26. O Almoço
- Ai, meu Deus. O quê que você vai vestir? - exclamei preocupada, ao deparar meus olhos com o guarda-roupa de Finn.
Minha pretensão era estudar com ele mais uma hora, entretanto o cacheado lembrou-me que iríamos fazer algo esta tarde. Recolhemos, então, nosso material e viemos à sua casa assistir ao filme Hush, do qual prometi à ele que iria ver. Para o nosso alívio, Finn disse que seu pai havia ido fazer uma viagem de negócios e só voltaria daqui a dois dias. Assim que chegamos, Megan me recebeu com um sorriso gentil e disse que daqui a pouco levaria um lanche pra gente enquanto Finn me conduzia para o 3° andar com impaciência, sem ligar muito para o que ela estava dizendo.
Este tempo todo estava me preocupando com o que meus pais achariam de Finn. Mas ainda não havia passado pela minha cabeça o que meus pais achariam de seu visual. Além do mais, a primeira impressão é a que conta, principalmente para a Dona Winona, e, ao pegar Noah de exemplo, do qual ela gostou de cara, só conseguiria imaginar uma verdadeira catástrofe acontecendo.
O cacheado se encontrava deitado ao meu lado, com o controle da TV em sua mão, enquanto apoiava a cabeça com a outra, procurando pacificamente o filme. Ele olhou pra mim confuso com a minha súbita euforia e perguntou:
- Que foi?
- No fim de semana, Finn. Quando você for conhecer meus pais. - expliquei, revirando os olhos com impaciência.
- Ah, eu coloco qualquer coisa. - disse simplesmente, dando de ombros.
Deus do céu, ele não tá entendendo.
-Finn, me-meus pais... eles... como eu posso dizer? - ele me olhou novamente, e eu me forcei a contar de uma vez. - Digamos que o estilo... das suas roupas... não seria muito adequado, entende?
E como previsto, ele fechou a cara, como se soubesse o que eu diria a seguir. Eu não queria chateá-lo, mas já que ele deu a ideia teria que saber.
- E qual "seria"? - perguntou, fazendo aspas com os dedos. Estranhei o toque de ciúmes em sua voz.
- Ahn... não sei, do Noah? - arrisquei, e seus olhos se estreitaram. Ops.
- Eu não vou chegar lá com uma camiseta do super homem, Millie. - esbravejou. Arqueei a sombrancelha para o mesmo, ligeiramente ofendida.
- Ah, qual o problema? - questionei.
- É roupa de criança. - falou, agora em um tom de provocação. É incrível a rapidez de como seu humor pode mudar de um segundo para o outro, que eu mal consigo acompanhá-lo.
- Eu tenho a camiseta dele, Finn. - afirmei friamente. Ele já havia me visto com ela várias vezes. Estava me segurando para não estapeá-lo. Entretanto, seu sorriso tornou-se sincero, totalmente sem malícia alguma.
- É diferente. - disse ele.
- Diferente como? - quis saber, fitando-o com curiosidade.
- É diferente porque você fica bem com qualquer roupa - um sorriso surpreso se abriu em meus lábios. Eu sabia que Finn já não se importava por eu ser mais estudiosa e usar roupas mais confortáveis se comparadas com as das garotas que ele saia antes, mas ouvir aquilo de sua boca, me causou uma sensação ainda melhor do que apenas saber deste fato. -, aposto que até mesmo sem. - provocou.
Eu fechei os olhos envergonhada, escondendo a cara em seu pescoço, enquanto seu riso, que pra mim se tornou algo tão gostoso de ouvir, soou, levemente contido enquanto ele me abraçou contra si. Assim que voltei a fitá-lo não contive a risada antes de lhe acertar um tapinha em seu ombro de brincadeira.
- Besta. - sussurrei.
- Falei sério. - respondeu, sem um pingo de humor em sua voz desta vez. Então notei o quão seu rosto estava próximo do meu agora.
Senti sua mão deslizar pelo meu queixo enquanto minha respiração tornava-se desregular. Ele colocou uma mecha de cabelos atrás da minha orelha, grudando nossas bocas logo em seguida, fazendo com que um fogo se acendesse sob meu corpo quase que de imediato, sensação do qual eu já conhecia bem. Era incrível como Finn conseguia me causar isso sem muito esforço. Como se meu corpo estivesse necessitado. Necessitado por seu toque. Necessitado por ele.
