A Comandante
Por Comandante Luthor
Fazer de Waller uma comandante.
Parecia uma piada de mau gosto, muito mau gosto; por o demônio do CADMUS na chefia?
Pensou Luthor sorrindo de canto no laboratório, sorriso esse, daquele que se abre no seu rosto na pura força do ódio.
Cruz e credo de inferno.
A cabeça latejava, como se o nono passageiro quisesse brotar de sua testa, o estomago num embrulho mais feio que presente de inimigo secreto. Tudo se apertou dentro da Luthor, mas não seria a primeira vez que fazia suas obrigações a contra gosto, como todo e qualquer ser humano no planeta já fizera. Ninguém é imune a inerente chatice do dever de seus trambiques.
A morena fechou os olhos e respirou fundo, agora tinha de ser a fria cientista, e metódica cirurgiã, para a condecoração de comandante. Amanda, a diretora do CADMUS, estava deitada na mesa de cirurgias, de top, calça e botas militar. Amarrada na mesa como uma paciente de Arkham, com vários fios grudados no peito, monitorando seus sinais.
- Pressão? - Pediu Luthor para seus três ajudantes no laboratório.
- Um pouco alta, comandante Luthor, - Respondeu Marion Vega, a primeira capitã de Anri. Aliás, toda a equipe médica do forte Mandíbula fora disponibilizada a comandante do forte Martelo de Guerra, já que...bom, vocês sabem.
- Você tem que tentar relaxar, o chip é sensível a pressão arterial. Qualquer oscilação de humor ou desequilíbrio hormonal, ativa as funções defensivas, o que o faz mais agressivo com o hospedeiro na introdução. - Explicou a morena à paciente.
- Minha pressão abaixa no dia que não tivermos mais super poderosos por ai, então vai logo com isso. Não temos tempo à perder com quem é descartável, como eu. - Respondera Waller, mulher obstinada, não a toa diretora do CADMUS, pois enxergava além do apresentado, além dos sorrisos e capas. O que sempre a permitiu estar um passo a frente, ou cinco passos a frente.
Luthor nada respondeu, verdade, não havia tempo mais, e de uma forma ou de outra, ia doer. Ordenou a equipe os ajustes finais para a posse de Waller.
- Hope, - A morena chamou pela inteligencia artificial. - Soro coluna de vida, sequência Ell.
Da parede metálica atrás da mesa de cirurgia, abriu-se uma gaveta cheia de nitrogênio liquido, desdobrando de dentro dela uma caixa retangular que se pôs em pé. Erguendo seu topo como uma tampa, sem que ninguém a tocasse, expondo três ampolas cilíndricas, com uma abertura central à dar visão do soro dentro, brilhando azul.
Uma por uma, as três ampolas metálicas foram postas sobre a mesa de instrumentos, onde foram preparadas para a aplicação, em pistolas de injeção. Os outros dois assistentes ajustaram as travas de aço e as amarras da paciente. James Oviclav, e Daros Nalti, respectivamente segundo e terceiro capitães de Anri. Eles puxaram os cintos de couro, reforçados com fibra de titânio, apertando bem pernas, testa e ombros bem colados na mesa de cirurgias.
- Capitã Vega, - Chamou Luthor, acenando para começarem. As duas mulheres se posicionaram uma de cada lado de Waller. - Na veia, - Disse por trás da mascara e óculos cirúrgico.
Feito, as duas injeções foram aplicadas com sucesso nos antebraços. Nisso uma tela holográfica com o raio-X do corpo inteiro de Amanda surgiu sobre ela. Atenciosa, a comandante Luthor observava o holograma azul claro, e os dois pontos da injeção se espalhar pelos antebraços como um borrão laranja, alojando-se nos pulsos.
Oviclav e Nalti mais atrás, monitoravam os sinais vitais da pacientes pelos monitores.
- A da medula vai doer, muito. - Disse Luthor encarando os olhos opacos de Amanda, encaixando um protetor bucal em seus dentes. Enquanto capitã Vega terminava de rosquear a longa agulha metálica de injeção medular, na ponta da terceira pistola, com o liquido azul neon. - Hope, alternar. Modulo de inserção medular, coluna de vida. - Ordenou, e a mesa virou ao contrario, tornando a paciente para baixo. O centro da mesa se abriu, expondo o final da coluna vertebral, e a marca em caneta, feita pela morena.
