28. Trio formado
AVISO: Pessoal, só gostaria de avisar, pra vcs não se confundirem, que a fic se passa em setembro de 2018 e que agora já está se passando no mês de outubro, ok? Boa leitura!
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Assim que girei a maçaneta, e a porta se abriu em um rangido, mamãe se levantou quase que imediatamente do sofá, como se estivesse me esperando ali desde que eu havia saído. Pela sua expressão impaciente, eu, pelo menos, não duvidava.
- Santo Deus, filha! - exclamou, e então me recordei de que ainda estava toda molhada. Logo, ela começou a tagarelar, me impedindo de tentar me explicar, enquanto me fazia subir escada à cima: - Está toda ensopada! Deveria ter se certificado de levar um guarda-chuva! Que bom que seu pai saiu para comprar o jantar! Vamos, vá tirar essa roupa antes que fique doente!
Coloquei a sacola com o livro e os cd's ao pé da minha cama antes de me encaminhar tremendo para o banheiro com um sorriso contido em meu rosto. Acabei deixando minhas roupas jogadas no chão do banheiro. Depois levaria para a área de serviço, colocá-las para secar. Entrei debaixo do chuveiro. A sensação da água quente que, aos poucos, esquentava e relaxava meus músculos. Era tudo o que eu precisava.
Havia resolvido lavar meu cabelo. Fazia dois dias que ele começara a ficar oleoso. Enquanto acabava de retirar a espuma do shampoo, passava as mãos pelas madeixas, apertando-as com os dedos. Eu poderia cortar meu cabelo curtinho, o pensamento acabou passando pela minha cabeça. Ri comigo mesma enquanto pegava o condicionador. Era uma péssima ideia. Meu cabelo ainda estava nos ombros. Não havia motivos para desistir de deixar meu cabelo crescer mais.
Enquanto me ensaboava, lembrava de Finn e eu. Na chuva. No shopping. Cada sorriso. Cada toque. A felicidade em seu rosto quando me olhou enquanto a chuva fazia seu cabelo grudar em sua testa. A promessa. Ele nem precisava me pedir aquilo.Eu não conseguiria deixá-lo. Sentia que nunca poderia ser capaz disso. Precisava dele assim, ou até mais, como ele precisava de mim. Um mês antes me contentava a apenas estudar em casa todos os dias para focar em apenas no meu futuro. Mas já não conseguia enxergá-lo sem Finn. Estávamos juntos a tão pouco tempo e eu já sentia como se o conhecesse a vida toda. Ele havia me magoado muito, era inegável. Mamãe sempre me dizia que quando você não ama a pessoa, ela não pode te causar dor, mas o sentimento te torna forte o suficiente para perdoar. Eu...
Eu o amava.
Amava Finn Wolfhard.
Desliguei o chuveiro. Peguei a toalha amarela pastel pendurada, enrolando-me na mesma. Fui para o quarto em passos rápidos e hesitantes ao tocar o chão, devido o choque térmico do chão frio contra meus pés descalços que acabaram de sair de debaixo da água quente.
Após secar todo o meu corpo e o cabelo, que agora estava com um cheiro muito bom, coloquei meu pijama do Star Wars, calcei meias nos pés, peguei um livro em minha prateleira e me deitei sobre minha cama, com os cotovelos apoiados sobre a colcha rosa pastel, enquanto minhas pernas balançando para cima vez ou outra.
Não demorou muito para que mamãe me chamasse, sinal de que papai já havia chegado. Devolvi o livro de volta para a prateleira. Desci as escadas sem pressa. Percebi que eles conversavam sobre algo. Comecei a prestar atenção assim que notei meu nome surgir na conversa:
- Você tinha de ver, David! - exclamou, percebi pelo seu tom de voz que mamãe estava furiosa. - A menina chegou totalmente encharcada! Eu sabia! Aquele garoto provavelmente não deve ter tomado conta dela! Se ela ficar doente por causa daquele menino...
- Ah, pare com isso Winona! - cortou papai. - Já fomos jovens, você sabe muito bem como é...
- Millie pensa que me engana. - arregalei os olhos assustada com suas próximas palavras. - Aquele garoto provavelmente deve cabular aulas mais do que qualquer outra coisa! Não estou acreditando que ela, uma menina tão inteligente e esforçada, tenha escolhido ele ao invés do...
Ela parou. Imaginei que papai estaria levantando a mão para ela, pedindo basta. Ele sempre fazia isso quando discutíamos, para que fizéssemos silêncio e ele pudesse amenizar a situação.
- Não generalize. Apenas lhe peço isso. - seu tom era calmo. - Você sabe que passamos exatamente por esta situação e que você chegou a odiar seu pai por ter lhe proibido de me ver assim que eles haviam nos descoberto.
