Taekook - Ampulheta
Continuo me mantendo ocupado
Me distraindo com uma agenda lotada
Mas não há como eu esquecer
Está gravado em minha mente como uma tatuagem
Não podemos voltar para aquele tempo
Se eu pudesse, eu chamaria seu nome
Não, mas pelo menos aceite sua responsabilidade
É realmente hora de dizer adeus.
– Let go, BTS
– Você está bem? Por que está tão sério? – perguntei para Jeon Jungkook.
Seus olhos grandes e escuros estavam apreensivos, estavam trêmulos e carregavam um peso que não conseguia distinguir o que estava acontecendo.
Sua mão procurou a minha, em um toque suave ele entrelaçou nossos dedos e respirou fundo apertando os olhos. Ele levantou o olhar para mim novamente e deu um sorriso curto e triste. Com a outra mão ele acariciou meus cabelos fartos acompanhando com os olhos cada afago que ele fazia.
– Taehyung… Eu sinto muito. – franzi o cenho sentindo uma mistura de angústia e medo do que viria a seguir – Eu terei que ir embora. – revelou, causando uma dor agoniante em meu coração.
Puxei o ar na tentativa de raciocinar direito pelas suas palavras cortantes.
– Ir embora? Explique melhor, Jungkook. – pedi, vivenciando as lágrimas que inundaram meus olhos e logo escorregar sobre meu rosto.
– Querido, eu… Meu pai quer que eu vá estudar no exterior. Não posso ir contra ele quando o assunto é os negócios da família. – seu rosto demonstrava completa tristeza, me deixando mais amargurado.
Estávamos juntos desde a adolescência, nos apaixonamos de uma maneira muito bonita que eu imaginava profundamente que esse relacionamento seria para sempre. E eu ainda acredito.
Enxuguei minhas lágrimas e tentei sorrir, levei minha mão até seus cabelos pretos e longos, com a ponta dos dedos traçava linhas em seu rosto, eu o amava tanto, não queria ficar longe dele. Mas o entendia, ele precisava fazer isso por sua família, por mais que me doa profundamente.
– Está tudo bem, não fique mais triste. Eu vou te esperar. – afirmei com toda convicção que tinha. Porém, imaginei que encontraria um sorriso em seus lábios depois disso. Mas Jungkook simplesmente engoliu em seco e desviou o olhar – Jeon, eu disse que vou lhe esperar. – enfatizei.
O homem em minha frente assentiu, encarou meu rosto seriamente e pediu:
– Peço que não me espere.
A aflição em meu coração aumentou com suas palavras, o peso que elas carregavam. Desvencilhei meus dedos entrelaçados nos seus e os levei até meus cabelos encaracolados tentando, de alguma maneira, trazer mais clareza para minha mente.
– Jeon… O que você quer dizer? – indaguei, com o medo presente, se suas próximas palavras fossem as que eu imaginava, eu já previa um dos sentimentos mais angustiados que nunca senti em minha vida.
Ele fixou seu olhar no meu, suas feições sérias e com certa tristeza demonstrava o quanto iria doer o que ele falaria.
– Se amar outra pessoa, não hesite por minha causa. Não quero que se sinta infeliz por estar preso a mim. – ele engoliu em seco com seus olhos lacrimejando, vivenciando que a qualquer momento uma lágrima solitária iria deslizar em seu rosto – Prefiro te perder do que saber que você não está feliz ao meu lado.
Ao terminar de falar, ele se levantou, pegou seu paletó cinza que estava no encosto do sofá. Não conseguia expressar o que estava sentindo para ele. Jeon Jungkook estava me deixando.
Ele apertou os lábios com seus olhos presos nos meus, eu via muita tristeza e angústia neles, eu sabia que ele não queria ter feito isso, ele simplesmente estava fazendo o que achava certo.
Quando ouvi a porta ser fechada, lágrimas escorreram pelo meu rosto, deixei meu coração ficar dolorido e sentindo algo tão forte que jamais senti.
Isso aconteceu a cinco anos atrás, no ano de 1921, o Jungkook foi embora para cuidar dos negócios de sua família. Por muito tempo tentei interpretar o que se passava na cabeça dele naquela época, eu o entendia ou não? O perdoei ou não?
Às vezes me deparava com raiva, com raiva dele nem ao menos ter tentado, na primeira oportunidade ter terminado tudo que construímos e sentimos.