Eu sabia do fato de que Megan poderia abrir aquela porta a qualquer momento, e que se não parassemos agora, ela poderia nos pegar fazendo algo mais do que apenas estarmos nos beijando, entretanto eu não conseguia simplesmente interrompê-lo. E também não queria. Desejava me concentrar apenas no gosto de menta de sua boca, de suas mãos em minha nuca, que desceram para minha cintura enquanto ele indireitava seu corpo para ficar sobre o meu. No quão intenso o beijo se tornava, e nas minhas mãos enfiadas em seus cabelos.
Finn mordeu meu lábio inferior, sugando-o logo em seguida e eu puxei seu cabelo em reflexo. Ele gemeu baixinho contra minha boca, o que me levou a fazer o mesmo, querendo ouvi-lo novamente.
Finn se ergueu subitamente na cama, puxando-me contra si, sem desgrudar nossas bocas. Ele me posicionou sobre seu colo e eu não me contive. Meu corpo passou a oscilar para frente e para trás timidamente enquanto suas mãos me seguravam com força, incentivando-me a continuar.
O senti endurecer sob mim enquanto ouvi Finn xingar baixinho contra a minha boca. Ele separou nossos lábios, logo soltei um resmungo de protesto pela interrupção. Ele sorriu de lado, gostando de eu estar demonstrando que estava tão necessitada dele como ele por mim. Suas mãos tiram minha camisa xadrez e a camiseta por baixo sem pedir permissão, entretanto, naquele momento, não me importei.
Ele desceu o olhar para meus peitos sob o sutiã branco e seu sorriso aumentou antes dele passar a língua nos lábios. Ambos logo estavam em meu pescoço enquanto comecei a me esfregar com mais força em seu colo, querendo, ao máximo, sentir aquela sensação gostosa que eu mal conseguia explicar. Ele me envolveu com os braços, puxando-me mais para perto de si, fazendo nossos peitos se tocarem. Tornei a puxar seus cabelos quando seus dentes roçaram em minha clavícula e...
Ouvi três batidas na porta e logo sai do colo de Finn em um salto. Agarrei apressadamente minha camiseta, que havia parado no chão, martilizando-me por não ter tomado cuidado, pois Megan poderia ter muito bem aberto a porta sem bater.
O Wolfhard parecia irritado pela interrupção, entretanto, quando viu minha situação, pareceu conter o riso enquanto eu tentava, de forma mais desastrada possível, colocar minha camiseta. Me sentei ao seu lado às pressas enquanto a mulher adentrava o quarto com uma bandeja em suas mãos.
- Desculpe a interrupção, meninos, só vim lhes trazer um lanchinho da tarde. - Ai. Amo ela. - Waffles pra você, Millie. E um sanduíche para o Finn. - disse ao se aproximar de nós com um sorriso gentil, colocando a bandeja com dois pratos com ambos os lanches e dois copos de café sobre a cama. - Coloquei leite no seu, Millie, não sabia se gostava de café puro assim como Finn.
- Está ótimo, obrigada. - falei, com gentileza. Preferia puro também, entretanto não queria fazê-la trocar, já havia sido gentil demais trazendo algo para Finn e eu comermos.
- Ela prefere puro. - afirmou o cacheado, acho que por provocação, já que eu nunca havia mencionado isso à ele.
- Finn. - dei-lhe um cutucão de leve. - Não se preocupe, não precisa, Megan. - afirmei, fitando-a.
- Não, não, eu trago outro. - disse sem perder o tom gentil, pegando um dos copos para então sair pela porta, fechando a mesma atrás de si novamente.
- Por que disse isso? - perguntei, ao me virar para ele, enquanto pegava um dos waffles, dando uma mordida.
- Porque é a verdade. - ele deu de ombros. O encarei confusa e Finn revirou os olhos. - Eu meio que presto atenção em você quando tá comendo com o Schnapp na cantina. - disse desviando o olhar, como se tivesse acabado de confessar algo que não queria que eu soubesse.
- Pensei que ficasse jogando na quadra, com os meninos... - comentei, sem saber o que dizer, minhas bochechas queimavam. Desde quando ele estava fazendo isso?
- E eu fico - afirmou, dando uma mordida em seu lanche. - As vezes. - completou, sorrindo como se estivesse lembrando de algo.
