A ascensão de Adão
"Ser assexual é tipo nascer sem olfato, mas todo lugar que você vai as pessoas ficam espirrando perfume na sua cara e quando você pede pra elas pararem e diz que é irritante, que você não consegue sentir o cheiro de qualquer forma, elas se ofendem e dizem 'Não minta, você tem nariz todo mundo tem, logo todo mundo consegue sentir cheiro, você só não achou o cheiro certo ainda' e aí você só quer gritar"
- thestarlesswanderer (tumblr)
Jeon Jungkook
Quando foi que as coisas começaram a dar tão errado?
Enquanto o sangue manchava seu uniforme e as cordas o impediam de fugir do Michelangelo, ele pensava... Onde foi que ele havia errado para merecer aquele fim? Ele tentou ser uma pessoa boa a vida toda, tentou de todas as maneiras estar dentro das expectativas, deu tudo de si para ser excepcional em tudo o que fazia, então porque seu destino estava sendo tão cruel? Estava prestes a se tornar uma das esculturas de Michelangelo, iria se tornar sua maior aquisição, ficaria exposto em sua coleção particular como a melhor obra de arte que havia sido feita, ele realmente havia lutado tanto para isso? O olhar do Michelangelo dizia que sim, ele havia nascido exatamente para desempenhar aquele papel em seu jogo de xadrez, nasceu para ser mais uma peça para a exposição do Serial Killer mais cruel da última geração.
Mas como as coisas chegaram a esse desfecho? Jungkook acredita que foi no momento em que ele chegou, o homem que virou sua vida de cabeça para baixo.
Era mais uma manhã comum em que Jungkook estava chegando para trabalhar, todos no escritório estavam com a mesma animação contagiante de todos os dias, ou seja, estavam todos mau humorados. Como era de se esperar em um escritório de investigação criminal, os ânimos de todos só se tornavam melhores quando conseguiam concluir casos, o que estava a cada dia se tornando uma tarefa mais difícil de ser concretizada. A primeira coisa que Jungkook fez ao entrar no escritório foi caminhar até a cafeteria e preparar seu café antes de se afundar em seus próprios casos, assim como a grande maioria fazia, uma dose de cafeína era essencial para um bom dia de trabalho em sua opinião.
— Os dados da análise do PCR confirmam que o DNA encontrado na amostra não é do senhor Liam — ouviu Jimin dizer no telefone quando estava a caminho de sua mesa, ele estava com uma pilha de papéis na frente do computador. — Eu mesmo participei de toda a análise e confirmei os resultados, sem chance de ele ter sido o estuprador, nosso banco de dados já identificou o executor do crime senhora! Sinto muito por lhe dar essa notícia, mas seu marido é sim o estuprador da sua filha, a senhora acredite ou não.
Jungkook sentou-se em sua cadeira, que ficava de frente para Jimin, pois os dois estavam do lado oposto da divisória que dividia a mesa deles. Sabia que o caso de Jimin era sobre um estupro, uma menina de doze anos havia sido abusada e morta, de acordo com a mãe o principal suspeito era o pai, porém descobriu-se com o teste de DNA que na realidade a amostra coletada não correspondia a um parente, mas sim a alguém de fora da família e após mais algumas analises, o DNA do padrasto bateu com o do estuprador, levando-o a cadeia assim que Jimin entregou as provas a justiça. Esse caso havia sido encerrado há uma semana, mas ao que parece, a mãe da menina não acreditava que o marido havia cometido o crime, tudo porque quem abriu a denúncia de desaparecimento havia sido o próprio pai da menina, que ela alegava que estava tentando destruir seu novo relacionamento.
— Se exaltar infelizmente não mudará o resultado da análise, a senhora pode entrar com uma ação para contestar o resultado, mas garanto que o resultado será o mesmo — ele continuou junto a um suspiro, enquanto Jungkook ouvia tudo atentamente, curioso para saber o desfecho da conversa. — Sim, sim, estamos à espera da intimação judicial para reabrir o caso. Sim, tenha uma boa manhã.
— Ela ainda está contestando os resultados? — Jungkook perguntou se inclinando sobre a divisória com uma expressão chocada, pois ela ligava diariamente.
— Está, ela não acredita que o amado esposo com cara de anjo teria coragem de abusar e matar a filha dela, disse que o ex-marido que fez isso para acabar com seu casamento — Jimin revirou os olhos. — O abusador confessou o crime quando dissemos que isso poderia diminuir sua pena, mas a mulher alega que ele foi manipulado a dizer isso, somente para não passar o resto da vida na cadeia.
— Como o pai da menina está com a situação? Porque deu para notar que a mãe não liga para a filha e sim para o marido — Jungkook revirou os olhos, infelizmente já pegaram muitos casos como aquele.
— Ele está inconsolável, era sua única filha, a esposa atual está lhe dando suporte, mas foi uma perda muito brusca e cruel, ele vai demorar até conseguir superar — Jimin levantou-se para encará-lo por cima da divisória quando se sentou na cadeira. — Mas enfim, qual o seu caso atual?
— Latrocínio — disse pegando um dos papéis e entregando a Jimin, para que ele pudesse ler. — O marido matou a esposa, fugiu com a amante e o dinheiro da vítima. Encontramos as digitais dele na faca encontrada na lixeira do hotel e cabelo da amante preso nos dedos da esposa, que tentou lutar antes de ser morta.
— Acho engraçado que eles sempre acham que vai dar tudo certo com a fuga depois de matar uma pessoa — Jimin riu irônico. — Praticamente se entregaram de bandeja para você.
