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CAPÍTULO 03

Desta vez, apenas três semanas se passaram, mas era como se tivesse passado um ano, a solidão era algo degradante.

Esperar era complicado, eu estava ciente disso desde muito cedo. Então tentava passar o tempo lendo, brincando sozinho, tentando melhorar o crochê que tinha pedido para mamãe me ensinar, fazendo o possível para me distrair.

Eu gostaria de ter tido alguns irmãos, mas papai me disse que o parto do meu nascimento foi complicado por ter sido no inverno e depois disso mamãe não podia mais ter filhos, era o milagre dela como dizia.

No entanto essa informação não aliviava a sensação de estar sozinho dentro de mim.

Sentado na poltrona com um pano sobre as pernas enquanto crocheava, ouvi batidas na janela ao meu lado e então vi o rosto sorridente que eu esperava nos últimos dias.

Rapidamente fui até a porta principal para abri-la.

— Desculpe pelo atraso. O trem estava parado há alguns dias, então não pude vir antes — apressou-se em dizer. Apenas acenei em concordância e permitir que o mesmo entrasse. — Uau, você sabe crochê... — disse após eu me sentar cobrindo minhas pernas novamente. Ele se sentou no chão à minha frente.

— Estou aprendendo aos poucos... — respondi desfazendo um ponto errado.

— E o que você está tentando fazer?

— Um tapete — balançou a cabeça em concordância.

— Você tem planos para hoje?

— Na verdade não, eu já fiz tudo o que tinha que fazer. Estou entediado.

— Você... gostaria de ir até a cidade comigo?

— Eu... Não sei se é uma boa ideia sair sem a permissão dos meus pais. Se descobrirem, podem ficar com raiva e me punir.

— Eu pensei que eles não te batessem.

— Eles não batem, mas me deixam no quarto para repensar os erros que cometo, foram poucas as vezes que isso aconteceu — procurei em minha mente por um momento para contar a ele. — Como na vez que quebrei o vaso da mamãe correndo dentro de casa quando ela já havia me dito para não o fazer. Onde estão as roupas que te dei? — questionei.

A última vez que ele esteve aqui, estava com suas vestes rasgadas.

— Eu não queria te contar, mas... se eu usar roupas tão bonitas na cidade provavelmente serei acusado de roubo.

— Isso é discriminação — James apenas olhou para seus pés, pensativo.

— Então é melhor ficarmos aqui.

Ficamos em silêncio.

— Você não quer se vestir?

— Como assim? Estou vestido — soltei as agulhas observando-o, seus olhos correndo rapidamente ao redor da sala antes de suas bochechas ficarem rosadas.

— Como uma menina...

— Não posso. Logo meus pais estarão chegando e eles não sabem que eu faço isso. James, há algo que eu gostaria de lhe perguntar.

— O que é?

— Você não gostaria de ficar e conhecer meus pais? — ele se levantou com medo.

— Não é uma boa ideia — começou a dar passos em direção à porta e eu rapidamente me levantei correndo até ela e impedindo-o de abri-la.

— Por favor, eles não te farão nada. Eu disse ao meu pai que você vinha aqui e ele ficou curioso em conhecê-lo.

— E se eles reagirem mal e proibirem você de me ver? Não quero que isso aconteça... Gosto de você, Winter. Foi a única pessoa que não me tratou mal.

— Papai disse que eles não vão fazer isso, por favor... — implorei segurando sua mão.

— Não posso ficar, tenho que pegar o trem de volta para a cidade.

— E o que você faz lá quando volta?

— Procuro um lugar seguro para dormir.

— Hum... e se você dormir aqui em casa?

Antes que ele pudesse responder, ouvimos a maçaneta atrás de mim sendo girada e a risada de mamãe invadiu a sala. Ela nos olhou surpresa e atrás dela vinha papai com um buquê de flores nas mãos.

— Mamãe, papai, este é James. Meu amigo — eu disse rapidamente quando parei ao lado dele.