Após Megan trazer meu café, Finn finalmente deu play ao filme e enquanto assistíamos, eu tentava comer meus waffles o mais devagar possível, para que eu pudesse me distrair um pouco com algo, além de ter um pretexto para olhar para baixo, já que tinha certeza que Finn me provocaria por eu estar receosa com as cenas de suspense. Apesar de poucos momentos de aparição de sangue, eu não conseguia olhar por muito tempo. O filme realmente era bom, mas eu me agarrava à Finn sempre que me sentia apreensiva e ele sorria, achando graça, mas eu não ligava. Os momentos de suspense realmente me deixavam nervosa. Por fim, suspirei de alívio com o final, pela personagem principal conseguir sobreviver, apesar de ficar várias dúvidas na minha cabeça das quais o filme havia deixado totalmente de lado.
- E então, o que achou? - perguntou Finn, com um sorrisinho de lado.
- Mas e os pais dela? Ela vai continuar morando ali apesar de tudo aquilo ter acontecido? E o livro que ela estava escrevendo? Não conseguiu terminar? - questionei, olhando para a TV como se ela fosse me responder, um pouco insatisfeita com o final.
- Millie, é suspense, o foco do filme...
- Não, eu sei. - o interrompi. - Só acho que seria interessante eles mostrarem o que aconteceu depois. - Me levantei. - Antes de ir embora, posso dar uma olhada nas suas roupas? - perguntei meio sem graça.
- É claro. - riu. - Só olhar. - lembrou, como se eu fosse fazê-lo colocar várias peças para que eu pudesse decidir com qual ele iria no fim de semana.
- Só olhar. - afirmei, revirando os olhos para o cacheado antes de ir até o guarda-roupa.
Assim que o abri, uma jaqueta preta caiu aos meus pés, contive o riso e me virei para Finn, estava uma zona completa ali dentro. Ele logo pareceu entender e se levantou, vindo até mim.
- Esqueci da bagunça. - deu de ombros, antes de pegar a peça do chão.
- A Megan não arruma aqui dentro? - perguntei, pegando uma camiseta branca da qual nunca havia visto Finn usar. Entretanto havia uma estampa de uma banda da qual eu não reconheci, ou seja, aquela também estava fora de questão.
- Eu não deixo, sempre que ela arruma nunca encontro nada. - respondeu casualmente. O encarei em incredulidade e Finn riu.
- Bom, que bom que você deixa ela arrumar o restante do quarto. - zombei.
Finn pegou a maioria de suas roupas e as colocou sobre sua cama. Procurei por algo mais casual ou que chegasse um pouco perto, mas as calças de Finn eram todas rasgadas ou pretas, e as camisetas estavam completamente fora de questão.
- Chega. - falei, cansada de procurar, Finn me fitou. - Tem que ter outra maneira... - refleti.
- Temos mesmo que fazer isso? - questionou, tentando se conter. - Quer dizer, é mesmo tão ruim assim eu ir vestido do meu jeito?
Mordi o lábio. Não queria que Finn ficasse chateado, mas também queria muito que mamãe gostasse dele tanto quanto Noah, e que papai ao menos... não sei, o aceitasse?
- Finn, é só neste almoço. Para causar uma boa impressão, eu prometo. - afirmei, o mais mansamente que pude.
Ele apertou os lábios, parecendo pensar no assunto, e então deu de ombros e sorriu debochado, antes de relembrar:
- Sem camisetas de super heróis. -Gargalhei antes de lhe acertar outro tapinha. - Ai, por que você sempre me bate? - perguntou, rindo.
- Porque você praticamente pede! - afirmei. Em resposta, Finn se inclinou um pouco e me puxou em uma rapidez impressionante, colocando-me sobre seu colo novamente. Soltei um grito pelo susto e apoiei minhas mãos em seus ombros. O clima mudou, minha respiração já não estava mais regular e eu percebi que a de Finn estava começando a mudar. Ele me segurou pela cintura, sem desviar os olhos dos meus e eu mordi o lábio ao desviar os olhos para sua boca.
- É incrível como você consegue me provocar sem intenção alguma. - sussurrou ele, e percebi que de repente Finn já não estava mais olhando nos meus olhos. O cacheado tirou uma de suas mãos da minha cintura, subindo a mesma vagarosamente até chegar aos meus lábios. Ele passou distraidamente os dedos ao redor deles antes de baixá-los para meu queixo e aproximar seu rosto do meu, unindo nossas bocas.
