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Capítulo XI - Suplantado pela Égide: a Torre do Rei se Move

Guiada pela escolha

A iridescência que fazia as cores daquele imenso cenário galáctico destrelado dançarem fazia parecer que viam tudo de dentro da barriga de uma gigantesca bolha de sabão, e V adorava bolhas de sabão. Enquanto Jungkook esperneava ao ser arrastado por Hasa-Ithor, a principal preocupação de Mongtae foi imaginar se Jimin podia criar bolhas resistentes o bastante para carregarem pessoas. Seria legal viajar por aí numa bolha, seja no interior ou montado nela...

Enfiou a mão na cestinha que trazia consigo e seus dedos tatearam o fundo, não encontrando nada além de farelos. Os biscoitos haviam acabado. Khro fez um biquinho entristecido, então Taetae umedeceu a ponta do indicador com a língua e passou a catar os farelinhos. A união com o Hagar da Amizade havia tornado o significado de "a fome é negra" bastante literal para Mongtae. Portanto, "não" ao desperdício!

A passagem se fechou às costas de Jeon Jungkook, e Jimin se virou para a direita e correu pelo caminho de poeira cósmica. V o seguiu, imaginando quão ruins deviam estar as coisas no lugar para onde se dirigiam, pois Khro havia lhe contado que Hasa-Ithor gostava de ajudar os outros, mas que custava para admitir que o ajudassem, quanto mais para pedir ajuda! O senso de dever e proteção que o ligam a Akasha sin¹-nim devem superar em muito a capacidade de Confiança, seu principal Escudo. Interessante.

— Durma, Taehyung — ordenou Khro através de sua boca, interrompendo seus pensamentos.

— O quê? — Reagiu V, sentindo uma tonteira imediata. Seus olhos pesaram e seus membros perderam o vigor, tanto que teve que interromper a corrida. Sua língua enrolava. — Não... Não!

Dooly chegou a olhar para trás, aparentando preocupação, mas logo voltou a prestar atenção a frente e apertou o passo. Devia ter entendido o que se passava e não considerava um problema. O Hagar da Amizade disse:

— É para seu bem. Não resista.

— Jimin-ah também está indo pro mesmo lugar que nós e está acordado — protestou Taetae e voltou a avançar, tropeçando nos próprios pés como um bêbedo, sua cabeça rodava —, então por que eu tenho que dormir?

— Jimin é um hospedeiro de Hagar, você não.

— Isso não foi um problema mais cedo. — V se referia ao embotamento das memórias de todos que viram marcas do embate entre Berat e o Senhor dos Farzat'shoa.

— Não tivemos que lutar mais cedo — refutou Khro. — Agora pode acontecer. Se houver um Sho lá, vai acontecer. Então, por favor, durma. Irei despertá-lo logo que tudo acabe.

— Não vai rolar — V resistiu e mordeu a língua para clarear um pouco as ideais. — Eu quero saber tudo que há para saber sobre você e não posso fazer isso dormindo na hora da ação.

— Mas você teria que ser meu hospedeiro para lutar junto comigo.

— Evidentemente, ora.

— Você... me aceita? — O Hagar foi pego de surpresa. Conversavam desde que se viram a sós no closet do quarto que V dividia com RM no hotel, mas só haviam tocado no assunto "escolha" quando explicou que ainda não estavam definitivamente ligados.

V parou, trocava tanto os pés que iria acabar caindo se continuasse, e focou toda a atenção de que podia dispor imerso em semelhante marasmo na resposta à pergunta do Hagar:

— Você me escolheu dentre todos no mundo, Khro, e considero isso uma honra. Então, claro que o aceito. Use minha vida como achar melhor, mas, por favor, não me peça para dormir. Quero ver tudo que você vê a partir de agora.

A sonolência rapidamente recuou, e uma sensação que era quente e fria a um só tempo passou a se irradiar do peito de Taetae em um pulso contínuo. Khro-Yehath falou, a voz dele emergiu do pulso e rondou a mente do rapaz, mais toque do que som:

Não sei precisar o que é felicidade, mas creio que se pareça com o que sinto agora. Obrigado por aceitar ser meu amigo.

A sensação crio-cálida se alastrou pelo corpo de V, expulsando tudo que não fosse indispensável a missão dos Ak'hagar, nem mesmo a ciência de seu peso restou. Num instante, não sentia mais nada, e sentia tudo. A relação entre as palavras e as ações designadas por elas havia acabado de se tornar infinitamente mais estreita.

O rapaz deixou escapar uma gargalhada e disparou pelo caminho de pedrinhas com os significados de "voar" e "rápido" preenchendo sua mente, aquela calidez fria explodindo em suas costas. Ultrapassou Jimin, que estava prestes a transpor a saída do averso² de Hasa, e saltou pela abertura, sendo recepcionado por uma cortina de estilhaços, pelo pavor das pessoas que estavam naquele teatro e pelo forte desprezo — que lhe pareceu deveras familiar por causa da influência de Khro — que os Lirthua'shoa nutriam por elas.

[NOTA: 1 – Sin (신) é "deus" em coreano. / 2 – Averso é um termo criado especialmente para designar o mundo de Hasa-Ithor. Ele é a junção do prefixo -a, que indica negação, e do termo "verso", extraído de "universo'' (lugar onde tudo existe, o mundo dentro do qual todos os mundos existem) e também equivalente ao termo "versus", do latim (o lado oposto de algo, o reverso, o avesso). Significa lugar fora dos lugares, não-lugar].

