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Capírulo XVI - Coração Aberto: Sem Cerimônias

“Esse lugar tá tão a cara do Jin…”

Giovanne estava ficando cansada daquilo.

Ela estava com fome, mas não comentou isso com RM por estar sem jeito (mesmo que não quisesse admitir para si mesma) e com vergonha de declarar que queria e tinha que comer logo (na verdade, urgentemente). Como se precisasse… A essa hora, Nam-chan já deve ter percebido. Pensou ela, aborrecida com seu estômago, que roncava a cada dois minutos (certo, não dava para ter certeza, mas o espaço de tempo a cada ronco era estreito). Calada, deixou que RM a guiasse e mostrasse o castelo.

— Vai demorar muito pra ver tudo? — Abriu a boca depois de um tempo.

— Calma. Ainda nem vimos a metade.

— É o quê? — Quantas réplicas da Penha será que cabe aqui dentro? Ficou imaginando. Sua primeira experiência com castelos estava sendo um verdadeiro choque. E pensar que vou ter que passar uns tempos aqui, inacreditável… Tanta coisa dentro do mesmo lugar a deixava tonta. Ainda mais considerando com quem…

— Essa é ala sul — Namjoon anunciou, indicando o lugar com um amplo movimento de mão. Estavam em um corredor longo e largo, iluminado por lâmpadas de formato delicado (flores de cristal semelhantes a lanternas de desejos e também gotas, tão grandes que nem ambas as mãos de Giovanne juntas poderiam abarcar uma delas completamente) presas em candelabros nas paredes de pedra perolada. — Pense nela como uma grande área de serviço. — Ele passou a enumerar nos dedos enquanto ia falando — Cozinha, adega, as despensas, os depósitos, a lavanderia… Todos se encontram aqui. A cozinha é ali. — Ele apontou para uma dupla de portas mais adiante, as primeiras à direita da escadaria onde se encontravam. Até que enfim! Giovanne festejou, e seu estômago também (com mais roncos). — Se pegar o corredor à esquerda do Salão dos Quartos, depois virar à direita e descer quatro lances de escada vai chegar exatamente onde estamos. A cozinha fica logo à direita das escadas, como você pode ver.

Então, por que não me trouxe logo pra cá?

— Quer ver o quanto é grande por dentro? — ele perguntou, e ela teve que se controlar para não sair correndo porta a dentro. Deixou que Namjoon fosse na frente.

Toda a concepção que a menina tinha de “cozinha” foi posta por terra naquele momento.

Para começar, o lugar era enorme! Com uma gigantesca bancada no centro, ladeadas por alguns daqueles banquinhos magrinhos e altos. Outras duas bancadas corriam junto às paredes de ambos os lados, interrompidas em cinco pontos: a do lado esquerdo em dois, o primeiro ocupado por uma porta de madeira e o segundo por uma geladeira, e a do direito em três, o último com mais três geladeiras enfileiradas e os outros dois com duas portas cada um — uma de madeira e uma de metal, com uma japona preta pendurada num ganchinho logo ao lado (o que fez a garota imaginar que se tratasse da entrada de um frigorífico). Armários acoplados às paredes se dispunham acima e abaixo das bancadas laterais, cada uma delas contava com uma pia. Sobre a da direita se encontravam o fogão, o forno, o micro-ondas, Giovanne também notou uma panela elétrica e uma batedeira por lá. Já coisas como liquidificador, espremedor de frutas etc. estavam arrumadas sobre a da esquerda. Todos os eletrodomésticos eram em inox, os armários, em madeira clara, e as bancadas, em mármore róseo.

Esse lugar tá tão a cara do Jin…

Luminárias fininhas, da mesma cor da pedra clara que compunha o castelo, pendiam do teto, dando a impressão de que as lâmpadas de LED flutuavam sobre suas cabeças, como estrelas de brilho suave. A copa ficava em uma área rebaixada, aos fundos do cômodo. Havia uma grande mesa, cadeiras e duas estantes finas em ambos os cantos, com alguns livros dispostos em suas prateleiras. Tudo em palha envernizada e madeira marfim. E, tomando conta de quase toda parede que ficava atrás da mesa, um grande janelão com vista para o mar. A vista do pôr-do-sol daqui deve ser de tirar o fôlego…

Era para ninguém botar defeito. Uma cozinha digna de um lar de princesas.

(Não que Gio se considerasse uma, mas Kim Seokjin e Marianne, que às vezes era bem fresca, estavam morando ali, logo era um lar de princesas.)

Giovanne soltou um suspiro satisfeito, meio sonhadora — ficar tão perto dos meninos… e sem previsão de afastamento! Era um sonho realizado, apesar dos pesadelos que vinham junto de grátis —, mas seu estômago fez questão de lembrá-la que ele estava longe de estar satisfeito. Não é hora de pegar o Expresso Mundo da Lua. Tenho que matar minha fome e ir à caça de Jungkook. Quero pedir desculpas pra ele logo, pras coisas entre a gente não azedarem antes mesmo de começar.

— Jungkook-ah?

O que Namjoon disse fez Giovanne despencar dos pensamentos e prestar novamente atenção ao redor. Ela acompanhou o olhar dele e deu de cara com um coelho de quase um e oitenta, metido em uma regata branca folgada, jeans escuros justos e pantufas beges que se confundiam com a cor do piso, quase dentro de uma das geladeiras do lado direito. (Uma pequena observação, RM também usava pantufas, mas antes, na sacada, ele estava de sapatos. Ops, alerta para comportamento oriental dentro de casa ativado. Ainda bem que minhas botas são novinhas em folha…) O queixo dela quase foi ao chão. Mais como é que eu não percebi ele aí? Jungkook os encarava de olhos arregalados, pela mancha em sua bochecha direita, ele comia chocolate. É assim que fica a cara de chocado dele sem quilos de maquiagem e banho de luzes de holofotes? Era uma gracinha, milhões de vezes mais fofo ao vivo. Enfim, não é hora pra ficar admirando a beleza dele, é minha chance de me desculpar! O maknae da BTS limpou o rosto com as costas da mão e engoliu em seco, desviando o olhar. Em seguida, apanhou algo na geladeira (uma barra de chocolate nova), se curvou meio desajeitado para ela e Rapmon e tentou sair de fininho.

— Ei! Não precisa ir embora só porque a gente chegou. A casa é sua também, né? — Giovanne disse, apressada. Tava na cara que ele tava com vergonha por ter sido flagrado fazendo gordice, mesmo assim não podia deixá-lo sair dali sem ouvir o que tinha a dizer (só Deus sabe quando esbarraria com ele de novo, levando em conta o tamanho daquele lugar; além disso, não era vergonha nenhuma se afogar em chocolate, ainda mais no dia em que uma bomba, como a feliz notícia de que você é uma das poucas coisas entre o mundo e o fim dele, caiu bem em cima da sua cabeça). Kookie parou onde estava e se virou para a garota, fazia uma careta indecisa. É melhor eu mostrar pra ele que tô de boa. Quando ele relaxar, puxo assunto e me desculpo. — Vem, Nam-chan! Vamos beliscar alguma coisa.

.


