A viagem
Winter se concentrou no jantar enquanto passou pela porta. Imagens dela e do pai caminhando pelo corredor até o salão, invadiram sua mente. Precisava de um momento em que o pai estaria só. Pensou por um instante e achou a brecha perfeita para voltar.
Sentiu outra maçaneta na mão e quando a abriu, deu de cara com o enorme banheiro do castelo. Faltavam apenas duas horas para o jantar, e nesse momento ela estaria se arrumando com Kira o que lhe dava uma vantagem.
Correu pelos corredores em busca do pai. Chamou pelo seu nome e perguntou a cada serviçal, onde o rei se encontrava.
Quando finalmente obteve resposta, correu até o aposento do rei, parando bruscamente diante da porta em questão.
Respirou fundo e tentou controlar as lágrimas, para não assustá-lo, no entanto, quando tocou na madeira e o pai a abriu, aparecendo na sua frente, suas pernas fraquejaram e ela desabou, de joelhos no chão.
— Papai... - sussurrou em lágrimas.
— Winter querida, o que houve? - perguntou o rei preocupado e a abraçou apertado, antes de levá-la para dentro do quarto.
Ambos sentaram na enorme cama do rei, e Winter demorou alguns minutos para encontrar a melhor forma de dizer ao pai que seria envenenado.
— Papai eu vim aqui para lhe avisar de algo... No jantar, o senhor será... - As palavras ficaram engasgadas, Winter não podia fazer aquilo. Ela era demasiado fraca.
— Querida, pode me contar o que quiser, não tenha medo. - Com o incentivo, a princesa respirou fundo e contou ao pai tudo o que iria acontecer. O rei a escutou calado, sem esboçar nenhuma expressão.
— Eu senti tanta saudade... - Finalizou aos prantos.
— Mas nós nos vimos a pouco tempo.
— Eu sei, preciso que acredite em mim. - sussurrou e o rei lhe observou curioso. — Há um traidor entre nós e ele vai agir hoje, não coma as sobremesas por favor.
— Querida o que está dizendo não faz o menor sentido...
— Por favor só acredite em mim! - Rogou a princesa desesperada.
— Vai ficar tudo bem Winter, não há nada que temer, agora preciso me arrumar para o jantar. - Maximus sentenciou beijando a testa da filha e saindo do quarto.
O desespero invadiu a jovem quando escutou o toque da trombeta que indicava que faltava apenas meia hora para o jantar.
Correu pelo castelo em busca do pai mas não o encontrou em lugar nenhum.
De repente toda a comitiva se dirigiu até o salão e Winter foi arrasta até se encontrar com o pai, repetindo toda a cena que havia vivido.
O jantar ocorreu exatamente como se lembrava e quando chegou a hora da sobremesa, seu coração começou a bater cada vez mais forte.
— Papai, me escute, não coma nada por favor, lhe imploro! - sussurrou e recebeu um olhar de advertência do rei.
As bandejas com os quitutes foram servidas e o desespero se instalou no coração da princesa.
Tudo ocorreu muito rápido: o pai comeu todos os doces e de repente começou a passar mal ali mesmo, na mesa de jantar. Winter gritava e chorava tentando ajudá-lo, mas era tarde demais. Sua viagem havia sido em vão.
Sentiu suas pernas fraquejarem e um calafrio percorrer o seu corpo. Fechou os olhos com força e quando os abriu, estava novamente dentro da cabana sendo observada por Hakan com uma expressão séria.
— Como foi? - O homem perguntou curioso.
— Eu... ele... Droga! - A jovem desabou, sentindo a dor da perda pela segunda vez.
Sem dizer nada, Hakan a abraçou e consolou por alguns minutos, se surpreendendo com a sensação de que deveria protegê-la a qualquer custo.
— Preciso voltar para o castelo. - A voz embargada sobressaiu no silêncio fúnebre do casebre.
— Está certa disso?
— Sim. Preciso descobrir quem fez isso e porquê.
— Muito bem, irei contigo.
— Não precisa, já fez muito por mim.
— Eu não lhe perguntei se poderia ir. - A resposta não a surpreendeu, pelo contrário, Winter gostava de ser contrariada.
Sem perder tempo, subiram no cavalo do homem e rumaram ao castelo, chegando ao lugar em questão de minutos.
Ambos franziram o cenho ao escutar o som da música típica acompanhada de risadas.
Sem demora, entraram no salão e a cena que encontraram era de pura alegria. Pessoas bebiam enquanto outras dançavam.