*     *     *

Guiada pelas prioridades

Hasa não havia se equivocado, afinal.

A voz de Khro-Yehath, que destoava da de Taehyung apenas pelo ininterrupto tom monocórdio, ecoou pela mente do rapaz:

Aevarast-Evanih, o Sho do Tempo, um dos Fazrat'shoa, lacaio de Zadha-Rine, um dos deveres dos Hagar de Akasha, meu dever em especial. Para além do Portal, o principal motivo pelo qual as identidades dos Fragmentos de Ak'Mainor sempre têm de ser mantidas em segredo até o Despertar de seus espíritos ancestrais.

Esse breve verbete sobre o Lirth'sho, somado à visão daquele ser de capa branca a brandir uma espada contra um punhado de pessoas indefesas, bastou para esclarecer toda a situação para Taehyung.

Era Aevarast-Evanih a ameaçar os Filhos de Menora que ali se encontravam, e

Era Aevarast-Evanih a ameaçar Sua Excelência.

Hasa havia feito bem em buscar a ajuda deles.

V voou direto para o Sho, agarrando-o em pleno movimento (pela mão que empunhava a espada e pelo cangote) e o arrastou consigo. As pessoas, as moléculas de ar, tudo ao seu redor, exceto o servo de Larhen-Edriza a se debater em suas mãos, pareceu parado aos seus olhos. Uma ruguinha de dúvida se formou em sua testa, mas logo o Bangtan Boy se lembrou de que Khro havia lhe dito que para as trevas um instante é eterno e entendeu: sua união com o Hagar da Amizade, sua breve corrida, sua saída do averso de Hasa, sua imersão naquele mundo de emoções temerosas e temerárias, seu agora... Tudo foi, tudo era em um instante, o mesmo instante de um instante.

O Fragmento está seguro, as Crianças estão seguras. Diminuamos a pressão e aumentemos o ritmo, Taehyung.

As prioridades de Khro. Ele havia lhe falado tudo sobre elas.

O propósito dos Ak'hagar.

A segurança dos amigos.

As ordens de Akasha, Berat e Asha.

A preservação dos inimigos.

Essas eram as prioridades estabelecidas sob a influência de Amizade e Medo, e

Nessa ordem Mainor'dore empreendia suas ações.

Khro nunca fugia ao seu propósito, seus amigos estavam seguros fisicamente, e, por hora, não haviam novas ordens a seguir, portanto só lhes restava assegurar a sobrevivência de Aevarast-Evanih até que ele se retirasse de suas presenças sem, claro, permitir que ele voltasse a ser uma ameaça aos seus amigos (mesmo que psicologicamente).

V acedeu ao pedido do Hagar e largou Aevarast. A progressão temporal para eles, antes equivalente a duas vezes e meia a velocidade da luz, foi aumentada para três, tornando o corpo de Taetae invisível aos olhos humanos (isso pouparia o Fragmento e as Crianças de mais estresse, pois Khro sabia que o Sho o acompanharia). As brumas de calor e frio às suas costas adejaram para trás, asas de nuvens negras dançantes, cessando o avanço de seu corpo e permitindo que despencasse tranquilamente até o chão.

Em concomitância com o pouso de Khro, e sem meios para deter seu iminente choque com a frente do palco, o servo de Larhen se dobrou sobre si mesmo, protegendo a cabeça. O baque veio, espatifando tábuas e abrindo uma cratera no concreto, e lacerando pele e quebrando ossos e rompendo órgãos. Mesmo assim, ele não levou o instante do instante de um instante para se pôr de pé, e igualar sua progressão de tempo a do servo de Menora.

E estavam cara a cara, apenas dois metros de chão os separando. Não havia nem uma mancha de sangue nas roupas do Sho ou réstias de pó, tampouco qualquer sinal de ferimentos.

Era o esperado. Aevarast-Evanih podia regredir o tempo do próprio corpo, transformando qualquer dano que lhe infligissem na história de um futuro esquecido. Khro havia alertado Taehyung a respeito disso. Ainda assim, foi espantoso de ver. V teria assobiado, admirado, se não fosse pela aura assassina extremamente fria e desprovida de quaisquer abalos, apesar de sua intervenção, ainda a manar do Farz'sho. Ele não havia desistido de ceifar a vida do Fragmento de Ak'Mainor.

*     *     *

Guiada pela curiosidade

O Hagar da Amizade anulou a progressão temporal. Agora tudo, até mesmo o Farz'sho do Tempo, estava parado, deixando V à deriva no reino das sombras. Mainor'dore disse:

Aevarast não pretende lidar conosco...

