Kakashi acha que merece uma recompensa maior por sua cabeça
PAREDES DE PEDRA AO REDOR. Sentia a umidade do chão frio em seus pés descalços. Uma mão quente na sua, enquanto corriam entre as paredes, procurando uma saída. Tudo era como um enorme labirinto.
—Por aqui!
Sua mão foi puxada de forma abrupta para a direita. Seu coração a mil. Sentia-se zonzo, desorientado. A pessoa a sua frente parecia cada vez mais desesperada. Ouvia gritos ao longe, o som de tiros, cada vez mais próximos.
Até avistarem a saída.
Sua consciência ia e vinha. Suas costas estavam contra algo úmido. Abriu os olhos e tudo o que viu foram árvores e o céu noturno.
Ouviu passos no chão de folhas. Os gritos estavam mais distantes.
Podia ver um clarão ao longe. Fogo.
Tudo era tão confuso.
—Minato, não durma agora. Precisamos continuar andando.
Era a voz mais linda que já ouvira, mesmo com o tom de desespero dela. Sentiu uma mão quente em seu rosto e abriu os olhos novamente.
Cabelos vermelhos.
—Eu preciso de você.
.............
Minato acordou com um ofego, sua cabeça doendo. Sentou-se no futon, seu corpo coberto de suor. Ao passar a mão no rosto, notou que havia lágrimas também. Fora um sonho confuso, não conseguia lembrar de todos os detalhes, mas sabia que não era a primeira vez com que sonhava com algo assim.
Ficou alerta ao ouvir um barulho na penumbra. Olhou ao lado e viu que Kakashi dormia no outro futon, as mãos abaixo das cobertas, que iam até seu nariz.
Demorou apenas um segundo para ver que Kurama não estava dormindo no futon ao lado dele. Ergueu-se de supetão, o coração já acelerado, pegando a arma atrás do seu travesseiro.
Kakashi abriu os olhos no mesmo instante.
—Ele está no corredor.
Sentiu-se relaxar com o tom tranquilo do outro.
—Há quanto tempo ele está acordado?
—Alguns minutos.
—E você?
Kakashi deu de ombros minimamente. Provavelmente não havia dormido de forma alguma, se conhecia Kakashi bem.
—Vá dormir. – Ralhou e o outro revirou os olhos, mas os fechou.
— Pirralho atrevido. – Resmungou e ouviu uma risada baixa abafada pela coberta.
Sentiu o chão frio a seus pés, lembrando-se de seu sonho. Puxou a porta de correr e deu de cara com o menino. Ele estava de pé no meio do corredor, olhando para a distância. Aproximou-se mais e viu que os olhos dele pareciam vidrados demais para alguém que estivesse acordado. Ele estava parado demais em comparação a criança que conhecera no último dia.
—Kurama-chan. – Chamou baixo. A criança não se virou, apenas continuou olhando para o corredor, na penumbra. Por um momento pensou que ele pudesse estar vendo algo e sentiu os pelos do seu braço arrepiarem.
Estava pronto para guiar o outro de volta para o quarto quando a voz infantil falou, no mesmo tom distante de seus olhos.
—Ka-chan não sabe como voltar.
Sentiu seu coração se contrair ao ouvir isso. A mãozinha se estendeu em direção ao corredor vazio.
—Ka-chan vai vir me buscar. Ela prometeu.
Se agachou de frente ao menininho, novamente sentindo um arrepio ao ver a expressão séria e distante. Ele realmente ainda estava dormindo.
—Vamos para o quarto, Bambi.
Pegou o garotinho em seus braços e sentiu as mãos abraçando seu pescoço, a cabeça em seu ombro. A respiração dele logo estava uniforme, voltando ao sono profundo.
Quando tentou o colocar no futon, ele se agarrou mais nele com um gemido. Depois de algumas tentativas frustradas, se entregou e o levou consigo para o seu. As mãozinhas se agarraram em seu camisa de forma tirana, a cabeça loira abaixo do seu queixo com um suspiro satisfeito. Sorriu levemente, passando os braços ao redor dele, colocando o nariz nos cabelos loiros. Kakashi nunca fora pequeno assim, e com certeza nunca o deixara o abraçar assim, a aparte em raros momentos.
Podia se acostumar com isso.
Estava quase fechando os olhos quando ouviu a voz baixa e curiosa na escuridão.
—Tem certeza de que ele não é seu filho?
—Vai dormir, Kakashi.
...............
