3. Eu realmente não devia ter visto isso
- Deixe-me ver se entendi. Você terá que ajudar o Wolfhard nos estudos? - Noah pergunta incrédulo.
Balanço minha cabeça assentindo enquanto levo o garfo com o pedaço de frango até minha boca. Depois que termino de mastigar, respondo:
- Só espero que ele não me dê nenhuma dor de cabeça.
- Provavelmente vai. Eles não perdem oportunidade de mexer com a gente, desse jeito você não terá para onde fugir.
Eu concordo, e Noah continua:
- Mas porque você aceitou?
Tento achar as palavras certas para me explicar.
- Se o professor me pediu para ajudar apenas ele, provavelmente não era ideia vinda dele. Talvez os pais do Wolfhard tenham ido conversar sobre isso com ele, eu não sei. Eu fiz isso pensando no professor, por que ele me pediu. Entende?
Para a minha satisfação, Noah sorri.
- Sim, eu entendo. Mas... onde vocês vão estudar?
- Na biblioteca, aqui na escola mesmo. Logo depois da aula. Só terei que ligar para meus pais, avisando que chegarei mais tarde todos os dias a partir de agora.
Ele assente e escutamos o sinal, nos alertando que o intervalo havia acabado. Nos levantamos e voltamos para a sala.
As próximas três aulas até que passaram bem rápido, tento marcar na memória de estudar as duas matérias novas de química que eu não havia entendido totalmente enquanto junto minhas coisas e guardo tudo na mochila. Noah se levanta e se despede de mim para ir pra casa.
Enquanto todos os alunos saem apressadamente para ir pra casa, vou até o fundo da sala, especificamente até o Wolfhard.
Ele joga os cadernos de qualquer jeito dentro da mochila preta e a joga sobre um de seus ombros.
Quando ele me vê, seu olhar torna-se gelado como em todas as vezes em que alguém se aproxima do mesmo de uma forma e razão que eu não consigo compreender.
- O que você quer? - ele pergunta.
O fito confusa. Ele sabe porque estou em sua frente agora. Ou será que esqueceu?
- Combinamos de eu te ajudar a estudar, certo? - pergunto.
Ele solta um riso debochado:
- Não. Não combinamos.
Minha confusão aumenta.
- Como?
Ele suspira, se vira pra mim e explica:
- Veja bem, eu nunca pedi sua ajuda. Esqueça essa ideia idiota. Eu sou alfabetizado e sei muito bem ler e escrever.
E dito isso, ele me dá as costas.
Suspiro, um pouco frustrada por ter perdido o meu tempo. Bom, eu aceitei ajudá-lo. Mas se ele não quer, eu não posso o obrigar. Dando de ombros, saio dali para ir embora.
***
Quando chego em casa, vou para o meu quarto e coloco minha mochila em cima da cama. Tiro as roupas que eu estou usando, como a calça jeans por exemplo, as substituindo por outras mais leves.
Abro minha mochila branca, e coloco boa parte do meu material em cima da minha escrivaninha.
Tenho mais facilidade em estudar em casa por ser bem mais calmo, iluminado, silencioso e totalmente sem conversas paralelas que atrapalham minha concentração quando estou lendo algum texto.
Tento deixar meus cadernos o mais caprichado - principalmente na letra - possível. Marco tudo que cairá na prova, trabalhos, atividades importantes e principalmente resumos que eu mesma escrevo quando o professor está explicando para que eu não esqueça nada com marca textos, com cores diferentes para cada um.
Reviso toda a matéria que eu havia aprendido hoje e pesquiso em meu computador alguns exercícios para praticar e aperfeiçoar ainda mais o meu aprendizado.
Depois de duas horas estudando, meu despertador dá sinal de vida, indicando que eu já havia estudado o suficiente hoje. - Sim, meu celular desperta praticamente o dia todo, faço isso mais por questão de ordem mesmo. - Fecho meus cadernos e volto a guardá-los com todo o cuidado dentro da minha mochila.