Luthor ajeitou os óculos e mascara cirúrgica, mirou a monstruosa agulha, que mais parecia um cano de PVC, dada a grossura. Vega passou o sedativo amarelo sobre a pele escura. A aplicação tinha de ser no centro da medula óssea na base da coluna, para se espalhar pelo corpo.
Um processo delicado, feito em sala fria, pois a diferença de temperatura tinha de ser suficiente para retardar o catalisador injetado, e tempo o bastante para chegar e espalhar-se pela corrente sanguínea, sem ser combatido pelo sistema imunológico. Cada um reagia de maneira diferente, uns sentindo mais, outros menos, somente a dor na instalação do chip, era comum.
- Inspira pelo nariz, e solta pela boca, bem devagar. - Disse a morena ao mirar. Empurrou a ponta afiada da agulha na pele amarelada do sedativo. Coisa mais inútil, pois o sedativo podia amenizar a picada por fora, mas não a espetada na medula. A morena fez o possível a fim de evitar os nervos, mas não tinha jeito, dali sentia os dentes de Waller serrar no silicone na boca.
Mais um pouco, e a agulha entrando.
Só mais um pouco, rasgando a carne até os ossos.
Os músculos de Waller tencionavam, rejeitando o metal tubular. A agulha lentamente introduzida, quase como uma tortura, estava quase inteira para dentro, mas não havia forma de ir mais rápido, um errinho, e a futura comandante podia ficar paraplégica.
- Quase no centro da medula, - Avisou Vega, monitorando a entrada da agulha no holograma. Luthor suava frio, uma gota escorreu por sua têmpora, a respiração sufocou na mascara, e o ar quente bafejou seus óculos cirúrgicos. Mas nessa operação, não eram seus olhos a ver, e sim suas mãos, assim que sentiu alguma resistência empurrar a ponta da agulha, a primeira capitã a avisou da chegada do objetivo.
A morena soltou a trava da pistola com o polegar, e puxou o gatilho, injetando o ativador do chip de comandante na medula da paciente, esvaziando o azul da carga. A entrada era assim, delicada; o disparo, uma bala, e agora vinha a parte ruim de verdade, a ativação e alocação no sistema nervoso do paciente.
Cuidadosamente a morena retirou a agulha, enquanto os dois capitães monitoravam os batimentos e pressão. O borrão laranja se espalhava da cintura para o resto do corpo no raio-X. Antecipando a proximidade com os braços, onde os chips de comando estavam.
- Contato em 3, 2, 1, - Avisou Nalti, e Amanda deu um tranco para o lado na maca, sorte estar bem amarrada, ou já teria se estatelado no chão.
Ao lado do holograma, surgiram duas colunas com a porcentagem de emparelhamento de cada chip. A ativação completa se dava à instalação e estabilização do parasita no hospedeiro. Para tal o liquido catalisador vindo da coluna, deveria alcançar e atravessar os chips nos braços, e correr pelo organismo, como parte dele. Mas tente explicar à uma pessoa que o leão com as unhas e dentes gravados em sua barriga, quer brincar de fazer cocegas. Claro que não, o organismo rejeitaria fácil um corpo estranho entre as células, causando um ataque violento a nível celular, como uma guerra dentro das próprias veias. Por essa razão a baixa temperatura, para diminuir a velocidade da resposta imunológica do hospedeiro, e suavizar o ataque do parasita às células brancas. Doce teoria, pois na prática...
- Pressão subindo, comandante Luthor! - Gritou Oviclav, frente aos sinais de Amanda.
- Catalisadores entrando no coração agora! - Avisou Vega de olho no raio-X, o corpo quase todo tomado pelo soro. - Choque anafilático!
E Waller contraia violenta tendo um ataque epilético de um lado a outro, se debatendo puxando as amarras.
Não, não perderia outro comandante! Pensou a morena.
- Amanda, foco, não desmaia! - Gritou a Luthor deitando no chão abaixo da maca, segurando rosto da paciente. Assistindo seu parasita fluir nas veias saltadas da diretora do CADMUS. - Vai sofrer um choque, fique acordada! - Rugia a morena, se Waller apagasse, jamais acordaria novamente. - FIQUE ACORDADA SOLDADO!!!
Os olhos brancos de Amanda se arregalaram.
- Isso, presta atenção, você esta no controle dele, não ele de você. Diga a ele para se acalmar, você consegue, comandante Waller.