— Já entreguei os relatório e as provas, o caso vai ser fechado hoje após a prisão dos dois que estavam tirando "férias" no Brasil, já informamos as autoridades de lá, estamos organizando os papéis para saber se eles serão mantidos nas penitenciárias de lá ou se irão deportá-los para cá.
— Espero que fiquem lá, não ouvi coisas boas das penitenciárias brasileiras — Jimin disse lhe devolvendo os papéis. — Eles merecem sofrer um pouco.
— A vítima estava grávida — Jungkook disse colocando o papel junto aos outros em uma ficha, enquanto Jimin lhe encarou com os olhos arregalados. — Estava de poucos meses, durante a perícia não encontramos nada relacionado a gravidez no apartamento dela, acho que ela sequer sabia que estava esperando um bebê.
— Nossa que ódio! — Jimin suspirou frustrado. — Esses casos são horríveis.
— Sim, o promotor disse que vai fazer de tudo para deixar a pena dele mais pesada por conta de todos os fatos — disse bebendo mais um pouco de seu café.
— Bom dia — uma terceira e cansada voz soou atrás de Jungkook, que se virou para olhar, encontrando Namjoon com olheiras e uma expressão acabada.
— Para você só dia né? — Jimin riu, mandando um beijo para ele, que retribuiu com um sorriso bobo.
— O que aconteceu? — Jungkook perguntou vendo um bico crescer nos lábios de Namjoon.
— Fiquei acordado a madrugada inteira fazendo um relatório — respondeu se apoiando na cadeira vaga ao lado de Jungkook.
— Era para ele entregar hoje, mas ele deixou para última hora — Jimin disse rindo.
— Talvez seja porque alguém me deixou bem ocupado durante a noite que eu deveria estar trabalhando — Namjoon disse erguendo uma das sobrancelhas, fazendo Jimin corar.
— Que feio Jimin — Jungkook disse olhando para o amigo, que revirou os olhos, mas riu logo em seguida.
— Vocês estão sabendo? — Namjoon mudou a postura para o "colega fofoqueiro" fazendo tanto Jungkook quanto Jimin encará-lo com curiosidade. — Um novo perito veio para o nosso escritório, ele está vindo de Dover.
— Ele chega hoje? — Jimin perguntou com os olhos brilhando pela fofoca.
— Na verdade ele já chegou, está com o nosso chefe na sala dele — Namjoon disse apontando para uma caixa em cima da mesa em formato de C que Jungkook ocupava um dos lados. Ele nem havia notado aquela caixa ali quando se sentou. — Ele vai se sentar ao seu lado Jungkook, vi ele deixando as coisas dele aqui antes de você chegar.
— Espero que ele seja uma pessoa organizada — Jungkook disse cruzando os braços, porque talvez, ele fosse um pouco obcecado por limpeza.
— Ele é bonito? — Jimin perguntou, fazendo Namjoon erguer uma das sobrancelhas.
— Por que? Quer o número dele? — Respondeu com uma mão na cintura.
— Sou compromissado, apesar do meu namorado não ter me dado um anel ainda — Jimin disse sorrindo, o que fez um bico surgir nos lábios de Namjoon novamente.
— Eu estou cuidando disso, mas você precisa ser paciente comigo Mini, minha mãe quer escolher para você e ela é uma mulher ocupada.
— Eu sei seu bobo, mas eu conheço uma pessoa que não está comprometida — disse olhando para Jungkook, que fez uma careta.
— Sem chances, ele pode ser lindo, mas não estou à procura de parceiro, obrigado — disse segurando um suspiro, odiava quando seus amigos tentavam juntá-lo com alguém.
— Jungkook meu Deus, deve ter teia de aranha na sua bunda, seu pau já deve ter se enfiado para dentro de você por tanto tempo de desuso — Jimin disse com uma careta. Jungkook iria responder uma de suas frases ensaiadas desde a adolescência para momentos como aquele, mas não precisou.
— Por que a vida sexual alheia é tão interessante para as pessoas? — Uma voz rouca soou atrás de Jungkook, que se assustou e virou-se para encarar o dono de uma voz tão grave.
Jungkook teve que admitir que lindo era um eufemismo para descrever a beleza do homem que estava simplesmente parado com um copo da cafeteria que ficava em frente a delegacia, ele estava sendo deslumbrante sem fazer absolutamente nada. Talvez tenha ficado muito tempo encarando, porque logo o olhar dele encontrou o seu e ergueu uma das sobrancelhas, como se perguntasse "o que foi?", mas Jungkook não respondeu, apenas desviou o olhar, sem saber ao certo o que dizer. O homem caminhou até a cadeira ao seu lado e deixou o copo em cima da mesa, ele abriu a caixa e retirou as coisas que estavam dentro dela. Jimin e Namjoon permaneceram em completo silêncio, talvez muito envergonhados por estarem fofocando sobre ele e do nada o assunto da fofoca entrar na conversa. Mas o homem parecia tão sereno, que deixou o clima ainda mais estranho.
— Meu nome é Kim Taehyung e eu sou o novato de Dover que vocês estavam falando — ele disse tirando um porta retrato com um desenho infantil bastante colorido e torto, colocando ao lado do computador disposto ali. — E eu também não estou interessado em um relacionamento, mesmo que ninguém tenha me perguntado.
— É um prazer — Namjoon disse com um sorriso sem graça.
— Qual de vocês é o Jungkook? — Taehyung perguntou, ainda organizando suas coisas na mesa.
