele perceber.
Mas antes, o puxei até a cozinha. Fiz bem, pois Megan ainda estava parada no mesmo lugar, provavelmente aguardando para saber se Finn estava bem.
Ela sabe ser uma mãe melhor do que o Sr. Wolfhard, pensei. Além do mais, foi o mais próximo que Finn conseguiu ter.
Megan nos olhou buscando uma resposta para nossas expressões ansiosas, até que pareceu entender quando notou a mochila nas costas de Finn.
— Esperem um pouco, vou guardar isso para vocês levarem. — disse ela, referindo-se à deliciosa bandeja de café da tarde que havia preparado.
Quase falei que não precisava por estarmos com pressa mas além do fato de que meu estômago havia voltado a roncar, Megan havia tido todo esse trabalho. Não seria legal recusar.
Após ela colocar o waffle, a pizza e os dois pedaços de bolo em três Tupperwares, os enfiou em uma sacola e me entregou.
Finn e eu sibilamos um obrigado e saímos. Percebi que o porteiro era o homem que havia entrado todo assustado na cozinha. Quando ele nos viu saindo pela porta, informou Finn que teria que avisar seu pai. Fiquei nervosa, mas o Wolfhard mais novo parecia tão calmo e frio, lhe respondendo para dizer ao pai simplesmente que voltaria de manhã e que ele não precisaria se preocupar, obviamente com certa ironia.
— Agora é rezar para seu pai não me atacar com o rifle dele. — brincou ele, enquanto andávamos pela na rua com mansões, uma mais chique do que a outra, enquanto eu pegava meu pedaço de bolo.
Acabei comendo na rua, enquanto Finn havia deixado seu pedaço de pizza intacta dentro da sacola, comendo apenas o coffe cake. Com o vento, que indicava que esfriaria mais hoje à noite, os cabelos de Finn secaram e enrolaram novamente, ficando do jeito que estava acostumada.
Não me surpreendi quando encontramos minha casa ainda vazia, daqui uma hora meus pais chegariam. Deixei Finn comendo sua pizza na cozinha e subi para deixar nossas mochilas em meu quarto e também aproveitar para tomar um banho.
Também aproveitei para desconectar meu celular do carregador, que havia atingido cem por cento de bateria fazia tempo.
Minha casa não é tão quente quanto a de Finn, então peguei uma calça, uma camiseta branca sem estampa e uma jaqueta que costumo usar em casa, vou para o banheiro, depois de deixar meus óculos no quarto.
Apesar da água quente, conseguir relaxar meus músculos, não interfere em nada mentalmente. Comecei a ficar nervosa com a reação dos meus pais. Droga, por que meu celular tinha que descarregar logo hoje?
Tinha certeza de que eles não negariam se eu tivesse pedido permissão, mas o que mais poderia ter feito? Deixá-lo lá?
Acabei lavando meu cabelo, como uma desculpa para ficar mais tempo debaixo do chuveiro. Depois de ficar um tempo me martilizando, desliguei a água e estiquei o braço para pegar a toalha.
Sequei um pouco meus cabelos, que agora cheiravam a morango e estavam mais macios. Voltei ao quarto enrolada na toalha, tendo certeza de que Finn ainda estaria na cozinha ou na sala.
Contudo, parei ao encontrar o cacheado deitado na minha cama, olhando para a parede lilás com uma expressão tediosa.
— Pensei que estivesse lá embaixo. — falei, por algum motivo sentindo-me um pouco tímida e cogitei pegar minhas roupas para voltar ao banheiro e me trocar lá.
— Você demorou. — respondeu ele, abrindo um sorriso de canto.
— Ok... será que dá pra se virar? — perguntei com um sorriso, como se lhe pedisse “não me provoque agora, por favor”.
— Não. — negou.
— Finn. — fechei a cara, querendo mostrar à ele que estava falando sério.
— Você tem vergonha de se vestir na minha frente, mas não de me provocar, não é? — soltei um riso surpreso, por Finn estar se vingando pela minha brincadeira em seu quarto, porque sabia como ainda ficava constrangida com sua presença.
Busquei por uma saída rápida e olhei para as minhas roupas sobre a cama.
— Então não vai se virar?
Ele balançou a cabeça. Sem escolha, descobri meu corpo da toalha para jogá-la em sua direção. A mesma caiu em seu rosto e quando Finn resmungando a retirou do caminho, eu já havia vestido minha camiseta às pressas, que cobria até a metade das minhas coxas.