- É diferente, David. - rebateu, um pouco mais calma. Não compreendia sobre o que eles estavam falando.
- Não. Não é. - um silêncio se instalou no ambiente. Mordi o lábio nervosa, pensando se devia adentrar o recinto ou não, decidi esperar mais um pouco quando papai voltou a falar: - O garoto gosta dela. Realmente gosta. Vi isso nos olhos dele. Você sabe porque não fui com a cara do Noah. Hoje vejo que fui injusto com ele quando o conheci. - entreabri minha boca, surpresa. - Sabe porque estou pedindo que não seja dura com Finn. Também vi sofrimento nos olhos dele enquanto falava de seus sonhos. Algo o incomodava. Não sabemos pelo o que o garoto passa, Win.
- Eu sei. Desculpe. - deu o braço a torcer.
Criando coragem, decidi finalmente adentrar a cozinha. Assim que eles me viram, mamãe abandonou a louça suja na pia do qual lavava, indo pegar algo na geladeira, talvez para disfarçar. Papai me encarou um pouco sem jeito, dois segundos depois pareceu ter resolvido simplesmente abandonar a cozinha.
- Sobre o que conversavam? - perguntei, alguns segundos depois, o mais remotamente possível.
- Nada demais, querida. - mamãe respondeu, com o mesmo sorriso gentil de sempre. - Venha jantar, David. - chamou, elevando a voz.
Dois minutos depois, papai voltou sem o uniforme policial, apenas com sua camisa branca e uma bermuda mais confortável.
Nos sentamos à mesa.
Fiz meu prato com uma quantidade menor que o normal. Comia em silêncio enquanto meus pais conversavam sobre algo relacionado às contas de casa.
- Não vai querer mais, filha? - perguntou papai, notando o tamanho do meu prato.
- Não. Eu comi pipoca e ainda tomei sorvete com o Finn. - respondi. Esperei eles dizerem algo sobre o cacheado, no entanto eles não disseram nada, o que não me surpreendeu, visto que eles estavam discutindo sobre isso agora a pouco.
Assim que terminamos, lavei a louça do jantar enquanto ambos assistiam ao Jornal na sala de estar. Após secar tudo, guardei no armário e voltei para o quarto. Estava ligando meu videogame quando mamãe bateu à porta.
- Querida?
- Oi. - levantei o rosto.
- Vim te dar boa noite. - ela se aproximou, beijando minha bochecha.
- Já vai dormir? - perguntei. Queria muito saber da história que ouvi antes do jantar, mas estava sem jeito para perguntar.
- Sim, estou muito cansada. - ela sorriu, contudo logo percebeu que eu queria dizer algo. Mamãe me conhecia muito bem. - O que foi? Quer me dizer alguma coisa?
- Quase. Eu... ouvi você e o pai conversando. Eu acabei ouvindo... tudo. - disse, como que pedindo desculpas. - Bom, queria saber o que vocês conversavam também.
Ela sorriu de lado e me fitou com compreensão, sentando-se na cama ao meu lado.
- Você deve estar achando estranho seu pai não ter ido com a cara do Noah no momento em que o conheceu e ter adorado Finn, certo? - Assenti com a cabeça. - Quando éramos jovens, seu pai tinha uma banda, filha. Na época em que nos conhecemos eu estava na faculdade e com um namorado. Eu o deixei para ficar com o seu pai. Meus pais adoravam o rapaz e, principalmente meu pai, que nunca foi um homem tão fácil, nunca aprovou David cem por cento.
- Caramba... - não sabia o que dizer. - Deve ter sido difícil...
- Muito, querida. Não vou mentir pra você, este garoto não é o que eu planejei pra você, mas se gosta mesmo dele, pra mim é o que importa. Só peço que tome cuidado, está bem?
Sorri em alívio. Aquilo era tudo o que eu queria escutar dela. Larguei o controle para abraçá-la.
- Eu te amo. - falei. Sabia que mamãe ainda não gostava tanto dele, mas aquele poderia ser um começo.
- Eu também, meu amor. - disse, depositando um beijo em minha testa como de costume. Assim que a soltei, ela pareceu lembrar de algo:
- Ah, querida, enquanto você estava no shopping, chegou os livros didáticos novos da escola.
- Tá bom. - assenti. - É... acabou o peso leve na mochila... - ironizei.
- Aqueles cinquenta quilos que você carrega todos os dias nas costas, é peso leve? - mamãe questionou, devolvendo a ironia, me fazendo rir.
No domingo, papai teve que ir trabalhar devido outro caso de emergência. Então mamãe e eu resolvemos passar o dia todo deitadas no sofá, enroladas nos cobertores e maratonando Grey's Anatomy enquanto comíamos pipoca.
