Capítulo XL
Tetsutetsu
Me sinto atordoado pelo abraço repentino e inúmeros pensamentos passam pela minha mente, o que acaba fazendo eu me desvencilhar do aperto e fitar o homem mais velho assustado, com medo de que isso seja alguma maldade.
- Porra, pai. Para de me zoar! - digo enfurecido com aquela ação. Tenho quase certeza que ele fez isso para eu me sentir bem antes de descer o cacete em mim. Não que eu tenha alguma base para sustentar minha suspeita, mas eu simplesmente não consigo acreditar nisso.
Me afasto um pouco, ainda suspeitando de sua demonstração de afeto e olho em seus olhos. Minha mãe me encara com certo receio, enquanto ele me olha com uma expressão firme. Legal, provavelmente foi apenas uma tentativa falha de me fazer sofrer mais ainda.
Vejo-o cerrar os punhos e andar na minha direção. Droga, no final ele realmente vai fazer aquilo que eu esperei. Não há escapatória agora e sei que eu mesmo trouxe esse destino a mim.
Suspiro, com a face levantada e com os olhos fechados, apenas esperando pelo impacto. Minhas mãos estão suando com o nervosismo e isso só piora a situação.
Mas, novamente, não sinto o impacto.
Abro um olho com receio, vendo o mais velho me encarar com a mesma seriedade.
- Olha, filho... - ele começa a dizer e presto atenção, ainda de guarda alta para qualquer coisa que que acontecesse - Você não vai apanhar. Eu não vou fazer nada do que pensa.
Pisco os olhos incrédulo com sua fala, arqueando uma sobrancelha em dúvida e o encarando.
- O que quer dizer?
- Você pode voltar para casa, eu vou continuar pagando sua escola e continuar cuidando de você, como eu sempre fiz. - diz e fico ainda mais confuso.
- Por que do nada tá me aceitando de volta? - indago - Você deixou bem claro que não me queria aqui! "Você não mora mais nessa porra de casa" foi isso que disse! - gritei com ódio. Ele realmente pensa que vai ficar tudo normal se eu só ficar aqui como se nada tivesse acontecido? Tudo bem, esse era meu plano, mas puta merda, se ele pensa isso, está muito enganado.
- Eu sei. - sua voz soa mais quebrada e isso me deixa desnorteado por alguns segundos - Eu falei que não te queria mais aqui, sei disso. - ele confirma novamente e fico perplexo - Eu estava fora de mim naquele momento e acabei falando merda.
Ótimo, ele vai dar essa desculpa...
- Não justifica o que eu fiz, é claro. Me arrependo de ter feito isso e espero que possa me perdoar. - suspira - Também entendo caso não queira. Fui um pai horrível mesmo.
- Então mudou totalmente sua opinião sobre mim e o Denki do nada? - rosnei. Ainda não compreendi essa parte.
- Não. Vou te explicar.
***
As saídas repentinas do senhor Takashi e do senhor Akira, agora fazem sentido... o Denki pediu para eles irem? Eu ficaria bravo, mas entendo que ele teve uma boa intenção e aprecio isso. E não só os pais dele, mas também a mãe do Kirishima veio aqui dizer várias coisas ao meu pai, mas ele disse ter ignorado no momento e só depois ter começado a refletir sobre suas palavras.
E algo mais inesperado também aconteceu...
- O seu... namorado. - ele diz com certo desconforto, o que me traz receio - Ele veio aqui com seus amigos. - encaro ele, surpreso com a informação. Denki, o quão irresponsável você pode ser? Ele realmente não tem jeito, mas sei que foi tentando me ajudar - Enfim, ele gritou muitas coisas na minha cara e depois eu fechei a porta irritado, mas as palavras começaram a fazer efeito.
- O que ele disse?
- Que você era um cara incrível e que te ama muito. Isso a princípio me incomodou, mas... - fuzilo ele com o olhar e ele percebe isso, dando uma pequena pausa, mas logo continua - Eu respeito sua escolha, beleza? É estranho, mas desde que você seja feliz com esse moleque... muito audacioso, por sinal... - ouço-o sussurrar e não consigo conter uma risada de escapar. Denki é realmente audacioso quando é necessário. - Enfim, ele também jogou outras verdades na minha cara, então não consegui ignorar e eu planejava te procurar, só não tive a coragem necessária.
