30. Um Equilíbrio
Subi de volta para o quarto, aliviada por estar novamente longe dele. Peguei o controle sobre a cama e desliguei a TV. Sentei-me na cadeira, em frente ao computador, permitindo que algumas lágrimas caíssem antes de enxugar meu rosto e decidir ligá-lo.
Por mais que quisesse saber onde Finn estava e com quem ou o porquê de ter arranjado briga e com quem, obriguei-me a deixá-lo por um tempo de lado. Mas, ainda assim, necessitava conversar com alguém. Porque não sabia mais como lidar com essa situação. Nem com ele.
Naquele momento, poderia contar apenas com a ajuda de uma pessoa. A pessoa que já havia me ajudado com Finn:
- Millie?! Que saudade!
- Nunca pensei que fosse escutar isso de você, Madison. - respondi de brincadeira, apesar de ser sincera.
Ela gargalhou. Somente seu costumeiro jeito todo alegre já me deixava um pouco melhor.
- Como você tá? - dei de ombros e ela pareceu notar algo. - Bobby Brown, onde é que estão as roupas que eu te dei?! Porque essas aí, eu conheço de anos!
Ai, Deus, que exagero...
Revirei os olhos, achando um pouco de graça de sua reação. Havia esquecido das roupas novas, guardadas no fundo do meu armário, que ela havia comprado pra mim.
- Maddie... - tentei ir direto ao assunto.
- Hmm, essa carinha não tá muito boa, o quê que foi? - ela arqueou a sobrancelha.
- Estou... ahn, oficialmente namorando com aquele garoto, lembra dele? - ela arregalou os olhos e me forcei a continuar, nervosa. - E agora acho que...a gente vai terminar.
Ela parou por um instante. Comecei a me perguntar se a ligação havia travado, contudo ela berrou:
- O quê?! E você só me diz isso agora, prima?! - ela sorriu maliciosamente. - Vocês já transaram? Porque pelo o que você me contou dele...
Roxa de vergonha, escondi o rosto com as mãos.
Talvez tivesse sido uma péssima ideia...
- Maddie, foco. - pedi, voltando a fitar o monitor.
- Ah, sim. Desculpe. Me diz o que aconteceu e depois você me atualiza.
E eu contei. Foi um alívio colocar para fora sem me preocupar em omitir os detalhes. A raiva me permitiu contar até mesmo sobre a mãe e o pai do cacheado.
- Sinceramente, prima, estou sem palavras... - ela riu em nervosismo, depois de ter ficado um bom tempo em silêncio. Após um longo momento, continuou: - Você o ama?
Mordi o lábio. Não entendi o que aquilo tinha a ver com tudo isso. Sim, eu o amava, já havia admitido para mim mesma. Mas dizer em voz alta...
- V-você quer falar de amor agora? - gaguejei.
Ela suspirou de susto e sorriu.
Droga, ela percebeu.
- Puta merda! Você o ama!
- Maddie... - suspirei.
- Tá bem, tá bem, já entendi. - nós rimos. -Bom, ele é um filho da puta! Desculpe, eu sei que a mãe dele morreu, mas, sinceramente, não há outra palavra! Ele é complicado, os amigos dele não suportam você...
- Poxa, valeu! - revirei os olhos.
- Calma que eu não terminei! - me cortou. - E, acima de tudo, está claro que esta não será a última briga de vocês. Vocês são extremamente diferentes, isso chega a ser normal, até certo ponto...
- Até certo ponto? - repeti.
- É! Além do mais, também não é por isso que você tem que ficar dando justificativa para as merdas dele!
- Entendi... o que eu faço agora? Porque, sinceramente...
Ela não me deixou terminar:
- Bom, pelo o que você me contou, você já deu um baita corretivo nele. Agora é só esperar. Se esse garoto tem realmente medo de perder você, acredito que ele voltará atrás. Millie, se você o ama, não desiste tão facilmente. Claro, também não estou dizendo para você ser trouxa. Encontre...um equilíbrio.
- Você acha...que ele pode mudar?
- Pelo o que você me disse, ele já está mudando. Mas acontece que ninguém muda do dia pra noite. Isso leva tempo. Veja o lado dele e aí vê o que você faz...
- Obrigada, Maddie. - sorri com gratidão.
- Disponha. Bom, voltando, cadê as roupas que eu te dei, moça?!
A frase "O mundo dá voltas" chega a ser bem ilária quando se vê acontecendo na prática. Finn havia me enviado oito mensagens, das quais obriguei-me a ignorar. Ele precisou de espaço ontem e agora eu precisava do meu.