(N/A: deixando claro que nunca assisti, tá gente?)
- Meu Deus, ele é muito lindo! - falei, referindo-me ao Derek Shepherd. Não podia ver aquele homem à minha frente que meus olhos brilhavam.
- Não. - mamãe balançou a cabeça em negação. - Aquele sim! - falou, apontando para o Andrew.
- Ai meu Deus, mãe, não! Ele é muito sem graça! - exclamei, um pouco indignada, mas entre risos.
- Não gostou? - perguntou surpresa, pegando mais pipoca de seu balde e colocando na boca.
- Não! - neguei. Mais fofocávamos do que assistíamos, mas eu nunca me importei. Mamãe substituía muito bem as amigas que eu nunca tive.
Parei de rir assim que meu celular vibrou sobre o braço do sofá. O peguei. Abri um sorriso assim que vi que era uma mensagem de Finn.
Finn: Me diga que não está deitada e espirrando pra caralho por causa da chuva de ontem.
Millie: Na verdade, por sorte, não. Você está bem?
Finn: Estou, não se preocupe comigo. Você sabe que sou bastante forte, Mills.
Conseguia sentir seu tom convencido costumeiro mesmo que por mensagem e não pude deixar de revirar os olhos e conter um risinho.
Millie: Claro.
Finn: O que está fazendo?
Millie: Assistindo Grey's Anatomy com minha mãe.
Gargalhei com o emoji de nojo que o cacheado enviou. Mamãe me fitou sem entender e acenei, para que ela soubesse que não era nada importante.
Finn: Posso te recomendar umas séries fodas de suspense? Acho que vocês duas estão precisando.
Millie: Não.
Finn: Ação?
Millie: Hum...
Por que não?
Millie: Okay.
Finn: O Justiceiro, Vikings e The Witcher. Assista, é sério.
Ri. Eu esperava algo do tipo Flash, Supergirl ou Titãs; Finn era o único garoto que eu conhecia que não era ligado na Marvel ou DC.
Millie: Está bem. Mas não hoje.
Ele mandou um emoji que revirava os olhos e eu bloqueei o celular com o meu típico sorriso bobo, para voltar a minha atenção novamente para a série.
De noite após o jantar fiquei em meu quarto estudando algumas matérias e fazendo alguns trabalhos bimestrais e pesquisando algo para estudar com Finn no dia seguinte. Logo chegariam mais provas.
Acabei indo deitar quase meia-noite. Entretanto, acordei com uma estranha chamada do meu celular. Vi no relógio que marcava 2h00. Estranhei quando percebi que era Finn, mas quando vi sua mensagem, logo previ o pior:
Finn: S.O.S.
Com os olhos ainda pesados de sono, digitei a resposta:
Millie: Você está bem?
Finn: Não.
Cacei cegamente os meus óculos sobre minha mesa de cabeceira. Os coloquei, sentando-me na cama.
Millie: Finnie, é outra crise?
Finn: Acho que sim.
Millie: Onde está seu pai?
Finn: Ele havia chegado às sete da noite.
Não aguentei e me levantei. Andei às cegas pelo quarto escuro, esbarrando na cadeira do meu computador. Merda, cadê o fone?! O encontrei, finalmente, sobre a estante, bem ao lado do videogame.
Conectei em meu celular e voltei para a cama, fazendo uma ligação de vídeo com Finn, que logo aceitou.
A luz de seu quarto estava acesa. Não identifiquei nenhuma emoção em seu rosto que se encontrava suado. Mas me doeu ver lágrimas ali.
- Mills?
- Não posso acender a luz, meus pais podem acordar. - sussurrei perto do microfone do fone.
- Feche a porta do quarto. - disse, como se fosse o óbvio, passando a mão pelo rosto, limpando o suor, fungando.
Acabei fazendo-o sem questionar, sem me importar com a aparência do meu cabelo naquele momento. Voltei para a cama, flagrando outra lágrima que escorria por sua bochecha repleta de sardas.
- Finnie... - murmurei. Tudo o que eu queria naquele momento era abraçá-lo. - Finnie, o que ele fez?
Ele fungou. Esfregou o nariz com a manga do moletom preto, que só naquele segundo eu havia notado, e levou o olhar para cima, o que deduzi que seria a porta, como que para ter certeza de que ninguém entraria ali naquele momento. Em seguida, fixou seu olhar de volta pra mim:
- ...A gente brigou. Gritamos um com o outro, na verdade. - reformulou, com um tom frágil que, até então, eu não conhecia.
