Capítulo 10 - Where the memories are
(n/a: A primeira música do cap. é Seesaw do BTS.
Segunda música do cap.: tem um momento certinho pra colocar a música da mídia! Pode deixar que eu vou avisar 💞)
Capítulo 10 - Where the memories are
Segundos depois de ser acordado pelo tranco do avião já nem se lembrava mais do que sonhara ou mesmo se sonhara, o que ele sabia é que WINE tocava nos fones de ouvidos.
Olha só para onde o aleatório me levou.
Ironicamente o Bangtan estava voltando para casa depois de mais de dois meses em turnê. E, mesmo depois de tanto tempo, essa música continuava soando como casa para Min Yoongi.
Ele se espreguiçou, sentindo os pontos de dor muscular pelo corpo ー resultado da agenda lotada de showsー, mas, em seguida, relaxou no assento mais uma vez, com a música alta que tocava no fone ele pôde descansar. Estava em casa.
Música para ele era isso: uma espécie de casa das memórias, onde os sentimentos se encontravam e ficavam; a possibilidade de habitar um sentimento depois de dias, semanas, meses, anos.
O sentimento mudou e, com ele, a música.
Ainda que fosse a mesma gravação, a mesma letra escrita entre taças de vinho, lençóis e ressaca, cada vez que Yoongi entrava naquela música era diferente. Às vezes entre os cômodos da casa havia tristeza, outras a felicidade dançava livremente pelos corredores, algumas a angústia trancava a melodia dentro de um quarto, mas sempre, sempre, a saudade estava sentada no mesmo sofá e era possível ouvi-la desde a primeira batida. Yoongi era um visitante constante de WINE e agora ele a sentia como casa.
Finalmente em casa.
(...)
Puxou mais fundo o ar dos pulmões quando o aplicativo colocou na sequência aquela música para tocar. Interrompeu o que fazia e deixou o corpo descansar no sofá, as almofadas poderiam esperar mais um pouco no tapete, assim como o resto da casa bagunçada, pois ela parou junto com a música.
A casa agora vazia refletia a bagunça da noite passada de quando a sala estava cheia, ocupada pelo reencontro do grupo que havia participado do programa "The call" com Suran, as pessoas animadas conversando e dançando pela sala, a música alta, os copos e as garrafas de bebida espalhados, agora vazios. Lembranças da agitação da noite passada que agora pareciam só uma recordação distante, de outro tempo, pois quando ela ouvia em WINE, estava em WINE. Para Suran, era como voltar no tempo e entrar naquele relicário de sentimentos tão bonitos que só poderiam caber dentro de uma música, a realidade era pouco para eles.
Eles não cabiam na realidade.
E quando tocava Wine o mundo todo ficava assim, preenchido por aqueles sentimentos que, por transbordarem a realidade, nunca poderiam caber nela.
Daquele relicário saiam vários sentimentos, a dor de não poder ser, a exposição, as palavras que machucam, a distância, o amargo do vinho; e, ao mesmo tempo, o aconchego, o abraço quente, os beijos no canto da boca, o som da respiração descompassada no ouvido. WINE espalhava esses sentimentos por onde tocava e, no fim, deixava sempre um rastro de saudade.
Havia sido um consenso, eles tiveram que ser maduros e parar de se esconder da realidade. Os dois sabiam que não poderiam estar em um relacionamento, não agora. Ainda assim, Suran se via angustiada pela incerteza do futuro, pelos encontros aleatórios que a vida sempre proporciona e a possibilidade de que outra pessoa atravessasse o seu caminho ou o dele antes que pudessem retornar ao mesmo ponto ー se é que retornariam.
Ela era bem cética sobre os caminhos aleatórios da vida, ainda mais o da vida dos idols, e era difícil acreditar que eles voltariam ao ponto de partida. Por outro lado, ela só conseguia dizer não para essas outras pessoas, essas intercorrência do acaso; pois a casa já estava cheia, cada cantinho, cheia de Min Yoongi.
