Capítulo XVI
Eijirou
No dia seguinte, no momento em que cheguei na sala, tive o mesmo susto do dia anterior.
Mas agora era o Kaminari.
É sério isso?
Nossos olhos se encontram e vejo sua expressão contrair-se em temor.
Ele ainda tinha medo de mim?
Talvez eles não tenham mudado nada no final...
Confiei demais em Sero.
Olho para a porta da sala e vejo Katsuki passar por ela. Vou em sua direção e noto que seus olhos estão inchados. Meu deus, o que aconteceu com ele?
- Bom dia, Suki... - Digo ao me aproximar e parece que o acordei de um transe - Tá tudo bem?
- Ah, bom dia - Ele parecia exausto, mas mesmo assim se aproximou e beijou minha testa carinhosamente - Tô bem - respondeu esboçando um pequeno sorriso cansado.
Ele não estava bem.
Estava fingindo, aparentemente ele não queria falar para mim.
Fico triste por isso, é como se ele não confiasse em mim o suficiente para contar seus problemas.
Se bem que, eu também agi assim e ele teve paciência comigo.
Então, é justo, eu acho.
Mas não deixo de me preocupar, portanto tentarei perguntar sobre isso mais tarde.
- Que bom! - Abro um pequeno sorriso, mas não sei fingir muito bem.
Me sinto mal por ter que fingir que não notei seu estado, mas não quero pressioná-lo. Ele não fez isso comigo, então por que eu faria com ele?
*
Algumas aulas que, sinceramente, são entediantes passaram e finalmente havia chegado a minha favorita - ou menos odiada.
Sim, educação física.
Apesar de não ser tão divertida assim por causa das pessoas da minha sala, é legal poder fazer algo além de sentar na cadeira por horas tentando entender o que o professor fala.
Mas, infelizmente, o que iríamos jogar era futebol.
De todos os esportes, esse é o que eu mais odeio. Então falei para o professor que não iria jogar, sem desculpa nenhuma, eu só disse que não queria e ele deixou, mas que eu perderia nota.
Tanto faz, quem reprova em educação física?
Fiquei no banco observando os outros meninos jogando, incluindo Katsuki, que parecia um pouco melhor, mas ainda assim estava tão aéreo quanto eu nas aulas de matemática.
Seus olhos estava inchados... ele havia chorado? Não que seja algo vergonhoso, tanto porque faço isso com frequência, mas qual motivo teria o levado a chorar? E por que ele não me contou?
Espero que nada de ruim tenha acontecido.
- Merda, Kaminari cê tá bem? - Sou tirado de meus pensamentos pela voz de Sero, então volto meu olhar para a quadra e vejo o loiro caído no chão.
- Sim, tô - Ele segura a mão de Hanta, se levantando e parecendo demonstrar dor em sua expressão. - Porra.
O professor All Might - ao menos este era seu apelido -, interferiu, ouvindo os resmungos de Kaminari e em seguida deixando-o sentar no banco.
Tinham vários bancos vazios, já que não estava no horário de intervalo de mais nenhuma classe.
Mas o infeliz sentou do meu lado, a poucos centímetros de distância inclusive.
- Não é melhor ir na enfermaria? - Indaguei, tentando deixar claro o quão incomodado eu estava.
Ele queria me provocar? Me deixar desconfortável?
Porque ele conseguiu.
- Não, não é tão sério.
- Então por que não vai jogar?
- Tá doendo bastante.
- Então isso é sério sim, imbecil - rosnei irritado. Acho que estou andando demais com Katsuki.
- Obrigado pela preocupação, mas tá tudo bem - ele ri.
- Não estou preocupado.
- Tá, certo... - Ele coça as têmporas ainda com um sorriso bobo na cara - Ei, Kirishima... você lembra de mim, né?
- Como se eu fosse conseguir esquecer - fecho a cara e cruzo os braços.
- Olha, eu... aquele dia... - Ele parece ter bastante dificuldade pra se expressar, mas então o vejo respirar fundo - Eu fui um babaca, cara. Sinto muito.
Estreito os olhos, não tenho ideia se ele diz a verdade ou não, mas não pretendo aceitar essas desculpas.
Quando pretendi aceitar as de Dabi as coisas pioraram e me fizeram ser essa desgraça que sou hoje.
- Tanto faz - digo ríspido e não olho mais para ele.
Momentos depois, ouço outra pessoa gritar
- BAKUGOU!
Ao ouvir o nome do loiro, meus olhos vão imediatamente ao encontro de Suki sentado no chão enquanto uma multidão se formava envolta dele.