Apesar do tom monocórdio, o coração de Taetae foi invadido pelo grande receio que se irradiava do espírito do Ak'hagar. No mesmo instante, o rapaz se lembrou que o passado físico estava fora do alcance das habilidades de Khro e se focou no quanto o receio dele puxava mais para o medo do que para a preocupação... E pronto! Já imaginava se o tom monótono que ele sempre usava, na verdade, não era para esconder que ele tinha medo quase a todo momento. Amizade podia ser o principal Escudo dele, mas não era de todo contrário às ações de Medo, muitas vezes poderia até catalisá-las. Para ele, devia ser péssimo ficar sozinho, mas estar rodeado de amigos também não devia ser tão bom, especialmente com Larhen-Edriza e seus servos ameaçando machucá-los. Foi uma sucessão de pensamentos que veio totalmente fora de hora, mas tudo bem. V tinha tempo, todo tempo entre o tempo, enquanto permanecesse ao lado de Mainor'dore.

...Objetiva voltar no tempo, para antes de Hasa encontrar Sua Excelência.

Mas se ele fizer isso... o Fragmento não vai ter qualquer proteção! Não podemos deixá-lo voltar!

Ele não vai voltar, Khro assegurou e tentou dar um passo em direção ao servo de Larhen, no entanto o Bangtan Boy firmou o pé, permanecendo no mesmo lugar. Taehyung?

Podiam partir para cima do Lirth'sho para arrebentá-lo dos pés à cabeça antes que ele percebesse o que estava acontecendo (pela mudança na postura de Khro, era isso que ele pretendia fazer). Se impregnassem o corpo dele com a marca das trevas, ele não conseguiria fazer nada por um bom tempo, o suficiente para que Akasha sin-nim despertasse. Não estariam fugindo às prioridades de Amizade e Medo se fizessem isso, já que o Fazr'sho voltava a representar uma ameaça para Sua Excelência, mas também não ganhariam nada, além da segurança do Fragmento.

Por tudo que V tinha escutado sobre os Lirthua'shoa, sabia que Aevarast-Evanih era um dos principais protetores do Portal, raramente se distanciando dele. Além disso, ele também agia sob parâmetros bastante específicos e eliminar Mainor'dore estava quase no topo da lista, logo abaixo de "acatar as ordens de Larhen-Edriza e Zadha-Rine". Logo, ele não estaria ali sozinho, disposto a ignorar Khro-Yehath sem pestanejar, se não tivesse recebido ordens estritas para isso. Com Zadha debilitado como devia estar depois do embate com Berat e Asha, tais ordens só poderiam ter partido do Portal. Se Aevarast as esquecesse, o Fragmento estaria seguro, e poderiam proceder como de costume: Khro focado na preservação de Aevarast, e Aevarast focado na destruição de Khro.

Por outro lado — se bem lembrava —, apenas Berat-Enira, que era Ak'houan-a-rae (o Buscador de Ak'Mainor), tinha meios para rastrear a energia dos Altos Seres de Verso, e isso quase sempre reduzia as chances de encontrar o Portal antes dele ser aberto a zero, porque os Lirthua'shoa tendiam a restringir as ações dele até o Despertar de seu temerário soberano. Porém, se pudessem ter acesso às memórias de um deles, um que certamente havia estado na presença do Portal, a coisa mudaria de figura. Caçar o Portal não era uma das atribuições especificas de Khro, mas como fazia parte do propósito dos Ak'hagar uma espiadinha nas memórias do Fazr'sho do Tempo não faria mal. Taetae sabia que não seriam capazes de vê-las, essa não era a especialidade de Khro, mas poderiam ler as emoções e sensações que continham, e qualquer pista que conseguissem para o Senhor dos Hagar seria melhor do que pista nenhuma. Era uma oportunidade boa demais para deixar passar, e V expos isso ao Hagar.

Prossiga, Mainor'dore permitiu, mas, por favor, Taehyung, só vamos apagar o que for referente à ordenação do extermínio do Fragmento. Memórias são preciosidades, mesmo às de Aevarast. V assentiu e se pôs a vasculhar a mente do Sho do Tempo, como havia visto o Hagar da Amizade e do Medo fazer com as pessoas mais cedo no hotel. Estava atrás das memórias vinculadas ao atual Portal.

O Hagar se encarregou de memorizar bem cada informação emotivo-sensorial que extraíam, com sorte poderiam esboçar um perfil geográfico da região em que os Lirthua'shoa se baseavam. Seria bem básico e cheio de lacunas, mas pelo menos ajudaria Berat a restringir sua zona de busca. Já era um grande avanço.

Se o hyung estivesse aqui, teríamos a localização exata... Taetae fez um muxoxo.

Não, infelizmente. Toda informação a respeito do Portal é vetada aos olhos de Qenía pelos encantamentos de Zadha-Rine. Khro deixou escapar um som engraçado por três vezes, em intervalos regulares e mecânicos. V arregalou os olhos ao reconhecer que era uma tentativa de riso. Ele não pôs proteções contra mim. Não me considera curioso, parece.

Sorte a nossa.

Sorte a minha. Obrigado por me atualizar, Taehyung.

A resposta de V foi cortada pela próxima memória de Aevarast-Evanih.

"Esqueçam os Ak'hagar e matem os Fragmentos". Mainor'dore não podia desvendar memórias como Qenía, ainda assim sentiram cada uma dessas palavras em uma delas, na mais recente, e a devoraram de imediato, roubando o real objetivo do inimigo e lhe dando um novo na forma de um curto sonho: uma simples vendeta pelo infortúnio que Asha causou a Zadha-Rine. Como um dos Hagar de Akasha e seu principal adversário seria natural que Aevarast o desafiasse e não ao próprio Asha. O Fragmento estava seguro agora, e o Sho do Tempo era um problema só deles.