Não consegui estudar, então passei a arrumar a casa ao som de One Direction. Maddison estava começando a me fazer gostar dessa banda. Aos poucos, mas estava.
De noite, resolvi passar o tempo na sala com meus pais, mesmo após o jantar. Longe do meu celular, porque sabia que mesmo que o desligasse, iria acabar ligando-o novamente uma hora ou outra.
Antes de dormir, resolvi ler um pouco. Depois de cinco páginas, obviamente que não consegui me conter e decidi religar o aparelho. Cinco chamadas perdidas. O coloquei para carregar e me deitei, abraçada com Lucky.
No dia seguinte, se pudesse continuar deitada em minha cama, eu realmente ficaria. Estava tensa e exausta pela noite maldormida. Me perguntava se Finn havia tido uma noite de sono melhor do que a minha.
Tomei uma xícara de café bem forte antes de sair de casa. E enquanto caminhava pra escola, passei a repensar nas palavras da minha prima. Finn e eu éramos incrivelmente diferentes e, ainda assim, nos amávamos. Bem, eu o amava. O cacheado mesmo havia me dito que não sabia o que era o amor. Contudo, ele havia mudado. Um pouco, mas havia.
Brigávamos a todo momento, na maior parte por bobagens, e não seria por uma que eu o deixaria.
Entrei na sala com uma vontade imensa de dar meia volta e voltar pra casa. Contudo, prendi as alças da minha mochila na cadeira, sentando-me em seguida. Percebi de relance alguém todo de preto sentar-se no lugar ao meu lado e logo já sabia que não era Noah.
- Você está maravilhosa hoje... - ele disse, com uma naturalidade irritante. Bufei em resposta, me recusando a encará-lo. Sabendo que eu não iria responder, ele continuou: - Não vai falar comigo mesmo?
Me arrependi de olhá-lo assim que o fiz. Em seus olhos haviam olheiras profundas, sinal de que ele havia sim tido uma noite igual à minha, se não pior. E, apesar de haver calma em seu tom, seu olhar cheio de dor acabou me desconsertando inteira.
- Não estou a fim de papo agora não... - retruquei sem emoção, voltando a olhar para frente, esperando ele se levantar. Contudo, Finn não o fez e eu continuei, surpreendendo-me com a dureza em minha própria voz: - Preciso de uma explicação para o que havia acontecido ontem, ou então chega.
Ele engoliu em seco, nervoso. O encarei, esperando, enquanto Finn bagunçava ainda mais o cabelo com as mãos.
- Você não vai entender. - afirmou, balançando a cabeça negativamente de modo frenético, convencido disso. - Vai ficar brava e questionar meu comportamento, sei que você vai. - ele disse.
- Então você espera que eu aceite esta situação assim, sem mais nem menos?! - ele baixou os olhos. - E eu já não vim tentando ser compreensiva desde o começo? Tenta pelo menos...
Finn não diz mais nada e eu desviei os olhos novamente, me recusando a continuar olhando para ele, porque se continuasse, sei que iria me desmanchar e perdoá-lo sem mais nem menos.
- Eu... e-eu não consigo dizer. - ele gaguejou. Estava tentando encontrar as palavras.
- Então acaba aqui. - menti, me sentindo culpada por estar forçando tanto a barra. - Sinto muito, mas você teve inúmeras chances, e ainda assim... - comecei a dizer.
- Não diz isso. - ele me interrompeu. -Você... prometeu. - Seu tom saiu raivoso, mas em seus olhos só conseguia enxergar dor. Odiei ele ter me cobrado a promessa que me fez fazer na chuva, um momento tão romântico que agora é lembrado por Finn com certa frieza.
- Finn, tenta. - pressionei.
- Diz que não vai me deixar. - ele pediu, mudando o rumo da conversa.
Me manter firme com ele já estava difícil o suficiente, com ele ficando abalado era quase impossível.
- Ahn... é-é o meu lugar. - interrompeu Noah, completamente desconcertado, parado seguramente de pé do meu lado.
- Caso não tenha notado...! - começou Finn, irritado, elevando seu tom de voz.
- Ah, claro, Noah. Finn já estava saindo! - o cortei, sorrindo para Noh.
Voltei meu olhar sério para ele, que me encarava com os olhos estreitos, indicando que aquele não era o momento ideal. Percebendo que não conseguiria mais nada de mim naquele momento, ele se levantou frustrado e saiu soltando um grunhido.
- Desculpe. - pediu Noh.
- Não se desculpe, você acaba de me salvar. - afirmei.
- Vocês vão terminar? - perguntou, sentando-se.
- Não, creio que não. - respondi.