— Esqueça, acho que não precisa mais. — eu disse com um riso.
O cacheado balançou a cabeça achando um pouco de graça também. Vesti o restante das roupas sem dar atenção para o mesmo que ainda me observava.
— Vamos descer. — falei, enquanto recolocava meus óculos.
Finn assentiu e se levantou.
— Você fica diferente sem eles. — comentou.
— Diferente como? — perguntei.
— Sei lá. Só diferente. Mas fica melhor com eles. — declarou.
Sorri para o mesmo.
Após descermos, entrei na Netflix enquanto Finn retirava os tênis para poder deitar no sofá, descansando a cabeça sobre minhas coxas.
— Eu tenho um namorado folgado... — suspirei de brincadeira, enquanto procurava por algo interessante na minha lista.
— Porém gostoso. — ele sorri provocativo pra mim.
Revirei os olhos, sem conseguir deixar de retribuir o sorriso.
— E convencido! — afirmei, rindo enquanto bagunçava seus cabelos.
— Você não negou que sou gostoso. — observou.
— Shhh. — tampei com a outra mão, enquanto colocava Como Eu Era Antes de Você.
— Que filme você colocou? — perguntou, afastando minha mão.
— Drama. — respondi.
Ele me olhou estreitando os olhos, as sombrancelhas juntas.
— Ah, não, Mills. Não gosto de te ver chorar. — ele tocou meu rosto e não consegui não me derreter por seu gesto.
— Já vi esse filme, não vou chorar. — afirmei.
— Até parece. — ele não acreditou.
— Shhh.
— Um dos dois vai morrer de novo, certeza. — dei um tapinha em seu ombro, para que ele ficasse quieto.
Ele até que ficou quieto durante algum tempo e riu algumas vezes das falas do Will enquanto eu alternava entre olhar para a TV e para o cacheado enquanto mexia distraidamente em seu cabelo. Adorava fazer isso.
— Isso que eu chamo de corno manso. — diz ele, se referindo ao Patrick que observava a Luíza limpar a boca do Will, arrancando risos de mim.
— Para, Finn.
Quando Will diz pra Louisa que não mudou de ideia sobre a eutanásia, eu acabei chorando junto com ela. Finn percebeu e suspirou, limpando meu rosto.
— Ele tá certo, né? Quer dizer, não tem como ele comer ela nem nada... — acho que ele tentou me confortar, ao seu modo.
— Meu Deus, Finn. — mas acabei rindo um pouco, apesar de não me surpreender muito dessa vez.
Nos últimos dez minutos, Finn arrastou seu corpo para trás, sentando-se no braço do sofá, deixando as pernas esticadas e a cabeça apoiada em meu ombro. Ele fazia carinho em meu cabelo enquanto eu chorava mais ao ouvir a Louisa lendo a carta.
— E então, o que achou desse? — perguntei, enquanto secava meu rosto com a mão e procurava outro filme para ver com o controle.
— Vai me achar cruel se eu for sincero. — avisou.
— Pode falar. — insisti, e o encarei.
— Bom, de certo modo gostei do final, quero dizer, não é como esses filmes clichês onde ela provavelmente iria fazê-lo mudar de ideia e eles viveriam ‘felizes pra sempre’. — ele revirou os olhos. — Além do mais, ele estava infeliz, não tinha como mudar de ideia.
— Diga o que quiser, ainda acho que ele poderia ter escolhido viver e ficar com ela. — afirmei, apesar de ser um pensamento um pouco ingênuo.
Acabei deixando o cacheado escolher o próximo filme e lhe entreguei o controle.
Finn escolheu um filme de ação, mas eu acabei cedendo. Ri de seu entusiasmo e prestei atenção enquanto ele me explicava algumas coisas que eu não entendia. Continuou falando vez ou outra durante o filme, me fazendo rir.
Faltando pouco para o filme terminar, Finn já havia se sentado ao meu lado e recolocado os tênis. Percebi pela janela que o céu já estava totalmente escuro lá fora e julguei que poderiam ser cerca de sete ou oito horas quando ouvi o trinco da porta. Foi bem rápido e Finn olhou para a mesma direção que eu, apesar de aparentar mais tranquilidade.
— Oi querida, pode me ajudar com o jantar...? — a fala de minha mãe fora interrompida quando ela percebeu a presença de Finn. — Finn? Aqui tão...tarde? — perguntou, enquanto eu começava a sentir o frio que estava do lado de fora.