Sua língua guiava a minha em um beijo que me tirava o fôlego. Agarrei seus cabelos como de costume e soltei um gemido quando Finn subiu sua mão em minha cintura para meu peito sob a camiseta e o apertou. Precisava ir embora antes que ficasse muito tarde, entretanto não conseguia manter esse pensamento enquanto Finn parecia dar seu máximo para que eu perdesse o pouco de sensatez que me restava. Ele deitou para trás, comigo ainda sobre si, sem desfazer o beijo ardente. Louca por ouvi-lo gemer outra vez, decidi tentar surpreendê-lo de alguma forma e desci meus lábios para seu pescoço. Percebi o mesmo se arrepiar e continuei. Distribuía beijos por toda a extensão de seu pescoço, um pouco hesitante por acabar fazendo algo errado ou algo assim. Mas Finn parecia gostar e conclui que devia estar sendo bom tanto quanto era pra mim.
Então o despertador do meu celular começou a soar no bolso da camisa xadrez, anunciando que já estava na hora de eu ir pra casa antes que mamãe chegasse da loja.
- O que foi? - perguntou Finn, confuso após eu levantar de imediato para desligar o alarme e recolocar a camisa.
- Eu tenho que ir embora... Quer ajuda para colocar isso de volta no armário? - perguntei, apontando para as roupas ainda jogadas sobre a cama.
- Não, é só jogar lá dentro. - respondeu despreocupadamente, sentando-se novamente.
- Bom, então... - foi então que subitamente me ocorreu uma ideia, da qual me perguntei porquê diabos não havia pensado nisso antes. - Finn! E se... pegássemos as roupas emprestadas com Noah?
- Não. - negou, fechando a cara. Oh, meu pai eterno! - Eu não vou usar as roupas dele!
- Por quê? - questionei. Qual era o problema dele com Noah? - Aposto que ele não se importaria de emprestá-las por umas duas horas...
- Millie, já disse que não. - seu olhar deixava claro que esta era sua última palavra, entretanto eu também não estava disposta a me render tão facilmente, o que custava Finn dar o braço a torcer?
- Eu não saio daqui até você aceitar! - afirmei, cruzando os braços e fazendo biquinho como uma criancinha de três anos.
- Ótimo. - ele sorriu maliciosamente.
- Engraçadinho. - revirei os olhos. Como ele sempre conseguia se sair por cima?
- Está beeem. - falou a contra-gosto. - Se isso fizer você parar de fazer essa cara...
- Sério? - perguntei surpresa, com os olhos brilhando.
- Não irei repetir. - ele virou o rosto emburrado. Movida pelo sentimento, me agarrei ao seu pescoço, abraçando-o contra mim.
- E não precisa. - o fitei. - Até amanhã, então?
- Até amanhã. - beijei seus lábios antes de lhe soltar e pegar minha mochila que se encontrava perto da porta, antes de sair pela mesma.
Assim que saí da casa de Finn o céu ainda não estava escuro, mas fui ficando ainda mais nervosa à medida que me aproximava de casa. Sabia que teria que dizer logo para meus pais para que eles fossem se acostumando com a ideia de eu estar namorando até o final de semana.
O problema era agir normalmente até papai chegar apesar do nervosismo que me consumia totalmente naquele instante.
E realmente foi uma tortura completa, devido a sua demora. Papai chegou exausto, porém há tempo pro jantar. Na mesa, os dois mantinham uma conversa amena sobre algo que havia acontecido na loja, onde mamãe trabalhava e eu senti que era agora ou nunca.
- É... Gente? - eles me encararam. - Preciso falar uma coisa... - disse, encarando meu prato.
- Pode dizer, meu amor. - falou minha mãe. - É algo relacionado à escola? - pude notar a preocupação em seu tom de voz, apesar de eu nunca ter sequer levado uma bronca em sala de aula.
- Não. Bem, é sobre... - encarei papai naquele momento, sentia que ele seria o primeiro a surtar. - um garoto...
- O Noah? Aconteceu algo grave com ele? - perguntou dona Winona.
- Não, mãe. Não tem nada a ver com o Noah. - respondi, revirando os olhos. - A senhora ainda não o conhece. Bem, ele e eu estamos... namorando. - soltei a bomba.
- Como é? - papai se pronunciou, reparei que ele parecia estar tentando manter a calma.
- Ela disse namorando. - mamãe sussurrou para ele, como se eu não pudesse ouvi-la.
- Não, ela não disse. - e eles vão começar...
- Ela disse.
- Impossível, ela ainda é a minha garotinha, Winona! - exclamou papai, indignado.
- Ela cresceu, David. - afirmou, mamãe, parecendo estranhamente feliz.
- Não para mim! - exclamou papai.