— Sou eu — respondeu Jungkook, ainda chocado com a franqueza de seu novo colega de trabalho.
— O senhor Connor disse para conversar com você, como sou novo preciso ser apresentado as ferramentas de trabalho e ele falou que você iria me acompanhar durante meus primeiros casos até que eu esteja adaptado aqui em Londres — ele disse desviando a atenção da caixa para encará-lo, fazendo Jungkook assentir. — Ele vai chamá-lo para conversar sobre isso.
— Ah, claro — assentiu novamente.
Taehyung deu um pequeno sorriso de um milissegundo — que certamente era apenas um sorriso educado e nada sincero — antes de voltar a tirar as coisas da caixa, Jungkook ainda estava muito chocado para dizer alguma coisa, por isso resolveu focar-se em seu próprio trabalho. Depois que Jimin e Namjoon saíram para se recolherem na própria vergonha, ele fez o relatório sobre o caso de latrocínio, colocando todos os dados importantes e informações pertinentes para seu superior, para que ele pudesse arquivar o caso, que já havia sido concluído. Taehyung fez algumas perguntas sobre o sistema, que de acordo com ele era parecido com o de Dover, mas tinham algumas ferramentas diferentes, após ajudá-lo mostrou onde era a impressora e o lugar que ele poderia acessar os casos que ainda não haviam sido registrados no sistema, que eram os mais antigos. Quando estava quase finalizando seu relatório, foi interrompido pelo seu superior.
— Jungkook, pode vir a minha sala por um instante? — Ele o chamou da porta de seu escritório.
— Sim senhor! — Jungkook respondeu esticando seu pescoço para respondê-lo, se levantando logo em seguida. — Volto já, qualquer coisa pode tirar suas dúvidas com alguns de nossos colegas. — Disse a Taehyung, que assentiu.
Um homem de poucas palavras pensou Jungkook, o pouco tempo que passou ao lado dele notou que ele era muito quieto e assertivo, sempre ia direto ao ponto e não parecia gostar de tagarelas, já que sempre respondia os curiosos de seu departamento com "uhum" ou "ok" sem dar muita atenção. Não que estivesse achando ruim, gostou do fato de ele ser quieto, uma pessoa muito falante em algum momento iria incomodá-lo, então ele ser assertivo não era de todo mal. Quando chegou na sala de seu chefe, ele indicou a cadeira em frente a sua mesa com um sorriso gentil, ele era um homem que distribuía sorrisos apesar de ser o chefe da Homicídios — que era o departamento deles — e embora o subestimaram por isso, ele tornou o departamento dele o melhor do país.
— Bom dia senhor Connor — Jungkook o cumprimentou ao se sentar.
— Bom dia Jungkook — ele respondeu com seu cotidiano sorriso. — O que achou do seu novo parceiro?
— Assertivo — disse rapidamente, fazendo Connor rir.
— Ele é, o chamei para deixá-lo ciente que o coloquei como seu parceiro para os próximos meses tudo bem? — Jungkook assentiu. — Mas também quero te avisar que ele é uma pessoa um pouco difícil, coloquei ele como seu parceiro porque dentre todos os detetives, você é o mais tranquilo, foi minha melhor opção para evitar conflitos.
— Ele não tinha um bom relacionamento com os peritos de Dover? — Perguntou deixando sua curiosidade vencer.
— Não, ele tem uma personalidade forte e não gosta de ter sua privacidade invadida e era o que mais faziam em seu antigo departamento, mas ele é uma boa pessoa e um excelente detetive, por isso espero que vocês se deem bem — disse com um sorriso, acabando por contagiar Jungkook, que sorriu também. — Vocês serão uma dupla de agora em diante, então espero que dividam as tarefas e espero um relatório em conjunto de cada caso que vocês analisarem. Se vocês me trazerem bons resultados, irei colocar outras duplas para trabalharem juntas na Homicídios.
— Sim senhor.
— Então... — O telefone sobre a mesa tocou, o que fez Connor erguer o indicador, pedindo um minuto enquanto atendia o telefone e Jungkook apenas assentiu. — Connor Davies departamento de Homicídios da perícia criminal. — Disse assim que atendeu, ficou alguns segundos quieto até que seu cenho franziu e encarou Jungkook de maneira confusa. — Estava exposto? Vocês tocaram no cadáver? — Perguntou puxando um bloquinho de notas que estava sobre a mesa. — Qual o endereço? Certo, estaremos aí em meia hora. — Desligou o telefone assim que terminou de anotar o endereço.
— Um novo caso? — Jungkook perguntou se levantando junto a Connor, que assentiu.
— Encontraram um cadáver no museu Victoria and Albert — caminhou até a porta, sendo seguido por Jungkook, que ouviu tudo atentamente. — Tiveram que fechar o museu, porque ele estava exposto e causou pânico entre os funcionários.
— Os visitantes que encontraram o corpo? — Jungkook perguntou, seguindo-o para fora da sala.
— Não disseram, teremos mais informações quando chegarmos lá — respondeu encarando-o e Jungkook assentiu. Quando saíram da sala Connor virou-se para todos os peritos, que estavam encarando-os com curiosidade, pois provavelmente ouviram o telefone tocar. — Encontraram um corpo, quero um fotógrafo pronto em dois minutos! — Disse alto, Namjoon foi o primeiro a se levantar às pressas e correr para o arsenal, os outros peritos fizeram um bico emburrado, porque eles provavelmente também queriam o caso que o chefe estava indo pessoalmente verificar. Connor virou-se em direção a Jungkook e sorriu. — Chame Taehyung, vocês dois irão comigo.