— É um grande prazer conhecê-lo, James — papai estendeu a mão e apertou a mão suja e calejada do menino que me olhou receoso.

— É um prazer também, senhor Hamilton.

Eu já tinha dito o nome dos meus pais. Na verdade, havia poucas coisas que eu ainda não havia contado a ele.

— Winter tem seus olhos, senhora Hamilton — disse James, olhando para mamãe que sorriu encantada.

— Gentileza da sua parte — fechou a porta pegando o buquê das mãos do papai em seguida. — Você vai ficar para o jantar? Farei algo especial por causa de sua presença.

— Eu gostaria de ficar, mas tenho que pegar o trem e...

— Podemos deixá-lo na cidade, se é isso que você quer — papai cortou sua frase.

Relutantemente o garoto assentiu e sorriu timidamente.

— Bom, então vocês tem que tomar banho para jantar — mamãe disse.

Algum tempo depois James e eu aparecemos na cozinha onde meus pais terminavam de pôr a mesa. Meu pai abria um vinho e enchia sua taça e a de mamãe.

— Que bom que conseguiu convencê-lo a ficar, querido. James parece um bom rapaz — mamãe comentou, ajeitando a toalha de mesa.

— Ele é sim, mamãe! — exclamei, sentindo um orgulho inexplicável do meu amigo.

James corou levemente, desviando o olhar. Papai sorriu, servindo um pouco de suco para James e para mim.

— Então, James, conte-nos sobre você. De onde você vem? — papai perguntou, puxando assunto.

James hesitou por um momento, mas logo começou a falar sobre a cidade grande, as ruas movimentadas, os prédios altos e as pessoas de todos os tipos. Ele descreveu a vida lá com uma mistura de fascínio e melancolia, falando sobre a dificuldade de encontrar comida e abrigo, mas também sobre a beleza das luzes da cidade à noite.

— É muito diferente daqui — ele concluiu, olhando ao redor da nossa cozinha aconchegante.

— Sem dúvida — mamãe concordou. — Mas espero que você se sinta em casa aqui conosco.

O jantar transcorreu agradavelmente, com conversas e risadas. James parecia relaxar a cada minuto, e eu me sentia feliz por tê-lo ali. Depois do jantar, papai ofereceu a James um quarto de hóspedes, e ele aceitou com gratidão apesar de relutante.

— Obrigado por tudo, senhor e senhora Hamilton. Winter, obrigado por me convencer a ficar — ele disse, com um sorriso sincero.

— De nada, James. Fico feliz que tenha ficado — respondi, sentindo meu coração aquecido.

Naquela noite, deitado na minha cama, pensei em como a vida de James era diferente da minha. Ele era tão corajoso e resiliente, e eu admirava isso nele. Decidi que faria o possível para ajudá-lo, para que ele nunca mais precisasse dormir na rua.

No dia seguinte, James me ajudou com o crochê, e aprendemos algumas técnicas novas juntos. Depois, fomos explorar o jardim, e ele me mostrou alguns truques de sobrevivência que aprendeu na cidade. À tarde, meus pais nos levaram para um passeio de charrete, e James ficou maravilhado com a beleza da paisagem.

Mais tarde, James anunciou que precisava voltar para a cidade. Ele tinha um trabalho esperando por ele, e precisava ganhar dinheiro para se sustentar. Fiquei triste com a notícia, mas sabia que não podia impedi-lo.

— Prometo que voltarei para visitá-los, Winter. E nunca me esquecerei de vocês — ele disse, com os olhos marejados.

— Nós também não nos esqueceremos de você, James — respondi, abraçando-o forte.

Na hora da partida, meus pais o levaram até a estação de trem. Acenei para ele até que o trem desaparecesse na curva, sentindo um aperto no peito. Sabia que sentiria falta do meu amigo, mas também sabia que ele voltaria. E eu estaria esperando por ele.


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