- Parem! - gritei, não aguentava vê-los discutindo sobre mim bem na minha frente. Mamãe parecia estranhamente curiosa, papai parecia estar a ponto de enlouquecer, como se algo que ele temesse toda a vida estivesse acontecendo diante de seus olhos. - Me desculpem por gritar, mas se há algo que queiram saber, podem me perguntar.
- Então, está falando sério, filha? - eu poderia ver claramente o brilho nos olhos dela.
- Não me diga que está feliz com isso, Winona! - implorou papai, ele parecia mais calmo, entretanto a esperança em seus olhos de que eu dissesse que o que eu havia dito era apenas uma pegadinha ou algo parecido era plausível.
- Espere, David. - pediu ela, se virando para o mesmo. - Ainda nem conhecemos o rapaz. - insistiu. - Quem é ele, filha?
- Bem... e-eu pensei...ele sugeriu vir aqui no final de semana conhecer vocês. Está tudo...? - mamãe me interrompeu imediatamente.
- Mas é claro! - exclamou ela. - Ele poderá vir no almoço, o que acha? No sábado mesmo, David pode tirar uma folga do trabalho e...
- Sério mesmo? - papai perguntou a ela, ironicamente.
- Só um dia não faz mal, Bem. - respondeu, chamando-o propositalmente pelo apelido que a própria lhe chamava, como uma chantagem emocional. Mamãe era esperta.
Os dois se olharam por alguns segundos, que para mim duraram horas. Meu pai então se virou para mim, suspirou e assentiu. O.k., até que não havia sido assim tão mal, pensei. Mas sabia que Dona Winona não se daria por satisfeita, ela estava louca para me perguntar os detalhes e que não o estava fazendo porque papai não iria gostar de escutar. Logo, quando subi pro quarto, para jogar videogame, não me surpreendi quando ela veio atrás de mim.
- Filha... - começou ela, sem saber por onde começar.
- Sim? - fingi-me desentendida, ligando o X-box sobre a estante e voltando a me sentar ao seu lado sobre a cama, segurando o controle. Tinha que admitir, pensei que quando dissesse para meus pais que estava com alguém, finalmente me sentiria pronta para conversar sobre esses assuntos com ela, que sempre desejou que eu me abrisse. Entretanto, eu ainda não me sentia. Nada havia mudado. É algo muito pessoal para que eu consiga me sentir segura o suficiente para falar com alguém. É estranho, mas ainda assim, era o que sentia.
- Querida, por que não me contou sobre esse garoto antes? - finalmente perguntou.
Respirei fundo, sem desviar os olhos da TV, iniciando o jogo enquanto procurava uma resposta em minha mente boa o suficiente para que não a magoasse. Limpei a garganta e lhe respondi:
- Porque... a senhora sabe como tenho dificuldade em conversar sobre esse tipo de coisa, mãe.
Para o meu alívio, ela pareceu compreender e sorriu.
- Então, você disse aquilo durante o jantar por causa do seu pai?
- Como assim? - perguntei, tentando prestar mais atenção no jogo quando quase perco uma vida.
- O Noah, Millie. É o Noah? - foi então que arregalei os olhos e pausei o jogo.
A encarei. O sorriso dela mostrava o quão estava satisfeita e feliz com tudo aquilo. Mordi o lábio inferior. Por que ela insistia?
- Ahn... não, mãe. Não é o Noah! - afirmei, enfatizando a ultima parte, como se isso fosse ajudá-la a entender. - Sério, somos apenas bons amigos.
- Ah, filha, mas ele deve gostar tanto de você! - Ai, meu Deus!
- Não, mãe, ele não gosta, posso te garantir. - afirmei, tentando forçar um sorriso.
- Ele gosta de outra garota? - engraçado como o assunto sobre eu estar namorando havia sido totalmente esquecido.
- Gosta! É, ele gosta! - exclamei, satisfeita por ela ter tocado finalmente em um ponto final que a faria descartar aquela ideia de uma vez.
- É uma pena... - sussurrou, entretanto logo se recompôs. - Bom, então quem é esse garoto? Qual o nome dele?
- Finn. - respondi. - Estuda na mesma classe que Noah e eu. A gente se aproximou e...bom, é isso. - resumi, não queria mais falar sobre aquilo.
- Ai filha, me dá detalhes! - resmungou, insatisfeita. - Como vocês se aproximaram?
- Ahn... - comecei, pensando em alguma forma de me esquivar da pergunta. Então olhei de esguelha para o relógio sobre meu criado-mudo. 22h50. - Nossa, mãe. Como está tarde! Amanhã acordo cedo. - exclamei, de forma tão falsamente teatral devido ao meu desespero para que ela saísse e esquecesse aquele mínimo detalhe de que eu estava namorando até sábado. - Vamos fazer assim, prometo que no sábado lhe darei TODOS os detalhes que quiser, está bem? Boa boite.
