᠉ Three.
Jungkook's POV
A tempestade durou a noite toda e a luz não voltou. Jimin pegou no sono pouco antes da meia noite, enquanto eu não consegui pregar o olho tão cedo.
- Você vai ficar calado o tempo todo? – ele perguntou antes de tomar mais um gole de café e eu apenas balancei a cabeça negativamente. – Não precisa ficar mal pelo que aconteceu ontem, por que...
- Foi um erro.
- Erro? Eu ouvi certo? – Jimin indagou olhando fixamente em meus olhos.
- Olha, eu acho que foi tudo muito rápido, nós nos deixamos levar pelo momento e... – dei uma pausa ao perceber os olhos castanhos à minha frente, encherem-se d'água. – Acho que isso não deveria mais acontecer.
- Tudo bem. – ele apenas balançou a cabeça em afirmação, após respirar fundo. – Só que ontem não parecia um erro. Parecia que você queria tanto quanto eu, parecia que você tinha gostado. Tem noção das coisas que me disse? Você ao menos se lembra? – continuei calado. – Ok, então. Eu acho que não tenho mais nada para fazer aqui.
- Me desculpe, eu não sei o que deu em mim. Prometo que não vai mais acontecer. – proferi cada palavra, sentindo-as rasgar fundo a minha garganta.
- Pode ter certeza que não.
Jimin levantou-se de uma só vez e dirigiu-se à porta. Eu não ousei segui-lo. Observei pela janela sua silhueta sumir no fim da rua e subi para o quarto, jogando-me na cama. Minha camisa ainda tinha seu cheiro. Encarando o teto, eu lembrei de praticamente todos os momentos que tive ao lado dele. Todas as risadas e brincadeiras, bem como as brigas que jamais duraram muito mais do que um dia. Lembrei-me de todas as vezes que eu quis tocá-lo ou beijá-lo e reprimi minha vontade por medo. Medo esse que, hoje, me afastou dele completamente.
Tomei um banho e saí de casa apressado. Perdido em pensamentos, perdi completamente a hora.
- Hey Jungkook! – a voz fina de Amy chamava atrás de mim e eu virei para encará-la. – Viu o Jimin por aí? Eu preciso muito falar com ele.
- Não, eu... Eu não...
- Ele te contou o que aconteceu? Você precisa me ajudar, precisa dizer a ele que foi tudo um mal entendido e que eu jamais o magoaria. – ela disparou, atropelando as palavras.
- Calma Amy. Do que está falando? Não estou sabendo de nada.
- O Jimin precisa me perdoar, você precisa falar com ele! – disse ela num tom mais alto, com a voz embargada. – Ele não vai ouvir ninguém que não seja você.
- Eu não estou entendendo nada. – confessei. – Mas, eu quero te pedir uma coisa, ok? Se você realmente o ama, não o deixe ir. Lute por ele, porque vai ser muito difícil você esbarrar com um cara desses por aí de novo.
Antes que ela pudesse responder, avistamo-lo entrando no pátio. Seu casaco era dois números maiores que o seu tamanho, fazendo com que suas mãos praticamente sumissem nas mangas. Jimin usava um óculos escuro totalmente desnecessário para o clima. Eu sabia que ele havia chorado e tudo que eu queria era fazer o mesmo.
Jimin's POV
- Erro? Ele disse erro? – Mel parecia incrédula.
- Será que você poderia diminuir o tom? Não é como se eu quisesse que o colégio todo escutasse. – repreendi-a, enquanto olhava ao redor para checar se alguém estava por perto.
- E você não disse nada?
- O que mais eu poderia fazer? Obrigá-lo a ficar comigo? Ou a sentir algo por mim? Se bem que lá no fundo, eu acho que ele queria tanto quanto eu...
- Claro que ele queria, Jimin! – ela riu. – Qual homem beijaria outro homem só por beijar? Ainda mais vocês, que são melhores amigos desde quando? Desde que nasceram?
- Desde os seis anos. Ele e tia Emily foram o mais próximo que eu cheguei de uma família desde que perdi os meus pais. E agora tenho você também. – completei, ao percebê-la arqueando uma sobrancelha.
- Você não vai mais falar com ele? Vão ficar assim?
- Não temos mais nada pra falar. – dei de ombros. – O dia da ida dele para Seoul está mais perto do que longe. Vai passar rápido e eu vou esquecer tudo isso.