- Me diz o que você está sentindo, psicologicamente e fisicamente. - pedi. Ás vezes, minha tia pedia para que meu primo dissesse o que ele sentia, tanto para que ela identificasse os sintomas quanto para ajudá-lo a esquecer o que o estava perturbando.
- Eu... sinto raiva e angústia... culpa... Tantas coisas, Mills. - assenti, ele estava com as emoções tão emboladas que acabou gerando outra crise. - Eu... não consigo. - disse, fechando os olhos. Percebi então que ele estava respirando pela boca.
- Ok, Finn, me escuta. Abra os olhos, por favor. Respira fundo. Agora me diga.
- Meu peito. Tá doendo. E tô com náuseas...
- Está bem. Vamos fazer aquilo de novo, ok? Está lembrado? - ele assentiu. - Tente respirar regularmente. Ignore essas sensações. Só vão piorar as coisas. Tente bloquear estes pensamentos.
- Como?
- Lembra daquela música do Nirvana? - tentei pensar rápido.
- About a Girl? - perguntou, confuso.
- Canta ela pra mim. - tentei ignorar o rubor em minhas bochechas enquanto pedia aquilo.
- O quê?
Isso já está embaraço, então não questiona, Wolfhard!
- Por favor.
Ele suspirou. Enxugou novamente o rosto e começou:
- Preciso de uma simples amiga - ele começou.- Eu posso, com um ouvido para emprestar - Sua voz trêmula e rouca foi se tornando suave à medida que ele cantava os versos. - Eu posso, acho que você é perfeita para o caso - O olhar triste e magoado então foi abandonado e substituído por aquele brilho que aparecia sempre que eu pegava Finn me observando, como algumas ocasiões no shopping. Tinha certeza de que ele também estava lembrando disso. - Eu posso, mas você tem uma pista.
A tensão de antes já não existia. Finn já era uma graça calado, mas cantando, isso simplesmente triplicava. Ele desafinava sim algumas vezes, contudo era algo que passava quase que despercebido por mim. Não aguentei e passei a acompanhá-lo no refrão em murmúrios, aproximando o microfone novamente para minha boca:
- Vou me aproveitar enquanto - seu sorriso contagiante logo se escancarou. Ah, como amo esse sorriso. - Você me pendura para secar - Eu amava Finn. Simplesmente o amava. Ele já havia me dito que não acreditava no amor. Mas eu não me importava. - Mas, não posso te ver todas as noites - Sabia que gostava de mim o bastante para preferir a mim do que todas as outras meninas da nossa escola com quem ele ficou. E isso era o suficiente. - Livre, eu posso. - Ao menos, naquele momento.
Assim que terminamos o último verso, não dissemos mais nada. E não precisávamos. Sorri timidamente e olhei para baixo. Estava orgulhosa por tê-lo ajudado a interromper a crise pela segunda vez, não podia negar. Depois de dois segundos, olhei para a tela do meu celular e perguntei:
- Como está se sentindo agora?
Ele logo abre um sorriso tranquilizador e me surpreende:
- Apaixonado. - sorrio, desviando meu olhar. A apreciação em seus olhos me deixavam tímida.
- S-sabe o que eu quis dizer. - falei.
- Você também. - retrucou. - Obrigado, Mills. Desculpe por ter te acordado. - falou, parecendo um pouco envergonhado.
- Não tem problema. - respondi com sinceridade. Se ele estivesse passando por aquilo, não importava o momento, poderia me pedir ajuda. Sempre.
- Até amanhã, então...
- Acha que consegue dormir? - questionei com desconfiança.
- Provavelmente terei outra noite de insônia, mas estou bem. - garantiu. - Volta a dormir.
- Ficarei acordada com você. - afirmei.
Ele arregalou os olhos.
- Millie, temos aula amanhã.
- E...? - fiquei surpresa comigo mesma por realmente não estar me importando em bagunçar meu horário e correr o risco de acabar dormindo durante a aula.
- E você não vai conseguir ir com sono. - apontou.
- Eu misturo café com energético quando for tomar café. - retruquei, em uma tentativa de me esquivar.
- Quê? - questionou, fazendo uma careta engraçada.
- Geralmente pessoas que precisam passar a noite trabalhando fazem isso. Meu pai faz vez ou outra quando precisa resolver algo mais sério na delegacia. - expliquei.
Ele estreitou os olhos e rebrimiu a boca, fazendo uma careta realmente engraçada:
- Que nojo! Estraga o café.
Ri baixinho. Finn Wolfhard era um amante assumido de café puro.
- Tem razão. - concordei ainda rindo. -Enfim, vou fazer isso.
- Você é incrível. - disse, fazendo minhas bochechas corarem.
Sorri, sem saber bem como responder.