— Pois é, eu...
— Onde está o papai? — o cortei.
Mamãe hesitou de novo.
— Está trancando o carro.
Foi quando notei as sacolas em suas mãos.
— Fizeram mercado de novo?
— Pois é, acabamos esquecendo algumas coisas da outra vez. — Em seguida, se virou para o cacheado. — Ficará para o jantar, Finn?
Não sei se fiquei aliviada por ele não ter tido tempo de responder, pois papai entrou em casa com o restante das compras que haviam ficado no carro.
— Parece que está ainda mais frio do que de manhã... — comentou enquanto fechava a porta novamente.
Quando se virou e viu Finn, ficou travado por um instante e eu sabia que estava avaliando a situação em que se encontrava. Por fim, cumprimentou o cacheado sem demonstrar alguma emoção:
— Finn.
— David. — Finn, por outro lado, sorriu de lado e assentiu com a cabeça como cumprimento.
Meus pais seguiram para a cozinha, guardar as compras e eu tomei aquilo como minha deixa.
— Espere aqui. — murmurei para ele e me levantei para segui-los.
Mamãe retirava as compras das sacolas do supermercado enquanto meu pai se sentava à mesa. Respirei fundo e me aproximei.
— É... gente, o Finn dormirá aqui esta noite. — comuniquei em um tom baixinho.
Papai fechou a cara, fazendo uma expressão que eu provavelmente riria se o clima não estivesse tenso, e mamãe logo tentou intervir:
— Querida, não seria melhor se você tivesse nos avisado antes?
— Desculpa, eu realmente teria feito isso, mas meu celular havia descarregado. — ela assentiu levemente e prossegui, sem saber direito como explicar o motivo: — Pai, o Finn tem... crises de ansiedade, talvez até de pânico, realmente não sei dizer. Ele está sem dormir direito a três dias e...
Ele me olhou sério, e percebi que havia ficado preocupado.
— Isso é algo sério. Sabe o motivo?
— Ahn... — ai, meu Deus. — bom, ele tem algumas brigas com o pai que são um pouco frequentes e... é meio difícil de explicar.
Eu provavelmente não estava sendo nem um pouco convincente, mas sabia que ele não diria a Finn para ir embora.
Ele suspirou.
— O pai dele sabe que ele está aqui? — hesitei, mas assenti. — Está bem. Mas ele dormirá na sala.
Eu provavelmente deveria me contentar por papai ter deixado Finn ficar, mas ainda havia um problema:
— Pai, lembra do Gilbert? — perguntei, referindo-me ao seu sobrinho e meu primo, que havia tido crises de ansiedade quando. — Ele não podia dormir sozinho porque não conseguia dormir de noite, apenas quando passou a tomar remédios. — papai assentiu, atento à minha explicação: — Se Finn não consegue dormir de noite por estar sozinho no quarto, então, que diferença faz ele estar dormindo em sua casa ou na nossa sala?
Ele suspirou novamente, compreendendo o ponto onde iria chegar. Mas parecia tentar encontrar qualquer outra alternativa além da óbvia.
— E o que sugere?
Prendi a respiração.
— Queelevaiterquedormircomigo... — murmurei, minha voz havia saído tão baixa que eu mesma quase não escutei.
— O quê?
— Queelevaiterquedormircomigo... — repeti, aumentando um pouco meu tom.
— O quê? — ele estreitou os olhos.
— Que ele vai ter que dormir comigo. — falei mais claramente, talvez até alto demais.
— Ai, meu Deus. — ele praticamente berrou. Merda, papai havia ficado zangado. — Francamente, aqui não é a casa da mãe en...
— David. — sussurrou mamãe.
Eles pareceram trocar olhares como se estivessem literalmente se comunicando e então meu pai desviou os olhos, bufando.
— Mas que droga, tá bom... — quase que não pude ouvir sua resposta, mas não precisei pedir para repetir, principalmente por talvez ocorrê-lo mudar de ideia.
— Ai, obrigado pai. — falei, o olhando imensamente agradecida.
Ele assentiu de novo e depois de toda aquela tensão, subiu para tirar o uniforme e tomar um banho. Passei então a ajudar mamãe com o jantar. Hoje teríamos frango frito com batata frita. Finn chegou a vir até a cozinha para oferecer ajuda, mas ela disse que não era necessário, sussurrando para mim que era para ele e meu pai se entenderem na sala, quando Finn já estava longe para ouvir.
