Capítulo XXIX
Katsuki
— Ele não foi... estuprado, né? — sinto meu coração errar uma batida por um segundo. Perco o ar nos pulmões e arregalo os olhos em direção ao moreno que me encarava em dúvida.
Não, merda, não posso reagir assim.
Tento ficar calmo, forçando minha cara a ficar normal, mas acho que agora já é tarde. Puta que pariu, eu não podia contar algo assim, Eijirou vai se sentir ainda mais exposto se alguém além de mim souber. Eu realmente gostaria que houvessem mais pessoas o apoiando, mas ele se sente tão envergonhado por "ter sido idiota" e cedido ao pedido de desculpas do desgraçado do Dabi que não quer que ninguém saiba sobre isso, então respeitá-lo foi minha escolha.
Mas agora acho que posso ter ferrado tudo. Merda, eu realmente não tenho ideia de como deveria reagir. É como uma luta entre razão e emoção. Eu quero muito dizer a verdade, pois esse tal de Hanta realmente não parece alguém ruim e está tentando ser amigo de Kirishima de novo, mas não quero fazer isso sem o consentimento do Eijirou.
Se bem que caso Hanta estiver fingindo, eu quebro a cara dele de um jeito que não irá mais ousar mentir na vida, mas penso que não vou precisar.
Ou não, talvez eu vá, pois agora está praticamente óbvio que estupraram meu namorado.
Puta que pariu, Katsuki.
Mexo no celular de forma aleatória, buscando algum texto chato da nossa pesquisa para me distrair, mas começo a ficar nervoso, abrindo várias abas e entrando em vários aplicativos para tentar diminuir a ansiedade que corre em minhas veias.
Cacete, provavelmente estou nervoso pra um caralho agora e o Sero sacou tudo, porra, sinto muito Eijirou...
E neste momento, o próprio ruivo apareceu na porta, nos observando com um mini sorriso empregado nos lábios. Em suas mãos estavam aqueles salgadinhos que provei das primeiras vezes que vim aqui, me trazendo certas lembranças desagradáveis sobre aqueles dias cheio de surpresas, quando eu não sabia o que havia acontecido com o ruivo e fui imprudente. Ah, eu realmente fui um merda.
Ao menos há a informação de que é esse tipo de besteira que Kirishima gosta... Mas, novamente, o pensamento positivo é esmagado pela situação atual em que eu praticamente revelei seu segredo para o cara que ele evita de uma forma extremamente idiota, merda.
Ele diz ter se esquecido das bebidas, eu digo que aceito qualquer uma tentando transparecer certa indiferença enquanto Hanta me secava com os olhos, como se quisesse entender meu silêncio.
Kirishima sai para buscar as bebidas e acho que esse é o momento perfeito para ameaçá-lo de morte caso esse cara ouse revelar isso para alguém ou espalhar rumores de merda.
Meu olhar provavelmente transmite o medo que tenho de algo acontecer com o ruivo, mas segundos depois os mudo para passarem um sentimento de completa fúria, tentando intimidá-lo.
— Se você ousar, apenas ousar falar isso para alguém ou brincar com essa merda você tá fodido pra caralho — esbravejo, rangendo os dentes e fixando meu olhar nas orbes cor de carvão. Quero que o desgraçado entenda que não há nenhuma condição dele fazer isso, senão, já era.
Vejo-o arregalar os olhos, acenando positivo, como se confirmasse algo e logo depois dizendo:
— Bakugou, eu não vou contar cara —sua voz é firme, seus olhos transmitem uma sinceridade que eu realmente quero acreditar — Quero ser amigo dele novamente e eu jamais brincaria com algo sério assim!
— Que "algo sério"? — meu corpo inteiro estremece ao ouvir a voz do ruivo. Não, puta merda, fui descuidado demais.
Imagino que meus olhos revelem todo o temor que sinto, não consigo parar de encarar o garoto com um meio sorriso, demonstrando curiosidade em relação ao assunto atual enquanto segurava os copos com água.
— Ah, essas coisas que aconteceram no campo de concentração, sabe? É algo muito sério, eu nunca brincaria com algo assim! — Sero diz, remetendo ao nosso trabalho escolar que é sobre a Segunda Guerra Mundial. Porra, que gênio desgraçado.