- Ahn... bem, sou péssima em assuntos noturnos, então... - falei, em uma forma péssima de fazer piada.
Contudo, Finn riu:
- Posso começar dizendo que vamos sair amanhã.
- Depois de você estudar comigo. - certifiquei. Parecia que Finn e eu estudávamos pouco desde que começamos a namorar sério.
- Eu sei, eu sei. - falou, revirando os olhos. Eu ri.
- Bem, e o que vamos fazer?
- Vamos voltar na pista de skate. Eu disse que voltaria a te ensinar.
- Ah, não! Finn... - me sobressaltei na cama, tentando não elevar meu tom para que meus pais não acordassem.
- Ah, vai, será divertido.
- Eu caí. - lembrei, apesar de que não havia sido um tombo nada mal. A lembrança da aproximação de Finn quando tentou me segurar ainda era bastante fresca na minha memória.
- Prometo ser mais cuidadoso. - afirmou, com um toque mais sério na voz.
- Promete mesmo?
- Eu prometo. - repetiu.
- Tá...
- Já que combinamos de andar de skate amanhã, podemos fazer algo que você também goste um outro dia. - sugeriu, com um sorriso bobo no rosto que eu tinha certeza que somente eu conhecia.
- Tipo o quê? - perguntei mais para mim do que pra ele. Sorri com uma ideia. - Acho que você não vai querer...
- Se você for comigo na pista, eu aceito. - afirmou.
- Vai assistir A Culpa É Das Estrelas comigo?
Ele deu de ombros.
- Tá, eu assisto.
Ok, isso foi inesperado.
- Sabe que gênero é, não sabe?
Ele me olhou passivo e então fechou os olhos, fingindo medo.
- Qual é o gênero?
Eu ri.
- Pensando melhor... eu não vou dizer. - afirmei, totalmente satisfeita com a expressão de revolta misturada com incredulidade do cacheado com a minha pequena vingança.
- Aaaargh, Mills! - reclamou, abrindo os olhos com um olhar protestante.
- O mundo dá voltas. - provoquei entre risos.
- Ah, é mesmo? - perguntou com ironia.
- É! - continuei rindo. Não foi legal ele ter feito todo aquele suspense com aquele filme. Aquele era seu troco.
Ficamos conversando até às quatro horas, quando ele praticamente me forçou a apagar a luz e dormir, garantindo que já estava começando a sentir um pouquinho de sono. Eu obedeci, apesar de saber que era mentira.
Às seis, quando meu despertador começou a dar o ar da graça, eu sinceramente queria mandá-lo pro inferno, e mandaria, se ele pudesse me ouvir. Quando percebi, mamãe já havia adentrado no quarto e tirado o travesseiro que eu pressionava contra o rosto.
- Querida? Por que ainda não levantou? Não está se sentindo bem?
- T-tô sim. Eu só... - comecei, sentando-me com os olhos implorando por permanecerem fechados por mais algumas horas.
- Quer faltar hoje? - sugeriu. - Tudo bem se quiser. Você nunca falta, pode pegar a matéria com um de seus colegas...
Era até mesmo engraçado às vezes, eu sabia que mamãe só estava me perguntando isso porque já sabia qual era a minha resposta:
- Não, mãe. Eu tô bem, posso assistir aula. - garanti, massageando levemente meu pescoço.
Obviamente que estava mentindo e que não fazia ideia se conseguiria me manter acordada durante seis horas e vinte minutos. Quase caí no sono em pé, debaixo do chuveiro duas vezes.
Mas assim que voltei ao quarto, me vesti na velocidade da luz para que conseguisse descer para tomar café antes que mamãe fosse também e me pegasse misturando o mesmo com energético.
E foi o que fiz. O gosto era relativamente bem estranho, mas não havia muita escolha se eu quisesse mesmo perder aquele maldito sono. Mas eu não estava arrependida, nunca me perdoaria se tivesse deixado Finn daquele jeito ontem para ter uma boa noite de sono.
Devido os livros novos terem chegado, acabei tendo que carregar alguns nas mãos. Assim como algumas outros alunos, notei, assim que adentrei pelo portão.
Cruzei o pátio com alívio após ter checado no celular que ainda não estava atrasada. Estava quase virando o corredor para as salas quando fui barrada por eles:
- Aaaah, bom dia, nerd de classe! - exclamou Matarazzo, com falsa alegria. Ah não. - Opa, eu quis dizer colega de classe. - ironizou, fazendo McLaughlin e a Apatow gargalharem.
Eu sabia que isso mais cedo ou mais tarde iria acontecer.
O que me magoava era saber que Finn era covarde demais para resolver dizer qualquer coisa.