Levanto quase que de imediato e vou correndo para a direção dele.
- Suki! Você tá bem? - empurro as pessoas que estão em sua volta e estendo a mão para o loiro que estava sentado no chão parecendo sentir dor.
- Tá sim, Kiri - Ele sorri desanimado e aceita minha ajuda, se levantando soltando um chiado de dor.
- Que nojo, daqui a pouco vão se comer - Vejo um garoto resmungar e alguns outros rirem, eram os mesmos de ontem quando estávamos saindo da escola. Decido ignorar sua fala, não vale a pena dar atenção a esse tipo de gente.
- Cara, eu sinto muito! - Um menino de madeixas pratas se aproxima - Não foi de propósito - Ele parecia de fato arrependido, a sua voz exibia um arrependimento real. - Posso te ajudar a ir até a enfermaria, se quiser.
- Não precisa, desgraçado - Katsuki recusou com o jeito rude dele, ele de fato não parecia gostar de ser ajudado por qualquer um.
- Suki, acho que não tem problema aceitar ajuda de vez em quando... - Digo e vejo a carranca do loiro se desmanchar, ele se direciona novamente ao platinado e enfim aceita a ajuda com um “Tanto faz”.
*
Fomos até a enfermaria e no caminho todo percebo os esforços do platinado em arranjar algum assunto e ser amigável conosco. Descobri que se chamava Tetsutetsu, e pelo o que pude perceber ele gosta bastante de esportes - com exceção de basquete -, e adorava se exercitar. Que cara másculo!
Bom, não mais que Katsuki, mas ainda sim, másculo.
Ao chegarmos, a enfermeira estava ausente, então Suki apenas deitou na cama enquanto ainda conversávamos.
- Foi bom conhecer vocês! - Disse com uma empolgação invejável - Imagino que queiram privacidade, então vou deixá-los a sós.
Confesso que achei essa fala um tanto estranha, como se estivesse insinuando algo.
- O que quer dizer com isso? - Ouço Suki perguntar rudemente.
- Hm? Como assim? - Indagou com uma expressão de desentendimento.
- Só porque namoramos, não quer dizer que vamos nos comer em público, porra!
Observo a face de Tetsutetsu adquirir um tom avermelhado na hora.
- Ah, foi mal, bro - diz - Não foi isso que quis dizer. É que a maioria dos casais que conheço costuma querer privacidade, e não gostam que eu fique por perto. Então peguei o costume de ir embora logo - explicou-se, coçando as têmporas envergonhado.
Noto que a expressão do loiro muda completamente, agora ele estava com as sobrancelhas arqueadas e já começava a corar envergonhado com sua suposição.
Meu deus, como ele ainda é capaz de dizer que eu sou o adorável aqui?
- Ah, certo - ouço ele murmurar baixo.
- Então, como eu dizia, vou indo, a aula tá quase acabando - ele se vira novamente para a porta com um sorriso amigável - E foi mal de novo por te fazer cair, Bakugou-kun.
Então ele sai. Imagino que estava ansioso para voltar a jogar antes que a aula acabasse.
- Suki, você tá bem? - questiono, vendo que o loiro já estava olhando para o nada pensativo novamente - Seja sincero, por favor.
Ele suspira e após longos segundos ele finalmente responde:
- Não.
- O que aconteceu? - Me aproximo e sento ao seu lado na cama.
- Melhor você não saber - declara - Não quero te preocupar com isso.
- Se é algo sobre você, eu quero saber, Suki.
- Não é sobre mim.
- Como assim?
- É sobre nós. - Fico perturbado por um momento. Talvez ele tivesse chegado a conclusão que sou um péssimo namorado? Queria terminar comigo? Era por isso que estava tão pensativo? - Quer dizer, não exatamente, mas algo assim. Não sei explicar.
- Olha, se quer terminar só diz logo - Vejo sua expressão mudar - Não precisa ficar enrolando.
- O que? Não, não é isso Eijirou! - ele explica parecendo estar desesperado - Não é nada assim, não se preocupe.
Um alívio percorre meu corpo que já estava tenso. Todo momento penso que isso vai acontecer, e agora tinham tantas provas de que era isso que quase aceitei que essa era a verdade.
- Mas o que houve então?
Ele ficou calado um tempo, provavelmente ponderando se deveria me contar ou não, mas enfim, ele abriu a boca.
- É sobre minha mãe.
[...]
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Vixe, o que será que aconteceu?
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