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Boston Kim me interpela com seus olhos felinos a procura de alguma mentira pelo meu rosto, coça o queixo quando se frustra em sua tentativa e tenta mais uma vez entender o que está acontecendo comigo. Ao seu lado sua inimiga mais leal, Pine Landon, atualmente tão ruiva quanto nós lembrávamos.
— Tem noção no que está se metendo, Jer?— Pergunta em um tom de escárnio não direcionado a mim e sim, para a garota que ele é obrigado a suportar. — A gênia da faculdade te enlaçou desse modo?— Sua expressão é horrenda e engraçada com as sobrancelhas esticadas e entre elas uma ruga.
— Ora, Bos... É só uma garota interessante, não há nada demais, estão assim só por que ela é ultra inteligente e trabalhou em algumas pesquisas financiadas pelo governo?— Coço minha cabeça em um ato de puro nervosismo.
Os olhares escuros de Boston e os verdes claros de Pine pairam sobre mim como se tivessem me julgando duramente, sei que eles me conhecem e conhecem o que dizem sobre mim. E eu odeio receber qualquer tipo de crítica, não lido bem com elas, e eu diria que sou bem cabeça dura, admitir isso já me faz menos cabeça dura, é claro.
— Toma cuidado, Jer. — Pine exclama com sua voz doce porque já entendeu que eu seguirei em frente com Boston satisfeito ou não. — Só queremos o seu bem. — Eu sabia disso porque ninguém no mundo são tão bons amigos que eles.
Pine, Boston e eu costumávamos ser um trio inseparável do tipo que estão em todos os lugares e devo dizer que éramos bem populares também, mas depois da noite do baile da nossa ida para o ensino médio as coisas mudaram drasticamente, Boston e Pine se tornaram os inimigos mais letais que a S. S High School podia ter, era como gato e rato que não podiam se ver obviamente eu também parei de me relacionar com Pine porque eu na verdade sempre fui a melhor amiga dele. Não sei se hoje essa foi uma atitude correta da minha parte, acredito que deve ter acontecido algo muito grave entre eles para romperem uma amizade tão forte como à deles e ela deve ter precisado de uma amiga e eu não estava lá.
Todos nós temos partes feias em nós que não nos orgulhamos, não dá pra mudar o que aconteceu no passado, mas da pra mudar o cursor dessas partes feias, se vamos deixar elas nos controlarem ou não.
— Tudo bem, fiquem frios. — Pisco. — E essa comida japonesa que não chega nunca?— Mudo de assunto me espreguiçando no sofá do apartamento deles.
— Não, Misty. — Eu reclamo logo em seguida da minha negativa, Misty Silvester não é do tipo que aceitava uma recusa, mas ela estava começando a me cansar com sua insistência. — Eu não quero ficar com você.
— Todo mundo quer. — Sua voz é ácida.
— Que ótimo, então fique com eles e não me enche. — Misty fica afetada com que eu digo, sei disso pela maneira que seus olhos se estreitam e sua boca murcha. — É sério, Misty. Você é linda mas eu não tô afim. — Porque meus pensamentos estão dramaticamente se desordenando por uma garota e seu par de óculos preto.
Criei fama no campus pelo que as pessoas suponham de mim, que eu me enfiava em qualquer rabo de saia que apareceria em minha frente, mas ás vezes eram calças também. Brincadeiras á parte, não sou assim levo em consideração os sentimentos das garotas com quem fico e não sou uma versão masculina dos garotos do campus como muitas adoram apontar.
A culpa de tudo isso é minha porque me aproveitei de uma mentirinha nada boba para ficar falada, no começo era ótimo porque as pessoas cada vez mais iam ao show e principalmente as garotas que faziam questão de serem notadas por mim. Lembro de quando teve uma temporada que a cada show eu estava com uma garota diferente, isso contribuiu bastante para Misty achar que por ser bonita isso é o suficiente para que eu e ela termos algum tipo de envolvimento, mas não é e nunca será.
— Bom, eu não acredito nisso, Jerrica. — Ela segura uma das minhas mãos. — Você é Jerrica Sugg e todas as garotas querem estar com você, querida. E por ser Jerrica Sugg você fica com elas. — Ela pisca e tenta ser sedutora, mas tudo que consegue fazer é me tirar toda a paciência.
— É uma pena porque ela terá que negar cada uma delas por algum tempo, Misty. — A voz aveludada que a cada vez se torna um pouco mais familiar soa atrás de Misty, seu jaleco é a primeira coisa que eu noto e isso me faz enlouquecer. — Eu sou a namorada dela agora, Misty. — Frisa bastante a palavra namorada e se senta em alguns dos bancos de frente ao balcão. — E você está atrapalhando o trabalho dela.
Misty Silvester está vermelha com o rosto em chamas em completo ódio, sei exatamente o que isso irá me custar, mas nesse momento eu não ligo para isso. Minha mente e meus sentidos estão concentrados na garota que tem um estetoscópio vermelho pendurado no pescoço parecendo cansada e mesmo assim está linda.
Aos poucos Misty vai embora da cafeteria em passos largos, me sinto uma péssima pessoa por destruir seus sentimentos e ainda mais surfando em mais uma mentira para me safar. Estamos a sós quando escorrego meus olhos para a garota sentada.
— Namorada?— Provoco. — Você levou o que eu disse muito a sério. — Concluo.
— Não é isso, Jerrica. — Ela tira a mochila das costas deixando ela no chão, apoia os cotovelos no balcão e deixa o rosto pendendo nas mãos cansada demais para equilibrar seu pescoço. — Eu preciso urgentemente de um café e aquilo iria demorar muito. — Ela sorri revirando os olhos é um gesto que faz meu coração arder em pura descontentamento, odeio quando as pessoas que reviram os olhos.— Foi uma atitude egoísta.