“Aaaaaaaah! Então, esse era o tal pedido de desculpas que o Nam-chan falou…”

Giovanne pegou copos e uma garrafa de Coca (por causa disso, acabou descobrindo que o lado esquerdo da cozinha era voltado para o preparo e o armazenamento de bebidas, enquanto o direito era para os dos alimentos), os meninos foram cuidar da comida. RM apanhou ingredientes para montar sanduíches (não havia nada pronto e cozinhar não era a especialidade do rapper), e Jungkook pôs uma pizza no micro-ondas. A garota deixou o refri e os copos na mesa e foi ajudar Namjoon (antes que os pratos acabassem “morrendo” num trágico acidente…).

Ela observava a variedade de patês que havia na geladeira quando bateu os olhos no conteúdo de uma bandeja que estava na prateleira superior. Oba, pudim! Quase o pegou, porém se deteve ao ver um papelzinho colado na lateral da tampa transparente que cobria o doce. Tinha algo escrito em coreano, mas Gio não conseguia ler porque mais parecia um bando de rabiscos pretos do que blocos de letras.

— “É da princesa. Toque e tá morto.” — Namjoon traduziu a mensagem. — É a letra do Yoongi hyung. — Suga fez isso pra Mari? Na dúvida, Gio procurou pelo olhar de Rapmon. Ele assentiu, dando um diminuto sorriso e limpou a garganta. — Não mexam, ok? Vamos evitar atritos.

Aaaaaaaah! Então, esse era o tal pedido de desculpas que o Nam-chan falou… Deve ter sido por isso que ele não me trouxe logo pra cá, o Espyoongi tava aqui. Eu ia acabar discutindo com ele e azedando a coisa toda…

— É… — resmungou Jungkook, retirando a pizza do micro-ondas. Os olhos dele pareciam duas bolas de gude cheias d’água, cortadas por ondas. Uau! Foi o único juízo que Giovanne conseguiu fazer ao vê-los. — Quão terrível seria ter um bando de soizinhos enfurecidos no nosso encalço, quão terrível…

— Zaku… — Leader Mon (ou melhor dizendo, En-Ephir) se virou para ele, parecendo prestes a dar uma bronca daquelas.

— Não vou tocar, meu comandante. Fique descansado — prometeu o Hagar do Orgulho e soltou um suspiro de puro tédio, piscando. Os olhos de Jungkook voltaram ao normal, e ele deu de ombros, fazendo um muxoxo. — Eu nem queria mesmo…

.

“Não vou ser motivo de preocupação mais do que já estou sendo pros meninos.”

Os três arrumaram a mesa e se sentaram para comer. Jungkook dividiu a pizza com Gio e RM, embora os olhos dele e a “agilidade” com que a cortou dissessem com bastante clareza que ele não se importaria nem um pouco de comê-la sozinho.

A refeição só não foi feita no mais completo silêncio por causa das palavras que trocava com Namjoon. Vez ou outra, ele ainda se enrolava com as formas de tratamento —, e Giovanne mais olhava para ele do que de fato prestava atenção —, mas se havia um bom remédio pra prevenir um climão pesado era a língua de Rapmon. Bastava dar corda pra ele e bye, bye silêncio e seus sintomas desagradáveis!

— O responsável por toda essa confusão que tá rolando, o tal do Larhen… Como a gente derrota ele? Qual é a forma mais rápida de acabar com o desgraçado? — Gio quis saber, se voltando para RM. Claro que preferia ficar só jogando conversa fora com Leader Mon, ou só olhar para ele e Kookie, porém não conseguia expulsar as perguntas sobre o que estava acontecendo da cabeça. Suas amigas ainda estavam sofrendo, não conseguiria relaxar enquanto não as ajudasse. Esse cara é o principal problema. Se a gente botar ele no saco de uma vez, tudo se resolve. Jungkook dava atenção ao seu segundo ou terceiro pedaço de pizza, mas até ele ergueu os olhos do prato, interessado pela primeira vez na conversa.

Namjoon piscou os olhos e ao reabri-los tinham assumido o aspecto de vórtices rodopiantes. O comandante dos Hagar de Akisha estava a postos para respondê-la.

— Larhen-Edriza é um dos Altos Seres de Verso, de grandioso poder, muito maior que os dos Hagar. Mesmo que Akisha desperte logo, não é o bastante para lidar com ele. Sem o Alfa, o Ômega não pode fazer nada, e vice-versa. Já os Lirthua’shoa podem ser parados por nós, no entanto isso não torna a situação menos complicada. Será uma guerra difícil.

— Hum, entendi. — Nada verdade, ela não tinha entendido muita coisa, não. Os olhos de En-Ephir a distraíam (sem falar nos lábios de Namjoon). Além disso, ele parecia um político num debate ou um daqueles estudiosos dando entrevista: cheio de palavras difíceis e um milhão de volteios que te distraem e fazem esquecer qual o assunto. Um nerd foi morar dentro do outro, é muito nerd pro mesmo corpo… e que corpo! Ela segurou o riso (não era hora pra pensar em bobagens, embora não pudesse evitar) e deu outra mordida em seu sanduíche de peito de peru. Tenho que manter o foco, o assunto é sério. — Então, preciso aprender a controlar as habilidades de Akisha de uma vez. Não vou conseguir ficar parada. Marianne não é muito boa com exercícios que envolvam o corpo, mas esse é o meu forte. Quero começar hoje ainda.

Giovanne não disse, mas o que queria mesmo era ir atrás de suas amigas de uma vez. Se preciso dos poderes da tal Akisha pra ajudar as meninas, então tenho que dominá-los pra ontem!

— O melhor é descansar por hora. A energia de Akisha é imensa e complexa, seu corpo não está pronto para suportar tamanho poder. — Arviehe’prabath encarou Jungkook ao dizer isso, e de imediato o rapaz voltou a ficar muito interessado na comida, arrastando um sanduíche de ricota para o prato.

Ou… então, não é que eu não consiga suportar, só não posso porque ainda estou mal do que aconteceu na escola…

— Tenho a cabeça dura. Não vou rachar tão fácil assim. — A garota sorriu, transparecendo autoconfiança. Não que se sentisse muito confiante, tudo o que tinha era teimosia, só não queria que Jungkook se culpasse por não ter conseguido impedir que levasse uma surra. Não era culpa dele se o Lirth’sho que a perseguia foi covarde ao ponto de usar pessoas inocentes para atingi-la.

En-Ephir não se deixou comover por sua coragem imprudente.

— Não insista, princesa — as nuvens e os ciclones que compunham os orbes de En começaram a se afunilar, afastando-se das bordas das íris e deixando o castanho de RM aparecer; era como se as pupilas dele os tragassem —, por favor. — Os olhos de RM recuperaram todo o aspecto natural, com íris castanho-escuras bem normais e humanas. — É para seu bem, Giovanne-ssi. — Namjoon a fitou com preocupação, ele ficava uma fofura desse jeito. — Você pode morrer.

Ele disse “Você pode morrer”, mas os olhos dele dizem que “Você vai morrer se for teimosa e não me ouvir”. Ela analisou, sabia que o rapper tinha pego leve para que não se assustasse (como se fosse se deixar intimidar só por aquilo). Existem coisas muito piores do que a morte, mas Nam-chan sabe o que fala. Eu acredito e confio nele. Decidiu dar ouvidos a ele e encerrar o assunto por ali. Vou esperar… por hora.

O silêncio que estivera evitando enfim se instalou no recinto. RM afastou o prato vazio e se levantou.