Acabei por resolvendo levar um livro para ler no intervalo e Noah, como o bom amigo que era, entendeu, sabendo que eu precisava de espaço. Me isolei do outro lado do pátio, onde havia grama e algumas árvores. Havia alguns alunos ali, mas não eram muitos o suficiente para me desconcentrar de minha leitura.
Na quarta aula, tivemos aula vaga então me virei para Noh. Conversamos sobre um assunto ameno, sem tocar no nome do cacheado e isso acabou levantando um pouco mais meu astral.
Fizemos dupla nas duas últimas, que eram aulas de artes, do qual a atividade era pintarmos um desenho com tinta. A professora distribuiu aventais, para que não sujássemos nossas roupas. Decidimos então pintar o Sonic. Quando estávamos na metade, Noh decidiu simplesmente passar seu pincel coberto de tinta azul em minha bochecha, de brincadeira.
- Noah! - adverti, fazendo-o rir. Entrando na brincadeira, eu revidei, sujando o contorno de seu queixo até a testa de tinta vermelha.
E ele fez uma careta engraçada, me permitindo dar boas gargalhadas.
- Ok, vocês dois, por favor, parem. - fomos advertidos pela professora, que nos fitava com um olhar severo.
Obediente, me afastei de Noh, voltando ao que estava fazendo. Entretanto, ele mergulhou o pincel no potinho branco e passou discretamente na palma da minha mão. Logo, revidei com a cor que já usava para pintar o nariz do personagem para passar em seu braço. E voltamos a nos pintar novamente aos risos.
- Ei, ei! Parem. - nós obedecemos, fitando-a apreensivos, mas contendo o riso. Ela então bufou impaciente. - Faltam dez minutos para vocês serem dispensados, vão os dois se lavar. Quem mais estiver sujo de tinta igual essas duas criancinhas do ensino primário, pode ir.
Rumamos de boca fechada até a porta, e quando finalmente estamos do lado de fora, damos risada um do estado do outro. O braço direito de Noh está completando sujo de azul enquanto o meu completamente de vermelho. E há algumas manchas de tinta preta em nossos rostos.
Vamos até o pátio nos lavar. Estou terminando de esfregar meu braço quando ele me chamou:
- Me ajuda a lavar o rosto? - ri e assenti, esfregando seu queixo com as mãos. Depois de terminar, ele me ajudou a limpar a tinta de meu rosto que eu não havia conseguido tirar.
Por último, passei a esfregar as mãos e assim que terminei, Noah me chamou de novo:
- Millie - Assim que o fitei, ele jogou a água de seus dedos em meu rosto, pegando boa parte em meus óculos.
- Noah Schnapp! - exclamei, apesar de não sentir nenhum pingo de raiva. Fiz conchinha com as mãos, deixando debaixo da torneira e em seguida, revidei, jogando em sua roupa. Em resposta, ele soltou uma exclamação de surpresa, para logo em seguida reiniciar nossa guerra.
Retornamos para a sala com ambas nossas camisetas molhadas e a professora apenas nos repreendeu com o olhar antes de sair da sala.
- Acho que estamos encrencados... - comentou Noh, enquanto guardávamos nossas coisas.
Eu ri.
- Você acha é?
Coloquei minha mochila nas costas, seguindo-o para fora da sala novamente.
- Acho que nossa primeira boa impressão já era. - falei andando ao seu lado, apesar de, por incrível que pareça, não me importar como deveria.
Noh deu de ombros.
- A gente recupera no restante do ano. Você é a melhor aluna da sala. - elogiou.
- Você também. - falei com sinceridade.
Assim que passamos em frente ao corredor esquerdo, que dava para a biblioteca, eu parei no meio do caminho.
Noah percebeu e também parou, me encarando sem entender, até que ele se deu conta:
- Biblioteca? - perguntou ele.
- Preciso resolver as coisas... - respondi, hesitante.
- Ele está lá?
- Tenho quase certeza...
- Até amanhã então? - indagou, sorrindo fraco.
- Até. - assenti. - E... obrigada por hoje.
- Você fez o mesmo por mim. - respondeu, sorrindo.
Observei Noh seguir pelo corredor e então virei em outro, preparando-me para o que quer que fosse.
Entrei na biblioteca, flagrando o cacheado andando de um lado para o outro com impaciência e nervosismo aparentes. Assim que ele percebeu que não estava mais sozinho, entreabriu os lábios, surpreso, ficando sem reação por um momento. E, então, ele respirou fundo, parecendo bastante aliviado.
- Pensei que não viria. - disse, vindo até mim após ter passado o choque.