Sinceramente… Já faz muito tempo que parei de deduzir o que Jungkook pensava, porque não saberia concretamente o que se passava nos devaneios de sua mente.
Estava arrumando minha gravata borboleta marrom quando vi Nari, minha melhor amiga, adentrar na cafeteria. Ela estava belíssima como sempre, seu cabelo castanho reto na altura do queixo com um chapéu preto que enfeitava a cabeça. Seu vestido branco com detalhes em rosa que terminava nos joelhos.
Ela sorriu para mim e se aproximou animadamente.
– Olá, meu amigo. Como está? – perguntou se sentando à mesa.
– Estou bem, bastante ocupado com os quadros, mas está tudo certo, eu amo pintar, você sabe… – ela sorriu assentindo fortemente.
– Fico feliz. Mas, tenho um convite. – arregalei os olhos por um instante e ela continuou: – Amanhã à noite, de última hora, Min Yoongi e eu resolvemos nos reunir com nossos amigos de infância no bar Haruki para nos reencontrarmos. – apertei os lábios arqueando as sobrancelhas.
Anos se passaram desde vi todos meus amigos de infância, nossas famílias eram próximas onde todos os filhos eram conhecidos e cresceram juntos. Um deles, era o Jungkook.
– Achei uma ótima ideia, faz um tempo que não vejo o Yoongi e os outros. Vai ser divertido, pode contar comigo. – seus lábios se alargaram em um sorriso muito feliz e logo ela começou a bater palmas de tanta animação.
– Não vejo a hora. Olha, eu não sei se Jungkook virá, desde que ele foi embora nunca mais entramos em contato, nem sabemos se ele já está aqui ou não, mesmo assim mandei convite na casa dos seus pais. – explicou Nari, concordei desviando o olhar.
– Ele não virá, Nari. Acho que nós não somos muito importantes para ele. – admiti, era a impressão que ele deixou, não podia ignorar.
Senti as mãos de minha amiga se envolver nas minhas, voltei aos seus olhos e vi suas feições delicadas, entristecidas.
– O que vocês tinham era tão lindo, um amor como o de vocês era uma das coisas mais bonitas que já vi, o Jungkook fez o que ele achou que era certo. Tenho fé que algum dia isso vai se resolver. – sua voz transmitia a confiança que eu queria ter. Apertei meus olhos com as lembranças daquele dia do término invadir minha mente.
– Não quero mais falar sobre isso, estão bem? – pedi, Nari concordou apertando os lábios levemente.
Ficamos toda a tarde conversando sobre o que se passava em nossas vidas, falei da felicidade dos meus clientes em cada quadro que eu pintava, era… extasiante. Nari me falou sobre seu ateliê, suas roupas finas e bonitas estavam dando certo na cidade, a deixando mais animada como sempre.
A noite caiu, estrelas enfeitavam o céu escuro, arrumei meu sobretudo preto por conta do frio que me alcançou. Caminhei até a entrada do bar e adentrei, lugar rústico e elegante. Uma cantora belíssima cantava uma canção calma no palco. Sorri ao ver Nari, Yoongi e Jimin sentados em volta da mesa retangular.
Me aproximei recebendo abraços e sorrisos deles, estava sentindo falta disso, dos meus amigos que cresceram comigo.
Aos poucos, foram chegando os demais, mas o coração acelerou e minha boca ficou seca quando vi Jeon Jungkook adentrar no bar. Meus amigos bateram palmas e comemoraram por sua chegada com animação.
Não consegui reagir, só pensava em seus cabelos mais longos com mechas caindo sobre seus olhos e em suas feições que antes pensava que nunca mais veria.
No momento que ele me olhou, estava aquele mesmo brilho que eu via quando estávamos juntos, causando uma sensação angustiante e duvidosa dentro de mim.
– Oi, Taehyung. – ele me cumprimentou com a voz baixa e hesitante. Assenti para ele tentando sorrir, mas o que estava sentindo dentro de mim, nem eu mesmo compreendia naquele momento.
O olhar de Nari estava sobre mim o tempo todo, ela sabia sobre tudo que aconteceu com o Jungkook e eu, ela estava apreensiva no que aconteceria a partir de agora.
Durante todo o falatório dos meus amigos, tentei sorrir e interagir, mesmo sabendo da presença dele. Me perguntava o que ele estava fazendo aqui, quando chegou? Por que voltou?