— Sim senhor — disse caminhando até sua mesa, para pegar seu celular e chamar seu mais novo parceiro. Quando chegou, pegou o aparelho e encarou Taehyung. — Vamos, Connor nos quer com ele nesse caso.
Taehyung assentiu e se levantou, seguindo-o até o arsenal, para se armarem e se equiparem com toda a segurança necessária, era procedimento da delegacia investigativa de homicídios que eles sempre saíssem protegidos, pois já houve casos onde o assassino não havia saído da cena do crime e acabou causando a morte de algum policial. Por isso, após chegarem ao arsenal, Jungkook deixou sua identificação com o responsável e assinou um termo de responsabilidade ao pegar sua pistola, assim como Namjoon e Taehyung fizeram antes de todos pegarem os coletes na sala ao lado. Jungkook e Taehyung caminharam até a viatura que Connor estava enquanto Namjoon buscava a câmera, tudo o que eles precisavam estava dentro de uma bolsa no porta malas da viatura.
Depois que Namjoon entrou na viatura, Connor deu partida e dirigiu até a cena do crime, que era o maior museu de artes de Londres, o Victoria and Albert, no caminho eles discutiram sobre o que possivelmente encontrariam, enquanto Taehyung ouvia tudo em silêncio. Quando chegaram encontraram uma comoção, haviam visitantes irritados e policiais cercando o lugar, junto com os funcionários do museu que estavam tentando acalmar as pessoas, que aparentemente tinham pago para verem alguma galeria. Quando chegaram passaram pelas pessoas, que estranharam a viatura escrito "polícia científica" e seus coletes, que tinha bordado "Perícia criminal", mostrando que havia acontecido alguma coisa e o burburinho aumentou.
— Peguem os equipamentos e vamos entrar — disse Connor, Jungkook e os outros assentiram. Pegaram a bolsa no porta malas e juntos caminharam até a aglomeração.
Connor conversou com um funcionário, que os levou até a responsável pelo museu, que era uma senhora que estava muito nervosa com a situação, eles foram levados para dentro da grande e antiga construção, onde o restante dos funcionários estavam reunidos em uma espécie de recepção. Os ânimos estavam todos aflorados, estavam todos muito alvoroçados e assustados, mas isso era comum, normalmente as pessoas não tinham tanto contato com a morte, principalmente com um cadáver sem os cuidados de um bom maquiador, para amenizar o impacto no psicológico daqueles que o veriam. Em grande parte dos homicídios que já investigou, os corpos estavam em condições grotescas onde mesmo que liberassem o corpo na hora, seus funerais seriam feitos em caixão fechado, então esperava encontrar algo neste mesmo patamar.
— Quem encontrou o corpo? — Connor perguntou a senhora enquanto caminhavam até onde o corpo estava.
— A equipe da limpeza — ela respondeu enquanto os guiava. — O corpo está em uma das exibições de esculturas, próxima às do Michelangelo.
— Você tem certeza que ninguém tocou no corpo? — Ele perguntou.
— Não consigo dar cem por cento de certeza porque não estava lá... mas foi esta informação que passaram para mim — ela disse virando um corredor.
Quando finalmente chegaram na exibição de esculturas, a cena que encontraram foi, no mínimo, bizarra.
— Puta merda — foi o que Namjoon deixou escapar, mas seu choque descreveu bem o que Jungkook estava sentindo.
Havia um homem, ele tinha cabelos castanhos escuros e pele clara, estava sentado em uma caixa branca sobre uma plataforma quadrada também branca, sua perna estava cruzada e havia uma túnica branca cobrindo suas partes íntimas e parte de seu peito, mas estava exibindo um pouco de seu abdômen, músculos de seus braços e pernas. Seu rosto estava sereno e seus olhos estavam fechados, não havia expressão de sofrimento, seus cabelos estavam ondulados, algumas mechas caiam pelo rosto levemente inclinado em direção a sua mão esquerda, onde havia uma maçã bem vermelha, contrastando com todo o conjunto. Ao se aproximar, Jungkook notou um brilho anormal sobre a pele do homem, assim como o cheiro forte de verniz, não havia nenhuma marca estranha em seu corpo, se não fosse pela cor de sua pele, seria uma perfeita escultura do museu.
— Em todos os meus anos trabalhando — Connor disse dando a volta pela "escultura". — Nunca vi algo tão... nem sei como descrever.
— Meticuloso — Taehyung respondeu, atraindo a atenção de Jungkook. — A pessoa que elaborou a escultura, a pose, as roupas e até mesmo o verniz é alguém muito meticuloso e perfeccionista, chega a ser cruel o quão delicado foi o trabalho.
— É assustador — Connor disse com uma expressão pasma, antes de virar-se para a senhora novamente. — Você pode me mostrar as imagens da câmera de segurança?
— Claro, siga-me por favor — ela disse caminhando em direção a entrada novamente, sendo seguida por Connor, deixando-os sozinhos com o corpo.
— Parece uma releitura de Adão... — Jungkook disse olhando para o homem, colocando a bolsa no chão para que pudesse pegar as luvas e a lanterna.
— O que? — Namjoon perguntou encarando-o, ele já estava com a câmera nas mãos, fotografando o corpo com o flash ligado.