Encarei Finn, que permanecia de cabeça baixa, com as bochechas coradas, meio que sem saber o que fazer, imaginei. Parecia incomodado com a situação. Duvidava que ele fosse dizer alguma coisa.
- Olha só, tão cedo e ela já está com livros da biblioteca na mão, você não cansa de estudar não, querida? - a Apatow questionou, com o tom irritante de sempre. Não conseguia acreditar que ela estava continuando com isso depois de eu tê-la enfrentado no vestiário. Aquela garota era insaciável em questão de gostar de provocar os outros alunos. Todos eles eram.
- Vamos, pessoal. - cortou o Wolfhard friamente, puxando Matarazzo pelo ombro, já que ele era o mais próximo de mim.
- Espera aí, parceiro! - disse mclaughlin, rindo, sem lhe dar atenção.
Eu daria qualquer coisa para não estar ali naquele momento. Finn e eu estávamos mais do que incomodados, já que ele havia decidido realmente não dizer nada sobre nós. E o pior: eu não estava surpresa.
- Eu disse pra gente ir! - Finn gritou com impaciência, chamando a atenção não só dos amigos, como de alguns alunos que estavam indo beber água ou rumando até as salas.
O encarei assustada por sua súbita perca de controle. Todos nós o encarávamos de olhos arregalados. Por um segundo, pareceu que havíamos congelado, como uma fotografia.
- Qual é, cara? - questionou Matarazzo.
- Tá nervosinho assim porquê?! - questionou Apatow com um sorrisinho pra mim. Ela sabia que Finn nunca iria dizer nada. E eu odiava o fato dela estar certa.
Ainda assim, um pingo de esperança de Finn dizer algo não havia se perdido.
Mas ele apenas fechou os olhos por um instante. E então os abriu, em uma clara tentativa de controle.
- Nada, eu só quero ir pra sala. - falou, e pelo seu tom quase havia convencido até a mim de que não se importava.
- Ata, vamos então. - disse Mclaughlin, passando à minha frente e esbarrando em mim de propósito, derrubando os livros que eu segurava.
Fitei os livros no chão com a boca entreaberta. Prendi a respiração. A raiva me consumindo. Contudo, dissipou-se no instante em que o cacheado o surpreendeu com um puxão brusco seguido por um soco. Apatow soltou um suspiro de susto, enquanto outros alunos paravam seu caminho para observar a cena de longe. Finn o segurou para o que o amigo não caísse, e então apontou friamente para os livros no chão.
- Pega. - disse com a rispidez que eu conhecia bem um mês atrás.
Arregalei os olhos enquanto a Apatow encarava Finn como uma criancinha emburrada, estreitando os olhos em sua direção.
- Quê?! Você só pode estar maluco! - afirmou o garoto, desvencilhando-se do amigo.
- Eu mandei pegar! - respondeu, olhando-o fixamente.
Ao invés disso, McLaughlin riu descrente.
- Qual é, isso é algum tipo de piada?! - questionou, com os antibraços levantados e as mãos abertas, os dedos apontados para cima, lançando o olhar aos amigos, em busca de uma explicação do que estava acontecendo.
- Você não me ouviu?! Eu mandei você pegar os livros da Millie do chão! - repetiu Finn.
- Desde quando você chama esta garota pelo nome? - questionou Matarazzo, com um tom desconfiado.
Encarei Finn certa que ele recoaria, contudo, no instante em que ele devolveu o olhar eu soube:
- Desde que estamos juntos. - Abri timidamente um sorriso de lado. O momento foi cortado pelos risos deles, exceto Apatow, que me olhava com chamas nos olhos.
- Ele tá zoando com a nossa cara! - exclamou Matarazzo com total descrença, ignorando totalmente minha presença ali.
Entretanto, eu quase que não ouvia os comentários deles. Finn havia finalmente dito. Na minha cabeça, somente aquilo importava. Ele ainda me encarava. Se mantinha sério, mas seu olhar penetrante que dizia mil palavras naquele momento me mostrava que ele estava bastante satisfeito com o que havia feito.
- Vazam. - disse casualmente.
E os amigos obedeceram. Saíram arrastando Apatow à base de gargalhadas pelos corredores.
O Wolfhard então se abaixou, pegando meus livros do chão e me entregando assim que voltou a ficar de pé. Não conseguia dizer nada. Apenas sorri ainda mais, mostrando os dentes. E ele repetiu.
Ele se aproximou. Aproximou vagarosamente a mão direita da minha esquerda, que mantinha-se desocupada. A segurou, entrelaçando nossos dedos.
- Vamos antes que fiquemos pra fora da sala. - ele diz por fim.
Olhei em volta. Alguns olhares curiosos e confusos eram lançados à nós. Assenti pra ele, andando ao seu lado, que ainda não havia soltado minha mão.