Mais um respiro profundo, riu de si mesma e lembrou de Taemin-ssi sorrindo para ela na noite passada, entre uma taça e outra. Se fosse em outra época ela com certeza entraria naquele sorriso sem pensar duas vezes, mas aquilo nem era cogitável, não existia mais nenhum espacinho que não fosse do garoto das bochechas branquinhas, do sorriso doce, das conversas inteligentes.
Eles ficariam bem sem o outro, desde que pudessem voltar e habitar essa casa. Mesmo afastados, os sentimentos estavam vivos em WINE.
E assim foi por alguns meses. Algumas recaídas, poucos encontros escondidos, a agenda cada vez mais apertada de Min Yoongi, Suran e seu namorado novo, os encontros desagradáveis no backstages das premiações, lágrimas, a dor no peito, amantes que se tornaram amigos e depois estanhos. A mágica do tempo em modificar as coisas como bem entende.
Suran e Yoongi pareciam brincar de gangorra.
Quando Suran ligava chorando às 3 da manhã, pedindo desculpas e dizendo que sentia saudades, batendo forte na porta daquela casa, Yoongi, sem tempo para pensar na própria vida, estava ciente de que não havia mais espaço para mais ninguém e fechava a porta.
Por outro lado, quando Yoongi estava esgotado, prestes a jogar tudo para o ar, aparecendo no apartamento da cantora às 4h da manhã implorando para voltar àquela casa, para voltar para ela, Suran já tinha decidido acabar com aquilo dentro dela à força, o tempo passava e ela sentia-o intensamente, não poderia ficar à mercê das infinitas renovações contratuais impostas pela gravadora ao BTS, não queria ficar refém daquele sentimento.
– Você mandando recado por letra de música, de novo... – dessa vez, porém, Suran estava magoada.
– Ouviu o novo álbum, então? – Yoongi comprimiu os olhos e sentiu-se pequeno na cadeira do estúdio, enquanto arrumava a mala para mais uma turnê.
– É você que está no topo da gangorra sozinho? – ela respirou fundo e sentiu o gosto amargo desse sentimento confuso que, mesmo depois de meses, não parecia passar. – "Se você não sente mais nada por mim, ficar nessa gangorra é perigoso. Pare de pensar em mim". Se isso é um pedido, considere atendido.
Suran desligou antes que Yoongi pudesse se justificar, ele sabia que os dois já estiveram no topo da gangorra, um já sentiu demais, enquanto o outro sentiu de menos e vice-versa. Ele sabia do quanto o equilíbrio era o difícil , ele compreendia a chateação da cantora, mas no momento que escreveu a letra ele estava magoado, sentindo-se como o último a tentar sozinho arrombar a porta da casa e resgatar os sentimento empoeirados.
Ele já estava mareado de tanto balançar na gangorra, recusando-se a abandonar aquele jogo e a abandonar Suran, mas ele precisava mesmo descer: era isso que quis passar na música.
De todas as partes da letra, ele queria que ela tivesse prestado atenção naquela linha que dizia que eles foram o epítome do amor – a síntese, o resumo, modelo ideal de tudo que poderia ser sentido e transitar entre duas pessoas –, e não nos trechos ambíguos em que ele dizia o que, no fundo, não queria, mas paciência. A letra também é de quem escuta e Suran interpretaria como queria, azar o dela. Azar dos dois.
Naquele dia, a gangorra balançou até parar, os ferros rangendo até o completo silêncio. Os dois estavam, agora, sozinhos. Trancaram a porta da casa e lá deixaram WINE, lá dentro ela estaria segura.
(...)
Os caminhos aleatórios da vida tinham levado Suran para o ponto de partida. Era sexta-feira e ela estava sozinha em casa, terminando uma garrafa de vinho após ter comido um macarrão, maratonando um dorama qualquer. Contudo, dessa vez, ela não estava angustiada por estar sozinha, presa em um bloqueio criativo, pelo contrário, ela estava tranquila por poder descansar depois de uma semana cheia, feliz por estar encerrando seu terceiro álbum de estúdio.