— Peço desculpas, mas preciso me retirar. Recolhi alguns documentos no reduto que os Lirthua’shoa abandonaram e tenho que analisá-los. Talvez, contenham alguma informação que possa nos ajudar a determinar o local para onde o Portal foi levado. Jungkook-ah, faça companhia a princes- a ahgassi- — Ele se enrolou todo, quebrando totalmente a seriedade do que dizia. Estava tendo mesmo dificuldade para se habituar a chamá-la só pelo nome — Giovanne-ssi — e teimava em usar “ssi”. Gio até tentou, mas não tinha como não rir da careta frustrada dele. — Sim?

— É, né? — o maknae concordou sem ânimo, mordiscando o sanduíche.

— Até mais tarde. — Foi bizarro (bizarro maneiro) ver Namjoon fazendo reverência para ela (Giovanne não passava de uma army comum). De repente, começava a agradecer inconscientemente pela tal de Akisha ter escolhido seu corpo para residir.

— Já acabou? — Jungkook perguntou, indicando o prato dela assim que RM saiu da cozinha. Giovanne tinha terminado o sanduíche que comia e a não ser que fosse buscar mais comida na geladeira, não tinha mais nada para comer. Ela assentiu, esboçando um rápido sorriso ao vê-lo levantar. Ele tentou retribuir, mas não teve muito sucesso, então se limitou a juntar a louça.

— Eu te aju-

— Não precisa — ele interrompeu o que ela dizia, fazendo sinal para que não se erguesse da cadeira. — Não vou demorar. — E, sem esperar por retruque, ele apanhou a pilha e a levou para a pia da seção de alimentícios.

Giovanne até pensou em ignorar a recusa dele e ajudá-lo, mas cometeu o erro de se espreguiçar ao se erguer. Já estava com aquela puta dor no corpo todo quando acordou e aquele movimento fez seus músculos doerem o inferno. Jungkook olhou em sua direção, talvez tivesse soltado algum gemido sem perceber, mas conseguiu segurar a expressão de dor. Não ia ser motivo de preocupação mais do que já estava sendo para os meninos. Voltou a se sentar, tamborilando os dedos na mesa, e ele voltou a dar atenção à louça. Como ele dissera, não demorou nada. Uns três minutos, e ele já tinha terminado de enxugar tudo e guardar em seus devidos lugares.

— Quer andar um pouco? — sugeriu Jungkook. Ela sorriu, disfarçando o nervoso e respondeu:

— Ah, tá. Vamos, quero mesmo conversar com você. — A hora é agora. O momento perfeito para ficar de bem com o menino-coelho. Levantou, encostando a cadeira, e os dois se dirigiram juntos à saída. Temos muito o que falar, meu biscoitinho.

*     *     *

“Que engraçado, achava que ele era do tipo muito orgulhoso.”

Sair para caminhar com Jungkook foi muito esquisito. Giovanne não falava nada, Jungkook não falava nada. Ambos só andavam lado a lado, imersos em um silêncio perturbador. Eles iam devagar, o que tornava tudo mais constrangedor. Pelo visto, ele não tinha pressa como ela — talvez estivesse com a cabeça em outro lugar…

Sem poder aguentar aquele clima por mais tempo, Giovanne decidiu ir direto ao cerne da questão que a incomodava. Disse:

— Jungkook, eu… — começou, se calando ao notar que tinha a atenção dele. Pigarreou e prosseguiu — Desculpa. Eu não queria te dar um tapa. Foi mal, de verdade.

— Desculpas aceitas. — A resposta de Kookie foi imediata, o que assustou a garota. Caraca, ele aceitou, e rápido! Que engraçado, achava que ele era do tipo muito orgulhoso. — Eu sei que foi um acidente. — Que bom que ele sabe. Seria uma droga se ele não quisesse perdoá-la. Dei sorte.

Ele pareceu querer dizer mais alguma coisa, mas acabou desistindo e voltou a olhar para a frente.

Avançaram mais alguns passos antes dela puxar assunto de novo:

— Ei, você tá bem com isso tudo? De repente, nossas vidas viraram de cabeça pra baixo.

— Nem me diga. Nunca senti tanta raiva. — Ela olhou para Jungkook de soslaio, vendo a expressão falsamente calma dele mudar. Parecia até que ele estava sorrindo por causa dos cantos da boca, naturalmente curvados para cima, e dos lábios entreabertos, por causa dos dentinhos salientes (tal qual os de um coelho). Entretanto, o cenho dele se franzia, formando ruguinhas entre as sobrancelhas. Ele estava furioso, com raiva de verdade. — Fui obrigado a me tornar um hospedeiro de Hagar, sabia? Eu tinha direito de escolher se entraria nessa guerra ou não, Berat-Enira deixou claro que eu era livre para ir. Mas, meu direito foi roubado quando fui jogado por Hasa-Ithor no seu colégio, no meio de todos aqueles Edoras’sedoni. Recusei Zaku-Zaoh o quanto pude, mas eu sabia que se não o aceitasse, todas as pessoas diante de mim seriam infectadas por aquela doença, e eu também! — desabafou o rapaz, parando de andar. Giovanne olhou confusa para ele, tomando um susto ao ver lágrimas nascerem em seus olhos. — Não tive escolha e agora estou preso a uma coisa que detesto e que me detesta. Respondendo a sua pergunta: não, eu não estou nada bem. Mas, não se preocupe, eu posso lidar com isso. — Jungkook desabou de joelhos no chão, a cabeça baixa, a franja escondendo parcialmente seu rosto molhado. Ele disse as palavras seguintes num sussurro quase inaudível — Eu tenho que lidar…

— Ei, não chora! — Ela foi até ele, aflita, abaixando e o segurando pelos ombros. Jamais esperou vê-lo desabar daquele jeito. Maldita hora que fiz aquela pergunta! — Imagino que deve estar sendo bem difícil pra você e pros outros. Não precisa ter vergonha de mostrar que tá mal. É em momentos como esse que você tem que procurar por ajuda. — Ele a pegou desprevenida com um abraço. Ela retribuiu após uma brevíssima hesitação (era novidade demais ao mesmo tempo), dando um conselho — Ficar guardando rancor e mágoa não faz bem pra ninguém. Bota tudo pra fora. — O pranto dele se tornou mais intenso, agora era um choro sem reservas, ao ponto dele quase se engasgar com as lágrimas. Giovanne acariciou os cabelos dele, tentando soar o mais gentil possível. — Relaxa, não vou contar pra ninguém, tá bom?

— Eu só… queria continuar vivendo como eu mesmo… Eu só queria ser livre pra… continuar sendo eu mesmo… Mesmo assim… mesmo assim… Miane…

Shhhh… Não se preocupa, só chora…

Demorou para o pranto de Jungkook cessar, mas Giovanne foi paciente e deixou que ele pusesse tudo que vinha contendo pra fora (por sorte, ninguém os viu ali daquele jeito. Não que ela ligasse para isso, mas Kookie não devia pensar o mesmo. Afinal, coreanos não eram muito dados a contatos físicos com pessoas do sexo oposto, ainda mais com estranhos, além de verem lágrimas com maus olhos, quase como uma vergonha, e ali estava ele cedendo a ambas as coisas).

— O- obrigado, é… — Jungkook agradeceu, fungando. O nariz estava vermelho e inchadinho, pedindo para ser apertado, mas a garota resistiu bravamente. Não era hora de pôr seus fetiches em prática. — É…

— Giovanne.

— Giovanne-ssi.

