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Pesadelo?

Por Supergirl

Não.

De novo não; por favor. Clamou atrás dos óculos pendurados na careta, de ser outra vez arrastada para seu pesadelo.

Novamente ali, em seu antigo apartamento, o sonho.

Dócil, e agradável.

Claridade alaranjada, salmão, nunca entregando se clareando ou escurecendo o dia esta, somente dando a sensação do calor amornado daquela singela fantasia. As cortinas balançando na suave brisa a beijar o rosto da loira, em suas roupas de Kara Danvers.

- Vai chover, - Disse Lena, apressada em fechar as janelas, e como sempre emperrando na última. - Amor, a janela. Amor? Kara, ei, o que você tem? Tá tão distraída. - Balançou a mão frente a loira.

E algo inexprimível balbuciou a kryptoniana, encarando os olhos impares da morena, com a cabeça em algum lugar no Mediterrâneo, distante dali, e tão mais da realidade pálida.

- Amor, a janela. - Lena indicou a vidraça presa no trilho, com pinguinhos de água dançando entre elas.

- Pesadelo! - Desesperou-se a super, ao se situar naquele lugar, ou melhor, fora dele né.

- Pesadelo? Não é pra tanto uns pinguinhos d'água, amor. - Sorriu para ela, afastando-a da garoa a invadir o imóvel. - De novo o mesmo? - Lena tomou seu rosto entre as mãos. - Kara, acho melhor nós irmos no médico. Você anda tendo muitos pesadelos, e sempre o mesmo. Tenho certeza que a doutora Erika, deve ter um horário.

E assim que a Luthor pegou o celular, Supergirl o tomou dela.

- Momo, não é hora de brincar; - Dengosa disse a dona dos olhos sem par, rindo da brincadeira da loira em tomar o telefone.

- Não Lena, para. Você não entende; o portal; o Pesadelo. Lena, estamos... - Respirou fundo, amargando cada sílaba. - Eu estou, num sonho, você é um sonho. - Saiu dolorido, feito um bolo de vinhas de roseira espinhenta entalados na garganta.

O horror que assistiu no quarto mundo. Chamas e sangue. Fim e morte, os assentados respectivamente à direita e esquerda de Pesadelo. Essa era ela, o demônio da luz a assombrar o mundo, mas de todo horror, seria mesmo ela o maior deles no coração da Super?

Afinal, o que era pior?

Lá, lembrando daqui; ou aqui, lembrando de lá?

Consternada do fato de pisar em ilusões, a super apertou os dedos, e sem querer acionou o player de musica, disparando Dancin Queen do ABBA, na caixa de som sobre o balcão:

"Ooh

You can dance

You can jive

Having the time of your life"

E como numa preguiçosa manhã de domingo, o qual só começa depois das seis da tarde. Lena começou a pegar o ritmo da musica, balançando o quadril de costas para a loira. E num pulo, tornou a ela num perfeito Lip Sync, naqueles lábios lindos e brilhantes sem a maquiagem para uma noite inesquecível. A CEO de ritmo no pé e gingado nas cadeiras, aproximou-se dançando, puxando a as mãos da loira para seu quadril dançante.

- Vem dançar, meu amor. - Sorriu tão doce, que quase a fazia acreditar na mentira, se deixando, se permitindo, mas não podia, não.

Não com o inferno de Pesadelo do outro lado.

- Para Lena, - Pediu amarga tentando afastar-se, mas a negativa deu lugar a mais insistência ainda, forçando a loira a ser mais dura. - Lena, PARA! - Ladrou esmagando o celular entre os dedos, e atirando-o ao chão, cortando a musica na hora. Tomou Lena pelos ombros, sem suportar mais, sem poder por em palavras toda a loucura que era aquilo; mas aquilo, essa coisa, não deveria nem estar de acontecendo, não era para ser assim, não deveria, jamais, pois não podia, não era certo. Não enquanto o mundo se perde no pesadelo, e ela em sonho. - Você; - Suspirou pesado, com aquele bolo de espinhos presos no soluço do choro. - Você, não passa de um sonho.

- Eu? Um sonho amor? - Disse a morena tentando manter a brincadeira na lisonja. - Ah! Eu sei que sou; sou um sonho de consumo. - Piscou para a loia.

- Um sonho, você não é real, - Tremulou, e o sorriso da Luthor se foi. Naquele lugar, tão somente sorrisos sempre houveram, o local de um de seus inícios, ao lado dela. Onde pela primeira vez disseram, e agora o mesmo berço da tão calma e cruciante lembrança, se desfazia em seus firmes dedos, na mais deliciosa dor, da verdade tão real.

- Não fala assim, eu sou real. - E pela primeira vez naquele apartamento de faz de conta, os olhos de Lena se encheram de água. E a Super, sentiu um trovão alvejar seu estomago, ardendo o lado direito da barriga.

"SUPERGIRL!!!" Chamava o réquiem, de mil dentes de mil vozes.

Sua falha, seu erro.

Seu pecado.

Outro trovejar de dor, e aquele bolo de espinhos na garganta, parecia um travesseiro de plumas, perto da barriga a torcer em mil nós e mil perfurações, jogando-a de joelhos.

Estava acordando.

Do sonho.

Recordando de onde estava, e com quem.

O portal.

O quarto mundo, fogo, morte.

Pesadelo.

- Ghaah!!! - Gritou com todos os músculos mastigando sua barriga.

- Meu amor, momo, - Assustada e preocupada, Lena com ela foi ao chão, espelhando-a de joelhos. - Momo, fala comigo, o que tá havendo? - As veias da loira saltaram, o aroma vermelho bombeando em suas narinas. Pronta para a guerra. - Meu amor, você tá muito estressada, anda, vem pra cama, você precisa descansar.