Minato era conhecido como um dos 4 maiores caçadores da história de Konoha. Estava nessa vida desde que fugiu do orfanato aos 15 anos. Ele havia perdido a conta de quantas pessoas haviam perdido a vida na sua mão, quantas organizações inteiras tremiam apenas ao ouvir seu nome. Até mesmo fora de Konoha, em Ame, ele era terrivelmente temido, como seu nome listado como "fugir ao ser avistado" no Bingo-Book.
E ainda assim, aqueles olhos de Bambi podiam o matar mais fácil do que qualquer arma.
Kurama não havia ficado nada feliz em ter que tingir o cabelo de preto. Aparentemente "Ka-chan" gostava muito dos fios loiros.
—Kurama-chan, eu expliquei que é necessário. – Desviou os olhos daquela arma mortal que eram aqueles olhos o fitando de forma traída, sentado na privada com um espelho na mão.
—Não podia ser vermelho? Como o cabelo da ka-chan? – A voz trêmula perguntou, um beicinho completando o pacote.
—Não. – Falou de forma firme. Kakashi, o covarde, havia fugido com o primeiro tremer de lábio depois que o menino se viu no espelho. – Vermelho iria chamar muita atenção. Temos que ser discretos, como ninjas.
Isso fez o garoto olhar o espelho pensativo, então o fitar, o rosto virando levemente.
— Faz sentido, Yondaime. Mas pode pintar de voltar quando encontrar a ka-chan né? Ela diz que meu cabelo é lindo. O dela é mais...
Oh Kami. Como dizer aquele menino que, pelo o pouco que já sabia da história, provavelmente a ka-chan não ia voltar? As chances de Kushina Uzumaki estar viva eram bem pequenas.
O menino havia a reconhecido de imediato quando mostraram as fotos, tagarelando sobre ka-chan ser maravilhosa e muito bonita como uma princesa, mas muito forte como um cavaleiro, e muito brava como dragão também e outras coisas que haviam ignorado.
Ao olhar para aqueles olhos de Bambi enormes o fitando em expectativa, no entanto, não tinha o coração de tirar as esperanças daquele menino.
—Claro que vamos, Bambi.
O nariz arrebitado franziu em desgosto com o apelido, mas ainda assim ele largou o espelho, satisfeito com a resposta.
..............
Kakashi havia retornado com as roupas. O garoto havia virado a cara com as roupas escuras, feito beicinho quando viu que não tinha nada laranja, mas se conformou com ao menos algumas com seu tema mais recorrente: sapos.
Nenhum deles preferiu comentar que estavam sendo mandados por um moleque de oito anos de idade. Assim como Minato ignorou o olhar presunçoso de Kakashi quando o garoto pulou de alegria ao ver que usaria uma máscara como a dele, para cobrir as cicatrizes no rosto.
E de repente Minato era o vilão malvado que havia tingido seu cabelo e Kakashi era o cara legal que tinha lhe comprado uma máscara.
Nunca entenderia crianças.
A reunião estava marcada para a tarde, por isso se prepararam bem. O distrito dos Uchiha ficava do outro lado de Konoha, seriam quase duas horas de viagem até lá. Teriam que pegar o trem e então ir até outro galpão e pegar um dos carros para despistar quem quer que pudesse estar na cola dos dois.
—Filhos da mãe. – Kakashi xingou baixo olhando o celular.
—O quê?
—Claramente já sabem que estamos com o garoto. Yamato enviou isso.
Era uma foto com pedidos de recompensa para a cabeça dos dois. Aparentemente, pela mensagem, haviam espalhado em todos os sites frequentados por caçadores.
—Eles estão pedindo o garoto também. Vivo.
Minato olhou para Kurama que terminava de se aprontar, parecendo satisfeito com a máscara preta no rosto, jeans e um capuz azul com desenhos de sapo. Agora os olhando com curiosidade por estarem sussurrando na sala. Ele com certeza parecia ter uma boa audição e percepção de ambiente impecável.
Algo que nenhuma criança deveria ter.
—E esses filhos da pu-
—Kakashi!
—Filhos da púrpura. –Se corrigiu. – Eles colocaram minha recompensa a metade da sua. Eu valho mais que isso!
—Isso não é o ponto. – Ralhou exasperado
—Fala isso porque a sua é uma fortuna.
Minato olhou o valor e tinha que admitir. Era muito mais do que recebia por qualquer trabalho.
—Da quase vontade de se entregar para ganhar o dinheiro. – Ponderou divertido.
Kakashi concordou. Balançaram a cabeça.