Após isso, meu estômago me lembra de que eu ainda não comi nada desde o café da manhã. Vou para a cozinha, para preparar algo para comer. Sinto um pouco de preguiça então faço apenas um macarrão estantâneo.
Enquanto como, não consigo evitar a decepção por não ter visto Jacob hoje. Provavelmente ele deve ter faltado, porque eu sei que ele sempre se senta no mesmo lugar da cantina. De vez em quando sozinho, e de vez em quando com seus amigos. Quando vejo Jacob, sinto um enorme frio em minha barriga e uma imensa felicidade que eu não consigo explicar. Sei que isso vai parecer extremamente idiota, mas em minha opinião Jake é o sonho de qualquer garota, um verdadeiro príncipe encantado.
Depois de comer, resolvo fazer pipoca - Sim, eu sei que acabei de almoçar. ALGUM PROBLEMA?! - como acompanhamento enquanto assisto alguns filmes de ficção científica recomendados por Noah, que são realmente excelentes.
Quando são 17h00 sinto um pouco de sono e subo para o meu quarto, coloco meu celular para despertar daqui duas horas - aproximadamente o horário em que minha mãe chega do trabalho - e fecho minhas janelas, apago a luz e me deito na cama. Procuro uma posição confortável e fecho meus olhos depois de abraçar Lucky contra meu peito. Não demora muito para que eu caia no sono após isso.
Acordo em um pulo pelo despertador e esfrego meus olhos, depois de me espreguiçar resolvo levantar. Desço as escadas e vejo que minha mãe já havia chegado em casa. Sorrio e vou até ela.
- Oi, mãe.
- Oi, filha. - ela repara eu coçar meus olhos e pergunta: - Estava dormindo?
- Estava. - confirmo. - Quer ajuda para preparar o jantar? - me voluntario.
- Claro, pegue a carne dentro do congelador, por favor.
***
Quando acabamos, resolvemos comer sem o meu pai. As vezes ele fica trabalhando até mais tarde. As vezes me pergunto se minha mãe se incomoda com isso. Provavelmente sim. Mas é algo necessário. Jantamos em silêncio e conversamos sobre algum assunto aleatório sobre como foi o dia de nós duas. Eu comento sobre o meu enquanto mastigo a batata, mas logicamente que sem mencionar que um professor havia me pedido para ajudar um colega a estudar e que ele havia se recusado provavelmente porque seria eu que iria ajudá-lo. Acho que já deu esse assunto sobre garotos sem uma real necessidade.
Depois de comer, ajudo Winona a lavar e secar a louça e depois resolvo subir para o meu quarto para jogar um pouco antes de ir dormir. Quando o meu relógio marca 21h00, paro de jogar para dormir logo. É essencial dormir cedo para que o corpo recupere as energias, otimizar o nosso metabolismo e regularizar a função de hormônios fundamentais para o funcionamento do nosso corpo.
Visto rapidamente o meu pijama - um conjunto composto por uma calça xadrez azul e rosa e uma blusa de mangas compridas também azul com a estampa de um urso -, retiro meus óculos, deixando eles em cima da minha cômoda e me deito em minha cama, me cobrindo com o cobertor antes de me virar para a parede, fitando a mesma enquanto meus pensamentos são voltados ao Wolfhard.
Porque será que ele age daquela forma? Eu só estava tentando ajudá-lo. Não consigo entender o motivo de sua grosseria. Procuro em minha mente algo que eu deva ter dito sem perceber que talvez possa tê-lo irritado, mas não encontro absolutamente nada. Tenho certeza de que ele já estava bravo com algo antes de eu ir falar com ele. Bem, aparentemente ele sempre está. Mas por qual motivo alguém ficaria irritado todos os dias?
Acordo na manhã seguinte um pouco mais animada do que ontem. Saio da cama em disparada para o banheiro. No café da manhã de hoje, meu pai não tocou no assunto "Noah", então resolvi não me preocupar com isso. Minha mãe deve ter conversado melhor com ele e provavelmente dito que eu não estava afim do meu amigo.