*     *     *

Guiada pela amizade

Se lidarmos rapidamente com Aevarast, talvez sobre o bastante dessa memória para mostrar a Hasa, disse Khro, concentrando-se em manter a memória a salvo, o que era difícil. Sua alma era o mais destrutivo dos agentes destrutivos. Algo tão pequeno e frágil quanto uma memória não iria durar muito junto a ela. Se ele puder identificar a voz do Portal, também poderá procurar por ele.

Prioridade um, então, concluiu V. Vou ficar na minha, só observando pra não te atrapalhar.

Você não me atrapalha, Taehyung. Somos uma dupla. O Bangtan Boy sorriu, animado por não estar sendo um estorvo, e o Hagar da Amizade se pôs a caminhar devagar em direção ao Fazr'sho do Tempo. Antes, você disse que queria saber mais sobre mim... Meu mundo gira em torno dos meus amigos. Se estão seguros, me sinto confortável. Se não estão, é meu dever levá-los a segurança. Amigos, inimigos... Só os diferencio quando os últimos desejam fazer mal aos primeiros. Do contrário, só há uma amizade não correspondida.

Então, nesse momento, Aevarast-Evanih...

É um inimigo, disse Khro sem vacilar ao parar diante do imóvel servo de Zadha-Rine. Porque a permanência dele aqui me impede de ir ter com Hasa e contribui para o fortalecimento do Portal, o que vai contra a segurança dos meus demais amigos. Vou removê-lo do caminho. Taetae ergueu as mãos, seus dedos estavam coçando para retirar o capuz da cabeça do Lirth'sho, curioso, curioso, mas o Hagar de Akasha voltou a baixá-las. Ver não era relevante, então era melhor não ver. Pelo bem de Taehyung. Asha diz que sou tão complacente quanto frio, então é verdade. Asha não mente. Ele diz que posso ser tão virtuoso quanto Qenía e muito mais cruel do que Zaku, então eu posso. Entretanto, não ataco primeiro, a menos que seja para defender um amigo que dependa de mim, e apenas de mim. Apesar da pressa, não é esse o caso.

Dito isto, Khro-Yehath deixou que a progressão temporal se restabelecesse ao nível em que estava quando a suspendeu, transcorrendo em uma velocidade três vezes maior do que a da luz.

Aevarast-Evanih se moveu de imediato, com a espada sedenta por riscar uma trilha de lado a lado de seu pescoço. Sua cabeça teria saltado fora, se a nuvem de sombras a raiar da porção esquerda de suas costas não tivesse se adensado e bloqueado o avanço da lâmina, fazendo-a rachar e partir em diminutos pedaços, como se mordida por dezenas de bocas minúsculas de dentes fortes e afiados. Simultaneamente ao bloqueio, atacou com a outra asa, dando uma pancada na lateral-esquerda do corpo do servo de Larhen. Ossos se trincaram de alto a baixo sob a força do golpe. Tecido, pele e carne se corroeram sob os lábios das brumas de trevas.

O Sho não se deixou cair, e tanto sua espada, quanto seu corpo se recuperaram, retornando de pronto ao embate. Khro-Yehath esperava por isso e não demorou a lançá-lo outra vez em prostração, e de novo e de novo e novamente. Sempre com o máximo de dano possível, só evitando ferimentos instantaneamente fatais. Ainda assim, Aevarast não recuou, era obstinado demais para isso.

Mainor'dore havia traduzido os desejos de Taehyung em palavras e manifestado a síntese de seus significados antes, o resultado eram aquelas asas de névoa dançante, que lhe serviam de arma e escudo. Mesmo agora, ao lutar, cuidava de realizar os desejos dele. "Mais dano, menos energia", era a tradução do que ia no coração de seu hospedeiro e era segundo esse plano que agia.

Não gracejava ao dizer que eram uma dupla, ainda que ele também fosse alguém a proteger.

Quase não se mexia, não precisava. Apesar da rapidez, Aevarast-Evanih não conseguia vencer o bloqueio das asas, não conseguia tocá-lo. Isso fez com que o Sho perdesse a paciência e elevasse a velocidade de seus ataques para cinco vezes a da luz, ainda assim a situação não se alterou. Aquelas asas de plasma negro eram a materialização das sombras de um pesadelo.

Khro estava apenas brincando com ele, arremessando-o ao penúltimo degrau do topo da escadaria da vida só para vê-lo rolar de volta até seus pés e para jogá-lo de novo. Era humilhante, era humilhação tão somente! Mesmo com o reforço conferido por seu espírito, seu recipiente começava a sentir fadiga, sua energia estava começando a se esvair, e Khro-Yehath seguia inabalável atrás daquelas nuvens de sombras! Não se lembrava de já ter estado em tamanha desvantagem contra ele...

O servo de Larhen deixou escapar um berro de frustração.

Incapaz de romper as barreiras do inimigo e incapaz de recuar por causa da rigidez de suas prioridades, pensou V, quase com pena do servo de Larhen-Edriza. Ele mesmo tinha a sensação de que se embatiam há séculos, embora tivesse plena consciência de que na realidade havia transcorrido apenas alguns instantes, pouco mais do que um minuto, desde o início do combate. Essa luta arrastada e sem esperança deve estar sendo um verdadeiro inferno para ele... Não podemos acabar com isso de uma vez, Khro?