E para que ela pudesse estar ali, no mesmo lugar, ela tinha gravado um novo álbum, participado de vários shows de TV, produzido músicas para outros artistas, se mudado para um apartamento maior do outro lado da cidade, adotado um gatinho, conhecido lugares incríveis e terminado dois relacionamentos. Tudo isso colocou-a onde estava agora: sozinha, fazendo as mesmas coisas de anos atrás, mas não era mais a mesma. E não só por que o tempo havia passado, mas sim pois ela – protagonista da própria vida – havia passado pelo tempo, deixando ser mudada e fazendo mudar.
Nessa noite, em frente à TV, após beber mais uma taça de vinho, ela cochilou no sofá.
Do mesmo lado da cidade, Min Yoongi continuava no idêntico lugar solitário que ocupou nos últimos anos: sexta-feira, sentado na cadeira do seu estúdio, encarando a tela do computador.
Em um contraste com a sua vida profissional sempre cheia – integrante do maior grupo de k-pop da atualidade, fama internacional, prêmios a perder de vista, convites e pedidos dos mais diversos artistas para fazer a produção de determinada música –, ele estava sozinho. A solidão era a mesma, mas para estar ali ele passou por algumas tentativas de não estar só, procurando alguém que fizesse algo se agitar dentro do seu peito e acabou concluindo que isso era coisa de primeiro amor.
Depois da primeira mágica, o amor tornava-se só abóbora, e isso, para Yoongi, justificava o fato de que ninguém mais tinha conseguido fazer com que ele quisesse ficar.
Apertou play mais uma vez na intro de uma música que deveria ir para o próximo álbum do Bangtan, mas ele estava estagnado, não conseguia sair dos 43 segundos e, mesmo curto, o trecho parecia insosso. Já fazia quase uma semana que o aquilo não se transformava em nada, maldito bloqueio criativo. Passou as mãos pelo rosto tentando espantar o sono, estava cedo para dormir, e para o seu horário de pico criativo ainda faltavam algumas horas. Levantou-se da cadeira, colocou para tocar alguma das suas playlists de rap, pegou o celular e deixou o corpo afundar no sofá.
Mesmo assim, a música que saía da caixa de som ou as fotos das redes sociais, nada o atraía. Foi até o Kakao e rolava despretensiosamente a lista de contatos. E, quando pensou que já não seria levado ao mesmo lugar, se pegou encarando a foto de "S" – como salvou o contato de Suran noona em uma técnica para esquecê-la (que até aquele momento estava funcionando muito bem).
Então ela estava loira agora? Ele gostava bastante do cabelo castanho com as pontas rosas ou do corte mais curto todo castanho, ou mesmo dos fios verdes da época em que ela gravou o refrão de "So Far Away", a verdade é que ele gostava de todas as versões dela, mas essa era nova e ele não a conhecia mais.
Curioso para ver mais da nova Suran, Yoongi clicou na foto de perfil, contudo, em um deslize não calculado, ele acabou apertando no ícone da chamada de áudio. Ele ficou paralisado, sem saber o que fazer. Não sabia se seria melhor desligar e ela receber a notificação depois ou se deveria continuar na chamada até cair, pois já passava das onze, e ela com certeza deveria estar fazendo algo melhor em uma sexta-feira.
(n/a: apertem o play na música da mídia)
Cada toque reverberava nas batidas do seu coração, que nem ele se lembrava mais que tinha aquele som, e já sentia as mãos suadas. Yoongi estava certo de que ela não atenderia, pois já chamava por algum tempo e até se sentia aliviado por isso, afinal era só um deslize do acaso.
– Annyeong-haseyo...– uma voz embargada despontou do outro lado da linha, fazendo com que Yoongi prendesse o ar por alguns segundos.
– Annyeong... – Yoongi mal conseguiu se fazer audível, enquanto os batimentos do seu coração eram ensurdecedores.
– Quem está falando? – foi possível ouvir Suran bocejar e Yoongi se sentiu ainda mais angustiado, tanto por tê-la acordado, quanto por ela não ter reconhecido sua voz.