Fico em silêncio por um tempo, absorvendo tudo que ele me disse. Me sinto mais aliviado por saber que ele ao menos respeita meu relacionamento, o que me deixa mais seguro quanto a namorar alguém. Não só isso, mas também estou quase sorrindo de tanta felicidade depois de ter ouvido que Denki disse me amar. Me pegou realmente de surpresa, mas é tão maravilhoso que agora quero ouvir essas palavras de sua boca.
Alguns minutos de silêncio depois, minha mãe também começou a falar, explicando que não me procurou por medo do que meu pai faria comigo caso ela me trouxesse de volta para casa, então quando ela soube que eu estava sob cuidados dos pais do Denki e Hanta, ela ficou mais tranquila, apesar de ter se sentido mal por fazer com que outras pessoas fossem responsáveis por mim, portanto, ela disse que vai pagar os Sero por terem cuidado de mim, embora eu ache que eles vão gentilmente recusar.
Me sinto mais leve e confortável com a situação, tanto que quero contar como foi tudo ao loiro. Lembro de ter deixado um bilhete informando que iria resolver tudo de uma vez, então abro minha mochila, pego meu telefone e quando ligo a internet ele começa a vibrar pra caramba. Fico assustado, será que Denki ficou desesperado pelo fato de eu ter vindo até aqui? Imagino que seja isso, droga...
Antes que eu pudesse sequer ler as mensagens, recebo uma ligação do loiro e atendo rapidamente.
- TETSU! - ele grita, sua está cheia de desespero e parece embargada - TETSU, É VOCÊ? ME DIZ QUE TÁ AÍ! ME DIZ QUE FOI VOCÊ QUE ATENDEU, POR FAVOR!
- Sou eu cara, que desespero é esse? - pergunto e ouço um longo suspiro do outro lado.
-É você, ah é você... que bom! - ele está... soluçando? Ele realmente pensou que eu me foderia tanto assim?
- Denki, você tá chorando? O que aconteceu? - pergunto preocupado, me levantando do sofá, vendo que meus pais me encaram com certa confusão.
- Eu pensei que você ia desistir... - diz e fico confuso - de viver... aquilo que você escreveu...
- Meu deus, como foi entender isso? - pergunto, mais para mim mesmo do que para o loiro - Cadê você?
- Tô na rua. Eu tava te procurando - responde ansioso - Onde você tá?
- Na minha casa, você sabe onde fica, não é? - ouço-o afirmar rapidamente e logo ele desliga a chamada, me deixando desesperado já que é de noite e o loiro está por aí sozinho, provavelmente vindo para cá agora, assim espero.
***
Após alguns minutos de espera na frente da minha casa, vejo a silhueta do loiro correndo em minha direção e quase me derrubando ao me abraçar.
- Mano, é isso que quis dizer com "dar um fim nisso"? - ele questiona e eu afirmo positivo. O que mais poderia significar... ah, verdade, é uma frase bem ambígua...
- Droga. Um não especifica e o outro entende tudo ao pé da letra - comento, suspirando com nossa compatibilidade em relação a falta de inteligência.
- Assim fode né - ele ri, apesar de seu rosto estar vermelho e molhado pelas lágrimas. Droga, eu devo ter causado um desespero enorme nele. - Dois burros namorando é difícil... - se interrompe assim que percebe o que disse.
Fico em silêncio com essa interrupção, pois não sei o que dizer. Nós não namoramos, mas... droga.
- Quer entrar? - digo e ele parece sentir medo, provavelmente pela presença do meu pai - Ele não tá mais tão desgraçado assim, graças a você. - sorrio para ele, que arqueia a sobrancelha surpreso, mas aceita o convite.
Enfim, entramos na casa e o guio direto para meu quarto, mas antes que chegássemos meu pai nos interrompe.
- Ei, você. - vejo-o apontar para Denki e já me preparo para defendê-lo. - Gostei da forma que falou naquele dia - um elogio? - Obrigado e... sinto muito. - ele coça a nuca, realmente parecendo arrependido.