Aos olhos de Aevarast, ele não representa ameaça alguma para nós nesse momento. Se eu me apressar, ele perceberá que tem algo fora do comum. Se ele desconfiar que mexemos nas memórias dele, o Portal será movido para um novo local, e as informações que conseguimos se tornarão inúteis.

Mas se a gente não correr, não vai sobrar nada da memória pra mostrar a Hasa-Ithor-nim!

Precisamos de um motivo para mudar de atitude.

Mongtae pensou por um momento.

As pessoas. Podemos fazer com que ele as ataque.

Colocar os Filhos de Menora em risco vai contra o propósito dos Ak'hagar.

Por isso mesmo que é uma boa ideia. Nada como um blefe convincente. Aevarast não vai nem sonhar que estará dançando conforme a nossa música. Apesar do argumento de V, o Hagar da Amizade seguia arredio. O rapaz podia sentir aquele mesmo receio de antes se irradiar do espírito dele. Não se preocupe, Khro. Vamos acertá-lo antes que aja, ninguém vai estar em perigo de verdade.

Entendo sua lógica, Taehyung, mas não posso ir contra o meu propósito.

Mas eu posso. Sou ator, lembra? Basta confiar em mim e não deixar ele machucar ninguém.

*     *     *

Guiada pelo blefe

E sem esperar pela reação de Mainor'dore, Taetae revirou os olhos e soltou um suspiro dos mais chamativos, resmungando:

— Chato, chato... — Na mesma hora, o Fazr'sho do Tempo parou de atacá-lo, tomado de surpresa, então o Bangtan Boy o encarou com sua melhor expressão de tédio. — Sabe, quando Khro me disse que lidar com você era um dos principais deveres dele, eu fiquei superanimado. Pensei: "Pô, pra ser 'o adversário de Khro', o cara deve ser tão pica quanto ele". Achei que uma luta entre vocês seria massa, mas no fim está sendo monótona pra cacete. Você não passa de uma mosca zumbindo no nosso ouvido. É decepcionante! E o pior é que nem podemos te esmagar de vez, só ficar enxotando, enxotando...

O orgulho de Aevarast já ferido pela supremacia de Khro sangrava em abundância graças à provocação de Taehyung, e toda humilhação e frustração que sentia se convertiam em cólera, impedindo-o de pensar. Sentir tanto, ceder tanto a emoções não era algo natural às Forças Antigas, nascidas muito antes de Ak'Mainor infectar Yggdrasil com seu ódio e dar vazão à gênese da praga chamada sentimentos, que só sabia confundir as mentes. Decididamente, aquele recipiente o estava influenciando mais do que o esperado, e não sabia como refrear isso. Com seus companheiros também devia se passar o mesmo. Precisavam dar logo fim àquela guerra, antes que se corrompessem.

Alheio à preocupação que ia no coração do Sho, Taehyung passou a direcionar parte da cólera que o inimigo nutria por Khro e por ele para as pessoas ao fundo do teatro. Aevarast conhecia Khro. Sabia que o feriria ao ferir os Filhos de Menora, só precisava estar furioso o bastante para tentar.

— Um simples recipiente... — Aevarast chiou, quase engasgando com as palavras. — Como um simples recipiente se atreve-?!

V o interrompeu com um bocejo e seguiu falando enquanto se espreguiçava:

— Acho que vou morrer de tédio antes de Hagar'miresa chegar...

O Fazr'sho do Tempo se deixou tomar pela fúria, caindo direitinho no plano de V.

Assim como podia regredir o tempo dos corpos, Aevarast-Evanih também era capaz de adiantá-lo, transformando-os em nada com um simples sopro de sua vontade. Não era o tipo de artimanha que funcionasse com Khro-Yehath, que existia em seu maldito pedacinho de nulidade temporal, mas funcionaria com as anomalias que se encolhiam junto à parede direita da grande sala em que se achavam. O fato de Mainor'dore ser um empata era um estorvo, mas Aevarast havia aprendido a jogar com a sensibilidade dele através das Eras. Bastava focar sua animosidade nele e encarar os alvos de seus ataques como dano colateral, considerando-os tanto quanto pedras.

Claro que o plano do Sho foi frustrado pelo Ak'hagar. Afinal, era nada, senão uma parte do plano maior de Taehyung.

Antes que Aevarast-Evanih exercesse sua influência por sobre as Crianças de Ak'Mainor, as asas de sombras se fundiram numa só, adensando-se até beirar a solidez, e deram uma lambada no corpo dele, aplicando a tensão que as unia no contato e o lançando com tudo para o lado esquerdo do teatro, para o mais longe possível das Crianças. Liberada a tensão, voltaram a assumir o aspecto de trevas nevoeirentas, dançando às costas de seu conjurador.

Khro-Yehath sentiu que Hasa tentava tranquilizar o Fragmento de Ak'Mainor, que seguia bastante angustiado, e concluiu que a explicitação do combate, mesmo que breve, o ajudaria a convencê-lo. Por isso, retornou ao fluxo natural do contínuo espaço-tempo, embotando os sentidos do serviçal de Larhen-Edriza e o forçando a acompanhá-lo.