Ela me encarou um pouco descontente, entretanto aceitou e beijou minha testa antes de sair do quarto. Desliguei o X-box novamente e fui ao banheiro para escovar os dentes antes de dormir.
Na quinta-feira, perguntei a Noah se ele poderia me emprestar uma roupa sua para Finn, afirmando ser caso de vida ou morte. Não foi difícil convencê-lo, na verdade, ele pareceu verdadeiramente surpreso por Finn, que sempre zombava de suas roupas, havia aceitado tão facilmente usá-las emprestado. Na sexta ele me entregou uma sacola com um suéter preto com losangos roxos, uma calça caqui e um par de tênis Vans. Finn simplesmente se negou a usar. Insisti até ele ficar irritado e aceitar para que eu ficasse calada.
Mamãe me fez levantar cedo no sábado. Fomos ao super-mercado e ela me fez mandar mensagem para Finn, perguntando do que ele gostava de comer. Obviamente que ele não respondeu, provavelmente por ainda estar dormindo. A ajudei a preparar o almoço assim que voltamos pra casa e subi para tomar um banho.
Estava mais do que ansiosa, então tomei um banho bem rápido, sem que pudesse perceber, e mandei uma mensagem para Finn enquanto me vestia. Amarrei meu cabelo em um coque frouxo e fiquei fuçando minhas redes sociais até que mamãe grita para que eu atenda a porta. Arregalo os olhos, por saber o motivo, e me levanto em um pulo, para logo descer as escadas em disparada.
Giro a maçaneta da porta, quando chego ofegante em frente à mesma, arregalando os olhos em incredulidade assim que a porta se abre. Puta que pariu. Que merda Finn pensa que está fazendo?!
O cacheado usava um moletom com capuz, uma de suas calças com corrente e seu habitual par de all star preto. Seus cabelos estavam rebeldes como sempre. Ele estava vestido de preto da cabeça aos pés, ao contrário do que havíamos combinado. Estava claro que sua pretensão era me tirar do sério.
- Oi - ele aproximou seu rosto do meu rapidamente, roubando-me um selinho.
- Finn, o que pensa que tá fazendo? - sussurrei, controlando-me para não mandá-lo embora para trocar de roupa. Céus, mamãe terá um ataque... - E a roupa que a gente havia combinado?
- Que roupa? - ele então fingiu se lembrar de algo. - Ah, a que você combinou pra eu usar? Joguei no lixo.
- Ficou maluco? Eram do Noah, Finn! Não podia ter feito isso. - exclamei, exaltada, esquecendo-me de falar em voz baixa.
- Vai por mim, eu, no mínimo, fiz um grande favor a ele.
- Você é louco.
- Millie, querida, ele já chegou? - a voz da minha mãe se fez presente ao meu lado tão subitamente que eu dei um pulo. Não fui rápida o bastante, pois assim que eu me virei, ela então olhou para Finn e eu paralizei. - O-olá, você é algum amigo da minha da Millie? - perguntou, podia sentir que ela torcia em seu interior que não fosse ele.
Deeus, o que eu faço agora?
- Sou o namorado da Mills, prazer. - ele estendeu a mão pra mamãe sem desfazer o sorriso, agora simpático, e eu soltei o ar, que só então percebi que havia prendido, antes que desmaiasse ali mesmo.
Mamãe pareceu hesitar, entretanto acabou apertando a mão dele. Conseguia perceber em sua expressão que não era aquilo o que ela estava esperando.
- Prazer... bem, entre. - ela disse, um pouco sem saber como agir, enquanto lhe dava espaço para entrar.
Finn me encarou como se dissesse: tá vendo? Não foi nada demais; e eu revirei os olhos, acho que por mania mesmo.
Sem cerimônias fomos até a cozinha, e assim que vi a expressão teatralmente séria do meu pai, senti vontade de dar meia-volta, entretanto Finn, que surpreendentemente continuava pleno, segurou a minha mão e a apertou gentilmente, como se estivesse tentando me acalmar ou algo assim. Bom, não sei dizer se isso funcionou muito, pois a falsa carranca do meu pai pareceu piorar bastante.
- Você deve ser o Flynn, certo? - não, ele não iria usar a mesma tática que usou da vez que conheceu Noah...