—Bem, isso era o esperado. Nada do que se arrepender. Prontos para pegar a estrada?
Perguntou em voz alta. Kakashi fez um som desanimado, ainda resmungando sobre o preço da sua recompensa. Kurama saltou da cadeira na cozinha, animado, como se não tivessem que atravessar Konoha inteira com cada assassino da máfia na cola deles.
Ah, ser jovem novamente.
— Kurama, antes de tudo, venha aqui.
O menino obedeceu, o rosto curioso, ainda mais quando se agachou em seu nível, fitando os olhos grandes seriamente.
—Não sabemos o que espera quando sairmos daqui. Mas seja o que for, não vai ser nada bonito. Então, algumas regras, certo?
Ele assentiu rapidamente, os olhos largos ainda mais sérios.
—Primeiro, seja o que acontecer, não larga de mim ou do Kakashi, a não ser que mandemos você correr. – Puxou o capuz do casaco dele por cima dos cabelos recentemente pintados, fechando o zíper. – Segundo, cabeça abaixada, máscara no rosto, evite olhar nos olhos de estranhos. Lá fora eu sou seu papa, Kakashi é seu ni-san. – O menino sorriu brevemente com isso, voltando a assentir. Minato sorriu também.
—E terceiro. Aqui. Isso é caso tenha que se defender. – Entregou ao garoto com cuidado uma kunai. – Cuidado...
Para sua surpresa o menino pegou exatamente como deveria se pegar e a rodou em suas mãos, com prática.
—Kurama-chan...você tem algum treino com isso?
O menino assentiu: — Sai-nii me ensinou.
Trocou um olhar com Kakashi.
—O que sabe mais?
O menino deu de ombros, esfregando o pé no chão timidamente: — Algumas coisas.
—Isso é bom...— falou de forma duvidosa. Ao menos não precisavam se preocupar tanto. – Tem um celular em sua mochila e um comunicador também, direcionado para nós, caso aconteça algo e você se perca. Tem um rastreador em sua roupa também. Entendeu?
O menino assentiu, ele não parecia confuso, provavelmente familiar com a situação.
— Por último, Kakashi e eu vamos proteger você tudo bem? Não importa o que aconteça. Faça o que a gente pedir. Se mandarmos correr, corre. Você é nossa missão hoje, tudo bem?
O menino o olhou assombrado com isso. Os olhos largos com uma emoção que fez seu coração doer um pouco. O quanto ele poderia ter passado para algo assim o impressionar tanto?
—Certo. – Finalizou sem saber o que fazer. Estava preparado para levantar quando o menino o impediu, a mão em seu rosto. – Kurama-chan?
Viu os olhos azuis em dúvida por segundos, mas então ele pareceu decidido.
—Meu nome é Naruto. Naruto Uzumaki.
Minato sorriu, tocando a mão pequena em seu rosto.
—Muito prazer, Naru-chan.
.........
Um grito ensurdecedor, semelhante a um rugido retumbou na sala. Seu corpo parecia em fogo, os tremores haviam piorado tremendamente nas últimas 24 horas.
O homem mais perto arcou com as consequências, antes mesmo de gritar havia rolado sua cabeça com a katana em um ataque de fúria. O sangue que esguichou pela sala pareceu o suficiente para acalmar a fera dentro de si, e caiu de joelhos no tatame, ainda sentindo os tremores abaixo dos seus membros enfaixados, os olhos esbranquiçados retornando a sua cor natural.
Nada saíra como era esperado.
O corpo da Kyuubi ainda não havia sido encontrado, apesar dos selos claramente terem sido desfeitos. Não havia tido confirmação da morte, e nem retorno dos homens que havia enviado para a busca. Se ela tivesse morrido antes do youkai ser extraído, seria um desperdício. E se ela não tivesse morrido, seria um grande problema também.
E agora o receptáculo também havia desaparecido, bem debaixo do seu nariz. Nunca imaginava que pudesse ser traído. E nem mesmo havia conseguido trazer aquele verme para puni-lo, nunca imagina que Sai iria resistir de tal forma em que matá-lo fosse a única solução. Ele nunca foi forte a esse ponto. O receptáculo também há meses não apresentava resistência alguma, parecia totalmente sob seu controle.
Parece que ele estava errado sobre muitas coisas.
Seu tempo estava acabando, tinha que agir rapidamente. Ainda mais se as informações estivessem corretas, e o receptáculo estivesse justo nas mãos de quem menos deveria estar.
— O encontrem, nem que tenham que derrubar Konoha inteira, mas encontrem o maldito garoto.
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