Na escola, fiquei um pouco decepcionada quando entrei na sala de aula. Noah não estava em seu lugar, e ele sempre chegava no horário. Retiro minha mochila das costas e me sento. Percebo que eu já havia me acostumado a ficar com Noah ao meu lado e que o fato dele não estar agora, era um pouco estranho.
Enquanto retiro meu material de dentro da mochila, a porta da sala é empurrada bruscamente e quando levanto o meu olhar, vejo o grupinho de Iris entrar. Eles estão de cara feia como sempre, sabe-se lá porque. Mas um deles em específico, devolve o meu olhar, me fazendo arrepiar. O Wolfhard. Seus olhos estavam mais irritados do que nunca. Ódio emanava deles. E eram direcionados exclusivamente à mim. Aquilo me assustou. O que poderia ter acontecido? E, por Deus, por qual motivo ele estava me encarando de uma forma como se desejasse me matar? Droga, Noah realmente precisava tanto faltar hoje?! Observo os cinco irem para seus lugares em um pesado silêncio.
Abaixo minha cabeça novamente suspirando. O dia vai realmente ser longo hoje.
- Muito bem, - a professora começa, dando início à sua aula. - hoje iremos falar sobre a Revolução Americana. Vocês podem me dizer como ela também é conhecida?
Silêncio.
Sorrio e levanto minha mão.
- Ela também é conhecida como a independência dos Estados Unidos e foi declarada em 4 de julho de 1776. - respondo a pergunta, mas não deixo de notar alguns sussurros agressivos vindo do fundo da sala, que eu tento ignorar.
- Muito bem. - ela aprova e se volta para a sala. - Com esse processo, houve a separação das Treze Colônias da América do Norte do vínculo colonial que existia desde meados do século XVII e a transformação dos Estados Unidos em uma nação independente, com um sistema republicano e federalista...
E a aula prosseguiu normalmente como sempre, a única diferença é que Noah não estava ao meu lado para conversarmos um pouco antes de irmos para o intervalo. Ao invés disso, termino a atividade que fora passada e leio um livro que eu havia trago caso eu ficasse entediada.
Quando o sinal bate indicando que agora era o intervalo, resolvi não ir para a cantina como Noah e eu sempre fazíamos. Não queria comer sozinha. Ao invés disso, andei silenciosamente até a biblioteca. No ano passado, eu gostava de ficar lá porque (a) durante o intervalo obviamente que ninguém entrava na biblioteca pois não éramos autorizados durante esse horário e (b) até mesmo a bibliotecária ia almoçar, ou seja, eu poderia ficar sozinha com vários livros à minha volta.
Distraída por meus próprios pensamentos, ando entre as prateleiras de livros procurando algum do meu interesse, mas acabo escolhendo rápido já que daqui a pouco o intervalo terminaria.
Me sento em uma mesa mais afastada, estrategicamente, para evitar que alguém me encontre aqui - vai saber, né? - e abro o livro, iniciando minha leitura, mas antes retiro minha blusa de moletom, já que aqui dentro está com a temperatura mais amena e a coloco sobre a mesa.
A biblioteca é bem grande, dificilmente alguém conseguiria me ver de onde estou, o que facilitaria se eu ouvisse alguém entrando. Conseguiria me esconder antes que fosse pêga.
Quando estou terminando a segunda página, ouço um som de dois conjuntos de passos e levanto o meu rosto rapidamente assustada. Me levanto sem fazer nenhum ruído e me preparo para me esconder atrás de alguma prateleira, mas paro imediatamente quando ouço um sotaque britânico bem familiar vinda não muito longe de onde estou.
Tenho absoluta certeza de que é a voz do Wolfhard, o que me tranquiliza um pouco. Vou até uma prateleira cheia de livros e me abaixo um pouco para espiar o que ele veio fazer aqui e no segundo seguinte, logo me arrependo.
O cacheado está com uma garota - que a propósito, está vestida de uma maneira bem vulgar. Não que eu tenha algo contra, é apenas a minha opinião. - que está soltando vários risinhos, que eu devo admitir que são realmente muito irritantes, enquanto ele a prensa contra uma prateleira qualquer enquanto sua cabeça se inclina para o lado e suas mãos passeiam pelo corpo da mesma. Meus olhos logo se arregalam vendo a cena, que eu realmente não deveria estar vendo.