*     *     *

Guiada pelo inimigo

O Farz'sho do Tempo colidiu com a parede, que só não cedeu porque Hasa-Ithor havia selado o espaço do teatro. O resultado foi catastrófico. Ferimentos externos e internos pelo corpo inteiro. Conseguiu apagá-los todos, claro, mas não com a mesma agilidade de antes, não a tempo de se impedir de despencar até o chão. Por pouco conseguiu fincar a espada no piso. Se não a tivesse como sustentáculo, teria batido de cara contra ele.

Estranhou ao ouvir as anomalias guincharem, aterrorizadas, e ao vê-las se movendo. Voltei ao Grande Fluxo. Voltei mesmo contra a minha vontade... Eu, a Força que nutria Yggdrasil, permitindo seu renovo e eternidade... Eu, o Fazr'sho do Tempo... Como posso ter enfraquecido tanto?

Dessa vez havia sido diferente, o retruque de Khro havia sido mais intenso e lhe rendido danos por todo o corpo. Nada que surpreendesse Evanih, embora ferisse ainda mais seu orgulho. Havia ameaçado as anomalias, os tão adorados amigos dele. Era óbvio que ele responderia o terror que causava a ele com um terror ainda maior. Essa era a natureza dele.

Mal consigo controlar minhas emoções nesse momento. Fui tolo ao acreditar que poderia enganar os sentidos de Khro-Yehath... Tenho sorte por não estar morto agora. O Sho fincou os dentes no lábio inferior. Não, nada disso. Sorte é apenas mais uma das muitas alucinações humanas. Não morri porque Khro escolheu não me matar... Cedera à raiva e só o que havia conseguido fora a constatação de que estava num nível muito inferior ao de Mainor'dore nessa encarnação. Só estou vivo porque ele permite! Tudo que havia conseguido fora uma nova leva de humilhação. Eu vim aqui para lavar a honra do meu general, mas só estou conseguindo manchá-la mais...

*     *     *

Guiada pelo plano

Aevarast-Evanih abandonou o fluxo espaço-tempo, levando sua progressão temporal até a velocidade da luz e a acelerando rápida e gradativamente, então Khro-Yehath fez o mesmo. Ele e V podiam sentir, a raiva que tomava conta do Sho havia cedido um bocado à vergonha, mas não a intenção assassina (a ela havia se somado um forte desejo de morrer). Lá vinha bomba.

— Hagar'miresa... Mainor'dore... — Aevarast proferiu em baixo tom e logo em seguida perdeu a compostura habitual. — Estão enganados se acham que voltarei a dormir às Portas da Morte!

Uma onda de poder explodiu do corpo do Fazr'sho do Tempo, pronta para extinguir qualquer resquício de tudo que abalroasse. Ele já não acalentava a ilusão de conseguir vitimar as Crianças do Caos, tudo que desejava era ser grave e generalizadamente ferido outra vez. Não ergueria sua lâmina contra Khro desta vez, apenas a banharia na energia que dançava ao redor dele e a usaria para acabar com a vida de seu hospedeiro. A energia que lhe restava não poderia proteger um corpo fragilizado do poder de corte de uma arma que carregasse o frio das trevas.

Puxando Khro-Yehath até a eternidade de um momento, V perguntou:

Quer motivo melhor para acabar com ele depressa do que ele próprio querer que você acabe?

Não. Bom trabalho, Taehyung.

Não foi nada, estou acostumado a jogar. Taetae abriu um sorriso, mas ele logo murchou em seus lábios. Mesmo que tivesse sido uma boa ideia, e que o Hagar da Amizade não tivesse chamado sua atenção, havia passado por cima da vontade dele e o deixado desconfortável ao usar os dons dele para transformar pessoas indefesas nos alvos da cólera de Aevarast. Me desculpe por ter ignorado seu propósito, Khro. Eu disse que ninguém ia se machucar, mas, de certa forma, acabei machucando você. Sinto muito, de verdade. Prometo me esforçar para te entender melhor e agir da maneira correta daqui por diante.

Amigos cuidam uns dos outros, e você estava pensando em cuidar de todas as Crianças de Ak'Mainor ao visar o fim da guerra. Amigos confiam uns nos outros e se apoiam. Você confiou as vidas das Crianças a mim ao usá-las como isca, e eu o apoiei ao não tentar impedi-lo mesmo que seus atos me doessem. Elas estão seguras agora, e seu plano deu certo. Além disso, amigos se importam uns com os outros, e você acabou de demonstrar que se importa comigo. Isso basta. Deixemos o passado e terminemos nosso assunto com Aevarast.

Dito isto, Khro liberou as trevas, que trataram de engolfar a onda de energia mortífera e devorá-la no ato e sem qualquer cerimônia. As nuvens de plasma negro haviam se fundido de novo, deixando as costas de Taehyung e indo rondar o antebraço esquerdo dele, girando e girando. Seu tempo voltou a correr igual ao do Sho, e estavam novamente cara a cara, com poucos centímetros entre seus corpos.

Aevarast cuspiu sangue. Os olhos dele, a brilharem em dourado imersos na penumbra do capuz, rolaram dos orbes de puro negror de Taehyung para o rombo que agora tinha no abdômen. A mão do hospedeiro de Khro, envolta em névoa sombria a girar e girar como a broca de uma perfuratriz, ainda estava lá, ficada na carne dele, impregnando-a com a marca das trevas.