— Não tem problema chorar — ela dizia à medida que enxugava o rosto dele com a manga de sua jaqueta —, mas cuide pra não se resfriar, ok? Seu ânimo vai descer a ladeira de vez se acabar ficando doente. — Apesar da carinha tristonha, ele conseguiu lhe mostrar um pequeno sorriso de gratidão. — Você é mesmo lindo… e fica ainda mais parecido com um coelhinho com o nariz assim vermelho — Giovanne admitiu antes que pudesse se conter. Jungkook arregalou os olhos, ficando com uma cara boba, tão fofinha que chegava a ser exagerada. Eu sou uma army tão sincera… Ela desejava ter mais vergonha na cara às vezes. — Adoro sua voz, sabia? É minha favorita do BTS.

— Sério? — O semblante que ele fez era de surpresa, quase inocente. Se eu não conhecesse a peça, seria enganada por essa carinha.

— Seríssimo. Se tiver precisando desabafar, pode contar comigo. Sou boa ouvinte, segundo a Marianne, minha irmã, aquela garota minúscula.

— Eu vi quem é. — Eles se puseram de pé. Giovanne pôs uma mão no braço de Jungkook e, tentando não prestar atenção nos músculos definidos do úmero dele, disse:

— Olha, eu não sei o que você está passando. Akisha ainda está dormindo, então só posso imaginar… Mas, independentemente do que for, tente pensar nessa bagunça toda como uma fase chata, superchata, mas passageira da sua vida. É isso que eu estou fazendo, e é o que eu vou continuar fazendo mesmo depois que Akisha acordar, se é que ela vai mesmo acordar… — Mesmo depois de tudo que tinha ouvido e visto, ainda era difícil acreditar que a tal Akisha estava em seu corpo; não sentia qualquer diferença. Esse não é o momento de pensar em mim… — Zaku-Zaoh… É esse o nome do seu Hagar, né?

Kookie assentiu.

— Sinto muito que você tenha sido forçado a aceitá-lo. Mesmo. Se eu pudesse voltar no tempo, voltava. Nunca teria ido à escola. Iria pra um lugar bem deserto e resolveria eu mesma as coisas com aquele Lirth’sho covarde filho de uma puta. Queria ver ele me encarar sem um exército de zumbis…  — Gio olhou para o próprio punho fechado e por um momento, um pequeno momento, sentiu que poderia acabar com o servo de Larhen-Edriza com um simples movimento do mindinho. Mas, a sensação partiu tão rápido quanto veio, e tudo que conseguiu sentir foi cansaço. Baixou o punho, exausta, e voltou a mirar Jungkook. Ele encarava sua mão como se esperasse ver algo sair dela. — Eu queria poder voltar, mas não posso — Giovanne se desculpou. O olhar dele voltou a se concentrar em seu rosto. — Minhas amigas foram zumbificadas, e você está preso ao tal Zaku-Zaoh. É uma droga? É, mas vou resolver a situação delas. Não hoje, mas vou resolver. Quanto a Zaku, ele não pode mudar quem você é, e você não precisa mudar por causa dele, escutou? Ele te escolheu, então tem que te aceitar como você é. E se ele não quiser aceitar, o problema é dele. O corpo é seu, a vida é sua. Goste ou não, ele só está pegando carona. — Invadiu o espaço pessoal de Jungkook, e ele recuou, espantado, até acabar com as costas coladas à parede do corredor e os olhos arregalados, encarando o dedo que colocou na cara dele. — Escutou bem, Zaku? Você é só um passageiro inesperado, então curta o trajeto sem encher a paciência. — Todo o corpo dele enrijeceu, a face ganhou traços de irritação e um brilho azul se acendeu no fundo dos olhos. É, Zaku estava escutando, alto e claro e não estava nada contente por estar sendo repreendido. — Se você não baixar a bola, vai se ver é comigo. — Ele engoliu em seco, parecendo desconsertado. Giovanne sorriu. Prestei atenção suficiente no discurso do oppa pra saber que você tem que me ouvir, querendo ou não, Zaku! Obrigada, Hobi oppa! — Você é meu servo, certo? Tem que me obedecer. Então, se comporte.

Jungkook assentiu duas vezes, e o brilho azul sumiu dos olhos dele, levando toda a tensão irritadiça embora. Tudo o que restou foi uma careta embasbacada, completamente perplexa.

— O quê? Eu detesto valentões, não interessa se estão no Ensino Médio ou se já viveram um zilhão de anos. — Ele ainda parecia espantado, mas retribuiu ao seu sorriso com um bem pequeno. — Não é só porque você acabou metido nessa que tem que deixar de ser quem é, ok? Você não tem que parar de fazer as coisas que você gosta por causa de Zaku-Zaoh ou de quem quer que seja. Você não deve parar de cantar. — Jungkook foi relaxando ao passo que ela falava, Gio não fazia ideia de que suas palavras podiam afetar tanto alguém de uma forma tão positiva. Ficou muito feliz com isso. — Com ou sem guerra rolando, com ou sem um Hagar pentelho pra encher sua paciência, você tem que seguir em frente, o BTS tem que seguir em frente, porque isso é só uma fase. Você tem que sobreviver pro grupo continuar quando tudo acabar, vocês sete têm que sobreviver aqui — apontou para a cabeça dele — e aqui — apontou para o coração. — Foca nisso e não deixa o desânimo tomar conta, se agarre a vida com todas as forças! Pode fazer isso, né? — Ele assentiu devagar, meio hesitante, mas assentiu. — Ótimo! Enquanto a gente não se livra de Larhen e dos servinhos dele, vamos continuar fazendo o que gostamos! Você gosta de cantar, dançar e jogar, né? Eu gosto de jogar, escrever e desenhar. Vamos fazer isso, como se fossem dias normais. Essa guerra, Akisha, os Ak’hagar são só um pequeno detalhe. — Giovanne abriu um grande sorriso e ergueu os punhos com energia. — Fighting! — E, os olhou com uma careta interrogativa. — É assim que se diz, né? Fighting!

E, repetiu o movimento. O sorriso era enorme.

O Maknae de Ouro fez aquela típica cara de chocado dele e depois deixou o riso escapar. Nossa, que vontade de devorar esse menino! Pensou Giovanne, abaixando as mãos e ficou observando ele dar risada.

— Então… você desenha? — questionou Kookie, parando de rir. Exceto pelo nariz e olhos avermelhados, não dava para dizer que estivera chorando. Podia ser simplesmente um princípio de gripe. Ainda bem, ninguém vai saber que ele chorou.

— Mais ou menos. — Ela enfiou as mãos no bolso da jaqueta. — Sou melhor fazendo histórias e chutando bola. Depois te mostro alguns dos meus desenhos. — Ele assentiu. — Tá melhor?

— Sim… obrigado. — Novamente, a garota teve a impressão de que ele queria dizer algo a mais, entretanto, novamente, ele desistiu. — Vamos, quero te levar num lugar.

Dito isto, ele retomou a caminhada e o silêncio. Gio o acompanhou. Não ia se arriscar a perguntar o que ele se impedia de dizer e fazê-lo chorar de novo. Duvido que minha tagarelice tenha conseguido acabar com toda a aflição dele.