- Sinceramente, nem sei porquê estou aqui. - respondi.
- Eu...eu peço desculpas. - afirmou.
Ultimamente, isso era o que ele mais andava pedindo.
- Por quê? - exatamente?
- Porque eu fui um babaca outra vez. - ele respondeu.
- Foi mesmo. - afirmei. Suas sombrancelhas se uniram, em culpa. - Preciso de respostas. - lembrei, desviando os olhos dos dele.
- Eu sei. Eu vou te dar. - garantiu ele.
Finn me estendeu a mão, mas, ao invés de segurá-la, passei à sua frente, sentando-me na cadeira de uma das mesas. O cacheado suspirou e sentou-se ao meu lado, largando a mochila sobre a mesa.
- Bom - evitamos olhar um na cara do outro quando ele começou e então logo percebi que estava nervosa pelo o que viria. -, para começar, preciso que entenda que isso que vou te dizer, é algo que sempre acontece, está sempre se repetindo... - apesar de confusa, balancei a cabeça positivamente e Finn assentiu. - Okay, lá vai: ontem meu pai chegou em casa mais cedo do que o comum. Bêbado. Acho que teve um dia difícil no trabalho ou sei lá, e então, como sempre, a gente começou a se enfrentar. Eu havia praticamente acabado de chegar, só ia pegar o skate e iria te buscar. Mas sempre depois que a gente grita um com o outro, é como se iniciasse... um ciclo. A gente briga, eu me tranco no quarto, começo a beber, me remoendo de raiva, fico bêbado e aí acontece o que você sabe de noite. - as crises, pensei. - Não dormi a noite toda. Achei que se não atendesse suas ligações ficaria tudo bem... Se tivesse atendido, você teria vindo até aqui preocupada e eu não queria que me visse naquele estado outra vez. Eu estava desolado.
Levei alguns segundos até perceber que ele havia terminado. O encarei. Seus olhos imploravam perdão e Deus...como eu não o faria? Ele passou outra noite em claro! Tudo o que vem à minha mente é aquele momento em que o vejo em seu quarto pela primeira vez. Sentado no chão segurando a garrafa de vodka, suado e tremendo. Chorando. Pela morte da mãe...pela ausência e maus tratos do pai...
Sem mais nem menos enlacei seu pescoço, com lágrimas em meus olhos, sentindo meu coração apertado. Finn acabou soltando um suspiro de alívio e passou a acariciar meus cabelos. Quando finalmente o soltei, pisquei e as lágrimas caíram.
- Mills... Por favor, não chore. - ele pediu, limpando minhas lágrimas, preocupado. Não respondi nada. - Mills, por favor. - implorou, vendo mais outras caindo. - Eu prometo ir no psicólogo, se você parar.
Enxuguei meu rosto.
- Finnie, é o único jeito... Me promete que se comprometerá em frequentar o psicólogo, eu não quero vê-lo daquele jeito outra vez. - praticamente implorei.
Suspirei de satisfação assim que ele assentiu, me abraçando novamente.
- Desculpa por ter sumido. Fiquei... - ele pareceu procurar a palavra certa, contudo, seja lá qual fosse, ele acabou desistindo da fala. - enfim, precisava ficar sozinho...
- Por que faltou à aula? - Me ouvi perguntar.
- Megan logo sacou que passei outra noite em claro no dia seguinte, o mau humor do meu pai durante o café também entregou tudo. Quando ele saiu, ela me mandou subir, para recuperar o sono perdido...
Assenti com a cabeça.
- A Megan é um anjo. - afirmei. - Mas, por favor, não esconde mais nada de mim. Você me deixou mais preocupada do que se tivesse atendido minhas ligações e contasse o que estava acontecendo.
- Não vou fazer isso de novo... Eu juro... Vou te contar toda a verdade daqui em diante. - ele garantiu, parecendo culpado.
- Como assim "daqui em diante"? - estranhei a escolha do termo. - Tem mais alguma coisa, Finn?
- É forma de dizer, Mills. - garantiu. - Diz que não vai me abandonar... - ele murmurou.
- Não vou abandonar você, Finn. Não vou. - afirmei, olhando fixamente em seus olhos.
- Vem cá. - ele pegou minha mão de leve e eu me levantei. Finn acabou me puxando e eu sentei em seu colo, abraçando-o, enquanto ele acariciava meu cabelo, deitando a cabeça em meu peito.
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Ficou pequeno, gente, eu sei. MAS CALMA, que o próximo está recheado de momentos Fillie, confiem em mim <3
Irei postá-lo amanhã para recompensar vocês. ;)
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