22
Cacau gargalhou e segurou meus ombros, me fazendo voltar a sentar na cama.
- Você está tão apaixonada, Lud! - Ela falou. Ruborizei e neguei. - Ah, não está? E então iria se levantar e pedir a garota em namoro para quê?
- Eu gosto dela.
- Você não tem certeza.
- Não, eu não tenho, mas eu quero.
- Ludmilla, olha só. Aquieta esse cu, pois você não pode chegar em alguém e do nada, pedir em namoro. - Bufei e virei os olhos. - Você não pode ser egoísta a ponto de simplesmente ter de Brunna tudo dela, sendo que você mesma não sabe o que vai querer nisso. E se surgir outra pessoa, mas vocês duas não quererem magoar uma outra? Essa é apenas uma hipótese e eu não vou deixar minha melhor amiga se magoar por causa de alguém.
- Só porque algo aconteceu com você ou com Renatinho uma vez, não quer dizer que vá acontecer comigo, Ca.
- Você não sabe disso, e apenas nós duas estávamos ali quando ele precisou. Foi difícil fazer Renatinho aceitar que tudo era uma ilusão, mas que já havia passado. - Cacau levou a mão direita até meu rosto e acariciou com lentidão a minha bochecha. - Você é a pessoa mais importante para mim, e é a única que ainda não quebrou a cara por um relacionamento... não faça isso agora, okay? Tome seu tempo, vai dar tudo certo, não importa qual seja esse certo. - Cacau sorriu e acabei a abraçando.
- Você gosta dela?
- Ela é um arraso, mana. Tô com orgulho de tu, e esse teu charme gavião por ter dado uma boa fisgada com as garra na perereca dela. - Gargalhei e Cacau me apertou mais.
- Ué, mana. Essa é a cadeia alimentar, tá rindo do quê?! - Escondi minha cabeça em seu pescoço.
- Brunna é uma pererecona, já que sapão é termo masculino. - Gargalhei e me afastei, logo respirei fundo.
- Eu fico feliz que nos apoie... afinal, você apoia né?
- Apoio a felicidade dos meus amigos com tanto que essa felicidade não os faça mal. - Sorri e a apertei contra meus braços.
Será que estava na hora de contar?
Tanto segredo me deixava louca, para dizer a verdade, mas eu simplesmente não saberia falar. Foi fácil dizer para Brunna, tive como provar mesmo que sem querer, afinal, não queria ficar semi nua depois daquela bolada, mas por questão de conforto, no fim acabei preferindo provar que era verdade... foco, Ludmilla.
- Cacau... eu preciso dizer uma coisa. - Cacau assentiu e deitou na cama, logo me vendo fazer o mesmo. - Isso seria como me assumir outra vez-
- Virou hétero? Olha, se for usar polo, tomar energético se achando fodona, e ficar falando top, aqui acaba nosso ciclo de amizade. - Gargalhei e neguei, logo abracei sua cintura.
- Não... não é isso. - Pensei por alguns segundos e limpei minha garganta.
- Lud... eu... devo ter noção do que-
- O que? Não, na verdade-
- É sobre o que você tem entre as pernas? - Arregalei meus olhos e fitei Cacau. - Eu não sei o que tem aí, mas eu percebo o volume quando estou aqui, e eu também percebi quando fui fazer aquele desenho 3D para você... olha, entendo que talvez não seja esse o ponto-
- Não! Era o que eu queria te contar. - Cacau abaixou os olhos e fez bico, logo ri.
- Por que não me contou antes? - Perguntou.
- Você iria zoar muito se eu chegasse e logo dissesse: hey Cacau! Eu estava com cólica, então fui a um restaurante chinês com a minha mãe, e quando cheguei lá, ganhei um biscoito da sorte, e no banheiro foi onde pedi um pau de 25 cm pra parar de sofrer sendo mulher! Adivinha?! Agora eu tenho um pau enorme!'- Cacau gargalhou, mas parou assim que viu minha cara séria.
- Uh, essa é a história de verdade?
- Sim...
- Achei que você era interssexual...? - Levantei meu tronco e franzi o cenho, fitando minha melhor amiga em seguida.
- É, eu sou, só que não nasci assim.
- Aconteceu do nada?! - Assenti e continuei fitando Cacau. Ela devolveu o olhar e, por incrível que pareça, corou.
- O que foi?
- Como sabe o significado de interssexual?! - Cacau continuou corando e fitou o teto.
- Você sabe que sou pan. - Assenti. - Eu sou pan, e por acaso, muito curiosa. - Arregalei meus olhos e Cacau sentou, tentando disfarçar o rosto corado. - Larissa é interssexual. - O silêncio nunca foi tão grande entre nós.