Trilhando mais dois corredores e subindo três lances de escadas, chegaram à ala dos quartos (a leste, se Gio se recordava bem das explicações de RM). Ela tinha uns cinco andares, quatro apinhados de um montão de cômodos vazios. Os quartos deles tomavam conta de todo o terceiro que — diferente dos outros que eram cortados por largos corredores centrais, com acessos de ambos os lados — se resumia a um salão oval que só podia ser acessado pelas escadas que ficavam em seu centro e pelo corredor atrás delas (as escadas de acesso ao quarto andar ficavam nos extremos do corredor em que este desembocava). Os quartos em si ficavam dispostos ao redor deste salão, os de Giovanne e dos Hagar de Akisha à direita do corredor e os de Marianne e dos Hagar de Akasha à esquerda. O de Hobi e Berat-Enira ficava do lado oposto ao corredor, de frente para as escadas, ao fundo do salão.

— Aqui não é onde ficam os quartos? — Gio indagou, vendo Jungkook virar à direita do acesso, exatamente na direção do quarto dela. — Não tô a fim de ir pra cama ainda.

— Não é isso. Você tem que ver alguém.

Eles andaram até a metade do acesso, passando direto pela porta do quarto dela e parando em frente à do que ficava logo à direita dele.

— Quem?

— Você vai ver — disse ele, parecendo sorrir (aquele eternal smile era um problema) e ergueu uma mão para bater na porta, porém essa se abriu antes que encostasse nela, revelando um Kim Seokjin radiante, com uma maquiagem impecável e um conjunto de moletom todo rosa. Gio viu Jungkook franzir o nariz, incomodado com o sorriso perturbadoramente meigo do mais velho.

— Oi, Giovanne-yah, Jungkook-ah. Podem entrar.

— Valeu, mas tenho que resolver umas coisas. Depois a gente se fala, hyung — disse Kookie, se curvando e indo embora rapidamente. Mas, já? Espero que ele fique bem. O bico desgostoso de Giovanne durou pouco. Ainda não tinha conversado com Jin, aquela era a primeira vez que o via cara a cara. Não achava que teria essa oportunidade, não tão cedo. Como um dia pode ser tão merda e tão perfeito ao mesmo tempo?

*     *     *

“[…] ela é um doce de pessoa.”

Seokjin acordou se sentindo melhor. Não estava cem por cento bem, contudo já era um começo. Por um segundo, não entendeu onde estava, mas a resposta veio clara a sua mente em seguida. Não se achava mais no MGM Grand Hotel, mas em F’ay, em um castelo erguido por alguns de seus amigos e respectivos Ak’hagar. Estava em segurança, não tinha por que se preocupar — a clarividência de Qenía era surpreendentemente eficiente.

Checou as horas, era 1h34 da madrugada. Acho que dá para tirar mais uma pestana antes do café. Era o que ia fazer, mas se deteve ao ver aquilo. A luz que impregnava seu ser permitiu que visse Suga, Jungkook e a princesa Giovanne, o primeiro iria bater à sua porta dali a vinte minutos, e os outros dois apareceriam cerca de uns quinze minutos depois.

O maknae iria ter a ideia de ir até ele e não contaria para a menina o que iria fazer. Ele percebeu que ela ainda está sofrendo de dores pelo corpo e pretende deixá-la sob meus cuidados. Está começando a se preocupar com o bem-estar dela! Surpreendeu-se Omma Jin. Estava orgulhoso de Kookie. Ainda bem… Já o rapper viria pedir que examinasse Jimin, com medo de que os danos causados pela liberação dos Segundo e Terceiro Portões do Espírito de Hasa-Ithor viesse a provocar a morte do dongsaeng. O medo dele não era infundado, os danos haviam sido bem sérios. Chim só conseguia se mover, porque todos os receptores de dor do corpo dele haviam sido inutilizados. Não acredito que Jimin e Hasa-Ithor-nim cometeram essa loucura!

Levantou da cama e foi se arrumar ligeiro (precisava de um banho).

Quando Yoongi chegou, Jin tratou de acompanhá-lo até o quarto dele.

.

Tinha acabado de retornar quando Jungkook e a princesa chegaram, então pôs um grande sorriso no rosto — não havia porquê preocupá-los, deixando que soubessem sobre o estado de Jimin; ele melhoraria em pouco tempo se ficasse quietinho, só recebendo tratamento e repousando — e atendeu a porta imediatamente antes da primeira batida vir.

Esse sorriso exagerado é culpa de Qenía, decerto. Pensou Zaku-Zaoh, e Jungkook completou:

O hyung também não fica atrás. Esses dois nasceram um para o outro.

— Oi, Giovanne-yah, Jungkook-ah. Podem entrar — convidou Jin, dando passagem, mesmo já sabendo o que o dongsaeng iria responder.

— Valeu, mas tenho que resolver umas coisas — recusou o maknae. Ela precisa dormir. Eu vou acabar atrapalhando se ficar… — Depois a gente se fala, hyung.

Essa Criança segue arredia em relação a Zaku, Seokjin. No entanto, começa a abraçar a missão dele, pensou Qenía-Araso, vendo Jeon Jungkook se afastar pelo corredor. Num futuro não tão distante, será o mais fiel Escudo de Akisha dentre vocês, assim como Zaku o é entre nós.

Jin concordava com o Hagar do Amor, porém tinha medo. O futuro nunca era um apenas. Vários caminhos podiam ser tomados, levando a infinitos destinos e nem todos eram felizes. Ainda não podia ver todos, entretanto podia sentir a verdade desse juízo em seus ossos.

— O seu quarto é lindo! — Giovanne elogiou ao entrar.

Jin encostou a porta e balançou a cabeça em concordância. (Estava na presença de um dos Fragmentos de Ak’Mainor-Menora, não era o momento para ficar pensando no que ainda estava por vir. O futuro ainda não estava definido.)

O quarto tinha dois andares. No primeiro ficava a área de repouso e lazer, com uma cama imensa, sofás, pufes, uma mesinha de centro, um rack com uma TV enorme, aparelho de Blu-Ray, Home Theater, alguns livros e vários bonequinhos de enfeite e um pequeno closet (a decoração era essencialmente fofa, e claro que bichinhos de pelúcia não podiam faltar; eles se espalhavam pelo lugar, brancos e em várias tonalidades de rosa). O segundo andar era uma mescla de escritório com cozinha — escrivaninha, minigeladeira, computador e outros aparatos tecnológicos (em vez de um fogão, tinha um pequeno forno elétrico) — e era acessível por uma escada caracol próxima à parede cortada por mezaninos. Tudo era em tons de rosa com acabamento branco. Um ambiente afável e gracioso, como o dono. Hoseok-ah, Namjoon-ssi e Jungkook-ah provaram que me conhecem bem! Tenho que recompensá-los depois.

Focou sua atenção na menina, que zanzava pelo recinto, mexendo em tudo e mais um pouco.

Giovanne Isabel Abelarda Silveira Pestana de Sousa, a hospedeira de Akisha, o Corpo de Ak’Mainor… Que tipo de pessoa você é?

Sabe que não precisa perguntar a ela, Seokjin… Qenía disse com um toque de delicadeza, Princess Jin sentia a luz dele abraçar sua alma. Sabe disso.

Sei, sim, Araso seonsaeng-nim. Mas, eu quero. Saber sobre alguém e conhecer alguém eram coisas bastante diferentes. Acho melhor conhecê-la aos poucos, assim como ela vai me conhecer.