— Ah, é que meu irmão é fascinado por arte, vou com frequência a museus por conta dele, então conheço um pouco sobre o assunto e a maneira que ele está, como uma escultura renascentista, a maçã em sua mão, parece ser uma releitura de Adão, pelo ponto de vista do assassino — Jungkook respondeu.
— Um assassino que gosta de arte — Taehyung disse com um sorriso irônico, também vestiu as luvas e pegou uma das lanternas. — Ele escolheu bem o lugar, colocou a vítima dele para ser exibida, como uma das esculturas do museu. — Caminhou, dando a volta pelo corpo. — "Admirem o meu trabalho" é essa a mensagem que ele quis passar.
— Estamos lidando com um psicopata — Jungkook concluiu, ouvindo os cliques da câmera de Namjoon, que estava tirando fotos de todos os detalhes para colocar no dossiê do caso.
— Vocês estão vendo algum resquício de sangue? — Namjoon disse apontando a lente da câmera para o chão. — Não encontrei nada no corpo.
Jungkook e Taehyung passaram a procurar também, mas não havia nada, andaram por todo o salão, procurando por qualquer outra coisa fora do lugar, qualquer mínimo vestígio que o assassino tenha deixado para trás. Usaram as lanternas para procurar pelos cantos, chão, paredes e portas, porém não encontraram nada, sequer havia marcas de sapatos ou fios de cabelos no lugar, o que tornava tudo muito complicado, por isso Jungkook voltou para o corpo, procurou por qualquer mínima marca de luta pintada na pele branca do homem, mas ao mover um pouco a túnica encontrou algo pior. Realmente Taehyung estava certo, era um trabalho muito meticuloso, pois como toda obra de arte, suas imperfeições foram escondidas a ponto de serem imperceptíveis.
— Gente, encontrei algo — Jungkook os chamou. Namjoon e Taehyung caminharam até ele, que apontava a lanterna para as costas do homem. — A túnica estava cobrindo uma evidência.
Havia um grande corte sobre a coluna, o corte começava no final da coluna cervical e terminava com aproximadamente oito centímetros acima do sacro, pegando toda a coluna torácica e parte da lombar. Jungkook caminhou até a bolsa e pegou a fita métrica, medindo com a ajuda de Taehyung — que moveu o tecido para facilitar a medição — para saber quantos centímetros tinha o corte, colocado de ponta a ponta deu quarenta e cinco centímetros, era um corte muito grande, feito com uma lâmina fina, provavelmente cirúrgica por conta do corte limpo. A sutura do corte era subdérmica, o que a tornava quase imperceptível, por isso não notaram o corte a primeira vez, o tecido cobriu o início e o final do corte que fora limpo com muito cuidado. Namjoon tirou fotos do corte e da sutura, enquanto Jungkook se afastava para observar o rosto dele com mais atenção.
— O que fizeram com você, hein? — Disse baixinho, como se estivesse confidenciando um segredo a ele.
Ao observá-lo melhor notou o quão jovem ele parecia, se duvidar tinham a mesma idade, o que tornava tudo ainda mais triste, pois ele era jovem e teve uma morte tão cruel; expuseram seu corpo como uma obra de arte sendo que sua vida foi ceifada no ápice de sua juventude. Taehyung se colocou ao seu lado em silêncio, todo o som que preenchia o lugar eram os flashes da câmera de Namjoon e suas respirações, os dois observaram a serenidade da morte cobrindo o rosto daquele homem. Por conta de seu trabalho já havia visto muitos corpos e mortes horríveis, mas aquela era de longe uma das mais cruéis, pois o assassino fantasiou sua vítima e o colocou em uma eterna máscara de serenidade, que escondia todos os terrores que ele havia passado.
— Isso é bizarro — Taehyung disse quebrando o silêncio, o que fez Jungkook assentir.
— O assassino o transformou em uma elaborada peça de museu — disse sem tirar os olhos do homem.
— Não foi isso que eu quis dizer — disse chamando a atenção de Jungkook, notando que Taehyung o encarava com o cenho franzido. — Você não notou?
— O que? — Perguntou franzindo o cenho. Namjoon também se aproximou, curioso sobre o que ele falava.
— Ele se parece com você Jungkook — Taehyung respondeu olhando-o de maneira intensa. — Assim que bati o olho nele reparei nisso, parece que é você que está sentado ali.
— É verdade... — Namjoon disse se afastando um pouco, olhando para o homem e para Jungkook intercaladamente. — Vocês realmente se parecem. — Disse com vincos em sua testa, demonstrando confusão. — Credo, isso ficou ainda mais assustador agora.
— Sério? — Jungkook franziu o cenho, encarando o homem, podia notar uma semelhança, mas não sabia dizer se eram realmente tão parecidos como eles diziam.
— Vocês têm até mesmo o corte de cabelo igual — Taehyung disse encarando-o, antes de se aproximar e virar um pouco seu rosto. — O cabelo dele cobre parte do rosto, mas na minha opinião ele cobre as diferenças de vocês. — Ele ajeitou seu cabelo, deixando-o igual ao do homem na escultura. — Ele tem os mesmos traços que os seus, como lábios e nariz, de perfil vocês são muito parecidos, mas seus rostos têm dimensões diferentes...
— Pode ser uma coincidência — Jungkook disse, estranhando a análise. — Se olharmos bem como ele foi exposto, acho que o assassino se importa mais com o corpo do que com o rosto, porque assim como as outras esculturas dessa sala, ele tem o corpo definido, todos os músculos estão muito marcados, como se tivessem sido modelados.
