᠉ Sixteen.
- Eu quero vê-lo, quero me despedir... – dona Emily pediu calmamente.
- Sinto muito, senhora. Já mandamos o corpo para o IML e estamos esperando o laudo. – explicou o policial. – Mas já podem providenciar o velório, para assim que liberarem...
- Não vou ter forças para cuidar dessas burocracias... – choramingou. – Será que eu poderia designar outra pessoa para lidar com esses procedimentos?
- Absolutamente. Nós sentimos pela sua perda. – ele disse, em seguida despedindo-se.
Antes mesmo de ouvir o fim da conversa, eu já estava chorando, mas o mesmo se intensificou, fazendo com que eu soluçasse, chamando a atenção de tia Emily. Ela me abraçou e ficamos por vários minutos ali, deixando as emoções saírem por completo. Fomos interrompidas pela campainha.
- Jungkook? – disse surpresa, ao ver o garoto sorridente à minha frente.
- Bom dia, Mel... Que cara é essa? Estava chorando? – perguntou, já mudando o semblante.
- Acho melhor você entrar...
Jungkook's POV
- Morto? Aquele desgraçado o matou? – perguntei com a voz alterada.
- Calma, não vai adiantar você ficar assim. Dylan está foragido e você não pode fazer nada. Mesmo que fizesse, não seria o melhor...
- Jungkook, faça isso por ele, certo? Pelo Jimin... Aposto que não gostaria de te ver metido em confusão, ainda mais levando em conta que você é uma figura pública agora. – dona Emily pediu.
- Está bem... Eu vou... Pensar. Preciso ficar sozinho agora. – levantei indo em direção a porta e Mel me acompanhou até lá.
- Olha, tem uma coisa... – ela hesitou. – Acho que você tem o direito de ficar. – ela disse, e virei-me, fitando-a com a visão embaçada por conta das lágrimas.
- O que?
- Isso. – segurou minha mão e colocou dentro dela a correntinha que havia devolvido a Jimin há dois dias e abraçando-me em seguida. – Tenta ficar bem. – pediu, despedindo-se.
Saí dali atordoado. Eu o tive tão perto, em meus braços. Vivo. Sorrindo. Dizendo que me amava. O garoto que eu vi crescer e por quem eu me apaixonei. Era um castigo. Ou melhor, era culpa minha. Se eu não o tivesse deixado...
Se passado um dia, eu resolvi sair de casa e encarar os fatos. O sol estava quase se pondo quando voltamos à casa de dona Emily; minha mãe gostaria de consolar a amiga. Ela ainda estava bastante abalada, seus olhos inchados indicavam que não havia parado de chorar por um segundo. Mel mantinha-se calada na maior parte do tempo, com o olhar perdido.
- Disseram que ele teve uma crise, por causa da doença. Mas que as agressões influenciaram muito também. – dona Emily contava.
- Doença? – mamãe arqueou a sobrancelha.
- Não acho que tenha sido isso não... – Mel disse baixinho.
- Você sabia que ele estava doente? – perguntei.
- Soube poucas horas antes do aniversário, mas Jimin me fez prometer que não contaria a ninguém. Não queria preocupar...
- Porque ele não me contou? Pensei que confiasse em mim. – reclamei.
- Talvez porque você não lhe tenha dado chance. – ela retrucou.
- Então era por isso o papo de não ter mais tempo? De não poder me esperar? – as palavras saíam involuntariamente, um atrás da outra.
- Esperar para que, né? Você nunca toma decisões sensatas. – rolou os olhos.
- Será que vocês vão discutir agora? Num momento como esse? Respeitem a dor dos outros. Jimin se foi, não faz muita diferença agora discutir para achar quem foi mais errado. – mamãe disparou e nós ficamos em silêncio.
- Concordo. – dona Emily acrescentou. – Temos que agradecer por terem conseguido prender o Dylan. Acho que agora a justiça será feita.
Fomos interrompidos pelo telefone que tocou e a mesma fora atender. Permanecemos calados, em volta da mesa da cozinha e eu me perguntava se teria forças para o enterro dali a algumas horas. Lembro-me de ter sonhado com ele na noite anterior e isso me deixara pior do que antes.
xxxx
- Você está bem? – Yoongi perguntou, depositando sua mão em meu ombro.
- Tentando... – respondi sinceramente. – Obrigado por vir.
- Ele era meu amigo também, apesar do pouco tempo.
Os meninos haviam chegado há algumas horas. Depois de ter ligado para Namjoon, todos os outros fizeram questão de vir, mesmo cansados do treino inesperado no dia anterior. Dona Emily não quis fazer o velório, optando diretamente pelo enterro, com a justificativa de não conseguir se despedir do sobrinho. No fundo, acho que nenhum de nós estava preparado para tal ato; ver Park Jimin sem vida. Pálido, sem rubor nas bochechas e nos lábios. Jin vez ou outra vinha até mim, sem dizer uma palavra. Apenas se colocava ao meu lado, como uma forma de dizer que estava ali para mim. Sei o quanto estava mal, por perder um amigo que lhe significou tanto em tão pouco tempo. Mais para trás, Taehyung era consolado por Hoseok, igualmente abalado. Abraçados, o mais velho tentava acalentar carinhosamente o mais novo, que tinha o rosto vermelho e inchado devido ao choro constante.
- Hm, eles estão com um pouco de pressa, dona Emily. – Jackson disse, referindo-se ao coveiro e a um outro rapaz que demonstravam inquietação e pareciam querer se livrar logo de mais um caixão para enterrar.