Segundos que pareceram uma eternidade, começaram a escoar no relógio, a medida em que Amanda assimilava aquele nome: Comandante. As veias saltadas baixaram, e seus olhos recuperaram o brilho novamente.
- Ativação completa, - Avisou Vega. Os capitães acenaram positivamente monitorando os sinais vitais. As barras de progresso estavam cheias.
O pior havia passado...
- QUE PORRA É ESSA LUTHOR?! - Estourou o vidro da porta, com Sig entrando no laboratório aos chutes, derrubando capitão Nalti. - Não tem nem três semanas!!!
- Comandante Sigmeyer, por favor abaixe o tom, - Pediu Luthor, mas era impossível falar qualquer coisa ao cabeça quente.
- PRO CARALHO A PORRA DO TOM!!! Não tem nem duas semanas, tem outros fortes, dá outro pra ela!
- Foi decisão do conselho, - Respondeu a morena levantando, mas o loiro cuspiu fogo a atropelando.
- Foda-se o concelho! Não são eles aqui se fodendo todo dia, pra salvar o rabo velho e enrugado deles! Todo dia somos nós! Você, Anri, Arlet, eu, meu irmão; - A voz dele tremulou. - Todos os dias, nesse inferno, a gente tá aqui se fodendo, e eles enfiados na porra dum bunker comendo camarão. Não somos peças descartáveis. - A raiva deitada na testa franzida de Sig, o choro atado nas sobrancelhas e bochechas doloridas.
- Ah, isso nós somos, todos nós; somos descartáveis, - Disse Amanda descendo da mesa de cirurgias, devolvida a posição normal. - Todos nós somos dispensáveis a esse mundo. Eu, Luthor, você, seu irmão Sigward.
- NÃO FALA O NOME DO MEU IRMÃO!!! - Sig avançou em Waller, e no segundo passo caiu morrendo de dor.
- Comandante Sigmeyer pare, por favor só vai piorar, - Desesperou-se a morena acudindo o amigo em agonia no chão.
- Que porra é essa? AAAHHH! - Gritou ele de dor, as veias do pescoço, bochechas e mãos, toda pele exposta fora do uniforme, brilhando azul.
- Eu tive de ativar o protocolo de defesa, no chip dos comandantes. Não podemos nos matar. Os comandantes não podem se matar; se nos matarmos, quem defende esse mundo? - Explicou Luthor com o coração na garganta.
- E quem nos defende? - Questionou Sig. - Você chorou pelo Sigward? Pelo Lex, pela Alex, você se importa com alguém Lena, porquê, não parece. - A morena engoliu seco o próprio coração que tentava sair pela boca, e com o que tinha de certo em si manteve a postura fria, segurando o mar de gelo na garganta.
- A gente não pode se matar, Sig. - Disse a morena, com aquela ponta de pesar mordendo sua coxa.
- E não vamos. As regras são claras, um ataque a um comandante, não é punível com a morte, mas reclusão. - Disse Amanda vestindo o casaco do uniforme preto da Supercorp.
- O que? - Resfolegou ele, que encarou o frio olhar da Luthor.
- São as regras. - Proferiu a morena, olhando para os dois soldados caveira se aprumando na porta.
- Você só pode tá brincando! Você escreveu o livro de regras, muda isso! - Rosnou ele.
- Não posso. - Amargou-se a morena, pondo-se em pé, enquanto os soldados caveira algemavam Sig no chão com as mãos para trás.
- Isso é o inferno, - Murmurou ele. - estamos morrendo nesse inferno, por causa dela. - Ele apertou os dentes se enchendo de fúria. - Ouviu Lena, ninguém tinha coragem de falar na sua frente, nem eu, mas agora eu falo! A CULPA É DELA! ELA CRIOU ESSE INFERNO! A CULPA É DA SUA SUPERGIRL!!! - Cuspiu ele, narrativas que a morena preferia nunca ter escutado.
Por sorte o escândalo durou pouco, pois o loiro levou um fodendo soco no estomago dos soldados caveira, e outro nas costelas, até se calar, e ser arrastado para o elevador, como um bicho morto.
Regras eram regras, e nada a comandante do Martelo de guerra pode fazer. Não que o cumprimento das regras, fossem sinal de sua concordância com as mesmas, pois a infeliz acusação sobre a Super, azulou as veias da morena. Por muito menos, já quebrara alguns ossos no beiral de um extintor, por conta de línguas imprudentes.