— Como podem estar alegres com a morte do seu rei? - sussurrou sentindo um peso dentro de si.
Tentou sair dali, mas de repente seus pés fincaram no chão ao ver a figura imponente do pai sentado no trono real.
— PAPAI! - Correu para os braços do rei sem se importar com a etiqueta e o abraçou tão apertado que sentiu falta de ar. — Pensei que tivesse morrido! - Murmurou mais para si mesma do que para o pai.
— Pois até onde sei, estou bem vivo. - Maximus brincou ao perceber que algumas pessoas os observavam atentamente.
— Mais tarde lhe explico. - sussurrou no seu ouvido deixando um beijo na bochecha da filha.
As horas passaram e quando o rei anunciou a decisão de abolir todo e qualquer escravo, o povo levantou brados em seu nome. Uma nova era começava.
Depois que a festa chegou ao seu fim, os convidados cansados finalmente deixaram o castelo e partiram até as suas casas para descansar.
— Como...? - Indagou Winter confundida.
— Quando veio até mim contando sobre um possível traidor, não acreditei no começo, mas depois pensei que talvez fizesse sentido o que me disse, então secretamente fiz com que preparassem duas bandejas de quitutes. Uma foi escondida por mim em um lugar secreto e a outra foi deixada na cozinha. Me escondi e esperei até que finalmente o traidor apareceu e colocou veneno nos doces.
Winter não podia acreditar naquilo. Como alguém teria a coragem de fazer isso com o seu rei?
— E quem foi? - Perguntou Hakan recebendo um olhar desconfiado de Maximus.
— E você quem é?
— Hakan me ajudou papai, ele é um...amigo. - Winter se apressou em responder pois sabia que Hakan não era a favor da monarquia. Seu rosto adquiriu um leve tom ruborizado ao lembrar do beijo.
— Se é amigo de Winter, é bem vindo. - Pronunciou o rei. — O traidor era Stefan. - Continuou. — O homem tinha a maior quantidade de escravos do reino e ao perceber que ficaria sem nada, resolveu se vingar. Além do mais, se eu não fizesse a proclamação, você não poderia fazer nada até que fosse coroada. - Ambos, Hakan e Winter, concordaram com a cabeça compreendendo as intenções que o egoísmo e ganância podiam causar.
— Mas papai, há algo que não entendo, se não comeu os doces envenenados, porquê... - A jovem não conseguia pronunciar aquela palavra novamente.
— Eu não morri querida, foi tudo uma armação, não consegui lhe advertir a tempo, além do mais, você precisava reagir como se fosse tudo real, só não esperava que saísse correndo em disparada, castelo afora. - Sorriu envergonhado. — Sinto muito por fazê-la pensar que havia morrido.
Maximus abraçou a filha, que derramou lágrimas, mas dessa vez de alegria e tranquilidade por saber que o pai estava bem.
— E o que fizeram com Stefan?
— Ele está preso e será condenado por tentar matar o rei. - Afirmou e observou como Hakan olhava para a filha.
— Obrigada por acreditar em mim papai.
— Obrigada por salvar minha vida querida.
Ambos se abraçaram novamente, se sentindo agraciados por ainda poder fazê-lo.
— Agora, não sei se percebeu, mas já estamos no Natal. Tenho um presente para você querida, me espere aqui. -O rei caminhou apressado, deixando Hakan e Winter sozinhos.
Depois de alguns minutos voltou com uma caixinha simples nas mãos.
— Abra. - Ordenou, colocando o objeto nas mãos da princesa.
Winter puxou a fita de cetim delicadamente e ao ver o que havia dentro, seus olhos imediatamente se encheram de lágrimas.
— Obrigada. - Agradeceu com a voz embargada. Dentro da caixa, se encontrava o colar que sua mãe, a rainha Elinor usou durante toda a sua vida. Aquela peça tinha tanto significado para os dois, pois lembrava a pessoa que ambos amaram mais que tudo na vida.
O rei ajudou a filha a colocar o colar no pescoço e com os olhos cheios de lágrimas, beijou a sua testa em um gesto de carinho.
— Preciso ir cuidar de algumas coisas querida, mais tarde conversamos mais... - Disse dando-lhe um último abraço.
Winter tocou o colar no pescoço, sorrindo enquanto lembranças da mãe a invadiam.
Quando olhou ao redor, não viu Hakan. Franziu o cenho ao perceber que ele talvez tivesse a deixado, uma vez que havia cumprido sua promessa de levá-la até o castelo.
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