- Millie, espera. - ele pediu, assim que viramos no corredor. Pensei que ele havia se arrependido, então parei. Até que reparei nas olheiras abaixo de seus olhos.
- Finn... você não dormiu nada, não foi? - perguntei com delicadeza, tocando seu rosto como instinto.
- Tá tudo bem - garantiu, abrindo um sorriso e tocando minha mão com a sua, acariciando-a com o polegar. -, você já fez muito por mim ontem... então, eu vou fazer uma coisa agora. Só segue a onda. Mas antes, preciso que me prometa uma coisa.
- O quê? - perguntei com certo alívio.
- Que vai ficar longe da Iris. - pediu.
Precisei de dois segundos para decifrar aquele pedido, mas não consegui. Por que Finn tocou naquele assunto agora? Pensei.
- Por que tá me pedindo isso? - questionei.
- Ah, sei lá, dos meus amigos, ela é a que mais não se dá bem com você, não sei porquê, então...
- É só isso? - pressionei.
- É! - garantiu. - Você me promete?
- Prometo! Prometo. Nossa, isso não vai ser nem muito difícil. A menos que ela fique vindo me encher, você sabe como ela é. - falei com sinceridade.
Ele sorriu com satisfação.
- Relaxa. - e me puxou pela mão até nossa sala.
Assim que entramos, percebi que o professor ainda não havia chegado, e que os amigos do cacheado nos fitava ainda sem acreditar. Estavam rindo.
Finn soltou minha mão. Pensei que iria até lá, mas antes, agarrou minha nuca, se aproximou e depositou um selinho em meus lábios. Aquilo sessou os risos. Finn os conhecia melhor do que eu. Eles não haviam levado aquilo a sério até aquele momento. Fui até minha mesa com minhas bochechas queimando enquanto ele caminhava até seu lugar no fundo da sala.
- O-o que foi isso? Tipo... Fillie assumido?! - questionou Noah, com animação enquanto eu depositava meus livros e alguns cadernos sobre a mesa, após retirá-los da mochila.
- Bom... - sorri pra ele. - Espera, o quê? Fillie?
Ele revirou os olhos e deu de ombros.
- É a junção dos seus nomes.
- Ata, desculpa, é que ainda não tô muito desperta ainda. - dei de ombros. Noah sorriu, um sorriso tão grande que desconfiei que aquele, talvez, não fosse o real motivo. - Você parece de bom humor. - comentei.
- Você também. - desdenhou, me fazendo rir com timidez.
- Alguma ruiva tem a ver com isso? - Ele sorriu de lado. - Ai, meu Deus, me conta!
- Ahn... que tal ela mesma te contar? - sugeriu com hesitação.
- Como assim?
- Millie, eu ia te pedir...
O cortei:
- Sim.
Ele parou, incrédulo.
- Sim o quê?
- Sim, ela pode andar com a gente. Não era isso que você ia perguntar?
Ele arqueou a sombrancelha.
- Como sabia que eu ia te pedir...
- Noh, a quanto tempo está pensando em me pedir isso? - ele não respondeu. - Pois é. - rimos.
- Está diferente. - comentou.
- Como assim?
- Não sei... Mas é um diferente bom. - garantiu, me fazendo rir novamente.
Assim que o professor entrou nos calamos, assim como o restante da sala. Logo atrás dele, Romeo entrou apressado, mas parou logo que o viu.
- Desculpe o atraso, professor. - disse ele.
- Tudo bem, sente-se.
***
Assim que o sinal para o intervalo soou, Finn veio casualmente até a minha mesa, enquanto seus amigos eram os primeiros a saírem da sala, claro, não sem antes darem uma boa olhada em nós dois. Finn, como estava de costas para eles, não viu.
Ele se abaixou, debruçando os braços sobre a mesa, para apoiar o queixo sobre um deles. Então murmurou:
- Sala do treinador?
Eu ri, mas então Noah, que ainda estava do meu lado, me cutucou.
- Ahn, na próxima. Noah e eu vamos...
- Jogar um jogo novo juntos que saiu - Noh me cortou, mostrando o celular. - Mas no intervalo de amanhã ela é toda sua, cara. - disse de brincadeira, levantando as mãos em rendição.
Finn sorriu de lado e assentiu.
- Você o ouviu - disse o cacheado para mim, roubando-me um selinho antes de se levantar. - Bom...jogo? - desejou, meio sem jeito, fazendo uma careta engraçada.
- Valeu. - respondi, achando graça do seu estranho desconforto enquanto o cacheado saía da sala. Finn era literalmente o único garoto que não curtia jogar.