- Quase, meu nome é Finn, prazer. - corrigiu o cacheado, sem se deixar abalar. Eu não sabia como ele estava conseguindo manter a calma, porque eu já estava tremendo de nervosismo.
Finn educadamente fez o mesmo gesto de estender a mão para cumprimentar minha mãe com o meu pai, e logo mamãe parece se lembrar de algo e me fita:
- Espere, foi com ele que você estava sonhando naquele dia, filha?
Arregalo os olhos e respiro fundo. Não podia acreditar que mamãe havia resolvido citar aquilo bem na frente de Finn, que logo arqueou a sombrancelha para mim, com um sorriso divertido no rosto.
- Como assim, senhora Brown? - perguntou cinicamente.
- Uns dias atrás eu havia chegado do trabalho e quando fui acordar Millie para que ela não perdesse o jantar, ela acordou dizendo seu nome. - ela deu de ombros.
Finn logo me encarou querendo saber mais e eu evitei seu olhar, encarando a parede. Mamãe resolveu tomar as rédeas da situação e falou para nos sentarmos logo e fazermos nossos pratos antes que a comida esfriasse, e assim nós o fizemos, sentando ambos à frente dos dois. Sei que a primeira coisa que Finn fará após o almoço é me questionar sobre meu sonho e eu não pretendo mencionar uma palavra sobre o assunto.
Sirvo meu prato com carne assada, batata e uma salada enquanto sinto o olhar do cacheado ainda sobre mim. Vejo um sorriso de lado de Finn de canto de olho e o encaro confusa. Percebo que meu prato está maior que o seu e reviro olhos, lhe dando um cutucão de leve pela provocação.
- Então, Finn... - mamãe começa, provavelmente dando início ao questionário ridículo que eu sabia que ela faria uma hora ou outra, entretanto meu pai a interrompe:
- Quais as suas intensões com a minha filha?
O garfo que eu havia usado para espetar um pedaço de carne e levado até a boca caí sobre meu prato, causando um som estridente. Caraca, sério que ele iria começar logo assim?
- Pai. - o repreendi.
- O quê? Só quero conhecer o Finn melhor. - se defendeu, frisando o nome de Finn, chamando-o corretamente, como se estivesse lhe dando algum tipo de crédito por não ter se mostrado hesitante ou tímido nenhuma vez, assim como Noah.
Mamãe pigarreou e eu me esforcei para compreender o cochicho que ela iria dizer pra ele assim que se inclinou um pouquinho para perto de sua orelha:
- A gente combinou que essa seria a última pergunta. - disse ela. Papai pareceu compreender seu erro e eu entreabri minha boca, em incredulidade. Eles não combinaram isso...
- Não tem problema, Millie. - disse Finn, dando de ombros. - Garanto que são as melhores, David. Posso chamá-lo assim?
Não só meu pai, como mamãe e eu nos surpreendemos por Finn não ter hesitado em chamar meu pai pelo primeiro nome logo de cara, entretanto o mesmo logo recompôs-se e assentiu.
- Claro, pode. - dava pra ver que ele não esperava por isso. - Bom, agora que já deixamos de lado as formalidades, não se importaria - Bem, eu me importo! - que eu fizesse mais algumas perguntas, não é?
Finn negou despreocupado e eu imediatamente fitei papai.
- Então Finn, eu particularmente estou surpreso por Millie estar... assumindo algo sério com alguém agora, claro, ela sempre foi muito madura e tenho certeza de que ela sabe o que está fazendo. Mas e você? Você se considera pronto para assumir um compromisso?
Meus olhos foram instintivamente de volta para Finn, que de início pareceu hesitar um pouco por causa da pergunta, então imediatamente segurei sua mão por baixo da mesa, tentando passar para si a mesma segurança que sentia toda vez que ele segurava a minha. Entrelaçei nossos dedos e percebi a tensão abandonar o rosto do cacheado, que logo respondeu a pergunta com uma sinceridade que surpreendeu até mesmo a mim:
- Bom, eu confesso que esta é a primeira vez que eu estou tendo um lance sério com alguém, e acho que PRONTO cem por cento não é bem a palavra, mas acredito que é apenas questão de tempo. - ele finalizou pegando seu copo de suco e tomando um gole. Sei que mamãe deve estar reparando em sua maneira de falar, mas já não estou nem aí, se Finn está despreocupado, acho que realmente não há motivos para que eu fique tão hesitante...
- Entendo. Bom, desculpe a pergunta um pouco estranha mas você se... namoraria?
O quê?