As trevas. Quando o frio delas se entranha nos ferimentos, não se dissipa com facilidade, absorvendo energia e impedindo a cicatrização. Se as trevas o ferissem de morte, nem o Farz'sho do Tempo conseguiria se salvar. No entanto, aquele ferimento era superficial demais para matá-lo. Aquela não era nem de longe a reação que esperava do adversário após o que tinha tentado fazer.

— Isso...

— Não pode machucar as Crianças, Aevarast — disse Khro-Yehath, atraindo o olhar do inimigo e retirou a mão do corpo dele. — E também não pode morrer, eu não deixo.

— Infeliz! — bradou o Fazr'sho do Tempo, atacando-os com a espada.

Dessa vez, Khro se moveu, dando a proximidade que o adversário tanto desejara antes (ao menos, esse desejo concedeu a ele). Usando o braço envolto pelo redemoinho de sombras, o Hagar aparava a lâmina da katana e estocava rápida e impiedosamente, sem dar trégua. V fazia caras e bocas a cada golpe. Os ferimentos que Mainor'dore fazia eram fundos o bastante para fincar as marcas das trevas na carne do servo de Larhen, minando mais e mais as forças dele e superficiais demais para impedirem que ele conseguisse partir dali sozinho.

Mais uma eternidade se passou em instantes.

Mais e mais lento, mais e mais ofegante e mais e mais machucado, o Sho ficava mais e mais desesperado a cada instante, temendo que o Senhor dos Hagar de repente se materializasse a sua frente. Quando finalmente não pôde mais lutar contra esse sentimento, deixando que transparecesse por todos os poros de seu corpo, Khro disse:

— Esqueci de mencionar, Aevarast. Taehyung brincou quando disse que Berat estava vindo. Estamos só Hasa, você e eu nesse lugar.

Xeque.

Misto de alívio e confusão. Confusão tão somente. Reconhecimento e aceitação. Desonra. Raiva, indignação, sede de vingança... A notícia abalou o Lirth'sho de tal maneira que ele atacou sem o mínimo de cuidado, deixando a guarda toda aberta. Se Khro quisesse matá-lo, aquela teria sido a oportunidade das oportunidades do dia. Mas o Ak'hagar se contentou com os tendões do braço direito dele, com o qual ele manejava a espada. O outro braço não lhe interessava. Havia posto propositalmente muita pressão nos baques que dera na lâmina, e o membro já tremia pelo esforço há alguns ciclos de tempo. Se o hospedeiro de Aevarast fosse ambidestro, ele já teria trocado a arma de mão a essa altura, pois aquele braço claramente já havia atingido o limite. Bem, agora estava inutilizado, e a espada despencou, tinindo contra o piso. Dois fios de plasma se desprenderam do braço de Taehyung e foram se enroscar nela, reduzindo-a num único beijo a nada.

Ainda assim, Evanih não recuou, levando a luta ao corpo a corpo. O Hagar do Medo saiu dos golpes, e V acertou um soco no rosto dele. O chão cedeu sob as costas do Fazr'sho do Tempo, sangue escapou pelo nariz e pela boca dele. Taetae engoliu em seco — achava que mal tinha encostado no cara, embora o sangue nos nós de seus dedos estivesse ali para provar o contrário — e fez uma nova nota mental: "ficar bastante atento ao tocar nos outros dali por diante ou podia acabar matando alguém".

Aevarast se levantou com um salto, mas sequer pôde atacar novamente. Um brado de dor galgou sua garganta, Khro havia voltado a atingir seu abdômen, exatamente no mesmo lugar de antes. Além de piorar o ferimento, cerca de metade da névoa que compunha o redemoinho a rondear o braço de Taetae penetrou o corpo do Farz'sho, permanecendo por lá. Ela garantiria que ele não voltasse a tentar nada antes do despertar de Sua Excelência.

Xeque-mate.

*     *     *

Guiada pela fome

A voz de Jimin, uma infinidade de sons que ouvia há um bom número de ciclos de tempo (cerca de uns dez segundos), acabava de ecoar aos seus ouvidos, finalizando o seguinte pedido:

— Khro, dê um tempo para ele respirar, senão ele vai pensar que não temos modos.

O Hagar da Amizade atendeu ao chamado de Hasa sem pensar duas vezes, reajustando tanto a sua, quanto a progressão temporal do lacaio de Zadha-Rine ao fluxo natural do universo. Com toda certeza, as palavras debochadas de Deva'seyire seriam bem mais eficientes para tirarem Aevarast-Evanih do torpor perplexo em que ele tinha se metido.

(O choque era tamanho que ele não havia dado nenhum único pio quando puxou sua mão para fora do corpo dele, fazendo vermelho — as brumas de negror beberam até a última gota de sangue que saltou da ferida).

Ao menos, foi isso que Khro achou e não errou. Bastou uma ameaça do Hagar da Confiança para que o Fazr'sho do Tempo batesse em retirada. (Certo que teve que alterar a percepção de Aevarast, fazendo com que ele achasse ter ouvido "as pobres ferramentas que você tinha para me distrair" em vez de "as pobres ferramentas que você tinha para usar contra Sua Excelência", pois Hasa ainda não sabia que tinha feito o Sho esquecer que o Fragmento estava ali. Mas acabou tudo bem.)