Quando a comida já estava pronta, os chamei para podermos comer. Um pouco surpreendentemente, Finn e papai entraram na cozinha sorrindo, conversavam outra vez sobre bandas de rock. Devo confessar que ainda era um pouco difícil de imaginar que meu pai já havia tocado em uma.
O jantar foi até tranquilo. Eles ficaram conversando e mamãe e eu acrescentávamos algum comentário em algum momento. O clima estava mais tranquilo.
Estava imensamente aliviada agora que no final havia ficado tudo bem.
Após o jantar, Finn insistiu em lavar a louça e eu fiquei também para ajudar. Meus pais então se retiraram para assistir à novela.
— Ele gosta mesmo de você... — comentei, com um sorriso enquanto Finn ensaboava um prato e o colocava embaixo da torneira aberta, em seguida.
— É. — ele me entregou o prato e fechou a torneira, aproximando seu rosto do meu para falar em um tom mais baixo enquanto eu o secava. — Ele até me perguntou sobre as brigas com o meu pai. Disse se eu quisesse que ele intervisse... você sabe, como policial...
— Tipo... Investigá-lo? — murmurei de volta, atenta às suas palavras.
— É. — confirmou, lavando agora os talheres.
Me afastei para guardar o prato enquanto absorvia o que ele havia acabado de me dizer. Se meu pai conseguisse comprovar o que Finn passava com o dele, não precisaria mais morar com o mesmo. Não passaria pelo o que estava passando nunca mais.
— E o que você respondeu? — perguntei retoricamente, voltando a me aproximar.
Porém, Finn suspirou e me olhou com um ar triste.
— Disse que não queria. — estreitei os olhos, surpresa. Ele fechou a torneira de novo, para poder me olhar nos olhos. — Disse que...as crises são mais relacionadas com a morte da minha mãe do que com ele. E que... nossas brigas não são sérias realmente. — concluiu, baixinho.
— Por que fez isso, Finn? — questionei, tentando manter o mesmo tom que o dele. — Nós dois sabemos que não é verdade.
— Eu sei. Fiz isso porque sei que será uma perda de tempo. Meu pai nunca deixará seu nome ser sujado por minha causa. Comprará qualquer um que fosse para abafar isso.
— Podíamos ao menos tentar! — insisti, ficando um pouco emotiva. Finn tinha a chance de se ver livre disso e mesmo assim se recusava a fazer alguma coisa?
— Não. — ele secou as mãos no pano de prato que deixara sobre o ombro. Em seguida, se virou para mim, agarrando meus ombros de leve. — Confie em mim. O melhor a fazer é esperar que eu complete dezoito anos. E então serei legalmente maior de idade e poderei sair de casa.
Mordi meu lábio.
— Confie em mim, Mills. — ai, que golpe baixo.
Suspirei.
— Está bem.
Depois que terminamos de guardar toda a louça, subimos para o meu quarto. Papai tentou intervir, mas mamãe o conteve, dizendo que não havia nada demais.
— Querida, aproveite e ajude Finn a arrumar o colchão pra ele. — pediu ela, e então papai finalmente pareceu se acalmar.
Assenti e puxei Finn para cima pela mão.
— Confesso que estou surpreso pelo David ter deixado... — comentou o cacheado com um sorriso, enquanto colocávamos um lençol no colchão ao lado da minha cama.
Eu sorri também.
— É, minha mãe consegue fazê-lo ceder às vezes. Eles literalmente parecem se comunicar apenas com olhares. — respondi, me levantando para pegar dois cobertores quentes, que havia separado para ele, sobre a minha cama.
— Acho que é normal depois de muito tempo casados. — supôs, me ajudando a desdobrar um e colocá-lo sobre o colchão. Já havia deixado um travesseiro para ele então sua ‘cama’ já estava pronta. Nos sentamos sobre o colchão em silêncio e então Finn pegou em minha mão subitamente. — Obrigada por estar fazendo tudo isso. — sussurrou.
— De nada. — respondi.
Ele segurou o meu rosto delicadamente e me beijou com ternura.
Mais tarde, o deixei mexendo no celular enquanto navegava na internet no computador. Mamãe veio nos dar boa noite e pediu para que não ficássemos acordados até tarde. Quando havia dado dez horas, desliguei o PC e peguei um pijama de frio no armário, basicamente uma calça e uma camisa xadrez branca e vermelha que combinavam.
