᠉ Ten.
- Vejo que já fez amigos. – Jackson comentou enquanto eu fechava a porta do apartamento.
- Ele faz parte do grupo também. – expliquei, sentando-me ao seu lado. – Vou precisar passar o fim de semana fora.
- Hm... – desconfiou. – Já arranjou namoradas também? Não precisa esconder de mim, eu só preciso saber onde você está dormindo ou com quem posso falar para te encontrar, devido a sua situação.
- Eu não tenho uma namorada. Na verdade, tinha. Mas digamos que ela não fazia muito o meu tipo.
- E arranjou alguma por aqui?
- Não era exatamente uma namorada. – hesitei antes de dizer a frase a seguir. – Era um namorado... – completei apreensivo e observei a expressão espantada de Jackson.
- Sério? – arregalou os olhos.
-É horrível, não é? Posso arranjar um lugar para ficar, não quero criar problemas ou sujar a sua imagem...
- Do que está falando, Jimin? Acha que eu te mandaria embora por ser gay? – ele riu. – Sou seu irmão, acho que é meu dever te apoiar em todos os sentidos. Além do mais, tenho vários amigos que são, então relaxe com isso. – acrescentou.
- Tem certeza?
- Claro que sim, oras! Mas me fale, quem é ele? É do grupo também?
- É, mas já nos conhecíamos muito antes disso. Longa história...- soltei um suspiro longo.
- Não tenho nada para fazer agora, então, se quiser contar... – apenas encarei-o e Jackson pareceu ler meus pensamentos. – Ah, Jimin... Eu não vou contar para a sua tia, se é isso que te preocupa, até porque, se ela souber um dia, é melhor que seja por você. Isso se já não...
- Como ela poderia saber?
- Ela é como uma mãe para você e elas sempre sabem. A minha fingia não saber dos meus rolos, só esperando que eu contasse. Talvez o caso da sua tia Emily seja o mesmo. – fiquei parado por um tempo analisando cada palavra dita e buscando algum momento em que eu possa ter deixado isso claro de alguma forma. – Ei, não fique encucado com isso agora! Me conte desse rapaz que fez você passar a noite fora sem sequer dar uma satisfação. – ele fingiu chateação e eu comecei a narrar.
Contei-lhe sobre como nos conhecemos e como ele sempre esteve comigo desde o jardim de infância. Sobre nossas idas ao parque juntos, sempre acompanhados de minha tia, já que a mãe de Jungkook trabalhava bastante. O relacionamento com o pai nunca fora bom e ele comentava sempre comigo o quanto sentia falta disso no dia-a-dia. Nas comemorações do dia dos pais do colégio, ficávamos em casa jogando vídeo game, porque ele dizia que não era justo eu ficar sozinho numa ocasião como essa.
O tempo passou e o que eu sentia por Jungkook mudou de amizade para amor. Aquele amor que eu deveria sentir por alguma das menininhas que mandavam cartas na semana do dia dos namorados. Ou até pela Amy. Mas ele nunca saberia. Jamais correria o risco de afastar Jungkook; eu não suportaria. Nunca o vi com nenhuma garota, mas associei isso ao fato de Jeon ser bastante tímido. Acho até que viramos amigos porque isso aconteceu quando não sabíamos nem falar direito, talvez nos dias de hoje, isso não acontecesse tão facilmente. Éramos e ainda somos diferentes em muita coisa. Eu sou coração, e Jungkook, a razão.
Na época de trainees, nós ficamos ainda mais próximos (se é que isso era possível). Nos hospedamos na casa da tia dele por um longo tempo e nas horas livres, estávamos treinando também. Ele sempre fazia questão de dizer o quanto eu era o melhor. Nunca concordei. Quando voltamos para Busan e para o colégio de lá, fomos separados por turma pela primeira vez. Foi quando Amy apareceu. Eu e Jeon não tínhamos o tempo livre de antes, só nos víamos na hora de ir e voltar do colégio e aqueles eram os melhores momentos do meu dia. Quase não compartilhava nada sobre mim, íamos conversando o caminho inteiro e eu o deixava falar. Adorava a empolgação com que ele contava as coisas.
- E então ele disse que tudo não passava de um romancezinho. Pela segunda vez, Jungkook brincou comigo e com a droga dos meus sentimentos. – completei, encerrando a história.
- Quer dizer que não chegou a contar a ele sobre a doença? – Jackson indagou, após ouvir tudo em silêncio.
- Não achei necessário depois de tudo que eu ouvi. – levantei-me do sofá. – Bom, preciso ir dormir agora, amanhã tenho que gravar cedinho. Boa noite e obrigada por isso. – disse, me referindo ao primeiro momento de "conexão" que havia se estabelecido entre nós.
Adentrei o quarto e fechei a porta, em seguida jogando-me na cama. Relembrar tudo aquilo não tinha me feito tão bem, afinal, só mostrava o quanto toda a nossa trajetória de amizade tinha sido tão insignificante para um dos lados. Fechei então os olhos e adormeci.
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- Porque você mesmo não foi lá? Porque mandou ele? – perguntei a Jin, referindo-me a visita de Taehyung na noite anterior.
- E você acha que eu não tentei impedir? – o loiro rolou os olhos. – Esse garoto praticamente me obrigou a dar o endereço para que ele pudesse dar o comunicado. No fundo, acho que o interesse era outro...
- O que? – perguntei confuso, mas fomos interrompidos pelo som da porta batendo.
- Bom dia! Realmente queria entender o porquê de vocês sempre chegarem cedo assim. – Hoseok comentou, deixando a mochila no chão.
- Isso se chama compromisso. – Yoongi retrucou logo atrás dele. – Não que a ideia me agrade também.
- Você só sabe reclamar?