Preciso...é matar, aquela desgraçada. Disse a heroína no centro de sua mente, porém o que diria a outra?

Que outra?

A que foi chorar no canto escuro?

A fraca?

Não podia ser fraca, tinha de ser forte.

Supergirl.

Preciso...salvar o mundo.

Nosso mundo.

Seu mundo, Lena.

Ser o que sou, o simbolo, o paragon da esperança.

Forte.

Mas forte era o que estava sendo, porém não da forma que supostamente deveria, pois não percebeu quando apertou demais os braços de Lena, e vermelho tingiu-lhe as pontas dos dedos, através do tecido da camisa escura. E mesmo com cara de choro, a morena não recuou.

- Vem, momo, descan-can-sar; - Tremulou a coitadinha, segurando para não gritar de dor.

- Me desculpa Lena, me desculpa! - Mas não era só pelo que fazia, mas o que faria também. E por mais que soubesse da ilusão, ainda sim, ainda que falsamente, lhe doía assim, feri-la, ainda que no pais das maravilhas, mas era preciso. - Me desculpa, eu não posso. - Disse pondo-se em pé, antes que seu corpo tremendo a traísse. - Não posso mais, Lena. - As veias saltadas de ódio, seu coração chorando de dor, a seu modo, pesadelo, para com a outra lutar. Esse era seu dever de heroína, fazer o certo, mesmo que essa não fosse a vontade de seu coração, que a muito, emudeceu, da língua arrancada, e atirada num canto escuro.

O pecado, de um jeito ou de outro cortado pela raiz, para começar.

- Kara espera! - Pediu Lena, mas Supergirl deu-lhe as costas e se foi pela porta. Arrancando a maçaneta num puxão, aos clamores e choro de alguém que não podia dar ouvidos, do outro lado.

Escorregou com as costas na porta até o chão, enquanto as dores abdominais pioravam, com trovões e dentes de cães rasgando sua cicatriz.

Cicatriz? Parecia um ferimento bem recente, cingindo rubro em sua camisa azul bebe.

Eu não posso. Latejou a mente, e mais, e mais carmesim se ia como o riacho de uma floresta tenebrosa. Num sonho assustador, de dor trovejante, e sono gritante, num suave trovoar lá fora.

Não posso. Ardeu o ferimento em seus dedos o esganando, bem como as vinhas em seu pescoço, esmiuçando o nome que desejava gritar: Lena.

Não posso.

Lena.

Insistiu o choro dolorido no peito, levando outro não da loira.

- GHAAAH!!! - Doeu o buraco na barriga feito em sua carne, os gritos de choro atrás da porta, as lembranças do que vira no quarto mundo.

Pesadelo.

- Aaaaahhhhh!!! - Em panico, gritou Supergirl. Antes de vomitar pus e sangue no chão da cela, sob a a mira de kryptonita verde dos soldados caveira, prontos a disparar, numa Super de veias saltadas, totalmente descontrolada.

- Não, não e não! - Lena praticamente chutou a porta da cela, e entrou na frente da mira dos soldados. - Abaixem isso, execução de prisioneiros, não é algo que fazemos aqui na Supercorp. Esta tudo sob controle, ela não vai fazer nada. Não machucará mais ninguém. Não é, Supergirl? - Rosnou a comandante.

O que?

Opa, onde?

Estava em sua cela, no andar da prisão do forte Martelo de Guerra.

A voz subiu, mas para sair teria de passar pela intrincada passagem da traqueia esmagada. Sair o ar não dava, então puxou-o, e a tragada de ar veio dolorida, ardendo o pulmão pronta para guerra; só se for guerra de travesseiro, pois era sobre uma cama que estava, logo a única munição seriam travesseiros, ou a kryptonita nos rifles dos soldados.

Melhor ficar com os travesseiros.

Afinal, não muito mais havia a ser feito naquela situação. Primeiro: Não havia Pesadelo para com ela lutar, ao menos não agora. E segundo: No momento, seu corpo era só um monte de peso inútil.

Inspira, respira, não pira.

Mas havia feito algo. Droga, o corpo latejou de dor, especialmente a barriga, cheia de curativos, e a garganta, como se espetada por um ferrão de uma abelha muito bunduda. Que sentada levou para o pescoço arder assim? Tirando a de Pesadelo?

Os soldados caveira abaixaram as armas, e voltaram a montar guarda no corredor da prisão.

- Lena... - Balbuciou a super.

- Depois, Supergirl. Depois, - Respondeu a comandante.

A super tentou sair da cama, mas as correntes repuxaram.

Correntes?

É o que geralmente se usa para domesticar um animal descontrolado, e como se não bastasse o tilintar da culpa nos grilhões, o dedo apontado em seu nariz pelo sol vermelho da cela, ainda tinha uma parede de energia lilás entre ela e a comandante.

Sendo essa ultima o atestado de desconfiança da sócia Supercorp.

- Não tive escolha depois do que aconteceu. - Lamentou a morena, de costas para a loira.

A super tornou os olhos ao chão, sem poder decifrar os rodopios em seu peito, e sua mente confusa de lógica, mas certa de sentido.

O comunicador de Lena bipou, sendo requisitada no laboratório. As costas dela se afastaram para fora da cela, seguindo o corredor.

E como desejou que naqueles passos errantes, sua Lena tornasse a ela, correndo e a abraçando para longe desse pesadelo que acordara, um que não a tivesse cravejado das terríveis imagens do quarto mundo, ou as de sua memória, assaltada das lembranças de como havia matado cada um de seus amigos.

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