— Pode ser — Taehyung assentiu, mas deu para notar que o fato de serem parecidos o deixou encabulado. — Achei o corte nas costas grotesco, apesar do cuidado com a sutura.
— Talvez não tenha sido a intenção dele fazer um corte tão grande — Namjoon disse deixando a câmera descansando em seu pescoço. — Uma imperfeição em seu trabalho quase perfeito.
— Será que foi sua primeira vítima? — Jungkook colocou a mão na cintura, observando o corpo.
— Parece profissional demais para ser a primeira vez — Taehyung concluiu, fazendo tanto Jungkook quando Namjoon concordarem com ele.
— Sem sangue, sem pistas, sem marcas e sem arma do crime — Namjoon disse com uma careta, antes de olhar para os outros dois. — Se não conseguirmos alguma prova concreta na autópsia e nas câmeras de segurança estamos ferrados, esse caso tem cara de que vai dar dor de cabeça, não quero ele não...
— Isso era tudo o que eu queria para o meu primeiro dia mesmo — Taehyung revirou os olhos, junto com um suspiro. — Porra, esse cara não podia ter inventado de fazer essa merda daqui uns dias?
— Uma pessoa morreu e você está preocupado consigo mesmo? — Jungkook o encarou com o cenho franzido, ganhando um olhar debochado.
— Quer que eu acenda uma velinha para o falecido? — Perguntou fazendo pouco caso da situação.
Jungkook abriu a boca, chocado com a insensibilidade de seu parceiro, mas quando estava prestes a comentar, Connor o interrompeu.
— Estamos com problemas — ele disse assim que chegou até eles, atraindo a atenção de todos. — Não tem nada útil nas câmeras, houve um blackout durante a madrugada, não houve qualquer entrada suspeita antes ou depois desse horário e sem sinais de arrombamento nas portas. Encontraram alguma coisa no corpo?
— Apenas uma cicatriz grande na coluna, foi suturada e escondida pelo tecido da túnica — Jungkook respondeu. — Não tem sangue, marcas ou qualquer outra evidência por perto.
— Vamos depender totalmente dos legistas e da investigação forense então — Connor disse com um suspiro. — Aparentemente alguém da equipe de limpeza tirou foto do corpo e postou nas redes sociais, o caso já está circulando pela internet, isso pode dificultar um pouco a investigação.
— Não tem como piorar mais que isso não é? — Taehyung revirou os olhos.
— Para você tem — Connor disse com um sorriso, fazendo Taehyung o encarar com o semblante confuso. — Você e Jungkook serão responsáveis por esse caso, boa sorte.
Jungkook quis praguejar, mas ficou quieto, era nitidamente um caso complicado e tinha certeza que renderia muitas noites mal dormidas, mas a cara de morte de Taehyung foi tão cômica que teve vontade de rir, principalmente porque ele estava tão indiferente a morte daquele homem que era engraçado agora que ele ficaria responsável por ela. Virou o rosto quando soube que não conseguiria segurar o riso, por isso deixou escapar um riso meio esganiçado antes de voltar a seriedade, ganhando um olhar de esguelha de seu parceiro. Ficaram no museu por algumas horas, os médicos legistas foram para retirarem o corpo um tempo depois, mas não foi uma tarefa fácil removê-lo do local, ao contrário do que imaginaram, o assassino era mais frio e calculista do que esperavam.
Quando os médicos tentaram mover o corpo, notaram que haviam alguns impedimentos, como ferros que davam sustentação para o corpo permanecer sentado, pinos de ferro estavam fixados em seus pés, glúteos e uma armação de ferro estava presa aos ossos de sua coluna, ela atravessava seu glúteo esquerdo e o prendia na plataforma que estava sentado. Horrorizados, tiveram que buscar ferramentas de uma serralheria próxima para cortar o ferros, por conta da rigidez cadavérica não poderiam simplesmente puxar os pinos com a força ou desparafusar, então o processo para liberar o corpo da plataforma foi demorado e complicado.
Quando enfim conseguiram, os médicos legistas levaram o corpo, apesar de coberto, não bastou para conter a curiosidade das pessoas que aguardavam do lado de fora do Museu, Jungkook notou que o número de telespectadores aumentou consideravelmente. Haviam repórteres, câmeras e celulares apontando em direção a eles enquanto passavam, os repórteres colocaram microfones em direção a eles, enquanto os policiais tentavam afastá-los. Jungkook e Taehyung caminharam até a viatura junto a Namjoon e Connor sem dizer uma única palavra à imprensa, mas concordaram em poucas palavras que iriam para o necrotério o mais rápido que pudessem. Estavam indo abrir o caso para enviar à justiça, porque depois teriam muito trabalho a fazer e o laudo dos médicos legistas seria de grande importância.
Quando chegaram à delegacia todos os peritos estavam curiosos com o caso, porque claramente estava saindo em todos os noticiários que um corpo em "condições atípicas" foi encontrado no Victoria and Albert Museum. Namjoon revelou o que encontraram enquanto imprimia e anexava as fotos no sistema do corpo para serem colocadas no dossiê, ninguém incomodou Jungkook e Taehyung por ordens de Connor, por isso focaram totalmente em abrir o caso no sistema, enquanto o outro fazia o relatório do corpo. Com as fotos e o dossiê pronto em mãos, os dois caminharam para fora da delegacia novamente, pegando as chaves de uma das viaturas para que pudessem ir até o necrotério.