Saí da sala com os meninos, mas assim que chegamos em frente ao refeitório, Noah tocou Romeo no ombro:
- Vai indo, cara. Millie e eu temos que passar na biblioteca rapidinho.
- Tá, a gente se vê. - disse ele antes de nos dar as costas e ir em direção à fila da cantina.
- Biblioteca, Noah? - perguntei confusa, me virando para o mesmo.
- É, Sadie está lá. - disse, pegando minha mão para irmos logo.
Ah, verdade, o castigo. Pensei.
Viramos à esquerda no corredor e logo na porta da biblioteca estava a placa "horário de almoço". Noah a abriu, soltando minha mão. Assim que entramos, virei-me para o mesmo com hesitação.
- O...o que eu digo? - sussurrei. Não tinha nenhum tipo de intimidade com a ruiva.
- Não precisa se preocupar com isso. - falou com humor, do qual não entendi.
Com algumas ideias do que dizer para Sink, andei dentre as prateleiras. Noah não me acompanhava, no intuito de nos dar um pouco de espaço, talvez.
A encontrei sobre uma escada, limpando a capa dos livros da última prateleira, encostada na parede, que ia do chão até um pouco abaixo do teto. Passava um pano na capa antes de devolvê-lo à prateleira. Seus cabelos ruivos, que ficavam em contraste com suas roupas pretas, balançavam devido seus movimentos.
Limpei a garganta. Tentar fazer amizade não era nada fácil.
- Oi Sa...Sink. - falei. Não sentia que seria apropriado chamá-la pelo primeiro nome logo de cara.
A ruiva virou o rosto surpresa. Por um momento me senti um pouco incomodada pelos próximos segundos de silêncio até que ela abriu um meio sorriso educado, me deixando mais aliviada.
- Brown. - cumprimentou-me educadamente, desaprovando com o olhar, provavelmente meu melhor amigo, que havia vindo atrás de mim, sem ser despercebido por mim. Ela sabia que ele conversaria comigo.
Enfiei as mãos nos bolsos do moletom. Não sabia o próximo passo, era péssima em fazer novas amizades. Sempre pensei que nunca teria que me preocupar com isso depois de Noah. Teria que improvisar.
- Noh, fica com a prateleira perto da mesa da senhora Teresa, eu fico com esta. - falei automaticamente, referindo-me à prateleira ao lado da de Sink.
- O que...está fazendo? - perguntou a ruiva, confusa.
Ignorando-a, Noah me entregou um dos panos que se encontravam sobre uma cadeira, onde Sink havia os deixado, e desapareceu dentre um dos corredores. Virei-me e fitei a ruiva que ainda me encarava incrédula.
- Não deve fazer isso. - afirmou. Em seguida, um sorriso bobo ou deslumbrado invadiu seu rosto e ela abaixou a cabeça, fitando os seus pés. Ela estava sem palavras. - O Noah é... idiota, bobo, ele... vocês não precisam...
A cortei:
- Sadie. - ela parou. Eu sorri com gratidão. - Eu sou grata pelo o que fez. Você o defendeu. Enfrentou seus amigos. Você e o Wolfhard são bem parecidos. - comentei. Ela riu.
- Tô sabendo.
Uau. Mas já?
- As notícias correm rápido. - comentei surpresa.
- Como uma bala. - concordou. - Bom, há outra escada ali no canto. Bem ali. - apontou, sorrindo gentilmente.
Assenti e me afastei. Peguei a escada, levando para perto da de Sink. Subi cinco degraus com um dos panos em meu ombro, ficando na mesma altura que a ruiva.
Peguei o primeiro livro, passando o pano em toda a capa em silêncio. O medo de cair me afligia um pouco, não podia negar, mas não era difícil ignorar. Estava retirando o terceiro livro quando um inseto pequeno, que eu não pude identificar qual, sobre ele saiu voando. Encolhi-me com o susto.
- Também não gosta de insetos? - perguntou a ruiva, contendo o riso.
Eu ri.
- Não é isso, fui pega de surpresa. - expliquei com sinceridade. Para falar a verdade, sempre gostei de estudá-los. Nunca havia sentido medo apesar disto ser uma coisa comum entre as algumas outras meninas. Sadie, pelo visto, também não tinha medo algum.
- Quando Noah e eu estávamos no jardim, um grilo pulou no ombro dele e eu podia jurar que ele quase morreria do coração. - contou. Sem conseguirmos nos conter, gargalhamos com a mão sobre a boca. Não poderia negar que era engraçado imaginar a cena.
- Ei. Do que as duas estão rindo tanto? - questionou o menino, se aproximando novamente, segurando um pano já totalmente sujo.
Olhei para Sadie. Trocamos um olhar cúmplice e rimos mais.
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