Fico imediatamente corada quando ouço sons de chupões e gemidos vindos da boca da menina e logo me viro, encostando minhas costas na prateleira e levando minha mão à boca, não sei se para abafar um grito de choque ou por simplesmente meu espanto. Sinto uma enorme vontade de arrancar meus olhos depois de ver aquela cena e sair dali o quanto antes e de preferência sem que eles me vejam aqui. Meus olhos se arregalam ainda mais quando os gemidos tornam-se mais altos e a vergonha me invade ainda mais.
- Shh, não faça barulho. - a voz de Finn se faz presente e num tom realmente excitado.
Jesus Cristo! Alguém me tira daqui, por favor!
Desesperada por tentar sair dali, pego um dos livros mais pesados que encontro na prateleira à minha frente e o jogo no chão de propósito, no intuito de chamar a atenção dos dois. E, graças a Deus, funciona.
Os gemidos param, eu espio novamente pela brecha que há entre os livros que estão me escondendo e vejo Finn levantar a cabeça e olhar desconfiado ao redor.
- Por que parou, Finn?! - a garota protesta, e agora está explicado o motivo de sua risada ser tão irritante, porque sua voz também é.
- Cala boca. - ele responde.
Eu não disse?! Não sabe tratar direito nem as garotas que ele pega.
Ele a larga e a menina logo resmunga em frustração.
Sinto muito querida, mais eu não sou obrigada a ouvir vocês dois fazendo coisas.
O Wolfhard rapidamente segue o barulho e eu espero ele chegar suficientemente perto para que eu dê a volta na prateleira e me esconder. Quando faço isso, espero o momento certo e corro pra fora da biblioteca, sem ligar se a garota desconhecida iria me ver fugindo ou não.
Acelero cada vez mais meus passos enquanto corro, com medo dele estar vindo atrás de mim. Paro somente quando estou na cantina, com vários outros estudantes à minha volta.
Solto minha respiração, que só agora eu percebo que estava prendendo, e a mesma sai ofegante enquanto meu coração dispara. O alívio me domina e eu me dou conta de que há vários alunos me olhando curiosos. Tenho certeza de que minhas bochechas ficaram ainda mais vermelhas quando vejo Jacob entre esses alunos, que muito provavelmente devem estar achando que eu tenho algum tipo de problema mental. Droga, não era assim que eu queria que ele me notasse.
O sinal toca, anunciando o fim do intervalo. Passo minha mão por minha testa, tentando secar o suor que agora se encontra ali e caminho até minha sala enquanto sinto meu rosto queimar.
Entro na sala e vou até meu lugar, viro meu rosto para a janela, tentando esquecer a cena íntima do Wolfhard e da garota que eu realmente não deveria ter visto. Merda, eu realmente não devia ter visto aquilo. Meu coração acelera de novo enquanto eu lembro a forma como o Wolfhard havia se inclinado para beijar o pescoço daquela garota enquanto um estranho calor me invade nas partes de baixo. Puta que pariu, eu estou...
Sou tirada de meus pensamentos quando algo é literalmente jogado em cima da minha mesa sem nenhuma gentileza. Viro meu rosto e fico muito assustada quando vejo o meu moletom que eu havia esquecido completamente na biblioteca e logo em seguida, o olhar do cacheado à minha frente me fuzilar de uma forma extremamente intensa. Obviamente que suas próximas palavras, não são nada gentis:
- Da próxima vez que resolver assistir as pessoas foderem, recomendo assistir um pornô ao invés de me espiar, pervertida. - e por último, antes dele se afastar de mim, ele me lança um olhar completamente gelado.
Merda!
- E-eu... Eu não... - tento me justificar mas as palavras ficam presas em minha garganta, e ele me corta:
- Não finja que não queria estar no lugar dela. - ele abre um sorriso cafajeste e me dá as costas, me deixando totalmente sem palavras.
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