- Como? - Finn levantou o rosto. - Bom, não. - mamãe franziu a testa e eu percebi que já era, aquele foi o estopim pra ela. Soube naquele momento que assim que Finn fosse embora, ela deixaria claro que não o aprovava. - David, como eu disse, eu ainda acho a palavra PRONTO um exagero, e que... - ele me encarou novamente, entretanto com um olhar diferente. Como se suas próximas palavras fossem ditas diretamente pra mim e não para meu pai. Como uma espécie de... promessa. - a verdade é que há muitos caras que merecem Millie muito mais do que eu e por motivos diversos, mas enquanto ela me quiser, farei meu melhor pra merecê-la.
É impossível conter o sorriso apaixonado e bobo que se estende em meus lábios. Sinto uma imensa vontade de abraçá-lo para nunca mais soltar, mas me contento em me esticar para si, depositando um beijo em sua bochecha.
Volto meu olhar para meus pais e percebo que dessa vez papai que nos encara de uma forma estranha. Um sorriso, quase que mínimo brota em seus lábios, como uma admiração ou algo do tipo que no momento não entendo, mas deixo isso de lado assim que ele volta a falar:
- Fico feliz em ouvir isso. - observo quando mamãe lhe dá um cutucão de leve e ele logo se recupera. - Bem, há quanto tempo vocês estão juntos?
- Pouco. - respondeu Finn.
- Pouco quanto? - papai insistiu.
- Dias. - o cacheado deu de ombros.
- Pode ser cedo pra isso, mas existe alguma bandeira vermelha no relacionamento? - mamãe arqueia a sombrancelha para meu pai e percebo que ela também não havia entendido a pergunta.
- Como assim? - perguntei, envolvendo-me na "conversa" pela primeira vez.
- Há algo dolorosamente marcante? Uma briga, talvez?
Apesar de Finn não ter sido nada fácil no começo, e que éramos quase como cão e gato, não poderia afirmar que havia algo verdadeiramente marcante do qual me fazia me questionar estar fazendo a escolha certa ou algo do tipo, mas o silêncio de Finn na mesa me deixou confusa. Olhei para o mesmo e ele parecia estranhamente tenso. Seria por causa da forma que vinha me tratando desde o primeiro dia? Ele devia saber que eu já o havia perdoado.
- Não. - finalmente afirmou, após alguns segundos de silêncio na mesa e apesar de parecer um pouco nervoso.
Olhei de relance para papai e vi a hesitação em seus olhos, entretanto ele decidiu seguir:
- Que ótimo. E o que planeja fazer quando acabar o colégio?
Quase suspirei de alívio por ele ter finalmente feito uma pergunta mais amena e normal.
- Bem, eu gostaria de entrar para uma escola de música. - papai arregala os olhos. - Eu...componho algumas músicas e toco violão e guitarra, acho que pretendo seguir com isso profissionalmente.
Os olhos de papai brilham, e o sorriso mínimo cresce para um sorriso de verdade. Mas o que...?
- Ah, é mesmo? E que tipo de música geralmente toca? - perguntou, com um interesse gritante no olhar.
- Rock. - disse Finn. - Eu intercalaio entre punk até o grunge, às vezes indie quando estou no tédio... - comentou.
- E em quais bandas se inspira?
- Ramones e Slipknot. Esses caras são demais. Beatles também.
- Eu adorava Beatles quando era moleque. Sabe, é difícil achar alguém com tão bom gosto na sua idade. - papai estava se dando bem com Finn, era isso mesmo?
- Valeu. Sabe, eu sempre gostei de músicas dos anos 80, e então passei a ouvir... - e os dois surpreendentemente continuaram a falar sobre rock por mais alguns instantes. E para a minha surpresa, eu era a única ali incrédula. Mamãe apoiava o cotovelo na mesa enquanto descansava o queixo na palma da mão aberta, e fitava papai com um sorriso como se sua atitude fosse algo típico dele. Eu já não entendia mais nada.
Quando o assunto dos dois acabou, ou seja, quando Dona Winona decidiu interrompê-los e tomar a palavra, passou a dar continuidade às perguntas:
- Bom, quantos anos tem, Finn?
- Dezessete. - o tom mais descontraído e leve era perceptível em sua voz agora.
- E estuda na mesma escola que Millie? - mãe, eu te disse isso ontem...
- Sim, somos da mesma turma.
- Ah, sim. E você gosta bastante de estudar?
Ele está prestes a negar quando eu imediatamente respondo por ele:
- Sim! Ele adora!
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