— Berat-Enira-nim, Zaku-Zaoh-nim e En-Ephir-nim são os responsáveis por esse lugar ter ficado tão maravilhoso — Jin contou animado, sentando-se num sofá rosa-claro ao canto.

É mesmo um quarto digno da Princesa Cor-de-Rosa, pensou Giovanne, indo se sentar ao seu lado e dizendo:

— Os Hagar são muito poderosos, hein? — Nunca pensei que conheceria você desse jeito, minha Pink Princess. Jin não tinha intenção de bisbilhotar os pensamentos da menina, foi puro reflexo e descuido com sua luz interior. Suas bochechas coraram de leve, não estava esperando por uma reação como aquela. — Me conta, Jin: você pode mesmo curar qualquer ferida?

Seokjin deu espaço para Qenía falar e viu a menina arfar, estupefata, ao ver seus olhos mudarem. Um monte de espelhinhos, que fofo!

— Sim, porém minha luz não se resume a isso. Berat deve ter explicado para a senhorita.

Ela afirmou com um aceno de cabeça, dizendo com um sorriso:

— Me chame pelo nome, por favor.

— Oh, queira me desculpar, ainda não me acostumei — disse Qenía, piscando os olhos de forma frenética. Jin emendou — Vou cuidar de você.

— Não precisa, já tô legal. — Ela deu leves tapinhas nas mãos de Jin, encenando um bocejo. — Só vou ver se dou uma cochilada. — Estava cansada, mas não era tão simples assim. O corpo dela está muito desgastado.

— Ainda sente dor — Jin declarou, e a menina fez uma careta nervosa. — Eu sei, Gia-yah. Não precisa fingir comigo. Não pode ficar andando por aí, tem que repousar, do contrário o tratamento não vai adiantar de nada.

— Já vou dormir, só quero primeiro… — Jin a fitou com repreensão. — Ah! Tá bem, tá bem, eu me rendo. — Giovanne sossegou, e Jin pode começar a cuidar dela. Ondas luminescentes saíram por suas mãos, passando a circular a menina imediatamente e a fazendo sorrir. — Nossa, que irado! Jin, seu poder é demais! Posso te chamar de Jin? Acho Seokjin-ssi muito comprido e não sei se consigo te chamar de oppa — falou enquanto apalpava a luz esfumaçada. Mirou Jin, ele a observava atentamente. — Mas posso me esforçar, se quiser… — ela completou, desajeitada.

— Jin está bom. — Sorriu para a menina. Por algum motivo estranho, não ligava de ser chamado assim por ela, mesmo ela sendo tão mais nova.

Enquanto a luz ondulante agia sobre as células de Giovanne, revigorando-as e entretendo os olhos e as mãos dela, Jin passou a mexer nos cabelos dela distraidamente, desfazendo a trança que os atava e os vendo se descortinarem em uma cascata de cachos. Estava tão cansado antes que nem havia prestado atenção neles. Eram belíssimos. Suspirou, facinado, e se pôs a embrenhar os dedos por entre eles.

— O que cê tá fazendo? — A voz de Gio interrompeu seus desvaneios.

— Na- nada — Jin gaguejou todo sem-jeito, afastando apressado as mãos dos cachos dela e as espremendo no colo. O Hagar do Amor riu da sua reação.

Por favor, Araso seonsaeng-nim… não é engraçado. Pediu, desconsertado, vendo a garota encará-lo com os olhos semicerrados, cheios de desconfiança, quase aborrecimento. Acabei sendo bastante abusado.

Me perdoe, Seokjin, mas não vejo nada demais. Vocês, jovens Filhos de Menora, são tão travados às vezes. O que há para se envergonhar em uma simples demonstração de carinho, minha Criança? Realmente não entendo… Vamos, deixe sua vexação de lado e seja sincero com a princesa.  Ela vai entender se explicar como se sente e ficará lisonjeada. Seu silêncio, porém, será mal-interpretado. Não crie falsos motivos para ela se indispor com você…

Jin engoliu em seco.

— É que- é que seu cabelo é enorme. Fiquei curioso para vê-lo livre. É muito lindo. — As sobrancelhas da garota se arquearam, e ela recuou um pouco, piscando. — Vou prender de volta — ele acrescentou depressa. — Desculpe eu mexer sem permissão…

— Não precisa ter pressa, eles não mordem… — …nem eu… Ela pensou, encabulada e agitou as mãos no ar, impelindo um bocado de névoa na direção do próprio rosto. Tão travados… Qenía ria de novo. — Você… não precisa me pedir permissão pra tocar neles. — Viu só? — Obrigada. — Sim, Jin suspirou, aliviado, concordando com Menora’orphia e sorriu, voltando a mexer nas mechas castanhas, desimpedido. — Sabe, fico me perguntando… Como o seu cabelo e dos outros não caem, mesmo usando tanta tinta?

— Tratamento, tratamento e mais tratamento. — Esse assunto fez Jin lembrar de algo que tinha visto na mente dela. — Quer que eu pinte o seu? Afinal, você sempre quis fazer isso, mas tinha medo de não ficar bom ou de não saber cuidar para que os cachos não ressecassem.

Giovanne o olhou nos olhos, perplexa. Ele acabava de prender o cabelo dela em uma trança espessa.

— Como sabe? Não comentei isso com ninguém, nem com a Mari.

— Sei muito sobre você, Gia-yah. Sua mente é um livro aberto para mim.

— Então, você lê mentes?!

— Basicamente, sim. Posso ter acesso a todo conhecimento que existe.

— O que eu tô pensando agora? — Testou Giovanne.

— “Finalmente vou poder ler Artemis Fowl, agora que tenho as cópias físicas dos livros” — repetiu Jin, ela ficou de olhos esbugalhados. — Não foi?

— Foda. — Ele se assustou, mas sorriu em seguida. — Quer dizer…! Incrível, isso é incrível. Mas, não vai ficar olhando minha mente, viu? Gosto de privacidade.

Ye.

— Ai! Que sono… — Ainda sob os efeitos da névoa de luz, Giovanne deitou no sofá, era grande o suficiente para ela se esticar (não era alta, e mesmo que fosse, ainda daria), Jin se achegou para o canto, dando mais espaço para a menina. As pálpebras dela pesavam, conferindo um ar fofo a seu rosto sonolento. — Você não tá com sono, Jin? Eu tô. Poderia dormir por uns cem anos…

— Boa noite, Gia-yah. Tenha lindos sonhos — ele sussurrou, depositando um selinho na testa dela (puro reflexo, o Hagar do Amor era muito afeito a demonstrações de carinho, e era bem mais fácil ceder a elas do que resistir). Diminuiu a luz, que regrediu até sumir, já tinha feito o bastante por hora, o resto se resolveria com Giovanne dormindo por longas horas. Pegou-a no colo e a levou para o quarto dela, lá teria mais conforto.

A conversa curta que Pink Princess teve com a garota foi muito agradável. Quero conversar mais com você. Pegou-se pensando, compartilhava desse desejo com Qenía.

Mesmo com o jeito um tanto grosseiro, ela é um doce de pessoa. Vamos cuidar bem dela o máximo que pudermos, Seokjin.

Sim, Araso seonsaeng-nim. Já via em Giovanne uma irmã caçula, quase uma filha, que necessitava de muito cuidado e carinho. Carinho redobrado no caso dela. A pobrezinha caiu de paraquedas nessa história com Ak’Mainor, Larhen-Edriza e todos esses problemas que envolvem Caos e Cosmos. Iria ser como uma mãe para ela. Quero fazer isso por ela.