– Sou eu, noona, – não foi preciso muito mais para que Suran despertasse imediatamente e já passasse a ouvir as palpitações que a simples menção a ele já a faziam sentir, imagine, então, ouvindo a voz do próprio. – Yoongi.
As palavras faltaram e ela se ajeitou no sofá, olhou para a sala – a TV ligada, a taça de vinho vazia na mesinha de centro, as luzes apagadas –, tudo exatamente como estava antes. Mas por qual razão sentia que agora estava em outro lugar?
– Desculpa incomodar, noona... – ele estava prestes a se despedir e encerrar a chamada quando foi surpreendido por Suran.
– Como você está? – torceu para que sua voz não soasse tão desesperada como ela, de fato, sentia-se. Abraçou uma das almofadas no sofá, descansou sua cabeça no encosto e respirou fundo, tentando controlar suas reações a ele que continuavam as mesmas, não importava quanto tempo passasse.
– Bem e você? – ela se resumiu a dizer "também", a conversa estava prestes a morrer no silêncio da madrugada, na qual só se ouvia o som dos corações batendo distantes. – Bogo sipda (sinto sua falta)...
Mais silêncio.
– Se eu tocar piano pra você noona, você canta WINE pra mim? – sentiu que seu coração poderia explodir a qualquer momento, a garganta se fechando em um nó, as lágrimas querendo cair, mas ela só engoliu o choro e apertou mais a almofada, sabendo muito bem onde ela estava.
Eles estavam de volta àquela casa.
– Yoongi-ah, você quer tomar um vinho?
(...)
E quando a madrugada cair, entre os focos de luzes amareladas, a taça apoiada na mesa, o tapete felpudo, o rascunho manchado de vinho, o piano no canto da sala, as cortinas bagunçadas pelo vento, o computador ligado no estúdio, a cadeira giratória, entre um abraço e uma despedida, entre um beijo partido e lágrimas, entre um gole e outro, entre o amargo e o doce, seja em Seul ou em qualquer lugar, juntos ou separados. Sempre que toca WINE, eles habitam aquela casa de memórias eternas.
Onde a música continua tocando...
Fim
🍷
Notas
The call: é um programa de TV sul-coreano. Eu não sei bem explicar como o programa funciona, mas eu acho que os artistas vão ao programa, se apresentam meio que "disfarçados", e são chamados a integrar determinada equipe após serem que avaliados nessa audição (é o que pareceu pelo que eu assisti haha). A Suran , o Taemin do Shinee, entre outros artistas, participaram da segunda edição (super recomendo o cover que ela fez da LATATA e todas as músicas da equipe dela).
Seesaw game (gangorra): eu dei uma escorregadinha para incluir a solo do Yoongi no Love Yourself: Awnser. Então, as referências a gangorra e as partes entre aspas são trechos da letra.
🍷
Os agradecimentos finais da Maria
Bem, eu nem sei o que escrever aqui além de vários OBRIGADA's em caps lock, negrito e sublinhado, já digo que não sou boa com essa coisas de terminar histórias... Na verdade, é bem novo pra mim hahahha
Bem, Wine é uma história super importante pra mim, pois foi a primeira história que eu publiquei depois de passar um tempo longe do wattpad e também a primeira sobre BTS. Eu não achei que alguém fosse animar a ler isso aqui, já que são poucas as histórias por aqui com casais de shipps fora do próprio BTS, mas eu fiquei tão apaixonadinha por Wine e pela ideia dos dois juntos que tive que escrever! Saibam que o apoio de vocês foi muito muito importante para que eu voltasse a querer escrever, cada comentário e voto!
Espero que tenham gostado ( e entendido esse excesso de metáforas que eu insisto em colocar hahah) e que tenham se divertido comigo.
Espero que essa música continue sempre tocando em vocês também!
Amo cada um de vocês que me faz sorrir sem nem saber.
❤️
Vejo vocês nas minhas outras histórias (não vão me abandonar, heeeein)!!
beijos da Maria
🍷
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