— Com certeza a familia da vitima já deve ter visto os noticiários — Taehyung disse de braços cruzados no banco do passageiro, enquanto Jungkook dirigia. — As pessoas não tem um pingo de noção, espalhando a foto de uma pessoa morta assim, espero que Connor encontre a pessoa que espalhou a foto e tome as providências legais. Imagine o choque das pessoas que o conheciam.
— A tecnologia é uma benção e uma maldição — Jungkook concordou.
Quando chegaram ao necrotério, Jungkook estacionou o carro em uma vaga disponível e juntos caminharam até a entrada do lugar onde o corpo havia sido levado, se apresentaram na recepção e Yoongi — o médico legista e um amigo — os recebeu. Yoongi era parceiro de Hoseok, normalmente os dois ficavam responsáveis pelos corpos mortos com violência que chegavam ao necrotério, então tinha bastante contato por Jungkook ser do departamento de homicídios. Após apresentar Taehyung, eles foram guiados até uma sala no fim de um longo corredor e uma porta de vidro, que separava os visitantes do restante do laboratório, durante o percurso Yoongi dizia que nunca havia recebido um corpo naquelas condições.
— Como o corpo já foi encontrado em rigor mortis, preso a pinos e envernizado, não pudemos deixá-lo em posição anatômica, teríamos que quebrar seus ossos e romper seus músculos, isso iria danificar o corpo do cadáver e prejudicaria a investigação, além de claro, não podemos fazer isso sem a permissão da família, mesmo nesse caso — Yoongi disse após abrir uma porta, levando-os para uma pequena salinha, onde tinha uma pia e alguns equipamentos. — Vistam as luvas, as toucas e as máscaras, não precisam vestir o traje, não há perigo de contaminação, porém o cheiro está muito forte.
— Ok — Jungkook fez o que ele pediu e Taehyung também o acompanhou.
— Conseguiram identificar a vítima? — Taehyung perguntou e Yoongi assentiu, guiando-os para dentro do laboratório, onde o corpo estava sendo examinado por Hoseok.
— Joshua Smith — ele respondeu pegando algumas folhas que estavam sobre uma mesa, entregando a Taehyung. Jungkook se aproximou para ler a ficha junto a ele. — Ele tem vinte e cinco anos e mora em Watford, a vinte e sete milhas do museu Victoria and Albert.
— Encontraram alguma evidência no corpo? Alguma coisa que nos leve ao assassino? — Jungkook perguntou, vendo Hoseok suspirar antes de encará-lo.
— Encontramos a causa da morte e algumas outras evidências de tortura — ele se aproximou, cumprimentando Taehyung, que também o cumprimentou. — Foi definitivamente um homicídio, sabemos que essa foi de cara a primeira coisa que vocês cogitaram, mas tínhamos que ter certeza, não encontramos marcas ou qualquer coisa que indique que a morte tenha sido causada por uma arma ou traumatismo.
— Após muitas e muitas análises chegamos à conclusão que a causa da morte foi causada por uma embolia pulmonar — Yoongi continuou. — O que causou uma parada cardiorrespiratória, nossa primeira suspeita foi envenenamento, mas não tínhamos como ter certeza porque o corpo estava embalsamado. Então não havia sangue para coletar, mas encontramos a prova que precisávamos para descobrir a causa da morte. — Ele disse caminhando até o corpo, chamando-os para se aproximar, para que pudesse mostrar a prova. Quando se aproximaram, Yoongi apontou com o indicador um lugar próximo a virilha da perna direita. — Foi feita uma punção, quase deixamos passar, mas o assassino usou uma agulha maior para que pudesse inserir ar na veia cava.
— Ou seja, o assassino entende de anatomia, além de procedimentos médicos e biomédicos — Hoseok concluiu, fazendo uma careta surgir no rosto de Jungkook. — O assassino lavou, drenou, fez a inserção dos químicos, suturou, massageou e o vestiu, fez exatamente todos os processos de embalsamamento antes de pregá-lo aos pinos. Vocês estão lidando com um profissional muito minucioso.
— Não encontraram mais nada? — Taehyung perguntou. — Algo que nos dê alguma pista sobre o assassino?
— Algo que nos dê alguma pista de sua identidade não, mas que afirme sua crueldade, com certeza — Hoseok continuou, fazendo tanto Jungkook quanto Taehyung o encararem de maneira confusa. — Além de todos os procedimentos, o assassino estuprou a vítima.
— Porra, que psicopata! — Jungkook colocou a mão sobre a boca, chocado.
— Mas olha só a consideração que ele teve — Yoongi disse revirando os olhos. — O estuprou, matou e embalsamou antes de expor seu corpo como uma obra de arte no museu, mas usou camisinha.
— Por conta desse detalhe, não conseguimos coletar amostras de esperma, encontramos apenas lubrificante e fissuras anais, mostrando sinais de agressividade — Hoseok disse cruzando os braços. — Querem saber o pior?
— E tem como piorar? — Taehyung perguntou com as sobrancelhas arqueadas.
— Têm — Yoongi riu com sarcasmo.
— O estupro ocorreu depois do falecimento da vítima — Hoseok contou, fazendo Jungkook sentir uma repulsa tão grande que embrulhou seu estomago.
— Nem depois de morto ele teve paz... — Disse indignado, enquanto Taehyung tinha a feição contorcida em nojo.
— Com licença — uma mulher disse batendo na porta, sem entrar totalmente no laboratório. — Tem uma senhora e uma jovem na recepção dizendo ser parente do homem que vocês estão responsáveis.