— Ah, entendi — Eijirou sorri compreensivo, colocando os copos na mesa e sentando novamente. — Vocês não vão comer? — ele questiona, apontando para os salgadinhos na mesa.
— Vamos sim — ele responde de novo e pega um dos pacotes. Faço o mesmo movimento, ainda morrendo com o que acabei de fazer.
Tenho que contar para ele logo e pedir desculpas pela merda que fiz, ao menos isto.
***
Depois de três horas quase ininterruptas, terminamos nossas pesquisas, dividimos as falas, fizemos os slides. Basicamente, a porra toda.
Teríamos que nos apresentar na frente da sala e aquilo não me importava muito, sempre ignorei os olhares alheios e desinteressados das pessoas, mas percebi que Kirishima comentava toda hora sobre esse fator, como se estivesse realmente nervoso com aquele detalhe, o que me deixou apreensivo e acabei perguntando:
— Não gosta de ficar na frente da sala? — questiono, me espreguiçando e juntando a sujeira que fizemos com os pacotes de salgadinho. Talvez eu seja meio organizado demais.
— É que... não gosto dos olhares... — ele murmura meio tímido — Me incomodam e eu acho minha voz terrível, então acabo não conseguindo falar direito.
— Ah, o Denki é meio assim também... ele realmente odeia quando o encaram. — Sero comenta, citando o outro garoto que descobri ser seu irmão.
— Tenho medo que riam de mim.
— Ei, se alguém rir de você vai levar uma surra — proclamei, querendo assegura-lo de que não precisava ter nada a temer.
— Não, Suki! — ele exclama desesperado — Por favor, não se meta em brigas por mim. Não quero ver você sendo expulso! — implora, me deixando sem jeito. Droga, estou preocupando ele assim?
Aceno em silêncio, suspirando e sugerindo logo em seguida que façamos alguma coisa, como jogar algo para descontrair um pouco aquele ar sério que tomamos durante o trabalho.
Ambos aceitam e pegamos os consoles para jogar, revesando em cada partida. Em dado momento, Kirishima diz que se cansou e senta ao meu lado apenas me observando jogar. Me sinto meio mal pela exclusão que acabo por fazer com ele e me aproximo mais um pouco até que nossos corpos estivessem bem próximos.
Espero que ele não se incomode tanto com essa proximidade ou com o que vou fazer agora.
Envolvo meu braço em sua cintura e o puxo para mais perto, vendo-o estremecer com minha ação repentina e me encarar curioso.
Aproximo meu rosto de seu pescoço e começo a deixar carícias. Porra, não quero que ele se sinta excluído e não resisto à nossa proximidade para tratá-lo com mais carinho assim como eu havia dito que faria.
Ok, talvez seja porque eu também esteja muito arrependido e me sinto culpado pra caralho por ter revelado aquilo ao Hanta.
— Suki, o Sero... — ele diz e levo meu olhar ao idiota com a cara toda vermelha de vergonha nos observando.
— Ele que se foda — bufo, vendo sua expressão ficar indignada e trato de beijar a testa de Kirishima.
— Olha, se quiserem privacidade... — o idiota diz sorrindo — Eu posso ir embora.
— Não precisa! — sinto Kirishima desvencilhar-se do meu braço em sua cintura e se afastar um pouco. Admito que senti uma leve tristeza, mas acho que também fui meio inconveniente e envergonhei ele mais ainda... na frente do cara que ele está evitando.
É erro atrás de erro, puta que pariu.
— Não gente, não me incomoda mesmo, sério — Sero explica — Não vejo problema em ser uma vela ou de dar espaço a vocês, contanto que estejam felizes fica de boas.
Esse cara é legal demais, vai se foder.
Eijirou me fita envergonhado e sinto um sentimento ruim instaurando-se no meu peito. Levo minhas digitais aos seus cabelos ruivos e afago, sussurrando um pedido de desculpas que só ele possa ouvir.
Depois disso, trato de mudar de assunto para não prolongar aquilo.
— Foda-se, vamos continuar jogando — brado em desafio para o cara e ele sorri me desafiando de volta. Tsc, nem parece que horas atrás eu ameacei ele por ter me encurralado e conseguido a resposta sobre o que houve com Kirishima.
E falando nisso, porra, espero de verdade que Sero não esteja mentindo sobre contar para alguém.
Eu também não quero manter meu erro escondido de Eijirou, por mais que eu tenha medo da sua reação...
[...]
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