Não podia ignorar os momentos que eu sentia seus olhos pesarem em mim, queria perguntar do porque me olha tanto, do porquê foi embora tão facilmente, será que o que ele sentia era tão fraco que o fez ir embora sem qualquer consideração? Era só eu que sentia algo forte?
Francamente… Todos esses questionamentos tentavam me consumir durante aquele encontro, me sentia sufocado.
Agradeci quando todos seguiram sua direção, o vento gelido batendo em meu rosto fazendo meus cabelos negros pairar pelo ar. Quando me despedi de Jungkook com um breve aceno, percebi o quanto eu estava hesitando com sua presença, por mais que eu quisesse perguntar muitas coisas. Mas decidi ir embora, por ter medo de que suas palavras me machucaram mais do que já estava ferido há cinco anos atrás.
Soltei o ar quando destranquei a porta do meu quarto da pensão que me instalei há um ano atrás, quando ouvi a voz dele:
– Kim Taehyung… – disse Jungkook. Me virei para ele que estava com as mãos nos bolsos de seu casaco.
Mas antes mesmo de falar algo, meu cachorro, Yeontan, latiu anunciando sua presença. Jeon sorriu alegremente de imediato e se agachou para chamar o Yeontan.
– Que lindo, você sempre quis um Lulu da Pomerânia. – disse Jungkook acariciando o os pelos negros e mechas bronzeadas de Yeontan que aparentemente estava gostando do carinho.
– Sim, fiquei muito feliz quando consegui ele. – falei com um sorriso sincero no rosto. Jeon pegou Yeontan no colo e disse:
– Lembro que prometemos ter um cachorro quando fossemos morar juntos. – sua fala, que foi impulsiva e inocente, desencadeou de imediatamente lembranças passadas com promessas que foram quebradas.
Isso fez nossos sorrisos desaparecerem. Ele limpou a garganta e sorriu pequeno depois. Jeon se aproximou e me entregou Yeontan, meu coração acelerou ao sentir sua presença tão de perto, seu perfume era ainda o mesmo, imediatamente trazendo lembranças. Ele era como uma lembrança.
– Por que está aqui na pensão? – perguntei.
– Cheguei hoje de viagem e decidi me hospedar aqui, não queria ficar na casa dos meus pais enquanto procurava uma casa para morar. Eu não sabia que você estava aqui, foi… muito bom te ver. – admitiu. Apertei meus olhos por um momento, minha mente estava uma bagunça desde que o vi.
– Está bem. – soltei o ar arrumando Yeontan em meu colo – Tenha uma boa noite, Jeon. – em segundos, adentrei em meu quarto e fechei a porta.
Jeon Jungkook estava aqui. Eu só preciso de respostas para entender o que fazer.
Franzi o cenho ao ouvir batidas em minha porta, deixei a xícara sobre o pires em cima da mesa e me direcionei a porta. Ao abri-la, estava Jungkook com um sorriso reconfortante, ele estava mais confortável nessa manhã, com os botões de seu colete abertos e as mangas de sua camisa branca arregaçadas até os cotovelos.
– Preciso de ajuda. – disse.
– Com o quê? Você está bem? – expressei, preocupado. Fixando meu olhar em seu rosto em busca de qualquer resquício de ferimento.
– Não se preocupe, estou bem. Preciso de ajuda para organizar minhas coisas nos armários. – revirei os olhos me dando conta que ele ainda tinha essa mania de odiar desarrumar malas e organizá-las.
Eu o conhecia muito bem para saber que ele não desistiria até me convencer em ajudá-lo, então simplesmente chamei Yeontan e fomos para o quarto do Jungkook.
Ao adentrar no cômodo, a luz do sol passava pela janela deixando feixes através dela. O quarto estava uma bagunça.
Malas abertas e roupas espalhadas pelo chão. Esfreguei a testa imaginando o tanto de tempo que gastaríamos arrumando isso.
– É, eu sei. Muita coisa. – disse Jungkook parando ao meu lado observando a mesma bagunça que eu.
Me aproximei de uma das malas e me sentei no tapete branco. Yeontan estava brincando animadamente pelas roupas do Jungkook rosnando para uma de suas fivelas pretas, quando levei meus olhos para Jeon que se acomodava em frente a mim com uma mala entre nós, ele estava com um sorriso de canto para Yeontan, ele não se importava se meu cachorro estava fazendo bagunça com suas coisas.