— Estou indo — Yoongi disse à moça, que assentiu e se retirou. — Eu já volto, vou apenas confirmar a identidade delas e as levo para a outra sala, será ótimo se vocês acompanharem o processo de reconhecimento do corpo, isso será útil para a investigação.
— Claro — Jungkook concordou e Yoongi caminhou para fora da sala, se livrando das luvas no caminho.
— A pele dele foi realmente envernizada com um verniz comum de uso doméstico? — Taehyung perguntou a Hoseok, atraindo sua atenção novamente.
— Sim, foi uma maneira eficiente de conservar o corpo — ele respondeu. — Teve ao menos duas demão de verniz, para mantê-lo nesse estágio de conservação.
— Há quanto tempo ele está morto? — Jungkook perguntou.
— De acordo com as análises, a mais ou menos três dias, o verniz impediu que o cheiro escapasse, mas os químicos dentro do corpo dele perderam o efeito horas após o embalsamento, o que significa que todo esse processo foi feito às pressas — Hoseok disse relaxando os braços junto a um suspiro. — Mas ele com certeza deve ter sido mantido em cárcere há mais tempo, para que desse tempo de fazer toda a preparação.
— Ele tinha tudo minuciosamente calculado — Taehyung disse olhando em direção a Jungkook, que assentiu.
— Ah! Quase esqueci de uma coisa, não sei isso é uma informação importante para vocês, mas... — Hoseok disse chamando-os com a mão para se aproximar mais do corpo. — Olhem as orelhas. — Ele afastou os cabelos de Joshua, mostrando que havia algumas manchas marrons. — O cabelo dele foi tingido e cortado, encontramos cabelo cortado dentro de seus ouvidos, além de resquícios de tinta.
— Cortado? — Taehyung perguntou novamente, sem acreditar no que ouviu e Hoseok assentiu. Ainda surpreso ele levou o olhar para Jungkook. — Seu cabelo é naturalmente ondulado?
— Sim, por que? — Perguntou confuso, vendo-o olhar a ficha com as informações de Joshua, virando os papéis em sua direção.
— O cabelo do Joshua é liso — mostrou uma foto antiga de Joshua, provavelmente a mesma foto que estava em sua identidade. Ele tinha cabelos castanhos claros e lisos, na foto seus cabelos estavam compridos, até a altura dos ombros. — Por que o assassino iria tingir, cortar e ondular os cabelos dele? Se não para deixá-lo parecido com alguém?
— Ainda acha que isso tem alguma ligação comigo? — Jungkook perguntou vendo-o afirmar. — É uma ideia absurda, uma única possibilidade dentre um bilhão de outras.
— Também há uma única possibilidade do homicídio ser feito em Londres, onde você mora, além do corpo ter sido encontrado em um museu, sendo que você disse que os visita com frequência. O Assassino parece ser um profissional da área de criminalística, pessoas das quais você está rodeado — Taehyung listou, fazendo-o ficar ainda mais confuso. — Coincidentemente ele se parece muito com você em tamanho, proporções e rosto, além de claro, ter a mesma cor e corte de cabelo que o seu.
— Realmente são coincidências estranhas Taehyung — Jungkook concordou, vendo que Hoseok começou a comparar sua aparência com a de Joshua. — Mas não há provas concretas de que isso de fato tenha alguma ligação comigo.
— Já ouviu falar da Navalha de Hitchens? — Ele perguntou encarando-o com mais fervorosidade, deixando-o ainda mais confuso que antes, por isso negou com a cabeça. — Ela foi criada por Christopher Hitchens, ele acreditava no princípio de que "o que pode ser afirmado sem provas pode ser rejeitado sem provas". — Disse, deixando-o sem argumentos. — Você não pode simplesmente rejeitar essa hipótese por não ter provas, sendo que também não temos nenhuma prova que mostre que você não está envolvido.
— Mas... isso é muito estranho, se você realmente estiver certo, porque ele não veio diretamente a mim em vez de matar um inocente? — Jungkook perguntou tentando seguir sua linha de raciocínio.
— Ele era um alvo mais fácil do que um policial — Taehyung disse deixando-o, novamente, sem argumentos.
— Faz sentido — Hoseok disse com a mão no queixo, concordando com Taehyung. — Mas se ele realmente estiver certo, ele não matará mais pessoas? Já que não pode ter o Jungkook?
— Teremos que descobrir — Taehyung disse voltando a manter contato visual com Jungkook. — Durante a investigação podemos procurar por alguma ligação entre você e o assassino, se não encontrarmos nenhuma, descartamos essa hipótese.
— E se encontrarmos? — Jungkook perguntou sentindo o peso das palavras dele. — Isso significa que há um assassino obcecado por mim, se descobrirmos a ligação dele comigo, o que o impedirá de vir atrás de mim para me calar? — Aquilo deixou os dois em silêncio.
— Teremos que pegá-lo antes que ele te pegue.
~♥️~
E cheguei com a primeira bomba :)
Sei que não era para eu postar um capítulo sem ter acumulado mais, mas eu estou passando por uns problemas com a minha confiança na escrita e preciso de incentivos.
Vamos fazer uma brincadeira?
Essa fic vai trazer muitos mistérios, vocês vão junto com os personagens tentar descobrir quem é o Michelangelo. Então está lançado o desafio, quem descobrir a identidade do Michelangelo antes de ele ser anunciado, ganha.
Estarei lendo no twitter também, então quem quiser fazer esquemas, threads ou mapas, vou ficar muito feliz e ler com todo prazer! <3
A tag da fic no twitter é:
#xequematetk
Vou estar de olho nos comentários hein?
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