- Eu sei como é, - Disse Waller tocando-lhe o ombro, acompanhada do chocalho de uma cascavel. E furiosa, Luthor teria acertado um soco no demônio do CADMUS, não fossem os passos de Brainy no vidro estilhaçado no chão.
- Perdemos o forte Colossal, - Disse ele calmo, como um fogão que queima seu feijão e continua aceso, mesmo com o cheiro de carvão frito empesteando tudo.
- O QUE?! - Berrou Luthor. Não havia mais tempo para nada, do que diabos esse homem verde de tranças falava? A comandante do Martelo de guerra correu para os elevadores, e após esmagar o botão de fechar umas trinta e cinco vezes, a bendita fechou-se. Subindo. Apreensiva, esmiuçando os dedos nas barras metálicas abaixo do espelho, o cheiro forte de cloro e alvejantes ardendo o nariz.
A cabine deu um solavanco, e a porta se abriu no corredor da ponte. Ela correu para a porta da sala, onde encontrou monitores em faíscas, cabos dependurados do teto, fumaça de eletrônicos tostados. E Arlet imóvel, debruçado na mesa do computador central. A tela repleta de labaredas e chamas, com a identificação: Forte Colossal.
- Você disse que os servidores eram seguros, - Disse ele com os olhos barrando uma represa, de água e palavras.
"Seguros, indestrutíveis," lembrou-se da fala dele.
Sim, seguros. E a comandante tinha certeza de que eram indestrutíveis, feitos para aguentar o processamento infernal de todos os fortes ao mesmo tempo, lutar com o pesadelo, e ainda fazer café.
- Projetamos o servidor para ser o mais forte e eficiente possível. Impossível terem... - Tentou a morena, mas não haviam palavras que conversassem com aquelas chamas.
O comandante do forte Colossal, emudecido, quando sempre fora ele a calar a todos nas discussões com sua grave e potente voz. E parece que mesmo seu silencio fora capaz de calar, pois ninguém naquela sala conseguia algo empurrar para fora da garganta, nem mesmo a morena, mas por dentro sua cabeça estava para romper a murada de contenção chamada postura, e se esmiuçar em...
- Vou até lá, pode haver sobreviventes, - Disse ele, quando por trás deles veio a diretora do CADMUS.
- Perdão a demora, - Entrou Waller claudicante, acompanhada do aliem do quarto mundo. - Mas eu não tive tanta sorte quanto, - Ela mirou Luthor. - Não posso mais correr por ai como antes. Porém do que diziam, Brainy me informou de tudo no elevador. Pesadelo ainda esta no quarto mundo, a explosão parece ter sido numa sobrecarga.
- O sinal de contato com o quarto mundo se rompeu. Tentávamos descobrir sobre o fim de pesadelo, mas os servidores não suportaram a alternância do relatório. - Explicou o homem verde se sentando com a equipe de Amanda espremida no canto da sala.
- Quer dizer que ainda não sabemos, se pesadelo foi derrotado, - Especulou a morena, as caras não eram boas, mas ninguém dissera o contrário.
- Só poderemos saber após estabelecer contato com Lois Lane. Porém não sei como poderíamos estabelecer comunicação, sem acusar nossa localização. O servidor do forte Colossal, era o único computador capaz de encobrir os rastro nas dobras do espaço tempo entre os mundos. - Amanda via a tela de dados de Brainy. - Acho que, teremos de apelar para outra fonte.
- Acredito que, poderemos tentar ainda essa noite diretora Waller. - Afirmou Brainy passando papeis e uma pasta para um dos agentes do CADMUS.
- EU VOU PARA O FORTE COLOSSAL! - Rugiu Arlet, fuzilando todos, e sorte a deles o loiro não possuir a visão de calor do Homelander.
- Sim comandante Arlet, recomendaria a comandante Anri, ela é a melhor piloto da Supercorp, ouvi falar. Além do mais, eu não acredito que as suas habilidades estão sendo bem aproveitadas, construindo e desconstruindo templos, à uma deidade duvidosa.
A comandante do Martelo de guerra olhou para o chão. Sabia de que deidade Amanda falava. E por mais que detestasse dividir as forças assim, jamais poderia negar o protocolo de busca, chances nulas, que deviam ser atendidas, e exploradas, pois ninguém jamais seria deixado para trás.