- Eu quero me despedir dele. – Mel choramingou, fazendo-o fitá-la estranhamente.
- Não é possível, agora já é um pouco tarde para isso. Vocês mesmas disseram querer evitar tais despedidas. – ele explicou.
- É melhor, meu anjo. – dona Emily abraçou-a de lado. – Para todos nós.
À medida em que o padre pronunciava as palavras, as lágrimas antes guardadas e reprimidas, começaram a escorrer pelo meu rosto. Os garotos, agora juntos em um canto só, estavam emocionados. Não me lembro de os tê-los visto assim alguma vez. De longe, eu observava tudo, sem dizer uma só palavra.
Era difícil demais para mim assistir a tudo aquilo. Cemitério, caixão, enterro. Nunca me imaginei numa situação assim, ainda mais se tratando do garoto que eu amava. Que eu sempre amei. Dona Emily estava inconsolável, abraçada a minha mãe, que também chorava. Será que elas imaginavam que eu e Jimin éramos muito mais do que amigos? Mel estava agora próxima a Jin e conversavam sobre alguma coisa que eu não podia ouvir.
Quando a cerimônia acabou, todos foram se retirando aos poucos. Mamãe olhou-me e eu sinalizei que iria depois. Aquela era a minha hora, o meu momento de me despedir. Me aproximei do jazigo com rosas na mão.
- Acho que não sei muito o que dizer... – disse, agachando-me no chão e encarando o nome "Park Jimin" escrito na lápide. – Lembra-se de quando nos conhecemos? Você não gostou de mim só porque não lhe emprestei meu balde de areia. – sorri com a lembrança. – Mamãe ri muito me contando essa história, mas eu queria lembrar dela com minhas próprias memórias. Ela conta também que em questão de minutos você já estava sorrindo e brincando comigo, como se nada tivesse acontecido. – fiz uma pausa. – E da vez que eu derramei suco na sua primeira cartinha de amor? Ah, eu estava com tanto ciúmes... E você sempre me perdoou por todas as falhas. Sempre. Eu nunca demonstrei diretamente ou talvez você nunca tenha conseguido reparar, mas eu sempre te amei. Sempre, Jimin. – as lágrimas agora caíam descontrolada e rapidamente pelo meu rosto. – Me perdoe, por te deixar sozinho quando mais precisou, por não ter sido para você nem metade do que já foi para mim. Me perdoe por magoar seu coração e não fazer nada para reparar ou tentar consertar... Eu deveria ter te abraçado e dito que ia ficar tudo bem. – olhei para o céu nublado e funguei, respirando fundo em seguida. – Espero que de onde estiver, se puder me ouvir, saiba que a minha vida não vai ser a mesma sem você, por mais clichê que isso soe. Sem seus olhos me encarando, sem o seu sorriso. Se soubesse o quanto eu quis esconder esse sorriso do mundo para que ninguém mais se apaixonasse por ele... – pausei a fala novamente, sentindo o ar faltar em meus pulmões e os soluços se fazerem presentes, interrompendo minhas palavras. – Agora você se foi e levou boa parte de mim consigo. Engraçado, que pensando bastante na noite passada, eu reparei que você sempre foi meu e eu apenas não vi. As caretas que você fazia quando eu contava sobre alguma menina gostar de mim e os olhares satisfeitos que me devolvia quando eu dizia não estar interessado em nenhuma delas. Ninguém servia, porque eu só queria você... Eu estava esperando você e quando finalmente tive... Acho que já falei demais, não é? – sorri, enxugando o rosto e sentindo a brisa gélida acariciar minha face. – Mas não disse o mais importante. Eu te amo, meu Mochi. Sempre amei. Sempre vou amar. Não quis ninguém antes de ti e não vou querer outrem, agora que se foi. Nunca vai ser a mesma coisa. Ah, eu te amo tanto. Sinto muito por não deixar você sentir a intensidade disso, por não demonstrar enquanto eu podia, por colocar outras coisas como prioridade, quando a única deveria ser você. – depositei as flores em seu túmulo, levantando-me em seguida. – Adeus, Mochi. – disse e retirei-me lentamente do local.
Anonymous (2) POV
- O que foi, Kwan? Viu assombração? – disse, reparando a feição assustada do menino.
- É, acho que vi... – o garoto de nove anos suspirou, ainda ofegante, olhando o vazio.
- Diga de uma vez, o que você viu? – a mãe perguntou, já impaciente.
- Estava voltando do riacho e vi um pássaro muito bonito, um que eu nunca havia visto, mamãe! – ele parecia perder-se em suas próprias lembranças. – E aí fui atrás dele, para ver se encontrava mais do mesmo...
- E? – a senhora já estava esperando por mais de uma das histórias mirabolantes do filho.
- Tinha um garoto lá. – Kwan fez uma careta. – Morto.
- Morto? Garoto? Onde? Me leve lá. – ela tirou seu avental imediatamente, enxugando as mãos na barra da saia e deixando o humilde casebre, no encalço do garoto. – É muito longe daqui?
- Não muito. – ele disse, já bem adiantado à sua frente.
Depois de quase dez minutos de uma caminhada ou quase corrida mata adentro, a mulher não acreditara no que via a sua frente.
- Oh! – exclamou, agachando-se ao lado do rapaz deitado. – Ele está tão machucado e sujo.
- E morto. – completou o menor.
- Kwan! – ela o repreendeu, enquanto afastava o cabelo da testa do rapaz e tocava seu rosto. – Não, ele não está morto... Ainda.
Bạn đang đọc truyện trên: Truyen247.Pro