— Foi mesmo. — Declaro rindo. — Um café?— Pergunto deslizando o dedo pelo touch do monitor.
— Sim, duplo e amargo.
— Nossa quem te magoou?— Indago provocativa.
Ela dá de ombros e espera que eu prepare seu café, faço tudo de maneira automática. Consegui esse emprego logo que entrei na universidade, meus pais insistiram para que eu largasse já que eles podiam pagar por tudo, mas eu queria ter uma atividade mais séria e responsável ao longo do dia. Não que estudar não fosse, mas eu tenho certeza que se eu não tivesse emprego passaria a tarde toda dormindo ou vendo televisão, eu precisava de uma obrigação porque eu só funciono dessa maneira.
Anoto meu telefone e o nome de Cora no copo, despejo o café quente e amargo no recipiente biodegradável, deslizo ele sobre o balcão amarronzado para garota que mantém seus olhos fixos no nada e pesco um bombom em formato de coração da vitrine, entrego para ela e Cora Cox se limita a sorrir e abocanhar seu chocolate.
— Pensei que não queria mais me ver. — Murmuro apoiada no balcão.
Ela ignora o que eu digo e bebe um pouco do café, aproveito esse momento para olhá-la com calma, observo seu rosto com mais atenção, sem dúvidas, é uma garota linda e atraente. Sua beleza é agressiva porque seus traços são grossos e bem desenhados, os lábios vermelhos tem um bom volume e os olhos castanhos carregam um poder atrativo, suas bochechas apesar de cheias são bem marcadas assim como o maxilar e os cabelos emoldura seu rosto.
Ela me lembra a Megan Fox no filme Garota infernal apesar de suas vestimentas serem totalmente opostas, ela me lembra da protagonista do meu filme favorito. O jaleco bate em seus joelhos e não marca seu corpo corpulento, ele é largo e tem bolsos grandes cheios de coisas que eu não sei, mas que quase vazam para fora, em seu nariz descansa uma armação fina e preta de grau que caí incontáveis vezes para ponta do seu nariz e ela sobe ele com um dedo coberto por band-aids, e eu acho esse movimento o mais lindo e sensual de todos.
— Você parece cansada, Cora. — Seus olhos quentes e escuros recaem sobre mim. — Quer conversar sobre isso ou qualquer coisa?— Estou ansiosa para ouvi-la.
— Estou mesmo cansada, acabei de chegar de um plantão de setenta e duas horas porque houve um grande acidente na ponte da ilha, tinha muita gente machucada e em estado grave. — Ela suspira e prende o cabelo grande em um rabo de cavalo. — E acima de tudo estou frustrada.
— Por quê?— Pergunto interessada.
— Ah, é muito complicado essa história do zero, sabe?— Entendo que se refere à nota. — As pessoas criaram expectativas em mim e eu sinto que as decepcionei. — Ela terminou de comer e beber seu café, há farelos do chocolate ao redor da sua boca e isso me deixa consternada porque preciso me concentrar em olhar seus olhos mas os meus estão doidos para se perder em seus lábios. — Obrigada, pelo café e o bombom.
— Cora. — Seu nome é tão doce em minha boca quanto o chocolate que fora devorado por sua boca. — Você não precisa atingir as expectativas de ninguém, acredito que todos te acham incrível mesmo apesar da sua nota. — Seguro sua mão por cima do balcão. — Eu sei por que eu acho. — E acho mesmo.
— Obrigada, Jerrica. De novo. — Ela sorri dando de ombros e se coloca de pé. — Gosto de como é fácil conversar com você. — É sincera em cada uma das suas palavras.
Isso faz meu coração bater um pouco mais descompassado.
— Jerrica Sugg gostar também. — Ela rola os olhos mais uma vez caindo na gargalha.
— Que ridículo. — Ela joga as costas para trás e se aproxima.
Decido dá a volta pelo balcão e ficar de frente á ela, ela se encolhe um pouco e aos poucos seu rosto vai tomando uma coloração avermelhada linda, e como na sexta feira e no dia anterior, nos beijamos e percebo que a cada beijo fica melhor e mais difícil lidar disso da maneira que estou acostumada, curtir o momento sem muita responsabilidade.
Quando nos afastamos os lábios dela estão inchados e seus olhos enormes tem um brilho diferente, os cabelos estão espalhados por toda parte, afasto uma mecha ciumenta que sempre insiste em tampar uma grande porção do seu rosto e a abraço pela cintura de um jeito que consigo observar suas feições com muita clareza, Cora Cox é uma das garotas mais bonitas que eu já estive e eu estive com muitas, Cora Cox está despertando sentimentos perigosos em mim, sentimentos que me fazem querer planejar uma vida ao seu lado e isso é uma loucura enorme, mas não penso muito nisso, decidi me jogar de cabeça ou mergulhar nas profundezas do mar posso me refrescar ou rachar minha cabeça e aprender uma lição.
— Você é muito gata, sabia?— Sussurro tentando controlar minha respiração e emoções.
— Sim, eu sei. — Ela sorri e beija meus lábios rapidamente. — Tenho que ir, Jerrica Sugg. — Ela se afasta deixando um vazio em mim e pega sua mochila. — Até mais.
— Até. — Aceno observando ela ir embora.
Cora Cox é uma garota de provocar confusão porque em um minuto ela me odiava e não queria me ver nem pintada e agora parece tão embebida nesse mar de sentimentos quanto eu, adoro o quanto ela está sendo volúvel e curiosa em relação a nós, me sinto abraçada porque é assim que me sinto também. Caminhando no escuro e esperando encontrar um foco de luz, esperando encontrar ela.
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