Avisei Finn que iria colocar o pijama e saí para me trocar no banheiro e aproveitar para escovar os dentes.
Quando terminei, abri a porta do banheiro e dei de cara com papai. Geralmente ele era o último a ir dormir, apesar de ter que estar na delegacia cedo, não parecia ligar muito para isso.
— Boa noite, garota. — diz com um sorriso mínimo nos lábios.
— Boa noite, pai.
Ele pediu para eu dar boa noite ao Finn por ele, mas isso simplesmente fugiu da minha cabeça quando retornei ao quarto.
— Finn, a calça. — falei, encarando o cacheado apenas de cueca boxer, tentando não ficar vermelha.
— Ah, não, Mills. Eu falei que durmo assim. — ele respondeu, enfiando suas roupas de qualquer jeito dentro da bolsa.
— Deixa de ser teimoso. — falei, indo até o mesmo para pegar a mochila de suas mãos. — E não soca suas roupas aqui dentro assim, vão amassar. — o repreendi.
— Gostei do pijama. — ele ri, mudando de assunto.
Retirei as roupas que o cacheado havia enfiado de qualquer jeito e as dobrei, deixando ambas em cima da cadeira do computador. Depois peguei a calça dele e ergui minha mão.
Resmungando, ele a pegou e a vestiu.
— Satisfeita?
— Uhum. — assenti. — Bora dormir? — perguntei, pegando meu celular sobre o criado-mudo e o colocando para carregar ao lado da cama.
— Tem ideia de que horas são? — ele questionou em um resmungo. — Está cedo demais, Mills.
— Bom, amanhã vamos acordar seis horas, então... — respondi.
— Seis? — ele estreitou os olhos. — Por que você acorda tão cedo?
Revirei os olhos.
— Você que deve acordar muito tarde. — rebati.
Enquanto o mesmo pegou a escova de dente e foi para o banheiro, eu desamarrei meu cabelo e retirei os óculos.
Bocejei um pouco e me enfiei debaixo dos meus cobertores, estremessendo um pouco por eles ainda estarem frios.
— Pode apagar? — Finn perguntou assim que voltou ao quarto, referindo-se à luz.
— Pode. — murmurei, assentindo.
Um clique soou pelo quarto e pude apenas ouvir os passos do cacheado se aproximando do colchão e ele se deitando.
— Boa noite.
— Boa noite. — respondi.
Sinceramente eu não sei quantos minutos se passaram mas a questão era que não conseguia pregar os olhos. Talvez por saber que Finn estava dormindo comigo no mesmo quarto, não sei. Me mexi algumas vezes na cama, caso o problema fosse a posição que estava não ser tão confortável mas não adiantou.
Foi quando me perguntei se ele também estava tendo o mesmo problema ou se já estava no décimo sono e o problema fosse simplesmente eu.
— Você está acordado?
— Deita aqui comigo.
Murmuramos ao mesmo tempo.
— Como você...? — perguntei, surpresa por ele saber que eu ainda estava acordada.
— Você não para de se mexer. Parecia que você estava dançando em cima da cama.
Minha primeira reação seria dar um tapa em seu ombro mas tudo o que pude fazer foi reprimir um riso envergonhado.
— Cala a boca. — cochichei.
— Vai deitar aqui ou não?
— Não. — neguei, mais por ele ter dito aquilo do que qualquer outra coisa. Apesar que realmente fiquei com vontade de deitar com Finn no colchão mas o orgulho não me permitiu admitir isso.
Contudo, me surpreendi pelo barulho de seus cobertores, indicando que ele havia se levantado. Em seguida, um puxão repentino nas minhas pernas fez com que eu abafasse um grito e senti Finn me levantar da cama.
Ficando de joelhos comigo em seus braços, ele apoiou um dos joelhos no colchão e me deitou suavemente de lado, bem perto da minha cama, e se acomodou também ao meu lado.
— Você é impossível. — cochichei com uma risadinha.
— E você gosta disso. — ele respondeu de volta e pude imaginar direitinho o sorriso atrevido em seu rosto escondido pelo escuro da noite.
Deitados de lado, de frente um para o outro, ele me puxou mais para perto e enlaçou minha cintura. Meu rosto próximo de seu pescoço, inalando seu perfume que também já estava em mim.
— Boa noite, Mills. — ele murmurou, beijando levemente minha testa. Abri um sorriso, apesar dele não poder vê-lo, sentindo um friozinho se instalar em minha barriga e caí no sono antes de lhe responder.
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