*     *     *

“Quero protegê-la.”

Sua Alteza já dorme… O vento sussurrou aos ouvidos de Kim Namjoon. …A Luz guarda seu sono…

— O hyung já está acordado? — estranhou Rapmon, tirando os olhos do documento que lia e fitando as horas na tela do smartphone. Três e dezoito. Mas, ele ainda não descansou o suficiente. Descansou, En-Ephir-nim?

Dificilmente. Qenía é onisciente, deve ter decidido despertar para cuidar da princesa. Ela ainda não está saudável, Namjoon.

Aish… Mas, aonde é que Jungkook se enfiou? Era para ele ficar com a senhorita Giovanne!

Talvez, ele não tenha sido informado a respeito dos turnos. Zaku e Khro estavam abastecendo as despensas quando acordamos os horários, e não dissemos nada a eles. Duvido que Asha tenha se dado ao trabalho de avisá-lo. Não era dever dele, e os dois não costumam conversar.

Ah, que maravilha. Bem, é tarde para deixá-los a par de tudo, devem estar dormindo a essa altura. Vamos cuidar disso pessoalmente, o rapper decidiu e começou a guardar os documentos que se espalhavam pela escrivaninha dentro da bolsa-carteiro da qual tinham saído, já não íamos dormir mesmo…

Cerca de um minuto depois, Leader Mon abria a porta do quarto do Fragmento de Akisha. Como esperava, Jin estava lá, sentado numa cadeira ao lado da cama de Giovanne. Ele esfregava os olhos e cabeceava um pouco quando pôs o pé para dentro do cômodo, no entanto — também como esperava — ele percebeu sua chegada e indagou:

— Não devia estar na cama, Namjoon-ah?

— Você tem que descansar, hyung — alegou, apoiando uma mão no ombro do mais velho. — Pode ir, eu fico com ela.

— Não, Namjoon-ah. Não precisa, está tudo bem. Já dormi o suficiente. — Jin teimou. RM já esperava por isso, o mais velho não havia sido escolhido pelo Hagar do Altruísmo à toa, afinal.

— Você mal consegue manter os olhos abertos — Namjoon argumentou —, e eu ainda tenho trabalho a fazer. Pode ir, já fez muito pela senhorita Giovanne. Se ela precisar de alguma coisa, posso dar um jeito. Vai.

Por favor, Qenía, En-Ephir pediu a Menora’orphia.

Seokjin o olhou em silêncio por alguns instantes e por fim reconsiderou, parando de persistir. Agradeceu ao amigo, prometendo que o renderia na noite seguinte, deixou um beijo em sua bochecha (agradecimento/despedida de Qenía-Araso) e retornou a seu quarto. Namjoon tomou o lugar dele, sentando na cadeira e se pondo a observar a garota adormecida. Ficava tão diferente com aquela expressão serena. Nem parece a menina pavio-curto de mais cedo. Com ela dormindo daquela forma, conseguiria se manter calmo e trabalhar (não que não gostasse de conversar com a princesa, mas ela era intensa demais, além do fato de deixá-lo um tanto nervoso; era bom vê-la assim, tão relaxada).

É animador ver que ela decidiu seguir um bom conselho e descansar. Vai acordar com as energias renovadas.

Vejo que já tem um grande apreço pela princesa, comentou Arviehe’prabath. Admiro isso em você. Ela não é alguém fácil de lidar.

Obrigado, En-Ephir-nim, agradeceu o rapaz. Mesmo sabendo que Giovanne e Akisha não eram o mesmo ser, En-Ephir julgava ambas igualmente importantes, era o mesmo para o rapper. Agora compartilhava da mesma missão que o Hagar da Temperança, entretanto se sentia na obrigação (não, “sentia vontade” era uma expressão que descrevia mais adequadamente aquele sentimento) de impedir que coisas cruéis acontecessem com Giovanne. Quero protegê-la.

Pensando nisso, Namjoon retirou a bolsa que trazia à tiracolo do corpo e pescou o documento que lia instantes antes de dentro dela, retomando a leitura. Tratava-se de uma cópia do testamento de um homem chamado John P. Hills que, pelas informações contidas nos demais arquivos que já lera, era o dono da propriedade em que haviam estado, o reduto abandonado pelos Lirthua’shoa. Estava em francês, porém isso não era um problema, não mais.

Com sorte, ele incluiu todo os familiares próximos no testamento. Um deles deve ser o Portal… Se for, os Shoa podem ter se alocado numa outra propriedade da família.

Uma moça jovem, segundo Khro, lembrou o comandante dos Hagar de Akisha, pensativo. Provavelmente, uma filha ou neta. Talvez, uma empregada. Aquela casa devia ter muitos empregados.

Se for o caso, tudo que esse documento fará será eliminar a família Hills.

Se for assim, procuraremos pela relação de empregados. Cortar suspeitos também conta como avanço, Namjoon.

Ye, seonsaeng-nim…

*     *     *

“Talvez, ela eu possa aceitar…”

Jungkook não conseguia dormir. Seus olhos se recusavam a se pregarem, o sono simplesmente não vinha, e era só a primeira noite que experimentava depois de ter perdido a liberdade.

A lembrança daquele momento constrangedor no corredor não parava de enchê-lo, irritantemente insistente. Se eu não tivesse falado nada, só dado uma resposta superficial, não teria perdido o controle. Teria conseguido manter minhas lágrimas escondidas, e os meus problemas guardados só pra mim. Se culpava por ter se mostrado tão frágil, mas estava um pouco aliviado. Externar parte do sofrimento que vinha enfrentando a cada gole de oxigênio que respirava foi libertador. Um pouco de liberdade em meio ao cárcere. E, aquela garota era a razão disso.

Giovanne não saía de sua mente, nem as palavras ditas por ela. Palavras de consolo que tinham feito cessar suas lágrimas. Ela fora a responsável por seu momento de fraqueza, assim como por acalmar seu coração. Nenhuma garota tinha conseguido mexer comigo assim antes…

O rosto de Kookie esquentou, e ele levantou as mãos, cobrindo as bochechas. Tinha chorado na frente de uma estranha, abraçado uma estranha! Por que a abracei? Que vergonha! Era uma vergonha. Tanta hora pra desabar e eu tinha que deixar acontecer logo na frente dela? Zaku é servo dela, e eu também agora que estou preso a ele. Se ela quiser aprontar comigo, já tem tudo do que precisa e mais um pouco!

Interrompeu o que pensava, se repreendendo. Giovanne não era o tipo de pessoa que brincaria com os sentimentos dos outros, ela havia deixado isso bastante claro. Mesmo assim, como ela vai poder confiar em mim agora? Um guardião de coração fraco é pior do que um guardião sem poder. Como faço pra ela confiar em mim agora?

