Denki

Durante a aula toda fiquei pensando em maneiras de como falar com Eijirou, mas nada parecia bom o suficiente.
Eu fico apavorado toda vez que nossos olhos se encontram, tenho medo do que ele pensa de mim, de pensar que ele deve me odiar.
E, infelizmente, ele demonstrou isso bem claramente.

Na educação física, eu fingi cair no chão e ter me machucado para conseguir me aproximar dele e conseguir ao menos me desculpar pelo passado - Tudo bem, eu também fiz isso porque odeio esportes, mas isso não vem ao caso.

Sem sucesso.

Ele me ignorou, e eu imagino que tenha razão.
Ele me odeia, com certeza.
Mesmo que o Hanta e a Jiro - minha amiga de infância -, digam que talvez ele pudesse perdoar se fosse eu.

*

Kirishima tinha ido com Bakugou e outro cara de cabelos platinado para a enfermaria, que inclusive é lindo...
Estranho, nunca achei um cara bonito antes.

E falando no diabo, ele voltou da enfermaria e por algum motivo que desconheço veio na minha direção.
Talvez Kirishima tenha falado sobre mim para ele e agora ele veio me espancar até a morte?
Adoraria estar errado agora.

– Ei – chamou minha atenção no momento em que chegou – Eai, cara. Precisa de ajuda aí?

– Ah, eu tô bem – evitei olhar em seus olhos.

– Tem certeza? Consegue se levantar? – Quanto mais ele se preocupa, mais eu me sinto mal por ter fingido me machucar para não jogar.

– Sim – respondo e vejo ele se sentar ao meu lado no banco. – Tudo bem, eu não aguento mais – declaro baixo – Eu fingi me machucar para não jogar.

– Ah – Ele parece surpreso. Deve me achar um ridículo agora. – Que bom então, cara. Ao menos não se machucou de verdade – sorriu.

– Você não vai mais jogar? – questiono, pois jurava que esse cara não perderia mais sequer um segundo para estar naquela quadra novamente.

– Quero te fazer companhia – meu coração falha uma batida. Ele é muito simpático. – Me chamo Tetsutetsu – estende a mão para eu apertar.

– Denki Sero – aceito o aperto de mão e noto que suas mãos são bem grossas.

– Sero? Não tem outro cara com esse nome na sala?

– Somos irmãos.

– São? – ele me encarou indignado tentando processar a informação.

– Sim, meio irmãos na verdade – solto uma risada, sempre tenho que explicar toda vez – Meu pai se casou com o dele.

– Saquei – ele sorriu parecendo compreender.

*

Acabamos conversando sobre vários assuntos diferentes nesses últimos minutos de aula.
Descobri que, como eu suspeitava, ele adora esportes e parece ser daqueles caras que curte academia. Percebi que seu uniforme marcava bem sua musculatura muito bem treinada.
Bom, não que eu tenha ficado olhando, só dei uma espiadinha.
Mas eu meio que não me arrependo...?
Que estranho.

Enfim, ele acabou por descobrir que eu odeio esportes e prefiro muito mais ficar vidrado de frente pra uma tela de computador jogando qualquer jogo que me pareça interessante ou até passar horas em algum vídeo-game aleatório.
A maioria das pessoas me julga por isso ser um passatempo "inútil", mas ele não comentou nada negativo, apenas passou seu braço em volta de meu pescoço e nos aproximou, como Kirishima fazia.

Mas foi diferente.
Eu senti minha cara esquentar bem na hora e quase surtei, mas me mantive firme e ouvi ele dizer:

– Podemos marcar de um dia jogar na minha casa, se quiser. – disse sorridente – Eu vou vencer!

Eu diria que ele é bem competitivo se não fosse a porcaria da minha cara ficando vermelha.

– C-claro! – meu deus, eu gaguejei.

*

Quando a aula acabou e voltamos para a sala, vi que Eijirou parecia triste e Bakugou ainda estava na enfermaria.
Acabei arriscando minha chance de tentar ser amigo do Kirishima aos poucos e me aproximei da carteira onde estava, perguntando se aconteceu algo, mas ele me ignorou, como da última vez.
Acho que não devo insistir, mas...

– Cara, pode falar comigo – o assegurei – Não vou te julgar, eu juro.

– Vai embora, por favor.

E eu fui, mas fiquei o observando de longe.

O que poderia ter acontecido?

Vi que um garoto baixinho de madeixas arroxeadas ficou jogando bolinhas de papel nele durante a aula, e posso deduzir que não eram mensagens muito boas pela expressão de desgosto de Kirishima ao ler elas.

– Droga, ele tá fazendo isso de novo – Ouvi Hanta resmungar na minha frente enquanto olhava na direção do arroxeado. – Provavelmente é porque o Bakugou não tá aqui pra espancar ele até a morte.

– Aquele garoto já fez isso com o Kirishima? – questiono.

– Vi ele fazendo ontem, mas o Bakugou botou ele pra correr.

– Vamos fazer algo sobre isso quando a aula acabar – sussurro e Hanta acena positivamente.

Quando a aula acabou, nem tivemos tempo de tomar alguma atitude, pois vimos Eijirou correr pra fora da sala e não fomos capazes de alcançá-lo.
Mineta estava perto de seus grupinho e duvido muito que eles não fossem partir para a agressão caso tentemos intimidá-lo.

– Com certeza aconteceu algo entre ele e o Bakugou – Hanta comentou depois de um tempo.

– Sim...

*

Chegamos em casa esgotados.
E pensar que ainda era o primeiro dia de aula, me da até repulsa.

Aconteceu bastante coisas hoje, mas duas delas são as que mais ando pensando.

Por um lado, conheci Tetsutetsu que é inegavelmente muito simpático e divertido, mas tem algo estranho.
Toda vez que penso nele sinto minha face esquentar e meu coração falha algumas batidas.
Poderia ser...?
Não sei ao certo, talvez seja só ansiedade por ter feito uma nova amizade, então acho que não tem nada de estranho comigo.
Mas talvez eu vá testar só pra ter certeza...

Mas enfim, do outro lado tem o Eijirou, que pareceu realmente abalado hoje. Sem contar o jeito frio dele e as expressões angustiadas que ele exibe.
Quero realmente saber o que diabos aconteceu depois que viajamos, mas ninguém sabia de nada que tinha acontecido, Dabi, Shigaraki e Monoma simplesmente foram presos e a polícia se manteve em silêncio.
Nem mesmo Shoto quis falar conosco sobre seu irmão.

Mas talvez...
A Toga possa saber o porquê, afinal, ela é a ex-namorada do Dabi.

[...]
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Eu pensei que fosse fazer Kamijiro, mas sei lá, Tetsukami é tão... másculo.