- Vão começar? – Namjoon apareceu com uma garrafa de água. – Pelo amor de Deus, o dia mal começou. Onde estão os outros dois?
- Jungkook se atrasou, então o deixei lá. – Yoongi deu de ombros.
- Eu estou aqui. – Taehyung apareceu visivelmente cansado e suado. – Tive uns probleminhas no caminho, mas cheguei a tempo. – lançou-me um olhar e sorriso rápidos e eu retribui.
- Vamos começar a ensaiar sem o Jeongguk. Ele nos alcança depois. – Nam pediu e todos concordaram.
Começamos a aquecer as vozes e repetir nossas frases em sequência. Isso se seguiu por mais de uma hora, até que Jungkook finalmente apareceu. Evitei olhá-lo, pois sabia que entrar em contato visual com ele me desestabilizaria por completo. Dirigimos-nos para o estúdio e começamos a gravar.
- I want to breathe, i hate this night. I want to wake up, i hate this dream... – Jungkook posicionou-se a minha frente, por ser o dono dos próximos versos e minha voz recusou-se a sair depois disso. – Eu preciso de um tempo.
- Aconteceu alguma coisa? Está passando mal? – Jin perguntou baixinho, aproximando-se enquanto eu bebia água.
- Não aconteceu nada, eu só preciso... – respirei fundo por mais algumas vezes. – De ar.
- E aí, já podemos retomar? – Namjoon questionou após alguns minutos.
- Já estamos indo. – Jin respondeu. – Tem certeza que está bem? – apenas assenti com a cabeça e voltamos para o estúdio.
- I want to breathe, i hate this night. I want to wake up, i hate this dream... – Jungkook, ainda parado no mesmo lugar, fazia questão de me olhar nos olhos e dessa vez, eu não recuei. – I'm' trapped inside of myself and i'm dead, don't wanna be lonely, just wanna be yours.
- Why is it so dark where you're not here. Its dangerous how wrecked i am, save me because i can't get a grip on myself, i can't. – ele ainda me fitava e agora sorria para mim.
- Listen to my heartbeat, it call you whenever it wants to... – quando Taehyung cantou a sua frase, eu pude entender o porquê de tantos sorrisos e abri o meu também. Estávamos realmente gravando o nosso primeiro single.
- Because with in this pitch black darkness, you are shining so brightly... – Jin continuou e antes mesmo de chegar no refrão todos já estavam completamente alegres e entusiasmados.
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- Eu já sabia que a sua voz era bonita, mas hoje ela estava fora do normal. – Taehyung elogiou.
- Pare de se insinuar, isso já está ridículo. – Yoongi comentou ríspido e eu olhei para o ruivo, esperando sua reação.
- Ih, já sei onde isso vai dar. – Hoseok riu, se sentando no chão.
- Não posso mais fazer um elogio? – Tae perguntou, rolando os olhos.
- Obrigada. – finalmente respondi. – Sua voz é muito boa também. – completei, em seguida observando um Jungkook muito sério me encarando próximo à porta. Ele estava com ciúmes. – Sem contar que dança perfeitamente.
- Ah, sério? – Jeon reclamou. – Pra mim já é demais. Todos somos bons aqui.
- Concordo plenamente e acho que está na hora de irmos para casa. – Namjoon tentou contornar.
- Você é extremamente careta. – Hoseok implicou. – Estava esperando a minha vez de ser elogiado. – disse, depois de olhar estranhamente para Yoongi.
- Duvido muito que a sessão de elogios durasse muito tempo. – Jin acrescentou. – Vamos embora, temos uns dias de descanso até o fim de semana. Não precisamos brigar agora. – ele carregou sua mochila e sussurrou ao passar por mim. – Acho que não preciso mais explicar o porquê da visita, não é mesmo?
Caminhamos os sete juntos até a esquina, quando cada um tomou o seu rumo. Observei Yoongi e Jungkook seguirem juntos para casa, sem me preocupar muito para onde iam os outros, foi quando senti o celular vibrar no bolso da calça.
- Oi Mel.
- Está ocupado?
- Não, pode falar.
- Sabe que dia está chegando, não sabe? – a animação em sua voz era clara.
- Ah, não estou tão ansioso.
- Como assim? São os seus dezoito anos. Muita coisa muda!
- Você acha? – respondi desinteressado.
- Claro que sim! E justamente por isso, liguei para comunicar que eu e sua tia já estamos organizando a sua festa. Não vai ser nada muito grande, porque você não vai querer chamar muitas pessoas do colégio, mas pode trazer os meninos do grupo.
- Mel, eu realmente...
- Não aceito não como resposta! Só estou comunicando que vai ter comemoração sim e se reclamar, vamos fazer outra em Seoul também.
- Tem certeza que minha tia está concordando com tudo isso? – rolei os olhos, como se ela pudesse ver.
- A ideia partiu dela, Chim Chim. Não seja estraga prazeres, ok? Vai ser o melhor aniversário da sua vida. – imediatamente ao fim da sua frase, senti meu corpo todo estremecer com um arrepio, devido a um sopro leve em meu pescoço, fazendo meu coração disparar.
– Jimin? Jimin, por favor...- a mesma voz do sonho chamava, perto demais do meu ouvido.
Afastei o celular da orelha e olhei ao redor, não encontrando ninguém.
– Jimin, ainda está aí? – o tom alto de Mel ao telefone, me fez voltar do transe.
- Sim, sim, estou. – respondi, parando quase que na faixa de pedestres, ouvindo a buzina de um carro que freara praticamente em cima de mim. – Meu Deus, Mel, eu preciso desligar. – disse, encerrando a chamada e imediatamente guardando o objeto de volta no bolso.
Aquele definitivamente não seria um aniversário bom.
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