O sinal tocou e nós levantamos. Mel seguiu para sua sala e eu para a minha. Peguei o celular para colocá-lo no silencioso e quase o derrubei quando Amy praticamente jogou-se em cima de mim.
- Não, a gente não vai conversar. – fui direto.
- Jimin, pelo amor de Deus, só me ouve. – coloquei as mãos no bolso e esperei que ela começasse. – O Dylan armou toda aquela cena. Ele chegou na minha casa pouco depois que a mamãe saiu, planejou tudo nos mínimos detalhes pra que a gente se separasse.
- É mesmo? Porque você parecia bastante a vontade em trajes íntimos na frente dele. – ironizei.
- Eu estava indo tomar banho e quando dei por mim ele já estava no meu quarto, nós começamos a brigar e...
- Amy, eu não tenho tempo pra isso. Preciso estudar agora, certo? Você deveria fazer o mesmo. Mas se quer saber, eu aprovo o casal. – disse, dando as costas e antes mesmo que pudesse dar dois passos, Jungkook se materializou em minha frente.
- Talvez você devesse escutá-la... – ele pediu.
- Eu não me lembro de ter te pedido um conselho ou coisa assim. Pedi? – perguntei áspero.
- Jimin, ela gosta de você. Só tente resolver as coisas. – Jungkook insistiu e Amy permanecia calada atrás de mim.
- E o que você entende sobre gostar? Porque até onde eu me lembro você não teve ninguém até hoje. Não é como se você fosse um expert no assunto. Procure outra pessoa para oferecer ajuda, eu estou dispensando. – comecei a andar e ele não me acompanhou.
- Você vai ser meu de novo, está ouvindo? Não pense que acabou aqui! – Amy gritava em bom tom para que todos no pátio pudessem escutar. Eu não tive coragem de sequer olhar para trás.
- Não é possível que vamos deixar uma amizade de anos morrer por causa de um bobagem daquelas. – Jungkook alcançou-me.
- Olha... – respirei fundo antes de virar-me para encará-lo. – É justamente por causa das coisas que você vem dizendo desde que acordou, que eu não tenho a menor pretensão de continuar a ser seu amigo, ou colega, ou qualquer coisa que signifique estar ligado a você.
- Jimin... – ele praticamente sussurrou.
- Boa viagem para Seoul, Jungkook. – respondi e me dirigi à sala sem olhar para trás.
Uma semana se passou e eu me sentia cada vez mais vazio. Era como se um pedaço de mim tivesse sido arrancado e jogado num rio fundo, sem a menor possibilidade de recuperação. A camisa de Jungkook dormia e acordava comigo todos os dias e embora o cheiro do seu perfume já estivesse totalmente inexistente nela, na minha lembrança ele estava mais forte do que nunca. Cada vez que eu fechava os olhos, a recordação daquela noite voltava intensa, como se eu a estivesse revivendo mais uma vez.
Não me lembro da ultima vez que o vi. Fiz o possível para chegar mais cedo no colégio nos últimos dias e sair bem depois do que a maioria das pessoas. Não queria vê-lo, não queria cair na tentação de procurá-lo para ao menos saber como estava, até porque ele deveria estar muito bem.
- Jimin? – a voz de Mel me chamava e eu me assustei ao virar e me deparar com a mesma visivelmente atordoada.
- O que aconteceu? – perguntei preocupado.
- Sua namorada. Ela é desequilibrada, totalmente. – ela ria e eu não sabia dizer se ela estava realmente achando engraçado. – Apareceu na minha sala, dizendo que eu era uma vagabunda. Que eu estava fazendo a sua cabeça para não voltar com ela. Eu nem tive tempo de me explicar e ela já estava em cima de mim.
- Alguém precisa parar a Amy. Eu deveria ter desconfiado que ela estava quieta demais. Você se machucou?
- Não! – ela sorriu. – Eu bem que queria dar umas tapas na cara daquela maluca. – seu semblante mudou repentinamente. – Mas eu não tenho uma boa notícia.
- Ah não... – balancei a cabeça negativamente.
- Ele vai embora no domingo, logo após a formatura. – Mel contou e eu rolei os olhos. – Não faça essa cara para mim, eu sei que isso mexeu com você. Tem certeza que não vai falar com ele?
- Eu e Jungkook não temos nada para falar um com o outro. Ele não é mais nada para mim.
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