- Uma legítima interssexual? - Cacau franziu o cenho e acabei pensando melhor na pergunta. - Hm... tipo, nasceu assim, cresceu assim, vai ser sempre assim, mas não é Gabriela? Interssexual mesmo? - Ela gargalhou.
- Sim... - Levantei minhas sobrancelhas e abri a boca em surpresa, mas logo sorri maliciosa.
- Tu tá metida com pau, Cacau Nascimento?!
- Eu sou pan, posso pegar qualquer pessoa. Pior é você, que é lésbica e desejou um pinto. Quem é a errada aqui?! - Revirei meus olhos e Cacau gargalhou.
- Foi realmente isso que aconteceu, Ludmilla?! Tipo, surgiu do nada? - Assenti.
- E onde Brunna entra nessa história? - Eu nunca corei tanto na frente de Cacau.
Minha melhor amiga começou a gargalhar. Fora tão alto, que tive de tampar meus ouvidos.
- Brunna me ajudou quando levei uma bolada em um certo dia, então contei e pedi ajuda dela para descobrir como tratar aquilo. Não queria contar para outra pessoa pois ainda não estava preparada psicologicamente para ser zoada. Eu pedi para falar com a mãe dela, que era ginecologista, mas então percebi que não daria muito certo... afinal, ela não tem mais a ver sobre o que tenho entre as pernas. Então o pai dela, que é urologista, ele me ajudou. Fui em algumas consultas e acabou acontecendo algumas coisas entre Brunna e eu, mas nunca implorei nada, deixei acontecer e deu certo. Deu mais certo do que o previsto, e agora estamos apenas brincando... não fizemos sexo ainda, ao contrário de você e Larissa, que com certeza já fizeram muita gente engravidar com a falência de preservativos nas farmácias e..- Uma almofada voou contra minha cara e acabei gargalhando, logo percebendo Cacau ficar em pé.
- Tudo bem. Vou aceitar suas desculpinhas esfarrapadas e essa história também, pois já te vi de biquíni antes, mas também já senti seu amigo na minha bunda. Quando pretende contar a Renatinho? Ele sabe? Sua mãe sabe? - Neguei rapidamente.
- Só você, Brunna, e... puta merda. se eu querer pedir permissão do pai da Brunna para namorar com ela?! Digo, se um dia eu quiser; vou ser obrigada a isso... ele já viu o meu... já tocou, e vai achar que estou machucando ela! Porra Cacau! O que eu faço?! - Ela começou a gargalhar outra vez, e então puxei uma almofada até meu rosto, escondendo minha cabeça na mesma.
- Sogrão já tocou seu pau. Ele vai adorar saber que é de família. - Joguei a almofada em Cacau e ela não parou de rir.
- Babaca! - Exclamei, rindo junto em seguida.
- Mas me fala de Larissa..
- Falar o que? Eu esperei ela ter o tempo dela e acabou me contando, Larissa chorou, mas eu não iria rejeitá-la. Bem pelo contrário, foi o exato dia do nosso primeiro beijo, quando eu disse que gostava dela e que estava tudo bem por mim. A diferença dela com as outras pessoas nem é tão diferente, digo, não é nada diferente. - Sorri largamente.
- Você cuida de mim, mas cai de boca em um relacionamento.
- Eu já me acostumei a ter o coração partido, Lud..- Ela confessou. Eu já sabia daquilo. Seu ex namorado havia falecido dois anos atrás, apenas pelo preconceito que sofria ao se assumir transsexual. Cacau era forte, e qualquer um percebia aquilo. Ela me ensinava, mas apenas vive de tristeza aquele que nunca sorriu, sabemos qual o melhor lado de ambos sentimentos, e Cacau todos os dias estava ali para expulsar a tristeza. Olhando por esse lado, eu até poderia dizer que ela estava certa sobre esperar. Tristeza era apenas um sentimento de não ter meu pai por perto, ao menos em solo, pois ele era aquela estrelinha no céu, que me fazia sorrir desde os 8 anos de idade.
- Obrigada. - Falei. Cacau sorriu e acariciou minha bochecha. - Você tem uma bela alma, Ca. Você é maravilhosa. - Ela me puxou para seus braços, e dessa vez não precisei me preocupar em não abraçá-la direito por minhas condições. A apertei contra mim e percebi meus ombros molharem, ao que também percebia Cacau fungar. - Você está bem?
- De repente bate saudades...
- Eu entendo. - Acariciei suas mechas castanhas e Cacau suspirou.
- Mas eu estou aqui. Larissa também está, e agora tudo vai melhorar. - Mordi meu lábio inferior.
- Tudo fica melhor quando nos apaixonamos pela pessoa certa, eu acho.
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