- De boa... - o loiro parece meio atordoado, mas responde de sua forma e logo voltamos a caminhar até o quarto.
Quando sentamos na cama, um silêncio se instaura entre nós. Não sei o que dizer e provavelmente nem ele sabe. Só pedi para entrarmos porque é perigoso lá fora, mas é como se eu tivesse nos levado até uma armadilha silenciosa. Minutos se passaram e ele me diz que saiu de casa correndo, deixando Hanta para trás sem explicações, então ficou alguns minutos conversando com seu irmão e lhe explicando a situação para que não se preocupasse. Depois que ele desliga o telefone, o silêncio volta.
- Parece que deu tudo certo, né. - ele decide finalmente falar sobre nossa situação, provavelmente estando curioso com o que aconteceu.
- Sim. - afirmo - E como eu disse, foi graças a você.
- Foi mal por ter escondido isso.
-Tá tudo bem. - sorrio para o loiro - Você teve boas intenções.
- É... - fala de um modo arrastado, como se não soubesse exatamente o que dizer - Espero que seu pai esteja falando sério.
- Também espero.
- Sabe que ele cometeu um crime, né?
- Sei. - respondo, fitando seus orbes amarelados - Mas acho que ele merece uma segunda chance. Se ele fizer isso de novo eu não perdoo. - vejo-o sorrir em resposta.
Novamente, o silêncio domina o lugar. Caramba, que agoniante, esse silêncio todo é terrível, ainda mais quando eu pretendo dizer de uma vez o que sinto para ele. Ele disse que me ama para o meu pai, mas não disse para mim, provavelmente por medo, então tenho que confirmar... tenho que corresponder. Tenho que tentar.
- Denki. - ele me encara com atenção - Você me... ama? - sua face começa a adquirir um tom avermelhado e ele gagueja, demorando um pouco para responder, mas finalmente diz:
- S-sim...eu te a-amo. - desvia o olhar envergonhado.
Sinto meu coração acelerar. Ele me ama, ele me ama, ele me... certo, melhor não surtar, não agora.
- Eu também. - declaro timidamente e ele me encara ainda mais envergonhado e quase solto um suspiro com esse estado adorável qual ele chegou. Lembro do que ele disse antes de entramos e aproveito esse momento para conseguir perguntar o que eu quero há muito tempo - Você quer namorar comigo, Denki?
Certo, agora acho que ele vai entrar em combustão espontânea de tão vermelho que está. Tudo bem que não nos conhecemos tão bem assim, mas eu realmente gosto dele depois de tudo que conheci sobre ele. Quero que fiquemos juntos...
Vejo-o soltar um riso de nervoso e respirar fundo para enfim me responder.
- Quero sim, cara. - ele diz e mostra um sorriso animado. Droga, eu não sou de ferro para aguentar toda essa alegria contagiante (talvez em outro universo, mas não aqui).
Sinto um sorriso formar-se nos meus lábios e me aproximo dele para beijá-lo. Ele recua um pouco e fico confuso com sua reação, arqueando a sobrancelha e instigando-o a me contar o problema.
- É que da última vez...
- Bom, acho que nada é como da última vez agora...
- Verdade. - ele afirma, aparentemente mais para si mesmo e logo se aproxima, colando nossos lábios em um beijo terno, mas nada que vá levar a outra coisa.
Quando descolamos nossas bocas, eu sorrio, feliz por finalmente tudo ter dado certo.
Meu pai, depois de dois meses, me aceitou. Estou feliz com isso, ao mesmo tempo que é doloroso ele ter esperado tanto tempo apenas para aceitar algo tão simples... ao menos tudo deu certo.
Nada vai voltar ao normal tão cedo e com certeza eu e meu pai não vamos nos tratar como antes, mas depois desse sufoco todo as coisas deram certo para mim e espero que também deem para os amigos que tenho agora, principalmente para Eijirou, mesmo que eu não saiba exatamente pelo que ele passou.
[...]
************
Wow, não sei o que dizer. Espero que não tenha ficado tão ruim quanto eu penso que está...
Bạn đang đọc truyện trên: Truyen247.Pro