Graças a Ak'Mainor! Porque sua barriga já roncava e começava a doer (Taehyung fez um comentário que assustou o Fragmento por conta desse incômodo, e Hasa acabou dando uma chamada em Khro... Bem, não deixava de ser culpa dele).

A memória que tomaram de Aevarast estava a um passo da desintegração total!

Isso dói, Khro... V se queixou, fazendo aegyo, assim que Mainor'dore prometeu à Hasa-Ithor que "daria um jeito" nas memórias das pessoas que se encolhiam junto a porção direita do teatro (mais uma vez receosas, também graças ao comentário de Mongtae). Será que a gente não pode comer antes de mexer na cabeça dessas pessoas?

Comeremos ao mexer na cabeça delas.

As memórias delas, você diz? Pensei que memórias fossem preciosidades...

Elas são, e eu não me apraz tomá-las, mas em alguns casos elas valem mais para terceiros do que para seus donos. Esse é um deles. Experiências traumáticas e pontuais que não estão vinculadas à nenhuma outra memória por terem sido arquivadas há pouco. São danosas para as Crianças, pois podem levá-las à irracionalidade. Por outro lado, são benéficas para nós e nos fortalecem por estarem repletas de medo. Além disso, recebi ordens de Asha para manter nossos assuntos ocultos dos olhos dos Filhos de Menora, pois são desconfiados e curiosos. Eles quereriam interferir na guerra, mesmo que as nossas não sejam batalhas que possam travar.

Se é assim, vamos comê-las de uma vez! Taetae se animou rapidinho, mas o ronco de seu estômago e as dolorosas contrações dele trataram de levar toda a animação embora. Isso dói...

Khro não discutiu. Além de seu amigo estar sofrendo, ele também sofria. Só comendo conseguiriam preservar o que restava da memória de Aevarast...

Ao acessar as mentes dos Filhos de Menora, V pensava que "ninguém corre o risco de levar bronca por falar de boca cheia ou por comer de boca aberta e fazendo barulho" quando se está almoçando memórias. Memórias não têm que ser mastigadas, nem colocadas na boca. Elas não precisam ser engolidas. Não é necessário lavar as mãos para comê-las, porque mãos são inúteis para esse tipo de refeição. Utensílios e louças também. Basta pescá-las (se for capaz), e elas vão automaticamente para dentro de você. É a mais simples das refeições, e o sabor é incrível! Não é nada parecido com os sabores que a língua capta, é melhor. Gosto de alegria, de segurança, de alívio... Memórias como aquelas, fardos pesados para quem as tinha vivenciado primeiro, tinham sabores assim ao serem colhidas cedo e cheiravam a liberdade.

Com os olhos fechados e um sorriso de orelha a orelha, V tinha uma expressão de puro júbilo (meio boba para uns, e muito fofa para outros) que o deixava com um ar adorável e infantil no rosto. Absorvia a memória da última testemunha dos opressivos momentos vividos ali naquele teatro, saboreando-a com satisfação e suspirando contente por seu estômago ter enfim se acalmado quando Khro o chamou:

Taehyung...

Sentia-o um tanto encabulado, mas como ele gostava de dizer "não tinha razão de ser", então agiu normalmente.

Hum?

Você não tem medo de mim.

E você não me acha estranho. O sorriso de Taetae diminuiu um pouco, e ele abriu os olhos, receoso ao se dar conta de que na verdade ainda não havia ouvido a opinião de Khro sobre seu caráter. Acha?

Uma sensação quente e fria a um só tempo pulsou ao redor de seu coração, era Khro sorrindo. Ele disse:

Se você fosse estranho, todos os Filhos de Menora também seriam. O que torna esse universo especial é exatamente o fato de que nenhum de seus frutos são iguais entre si. Você é você, Taehyung. É especial, único e insubstituível, nunca vai existir outra Criança como você, e sou agradecido por você ser exatamente como é. "Tintim por tintim", como diria Hasa.

Eu... Você... Você tem certeza mesmo de que não existe mais ninguém nesse planeta que possa ser um hospedeiro melhor para você do que eu? Tipo, uma menina?

Então... Não, desculpe.

Não há razão de ser... Se bem que há sim. V fez beicinho e choramingou. Ah, por quê? Por quê?!

Ah, e quanto ao que você falou antes... Khro falou, contendo um risinho. Aevarast está muito debilitado para criar uma zona de nulidade temporal. Se o devorássemos sem isso, nós o mataríamos.

Oh! Foi por isso, então, que Hasa-Ithor-nim deu esporro na gente?

Não, foi pelo Fragmento, negou Khro, virando-se bem no momento em que as paredes da divisão dimensional onde o Hagar da Confiança havia escondido o Fragmento de Akasha vinham abaixo em uma montoeira de estilhaços de cristal. "Estou me lixando se todos os Lirthua'shoa vivem ou morrem. Desde que haja unzinho para caçar, o despertar e a diversão são garantidos". Palavras de Hasa, é assim que ele pensa. Teria rido do seu comentário, se o Fragmento não tivesse se assustado...

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