Unidos venceremos.
Assim escrevera no final do livro de regras, e ao final de cada discurso dos comandantes da aliança Supercorp.
***
Meio miligrama à menos.
Meio miligrama à mais.
Só mais um pouquinho.
Os olhos, um verde e o outro azul, fixos e atentos, uma gota de suor escorreu da têmpora da comandante. Os dedos tensos nas hastes externas de controle das pinças cirúrgicas da mini câmara, com os resíduos químicos, empurrando meio grão de cálcio vulcanizado. Um errinho, e...
WOOSH!!!
Uma nuvem verde saltou.
E o tubo de ensaio explodiu na minicâmara na mesa do laboratório. A morena atirou-se na cadeira, tirou os óculos cirúrgicos ao jogar a cabeça para trás, bafejando a frustração em seu suor grudando o cabelo.
Errara a medida, outra vez.
Não acontecera com as outras oitenta munições feitas nas ultimas seis horas.
Seis horas, Luthor?!
Seis horas desde a perda do forte Colossal.
Sete horas quando foi-se o forte Bizon.
Doze, após a queda de Nova York.
E outras vinte duas; quando quase perdera ela.
Já virará trinta e seis horas só montando munições, projetando geringonças explosivas, desenhando mecanismos, e hastes para gavetas numa parede, ou estudando as fraquezas de seus aliados, ou de pesadelo. Houve quem a chamasse de viciada em trabalho, uma workaholic de carteirinha, desde a época de CEO.
Desde muito antes até, afinal a morena sempre fora um poço de amigos; só se for um poço para desovar o corpo deles. Viciada, alcoólatra, workaholic. Lembrou-se dos nomes jogados nela, e os sentia tinir lá dentro, ao tentar se salvar de si mesma se isolando. Trabalhos da faculdade, ou empresa, tudo o que era fácil de atochar a cabeça, e nada mais pensar. Foco? Não, saco cheio.
O dia não estava sendo nada fácil, a semana não estava fácil, perdendo oito fortes só esse mês, e mais vidas do que podia contar nos últimos seis anos. Mais um, mais um forte inteiro, dos nove originais, incluso o dela. Que incompetente, como quando perdeu parte das ações da L-Corp. E tal fato parecia tão miúdo agora, tão supérfluo, o que eram os números de Wall street?
O que era um milhão de dólares, frente a um milhão de vidas?
Tinha ficado tão afiada, tão certeira nos negócios, tão brilhante em seus projetos, que quase acreditou ser invencível, imbatível, invulnerável. Um Luthor tem de ser, mas jamais entendera o que significava isso, e até acreditou ser essa a ruína da família, ninguém, nem eles, estavam acima da lei. Como pensou seu pai, seu irmão, sua mãe, todos caíram, por acreditar serem intocáveis.
O que a duras custas, descobriu ser tão mentira, quanto àquela que acusavam os deuses de capa.
Ninguém é invencível, qualquer um pode ser derrotado.
E essa era sua esperança, o bordão da obviedade, como mantra à seu atual emprego, na agencia que fundara, ao lado dela. E que bela parceria, jogando a sócia majoritária dentro de uma cela. Não tinha outra alternativa, era isso, ou... a morena fechou os olhos, tentando fugir do turbilhão da comandante.
Desfoca, e foca, mergulha a cabeça nas medidas, que errou.
Errou.
Tá errou, mas...
Errou.
Mas nem de longe era errada somente pela gramatura das balas. Era em tudo, até quando tentava ser boa, e era má. Estava errada, sempre esteve, e sempre soube. Errada, como um bastardo mal desejado nesse mundo, opa, era ela.
A única bestona capaz de pensar o contrário da verdade, pelo menos tentado, estava enjaulada na prisão do forte. A única que a queria como ninguém mais quis. A única que confiara nela, à traíra, mas respira fundo; porque sempre que chegava nessa conversa, cinco anos de mentiras pesavam. Afinal, quem traiu quem primeiro?
A má, que buscava a verdade; ou a boa, que mentia?
Chega, desliga disso, trabalho, trabalho, fugir, fugir de todos.
Fugir, como um tipico vilão derrotado, numa luta bundinha no meio do filme. Claro que ele tem de fugir, ou então não tem mais filme, não tem mais história nem na série. Deus me livre matar o vilão no meio da temporada, ferra tudo né.