Jungkook arregalou os olhos, e seu coração errou o compasso. Seu peito transbordava de emoções. Mas, o que é que eu estou pensando? Não é como se eu quisesse a confiança ou o reconhecimento dela. Detesto a ideia de ser servo dela, detesto… Se bem que ela também não escolheu isso, é tão vítima quanto eu…

Ela tinha sido tão gentil com ele mais cedo. Por mais envergonhado que se sentisse, devia ser grato a ela, certo? Ela até tinha dado um esporro em Zaku-Zaoh por sua causa! Mesmo ainda sendo fraca e não tendo nenhum poder, ela tinha feito isso por ele. E eu nem consegui pôr meu orgulho de lado e confessar que ela está sofrendo daquele jeito por minha culpa. Não consegui me desculpar, mesmo com ela sendo tão gentil… Não fazia qualquer sentido ficar com raiva por ter acabado metido naquela relação de servidão com ela. Detesto a ideia de ser um servo, não aquela menina. Não posso me esquecer disso… Ai, droga! Por que estou dando tanta importância pra isso?! Ela é só uma estranha que eu calhei de conhecer! E, a quem agora estou amarrado…

O GoldMak estava mais do que encabulado, magoado ou confuso. Ele queria cavar um buraco, se enfiar nele e nunca mais aparecer.

O suplício de um covarde e sua ladainha… Debochou Zaku-Zaoh, ele vinha mantendo silêncio desde que deixaram Giovanne no quarto de Seokjin. Porém, era um silêncio ferino, impregnado de raiva e ressentimento. Era tão forte que chegava a ser desgastante para o rapaz, um dos principais motivos para ele não ter conseguido pegar no sono. …um espetáculo entediante e deveras inútil, e eu aqui sendo obrigado a assistir. Não pode ser simples má sorte. Fui amaldiçoado, decerto…

Cala a boca, Zaku. Não quero ouvir sua voz, Jungkook disse o mais ríspido possível. Se a ira de Zaku era grande, a sua era muito maior.

Cadê o “embuste”? Enfim, aprendeu meu nome, Jeon-ssi?

Embuste, Zaku-Zaoh, Eoir’miresa, Hagar do Orgulho e da Ira, espírito que chegou para ferrar com minha vida… Enumerou o Bangtan Boy. Basta escolher. É tudo a mesma porcaria: você, encosto!

Não consegue se pôr em seu lugar, não é, fedelho?! Zaku explodiu (estava demorando), e Jungkook bufou, não devia ter ninguém mais estressado que ele em todo o universo. Você se mostrou fraco diante de Sua Alteza, insinuando mentiras a meu respeito e a fazendo ficar contra mim. Isso é o maior ultraje de todos! Além de revoltado, Zaku sentia revolta, beirando a histeria (Jungkook se identificava). Se tentar me envergonhar da próxima vez que eu estiver na presença dela…

O quê? Vai arriar minhas calças e me bater? Vai me fazer beber elixir da morte e me riscar da face da Terra? O que você fizer comigo te afetará também. A despeito de toda porcaria que estava lhe acontecendo, estava ficando excelente na arte da provocação. Me condenei ao aceitá-lo, mas por outro lado, me tornei imune aos seus joguinhos ardilosos. Pode me ameaçar o quanto quiser, isso é tudo que você pode fazer mesmo… ah, não! Nem isso você pode, já que recebeu ordens pra não me encher a paciência. Talvez, eu devesse contar pra Giovanne que você a desobedeceu. Fico imaginando o que aconteceria se ela soubesse…

Zaku ficou quieto por alguns instantes, o ânimo dele se inflamando mais e mais. No entanto, quando Jungkook achou que ele fosse esbravejar uma nova leva de insultos e reclamações, ele se acalmou. Não uma calma serena, a chama da ira dele continuava acesa, mas era uma chama fria, controlada. Aquela foi a primeira vez que a voz dele lhe veio despida de aspereza — ainda havia aquele quê de superioridade, mas ele vinha sozinho.

A princesa Giovanne é o Fragmento de Akisha, e devo obediência a ela. Por isso, eu vou deixá-lo em paz, Jungkook. Por ela. Nada mudou, entretanto. Você é meu hospedeiro, o instrumento da manifestação do meu poder. Nada do que você é ou possui é mais importante do que a minha missão e nada disso vai prevalecer se vier a se tornar um obstáculo à realização de meus deveres. Não porque eu o deteste e não dê à mínima para o que lhe é precioso, porque eu não posso preservá-lo em detrimento do restante do universo. Sua vida não é sua nem minha, é de Akisha. Goste ou não, você terá de aceitar essa verdade mais cedo ou mais tarde. Para o seu bem e da princesa, eu sinceramente espero que seja cedo. Sua Excelência e eu somos imortais, podemos continuar nossa jornada desde que o Corte da Ordem permaneça trancafiado em sua prisão. Vocês, não. Uma vez que a morte os abraçar, será o fim.

Jungkook estacou. Não havia qualquer nota de ameaça na fala do Hagar, apenas fria constatação. Ele não estava sendo exagerado nem mentindo, acreditava mesmo em cada palavra que havia acabado de proferir. Mas, nós… eu…

Pare de confundir seu inimigo enquanto ainda é tempo, garoto. O tempo é curto.

Se recordou do que Makir-Edash podia fazer com um simples aceno de mão, do que Edoras podia fazer com uma vida que caísse em suas garras. Havia mais onze Lirthua’shoa, além do Portal e do próprio Larhen. Jamais poderia lutar contra eles sozinho, e Zaku… ele também não podia, talvez mesmo com seu corpo não pudesse, não enquanto se recusasse a aceitá-lo. De verdade.

Havia gasto o dia inteiro trocando injúrias com o Hagar da Ira, por causa disso só tinha as palavras de Qenía-Araso para guiá-lo. Não sabia nada, e duvidava muito que Zaku fosse dizer algo voluntariamente. Ele era o Hagar do Orgulho, afinal. Mas, depois do que ele havia acabado de dizer, a insistência dele para que aceitasse seu destino soava como um pedido de ajuda.

Zaku era insuportável, mas ainda era um Ak’hagar. Akisha e seu Fragmento eram mais importantes do que tudo para ele, isso havia ficado claro durante sua conversa com Giovanne. A raiva dele em momento algum havia sido direcionada à garota, apesar das coisas que ela disse a ele. Direcionava-se a Jungkook por ter dito o que não devia. Direcionava-se a ele próprio, o que havia chocado o rapaz. Era como se Zaku se culpasse por ter deixado as coisas chegarem àquele ponto. Mesmo na condição de Hagar do Orgulho e da Ira, ele preferia achar erro nos próprios atos e se culpar do que sentir raiva de Giovanne. Que ser de ego inflado e paciência inexistente faria isso?

Um que desse muito valor a pessoa que poupa. Jungkook pôs o antebraço sobre os olhos, inspirando com força e engolindo em seco. Ele só está tentando protegê-la… As palavras reconfortantes de Giovanne, o sorriso dela, o carinho desajeitado, a sensação dos braços dela ao seu redor… tudo permanecia nítido em sua cabeça. Droga… Não conseguia esquecer, não podia esquecer, e — com espanto — reconheceu que não queria esquecer. Eu ainda sou humano, eu ainda sou… Seus dentes se trincaram, uma lágrima escorreu pela lateral de seu rosto. …eu ainda sou, mas, talvez, ela eu possa aceitar… talvez, por ela, eu possa aceitar tudo isso…

Permaneceu ali, imerso na agonia de um pranto regado a lágrimas e silêncio que parecia não ter fim — Zaku cumprira a promessa de deixá-lo em paz, não sentia mais nada vindo dele —, por um tempo branco, desmedido. E, sem perceber o sono chegou, entorpecendo seus sentidos e embotando seus pensamentos. Dormir depois de tanto se preocupar foi bom.

Um sono sem sonhos era tudo de que precisava.

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