O silêncio reinou entre nós quando começamos a organizar as roupas para fora da mala, o ouvia suspirar, mas só isso. Porém, meu coração começou a bater mais forte quando minhas mãos agarraram uma boina azul escura, eu a conhecia bem.
O presenteei com essa boina há sete anos atrás, em seu aniversário, já estávamos juntos naquela época.
– Você ainda tem isso… – sussurrou, passando meus dedos no tecido. Ouvi ele suspirar e disse:
– Sim, eu usava sempre ele quando estava fora. Eu me sentia… Mais perto do meu verdadeiro lar. – ao terminar de dizer, levei meus olhos aos seus, suas íris castanhas brilhavam e um sorriso pequeno e tristonho estava em seus lábios.
Limpei a garganta e me forcei a deixar a boina de lado, minha mente e coração pareciam estar em uma revolução, inquieto e querendo uma solução. Respirei fundo apertando os olhos. Passei a mão por meus fios desalinhados e voltei a organizar as roupas.
Antes de terminar as últimas peças, no fundo da mala, encontrei uma ampulheta, eu também o conhecia. Toquei em seu vidro gelado transmitindo uma sensação nostálgica, a areia roxa passava pela fresta pequena que continha, onde poderia ver o tempo passar diante meus olhos.
– Quando você me deu isso, você disse que cada pedacinho dessa areia fina caem contando nossa história e tudo que passamos para ficarmos juntos. Que ela representava a eternidade dos nossos sentimentos. – suas palavras me trouxeram para o dia que falei isso, estávamos felizes, sorridentes, diante um lago cristalino e sereno.
Naquele dia, Jungkook estava radiante, me olhava com tanta admiração que imaginava nunca ver algo tão belo. Ele me mostrava todo dia o quanto me amava, eu achava que ele faria de tudo por nós.
– Por que desistiu tão rápido de nós, Jungkook? – sussurrei, levantando o olhar e o encontrando com o semblante sério e melancólico. Ele engoliu em seco e disse:
– Eu nunca desisti do que sentia. Eu ainda te amo, Taehyung. – meu coração acelerou causando uma sensação agoniante.
– Não fale isso, se me amasse não me afastaria de você, não terminaria comigo. – falei com o timbre mais alto sentindo uma lágrima solitária deslizar pelo meu rosto.
– Eu não sou egoísta, Taehyung! Eu fiquei fora cinco malditos anos, sofrendo por sua ausência, mas o que me acalmava era que você pudesse ser feliz com outra pessoa caso ocorresse.
– Mas nunca ocorreu! Jeon, você não percebe que idealizei desde a adolescência nosso futuro juntos? Você acha que eu iria esquecer de você em míseros cinco anos? O meu amor é tão forte quanto o seu. Eu também sofri! – vociferei. Jungkook nada falou, seus olhos estavam lacrimejando e ele apertava os lábios.
Enxuguei minhas lágrimas e me levantei, levei mechas dos meus cabelos para trás que estavam sobre meu rosto e me direcionei a saída.
Antes de chamar Yeontan que não parava de morder uma das camisas, senti a mão de Jungkook em meu pulso. Soltei o ar e me virei para ele, vi arrependimento e angústia em seus olhos.
Seus braços se envolveram em mim, me abraçando. Senti de imediato o cheiro suave de seus cabelos trazendo uma sensação de conforto e nostalgia.
– Me desculpe, Taehyung. Eu… Fui um idiota. Por favor, me deixe entrar em sua vida de novo. Você não precisa se esforçar para nada, me deixe provar que irei contribuir para sua felicidade novamente. – deixei minhas lágrimas deslizarem pelo meu rosto, toda minha tentativa de ser forte deixei cair a tona depois de suas palavras.
O abracei forte deitando minha cabeça em seu ombro, senti tanta falta disso…
– Você não vai me deixar de novo, não é? – indaguei com o timbre fraco. Jungkook se afastou o suficiente para me olhar, segurou meu rosto limpando as lágrimas que ali estavam e disse com toda confiança:
– Se depender de mim, sempre estarei ao seu lado, Kim Taehyung.
Quem aí ficou com um pouco ranço ou raiva do Jungkook nessa one, levanta a mão 🙋🏻♀️
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