Mirou as várias prateleiras saídas da parede do laboratório, repletas projeteis feitos sob medida. E focou nos diversos calibres, todos na dosagem exata de parar seja lá o que fosse. Todo cuidado era pouco, e tudo era menos.
Fugir, ela tentou, mas e quando você foge para um lugar ainda pior, pois como se foge do monstro repousado sobre seu o pescoço? E o pescoço dela se apertou, sentada naquela cadeira maldita. Naquele lugar terrível, onde o herói é preso, e o vilão segue solto.
Puxou o notebook sobre o colo, assistindo a loira encolhidinha no cobertor, uma bolinha pintada de sol vermelho, atrás de grades, projetada por ela, para os maus reter, e não a esperança. Esperança que a anos, minguava, mas que a todo custo, tentara manter, estudando mais, buscando mais, infinitamente mais, e um ar sinistro puxou os olhos da Luhtor para a mesa.
- O que você tá fazendo aqui? - Disse para o pequeno livro, que não lembrava de ter trazido consigo ao laboratório. Pegou o pequeno montinho de papel encadernado, e o encarou desconfiada. - O que você tá fazendo aqui?
- Pensei que o sistema de câmeras de segurança do forte, fosse desconectado de Hope. - Disse Waller adentrando o laboratório.
- E é, - A morena fechou o notebook, e rapidamente fechou o livro dentro duma gaveta.
- Mas o que é tudo isso? - Perguntou Waller, diante das várias prateleiras, abarrotadas de munição.
- Nada, - Respondeu Luthor, ao dar o comando à Hope para os equipamentos se guardarem na parede. - Já disse Amanda, uns três meses até que a coluna de vida se acople em todas as suas células. - Claro que era mentira, era coisa de um mês e meio, mas nem a pau ela facilitaria a vida de Waller.
- Não temos todo esse tempo, em um mês nosso mundo será um deserto nuclear, de acordo com Sonhadora. - Respondeu a diretora do CADMUS.
- E seria de grande ajuda se sua equipe nos passassem todos os detalhes e arquivos do sonho. - Rosnou Luthor.
- Eu bem que gostaria, mas da ultima vez que compartilhamos dados, o mundo quase se foi a três anos na Velvet. - Waller acomodou-se numa das cadeiras ali na parede do laboratório. - Ainda há chances do quarto mundo ter dado certo, e termos eliminado pesadelo. E até descobrirmos, não tenho porque passar informações desnecessárias. Bem não vou tomar mais seu tempo. Vim avisar que os comandantes Arlet e Anri, já chegaram ao forte Colossal, e há sobreviventes, poucos, mas...
- Fala logo. - Disse Luthor, dominada talvez, do mesmo que mordera Supergirl.
- Direta, como seu pai. - Amanda olhava para os olhos dela, mas com algo bem estranho à diretora do CADMUS. E se os sensores da morena não estivessem passados de trabalho, ela diria que era sinceridade. - Eu sei como é, carregar o mundo nas costas, sem super força. Eu sei como é ter de ser o que é preciso, mesmo que seja ruim. Eu sei bem, e você não esta sozinha Luthor.
Que porcaria era aquela?
- Sabe? - Desafiou.
- Sei, assim como você. Não sou ingenua de acreditar em contos de fadas, muito menos numa luta de bem contra o mal entre homens. Você conheceu o inferno, por isso fez regras para os condenados, bem como para os demônios voando nele.
A Luthor apertou o apoio dos braços, sabia a qual demônio Waller se referia.
- Não se engane Lena, ela nunca vai entender o que ser uma de nós, e nunca será uma de nós. - Amanda desceu da mesa, e claudicante foi à saída do laboratório. - Eu vim aqui, porque tentaremos contato essa noite, e vamos precisar de você. E requisito a Lastgirl durante o contato, dentro da clausula de segurança de anomalia, e falta de pessoal capacitado que não o encarcerado.
- Permissão emitida pelo comandante responsável do forte do carcere. - Recitou Luthor, muito bem familiarizada com o livro de normas. E aparentemente, Waller também conhecia as regras, assim como a autora delas. - Permissão concedida. Pra que precisa dela?
- Brainy dará os detalhes quando chegar a hora da transmissão. Mas você que é indispensável, e imprescindível para o procedimento, Luthor. Eu sei que deve soar estranho, afinal, nunca somos nós na capa das revistas ou nos wallpapers dos celulares. Nós somos os esquecidos anônimos, que seguram as pontas por trás das cortinas. Até a noite, Luthor. - Amanda saiu do laboratório, e deixou a morena a sós com seus questionamentos.
Lastgirl.
A comandante se ajeitou na cadeira, triturando o nome com o qual Waller chamara por ela, dedilhando a pequenina argola que mantinha pendurada no peito, por baixo do preto. Tomando nota de sua respiração, a cada puxar, e a cada soltar de ar. A cada virgula, cada detalhe dos últimos anos, repassado em sua mente, a cada acontecimento, a cada pesadelo.
Odiava isso, sentir-se sem respostas, sem o começo e fim de tudo, como CEO, ela sempre tinha de saber até onde ia a onda naquele mar, mas o silencio de Amanda, a jogou na droga da escuridão sem direção, sem previsão, sem qualquer noção de controle, se é que existe algum nesse pesadelo insano.
Como um jogo besta de auditório, atrás da porta numero um: Pesadelo.
E talvez fosse até melhor ela, que uma víbora do CADMUS, atrás da porta numero dois.
Tinha de saber o tamanho da enxurrada, se quisesse contê-la. Não podia apostar em efeitos adversos como na Velvet Moon. Nem esperar um milagre de fim de filme de herói, no quarto mundo. E ainda que o tivesse, não apagavam seis anos de pura devastação, não só no mundo, mas em seu coração.
A gaveta foi mais uma vez aberta, e dela puxado o livrinho de capa rosa. Abrindo-o em qualquer página, pois ele não possuía qualquer anotação. A morena respirou fundo, e por ele chamou:
- Fala, não veio atrás de mim atoa.
Letras foram surgindo nas páginas amareladas e vazias:
"Segura a Onda"
E ela não estava?
Onda, com inicial maiúscula, a fez entender. E que onda, um maremoto, O maremoto que quase engoliu a cidade.
O mundo sendo devorado de desastres, e ela devorando a super, até a loira deixar sua cama. Todos os heróis se movimentando, agindo, defendendo nosso mundo, e ela, o que fez? Ela ficou, ficou para trás, não voava, não era a prova de balas, nem forte era, nada poderia.
Nada?
À seis anos, uma bruxa no time faria diferença, e ela deveria saber, mas ninguém viu, não foi capa de jornal algum, nem rabeira de comentário no facebook. Quando o maremoto que violentou a costa oeste dos Estados Unidos, não derrubou National City, por conta de uma feiticeira, que não pode seguir com os outros heróis, pois não era uma.
Segurando uma onda gigante, de mais de cem metros numa parede invisível. West Wave, chamara aquele dia, lembrando-a de uma enxaqueca terrível que teve por duas semanas após o esforço, que ninguém se quer soube. A morena esbaforiu uma cruel risada, ao fechar o livro com a simples sentença entrecortando seus lábios:
Segurar a Onda.
Esse tem sido seu trabalho desde o inicio, quando fundou a Supercorp. Ser a parede de contenção, quando todos os outros caem. Quando todos abandonam suas racionalidades, e agem no impulso. Como a vilã da história, ela, era a ultima que poderia de fato sucumbir ao mal, do contrário, toda a história encontraria seu abrupto fim.
Fins, justificam os meios; mas como fazê-lo sem destruir tudo, na esfarrapada justificativa do orgulho?
Caríssimo o bem, sim; porém disposta pelo bem estava, penhorando sua fortuna, e a de Wayne quando ainda alguma coisa dinheiro valia. Seu nome, sua honra, sua humanidade. Tudo o que tivesse. Pois jamais esperaria,quando fosse tarde demais, nunca mais. Agiria, mesmo que isso custasse caro à si, sem amigos, sem compaixão, sem perdão. Não mais permitiria o mal fazer o que bem entendesse, esse fora seu juramento de sangue.
Mirou sua arma no coldre, pendurada no mancebo. Havia feito uma vez e faria de novo, e outra, e mais outra, todas as que fossem necessárias, diante da ameaça e talvez da única, que não tinha o mínimo de intenção de ceder. Um preço o fim cobra, e a comandante se dispôs à permuta de seu próprio coração. Terrível seria, mas vivos os manteria, até o brindar da vitória sobre o mal.
Seria a mais terrível.
A má, a ruim.
Aquela que encarcerou a Ultima chama da esperança.
A Comandante Luthor.
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